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«O nosso grande mal são as leirinhas e leirocas. Aqui a propriedade é muito divisa. Há pessoas com quintais de cem metros quadrados. A propriedade é muito pulverizada, muito dispensa. É raro encontrar-se um terreno com cinco mil metros quadrados (meio hectare). A média dos terrenos tem entre 300 e 700 metros quadrados. É uma zona de minifúndio. As leiras são muito pequenas. Antigamente era tudo trabalhado com máquinas manuais puxadas por animais de tracção. A maioria das pessoas dedica-se à agricultura. São pequenos agricultores, mas também têm outras actividades. Alguns quando não vão para o campo, trabalham na construção civil, como pedreiros, carpinteiros ou mestres de obras. Outros têm pequenos aviários.
Há muito pinhal, que dá rendimento igual ou mais que a vinha. O pinhal não dá despesa: roça-se o mato que dá para adubo das terras, e para cama dos gados; desbasta-se o pinheiro e temos lenha para casa. O pinhal não mecessita de cuidados espe- Ciais. Antigamente o pinheiro semeava-se um ao outro; agora catrapila-se, lavra-se, o terreno fica fofo e semeia-se para o pinheiro vir mais depressa.
Ao fim de 20 anos se o terreno for bom o pinhal dá dinheiro com a resina; se o terreno for mau só ao fim de 30 ou mais anos; em Casos excepcionais. ao fim de 12 ou 15 anos.
A resina constitui uma boa fonte de receita. No princípio de 75 os resineiros (compradores) queriam dar um preço inferior ao do outro ano. Queriam pagar a 8$00 a bica, quando no ano anterior tinham pago a 10$00. Um grupo de pessoas resolveu marcar uma reunião, onde compareceram lavradores de cá. Estabeleceu-se um plano: propusemos a 15$00 cada bica. Os resineiros nem responderam: em 1975 não se alugaram resinas em Barcouço.
Os resineiros vendem direatamente às fábricas. Outros vendiam a empreiteiros. Nestes casos eram tão explorados ou mais do que nós. Ganhavam um xis por cada quilo de resina, mas o esforço de trabalho é enorme, é imenso mesmo. Os pinhais são alugados de Março a 30 de Novembro, e as despesas para exploração da resina é por conta deles.
Como não explorámos a resina em 1975 tinhamos de resolver o problema. Fizemos várias reuniões até que apareceu a ideia da cooperativa. Resolvemos tratar nós das resinas em lotes de terras aceitáveis. Juntávamos terras; a propriedade continuava a ser privada, mas a exploração era conjunta. Não podíamos ficar nas mãos dos intermediários.
Em Março de 1975 um grupo de camponeses já tinha lançado claramente a ideia da cooperativa para a frente. Em comunicado distribuído na aldeia e avidamente disputado pelos camponeses, lia-se mais tarde:
«Camaradas camponeses:
O campesinato continua a ser a maior vitima da exploração capitalista. A sua situação económica e social piora de dia para dia: os ricos tornam-se cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres.
Os produtos de primeira necessidade, alfaias, adubos, sementes, géneros alimentícios, etc., continuam a subir exageradamente, deixando o pequeno camponês com mínimas possibilidades de subsistência. Esta situação em parte é devida aos grandes proprietários e intermediários que foram desde sempre a ruína dos pequenos camponeses e têm sido um dos alicerces da reacção e do fascismo.
O capitalismo continua a existir, embora mascarado com a capa da democracia, e por isso mesmo ainda hoje se verifica uma grande concorrência entre o grande proprietário e o pequeno camponês. O primeiro, devido ao tamanho e regime da exploração da terra, pode colocar os produtos do mercado a preços mais baixos, indo deste modo destruir o pequeno camponês. São ainda os intermediários que funcionando como «agentes do capitalismo», por um lado vendendo farinhas, adubos, etc. e por outro comprando os produtos da terra a preços de miséria, vendendo-os a preços exagerados, vão encher as algibeirasà custa do produtor.
Camaradas, só conhecendo os nosso inimigos os podemos destruir!
Vejam o perigo que constituem esses grandes avicultores, que com aviários mecanizados, controlando farinhas, acabam por controlar todo o mercado, levando à falência os pequenos avicultores.
São no vinho, os grandes proprietários vinícolas, os que fazem vinho a martelo, as caves de vinho e os intermediários, os nossos inimigos.
Camaradas! Vejamos o caso das resinas em que os camponeses unidos não quiseram vender o preço da «bica» a menos de 15$00. Segundo a SOCER, só pagariam para este ano o preço das bicas a 8$50 ou 9$00. Ora a quanto estão a pagar agora? Não estão a pagar a 11400 ou 12400? Foi ou não foi uma vitória? O erro foi organizarmo-nos tarde, mas organizados a vitória será total no ano que vem!
Não basta a fiscalização por parte do Estado. Somos nós os melhores fiscais. Denunciemos todos aqueles que nos parasitam!
Camaradas! Só organizados em cooperativas de pequenos camponeses onde não possam entrar os grandes proprietários, conseguimos enfrentar a concorrência dos nossos inimigos e pôr fim à exploração de que somos vítimas. Só colectivamente seremos capazes de tornar o trabalho mais produtivo e estabelecer preços mais justos nos produtos agrícolas. Só unidos poderemos exigir ao Estado empréstimos sem juros. Somente cooperativas dirigidas e controladas por pequenos camponeses poderão ser o meio de resolvermos os nossos problemas!
EXIJAMOS:
BAIXA IMEDIATA DOS PREÇOS DOS ADUBOS E ALFAIAS!
EMPRESTIMOS DO ESTADO AOS CAMPONESES POBRES, NÃO AOS RICOS!
ACABEMOS COM OS INTERMEDIÁRIOS QUE NOS LEVAM AS COLHEITAS A PREÇOS DE MISÉRIA!
VIVA A ALIANÇA OPERÁRIO-CAMPONESA!
UNIDOS E ORGANIZADOS VENCEREMOS!
UM GRUPO DE CAMPONESES DE BARCOUÇO.»
Inclusão | 14/06/2019 |