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O problema do início da contra-ofensiva é o problema da "primeira batalha", ou da "batalha inicial”.
Muitos dos especialistas militares burgueses consideram que é necessário avançar com muita prudência para a primeira batalha, tanto no que respeita à defensiva estratégica como no que se refere à ofensiva estratégica. Isso respeita em particular à defensiva. Nós também considerámos seriamente esse problema no passado. As operações desenvolvidas contra as cinco campanhas de "cerco e aniquilamento" do inimigo, no Quiansi, deram-nos uma rica experiência que não é inútil examinar.
Na sua primeira campanha, o adversário, dispondo de cerca de cem mil homens, avançava em oito colunas a partir da linha Qui-an-Quienim, sobre o sul, em direcção da base de apoio do Exército Vermelho. Este, dispondo de cerca de quarenta mil homens, estava concentrado na região Huampi-Siaopu, distrito de Nintu, no Quiansi.
A situação era a seguinte:
Tudo considerado, decidimos travar a nossa primeira batalha contra as forças principais comandadas por Tcham Huei-tsan e conseguimos esmagar duas brigadas e mais o Quartel General da divisão, liquidando inteiramente forças de nove mil homens e aprisionando o próprio comandante da divisão. Ninguém escapou. Após a vitória, tomadas de pânico, a divisão de Tan Tao-iuan fugiu para Tunchao, e a divisão de Chiu Quei-siam fugiu em direcção de Toupi. As nossas tropas, lançadas na perseguição da divisão de Tan Tao-iuan, destruíram-lhe metade dos seus efectivos. Em cinco dias (de 27 de Dezembro de 1930 a 1 de Janeiro de 1931) travámos duas batalhas, depois do que as forças adversárias, receando ser esmagadas, apressaram-se a evacuar a região de Futien, Tuneu e Toupi. Assim terminou a primeira campanha de "cerco e aniquilamento". Na segunda, a situação era a seguinte:
Tendo em conta todos esses elementos, decidimos dar a primeira batalha contra as unidades de Vam Quin-iu e Cum Pim-fan, instaladas no sector de Futien (num total de onze regimentos). Depois de termos ganho essa batalha, atacámos sucessivamente as forças de Cuo Hua-tsum, Suen Lien-tchom, Tchu Chao-liam e Liu Ho-tim. Em quinze dias (de 16 a 30 de Maio de 1931), percorremos setecentos lis, travámos cinco batalhas e arrancámos mais de vinte mil espingardas ao inimigo, sendo a nossa campanha um sucesso completo e estimulante. Durante a operação contra Vam Quin-iu, nós encontrávamo-nos entre as unidades de Tsai Tim-cai e de Cuo Hua-tsum, a uns quarenta lis das primeiras e a umas dezenas de lis das segundas. Alguns diziam que "tentávamos passar pelo fundo duma agulha", mas no fim de contas, conseguimos fazê-lo. Isso explica-se essencialmente por duas razões: operávamos no nosso território e as tropas inimigas acusavam falta de coordenação entre si. Depois da derrota da divisão de Cuo Hua-tsum, a de Hao Mom-lim escapou ao desastre, retirando-se de noite para Ionfom.
Durante a terceira campanha de "cerco e aniquilamento", a situação era a seguinte:
Nessas condições, o nosso plano primitivo era o seguinte sair de Sincuo e fazer uma penetração no Futien, passando por Van-an, para avançar rapidamente de oeste para leste, através das linhas de comunicação do adversário, na sua própria retaguarda, e deixar as forças principais do inimigo penetrar profundamente na nossa base de apoio do Quiansi meridional sem que pudessem desempenhar qualquer papel. Isso deveria constituir a primeira fase das operações. Quando o inimigo tivesse de voltar para o norte, as suas tropas estariam nessa altura fortemente esgotadas, pelo que poderíamos aproveitar-nos da ocasião, golpeando as suas unidades vulneráveis. Isso deveria constituir a segunda fase das operações. A ideia central do nosso plano era a seguinte: evitar os recontros com as forças principais do adversário e vibrar golpes nos seus pontos vulneráveis. Quando as nossas unidades começaram a progressão sobre Futien, não lhes foi possível escapar à atenção do inimigo, o qual enviou ao seu encontro as divisões de Tchen Tchem e de Luo Tchuo-im. Foi-nos necessário modificar o nosso plano e regressar a Caocinsiu, no oeste de Sincuo. Nesse momento, dispúnhamos apenas desse ponto de apoio e dos seus arredores, isto é, algumas dezenas de lis quadrados para nos reagruparmos. No dia seguinte ao nosso reagrupamento, decidimos avançar para leste, em direcção de Lientam (na parte este do distrito de Sincuo), Liantsuen (na parte sul do distrito de Ionfom) e Huampi (na parte norte do distrito de Nintu). No mesmo dia, cobertos pela noite, passámos por um corredor de quarenta lis de largo, entre a divisão de Tchiam Tim-ven e as unidades de Tchiam Guam-nai, de Tsai Tim-cai e de Han Te-tchin, e desembocámos em Lientam. No dia seguinte, tivemos alguns contactos com os destacamentos de vanguarda das forças de Chancuan Iun-siam (este comandava na altura a sua própria divisão e a de Hao Mom-lim). No terceiro dia, dirigimos os nossos golpes contra a divisão de Chancuan Iun-siam: foi a nossa primeira batalha; rio quarto dia, contra a divisão de Hao Mom-lim: foi a segunda batalha; em seguida, após uma marcha de três dias, desembocámos em Huampi e atacámos a divisão de Mao Pim-vèn: terceira batalha. As três batalhas foram vitoriosas e conseguimos apoderar-nos de mais de dez mil espingardas. Nesse momento, as forças principais do adversário, progredindo em direcção do oeste e do sul, orientaram-se para o leste e concentraram toda a sua atenção sobre Huampi, para. onde se dirigiram a marchas forçadas, com o fito de obrigar-nos ao combate. Executando uma ampla operação de envolvimento em ordem compacta, elas aproximaram-se das nossas forças. Nós esgueirámo-nos por um corredor de vinte lis de largo, numa região de altas montanhas, entre as tropas de Tchiam Cuam-nai, Tsai Tim-cai e de Han Te-tchin, por um lado, e as de Tchen Tchem e Luo Tchuo-im, por outro, e reagrupámo-nos no distrito de Sincuo, após termos feito um desvio de leste para oeste. Até que o adversário tivesse podido descobrir-nos e regressar em direcção do oeste, passaram-se quinze dias, o que permitiu um repouso para as nossas tropas. Quanto ao adversário, esfaimado, esgotado, desmoralizado, não podendo mais, decidiu retirar-se. Aproveitando essa retirada, vibrámos golpes nas unidades de Tchiam Cuam-nai, Tsai Tim-cai, Tchiam Tim-yen e Han Te-tchin, liquidando uma brigada de Tchiam Tim-ven e a divisão de Han Te-tchin. Sendo-nos impossível obter a decisão nos combates com as divisões de Tchiam Cuam-nai e Tsai Tim-cai, acabámos por deixá-las partir.
Durante a quarta campanha de "cerco e aniquilamento", a situação era a seguinte: o adversário marchava em três colunas sobre Cuahtcham. As suas forças principais constituíam a coluna oriental. Duas divisões que formavam a coluna ocidental apareceram diante de nós, dirigindo-se para a região em que procedíamos ao nosso reagrupamento. Nessas circunstâncias, começámos por golpear essa coluna, a sul do distrito de Ihuam, e conseguimos destruir de um só golpe as duas divisões de Li Mim e Tçhen Chi-tsi. O adversário retirou então duas divisões da coluna oriental, que transferiu em direcção do centro, e prosseguiu no seu avanço. Conseguimos ainda destruir-lhe uma divisão no sul do distrito de Ihuam. No decorrer dessas duas batalhas, apoderámo-nos de mais de dez mil espingardas, ficando desfeita, no essencial, a campanha do adversário.
Na quinta campanha de "cerco e aniquilamento", durante a sua progressão, o inimigo adoptou uma nova estratégia, fundada na guerra de blocausses, e apoderou-se antes de mais de Litchuan. Pelo nosso lado, tentando recuperar Litchuan e defender-nos fora da nossa base de apoio, atacámos Siaochi, a norte de Litchuan, que era uma posição solidamente estabelecida e que, além disso, estava situada em território branco. Fracassado esse ataque, dirigimos os nossos golpes contra Tseciquiao, a sudeste de Litchuan, quer dizer, de novo contra uma posição fortificada situada em região branca, registando um novo fracasso. Então, procurámos o combate operando entre as forças principais do adversário e as suas posições fortificadas, sendo reduzidos a uma situação de total passividade. Durante todo o ano em que se desenrolou a quinta contra-campanha, fomos incapazes de manifestar a menor iniciativa, acabando por ser obrigados a abandonar a base de apoio de Quiansi.
A experiência militar adquirida ao longo das cinco contra-campanhas mostra que se o Exército Vermelho, ao encontrar-se numa posição defensiva, pretender esmagar uma poderosa "expedição punitiva", a primeira batalha na contra-ofensiva reveste-se duma importância extrema. O resultado, dessa primeira batalha exerce uma influencia considerável sobre o conjunto da situação e essa influência faz-se sentir, inclusivamente, até ao último combate. Podem tirar-se daí as conclusões seguintes:
Primeiro, é indispensável ganhar a primeira batalha. Antes de se encetar o combate importa estar perfeitamente seguro de que a situação do adversário, o terreno, a população são-nos favoráveis e desfavoráveis ao adversário. No caso contrário, é preferível retirar, agir com circunspecção e esperar a ocasião. A ocasião apresentar-se-á sempre; há que não aceitar o combate com ligeireza. Durante a nossa primeira contra-campanha, tínhamos pensado, antes de mais, em atacar as tropas de Tan Tao-iuan, mas como o adversário não se decidia a abandonar as posições elevadas que ocupava em Iuantou, o nosso exército aproximou-se dele por duas vezes e, também por duas vezes, retirou-se pacientemente; alguns dias mais tarde apareceu-nos a divisão de Tcham Huei-tsan, que nos foi mais fácil atacar. Durante a segunda contra-campanha, o nosso exército avançou até Tuneu e, rejeitando todas as propostas, ditadas pela impaciência, que visavam o ataque imediato, foi instalar-se bem perto do inimigo, com risco de trair a sua própria presença, e unicamente com o fim de esperar que Vam Quin-iu abandonasse as suas posições fortificadas do Futien; nessa posição, o nosso exército esperou pacientemente durante vinte e cinco dias, acabando por obter o resultado desejado. Na terceira contra-campanha, encontrando-nos numa situação perigosa, no momento em que regressávamos à nossa base de apoio após um desvio de 1.000 lis, e tendo o adversárto percebido que queríamos contorná-lo, procedemos pacientemente a uma retirada, modificámos o nosso plano inicial e praticámos uma penetração sobre o centro para, finalmente, alcançarmos o nosso primeiro sucesso na batalha de Lientam. Na quarta contra-campanha, após a derrota da nossa ofensiva sobre Nanfom, retiramo-nos sem hesitar e, finalmente, desembocámos sobre o flanco direito do adversário, reagrupámo-nos na região de Tunchao e demos uma batalha que nos valeu uma grande vitória, no sul do distrito de Ihuam. Somente no decurso da nossa quinta contra-campanha é que descurámos completamente a importância da primeira batalha. Alarmados pela simples perda de Litchuan, capital do distrito, dirigimo-nos para o norte, à frente do inimigo, na intenção de recuperá-la. Depois, em vez de considerarmos o recontro imprevisto diante de Siuncou, em que obtivemos a vitória (uma divisão inimiga aniquilada), como sendo a primeira batalha, e termos em conta as modificações que tal batalha deveria necessariamente implicar, empreendemos inconsideradamente a ofensiva sobre Siaochi, cujo sucesso era duvidoso. Desde o primeiro passo, a iniciativa estava perdida. Esse é o pior, o mais estúpido dos métodos de combate.
Segundo, o plano da primeira batalha deve ser o prólogo do plano de conjunto da campanha, constituindo uma das suas partes orgânicas. Sem um bom plano para toda a campanha, é absolutamente impossível travar com sucesso real a primeira batalha. Isso significa que se a vitória alcançada na primeira batalha se mostra prejudicial ao conjunto da campanha em vez de lhe ser útil, não pode ser considerada como um sucesso mas sim como um insucesso (como exemplo podemos citar a batalha de Siuncou durante a quinta campanha de "cerco e aniquilamento"). É por isso que, antes de travarmos a primeira batalha, importa encarar nas grandes linhas o modo como daremos a segunda, a terceira, a quarta e mesmo a última, que modificações surgirão na situação geral do adversário depois de cada uma das nossas vitórias ou cada um dos nossos insucessos. É indispensável tentar prever tudo isso com cuidado e realismo, partindo da situação geral, tal como ela se apresenta para as duas partes, muito embora o curso normal dos acontecimentos não deva necessariamente, e de facto não pode em absoluto, coincidir em todos os detalhes com aquilo que esperamos. Numa partida de xadrez, sem um plano de conjunto é impossível realizar uma jogada realmente boa.
Terceiro, é necessário também pensar na maneira como iremos operar no decurso da fase estratégica seguinte. Seria cumprir mal o dever de estratega, ter apenas em conta a contra-ofensiva, e não encarar o que há a empreender após o resultado vitorioso dessa contra-ofensiva ou, sendo esse o caso, após a respectiva derrota que pode surgir inesperadamente. Numa fase estratégica, o estratega deve encarar as fases ulteriores ou, pelo menos, a fase seguinte. Embora seja difícil prever as modificações que hão-de vir, já que quanto mais longe se olha mais vagas aparecem as coisas, é possível calcularem-se-lhe as grandes linhas e é indispensável encarar as perspecti- vas futuras. Na guerra, como na política, o método de dirigir que consiste em só encarar um novo passo depois de se ter dado o passo anterior é prejudicial. Uma vez dado um passo, torna-se necessário ter em conta as alterações concretas que este tenha provocado, e, nessa base, corrigir ou desenvolver os planos estratégicos e os planos de campanha anteriormente estabelecidos; a não ser assim, corre-se o risco de aventura inconsiderada. Por outro lado, é absolutamente indispensável dispor dum plano que abarque toda uma fase estratégica, e mesmo várias fases estratégicas, um plano concebido em linhas gerais e para um período prolongado. Sem isso, fica-se na incerteza, marca-se passo e, na realidade, servem-se as intenções estratégicas do adversário, condenando-se a si próprio à passividade. É necessário lembrar que o comando supremo do adversário também tem uma certa perspectiva estratégica. Não podemos vencer estrategicamente se não ultrapassamos o adversário de uma cabeça. A direcção estratégica exercida tanto pelos partidários do oportunismo de "esquerda", na quinta campanha do adversário, como pelos partidários da linha de Tcham Cuo-tao, era fundamentalmente errada pelo facto de não se ter observado essa condição. Em resumo, desde a fase da retirada, torna-se necessário encarar de antemão a fase da contra-ofensiva; durante a contra-ofensiva, encarar a fase da ofensiva e, finalmente, durante a ofensiva, encarar de novo a fase da retirada. Não proceder desse modo, limitar as suas considerações exclusivamente à fase do momento, é correr em linha recta para a derrota.
Ganhar a primeira batalha, enquadrá-la no conjunto da campanha, encarar a fase estratégica seguinte, tais são os três princípios que nunca devemos esquecer no momento em que desencadeamos a contra-ofensiva, isto é, quando damos a primeira batalha.
Inclusão | 19/05/2010 |
Última alteração | 08/08/2012 |