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Consideremos um outro gênero de inversão de capital na terra, tecnicamente distinto do anterior: o emprego de instrumentos e maquinas. Todas as estatísticas agrícolas européias atestam de forma irrefutável que, quanto maior em extensão de terra é a exploração, maior é a porcentagem daquelas que utilizam máquinas de todos os modelos e maior também o número de maquinas empregadas A superioridade das grandes explorações, nestes aspectos extremamente importante, está completa e absolutamente estabelecida. Neste ponto, as estatísticas americanas também não são originais: os instrumentos e máquinas agrícolas não são registrados separadamente; contentam-se em determinar o seu valor global. Pode ocorrer, certamente, que esses dados sejam menos precisos em relação a cada caso particular; em compensação, tomados em conjunto, permitem realizar certas comparações entre regiões e grupos de explorações que seriam impossíveis com dados de outro tipo. Eis os dados por região relativos aos instrumentos e máquinas agrícolas:
Regiões | Média por farm |
Média por acre de toda a terra das farms |
Nova Inglaterra | 269 | 2,58 |
Médio Atlântico | 358 | 3,88 |
Nordeste Central | 239 | 2,28 |
Noroeste Central | 332 | 1,59 |
Sul(as 3 regiões) | 72-88-127 | 0,7-0,92-0,95 |
Oeste (as 2 regiões) | 269-350 | 0,83-1,29 |
EUA | 199 | 1,44 |
O antigo Sul escravista, região de parceria, ocupa, portanto, o último lugar no tocante ao emprego de máquinas. O valor dos instrumentos e máquinas por acre de terra, segundo as regiões, é três, quatro e cinco vezes menos elevado que nos Estados intensivos do Norte. Estes últimos Estados mantêm o primeiro lugar em relação a todos os outros, deixando notadamente para trás a região mais agrícola, o celeiro da América: os Estados do Noroeste Central, ainda considerados com frequência, pelos observadores superficiais, como a região modelo quanto ao emprego de máquinas e ao capitalismo.
Notemos que o procedimento utilizado pelos estatísticos da América, e que consiste em determinar o valor das máquinas, bem como o da terra, do gado, das construções, etc., por acre da área total das farms, e não apenas por acre de terra cultivada, subestima a superioridade dos Estados "intensivos" do Norte, e, de um modo geral, não pode ser considerado racional. As regiões apresentam diferenças muito grandes no tocante à percentagem de terra cultivada: no Oeste, em relação aos Estados das montanhas, ela se reduz a 26,7%; no Norte, considerando os Estados do Nordeste Central, ela atinge 75,4%. È incontestável que, para as estatísticas económicas, é á terra cultivada que tem maior importância, e não a superfície total. Na Nova Inglaterra, a quantidade de terra cultivada nas farms e a sua percentagem têm decrescido sensivelmente, em particular a partir de 1880, provavelmente em razão da concorrência das terras livres do Oeste (livres no tocante à renda fundiária, ao tributo a ser pago aos grandes proprietários fundiários). Ora, é nesta região, contudo, que o emprego de máquinas é mais desenvolvido, que o valor das máquinas por acre de terra cultivada é mais elevado: em 1910, ele atingiu 7 dólares por acre, contra a média de 5,5 dólares nos Estados cio Médio Atlântico e não mais de 2,3 dólares nas outras regiões.
A região que apresenta as menores farms segundo a superfície é mais uma vez, aquela onde a inversão de capital na terra sob a forma de máquinas, é a maior.
Se tomarmos, a região mais "intensiva" do Norte — os Estados do Médio Atlântico — e a compararmos com sua região mais extensiva, o Noroeste Central, veremos que, pela quantidade de terra cultivada por farm, a primeira região possui uma quantidade mais de duas vezes "menor": 62,6 acres, contra 148,0; mas, no tocante ao valor das máquinas empregadas, ela supera a segunda região: 368 dólares por farm, contra 332. Assim, as pequenas farms são empresas importantes pela maquinaria que utilizam.
Resta-nos ainda confrontar os dados sobre o caráter intensivo da agricultura com os relativos ao emprego de trabalho assalariado, que já citamos resumidamente na parte 5. No momento devemos examiná-los mais detalhadamente, por região.
Regiões | Porcentagem de farms que contratavam operários em 1909 |
Gastos médios com mão-de-obra por farm (que empregava operários) (em dólares) |
Gastos com mão-de-obra assalariada p/ acre de terra cultivada |
Percentual de acréscimo desta despesa entre 1899 e 1909 |
||
1909 | 1899 | |||||
NORTE | Nova Inglaterra | 66,0 | 277 | 4,76 | 2,55 | +86% |
Médio Atlântico | 65,8 | 253 | 2,66 | 1,64 | +62% | |
Nordeste Central | 52,7 | 199 | 1,33 | 0,78 | +71% | |
Noroeste Central | 51,0 | 240 | 0,83 | 0,56 | +48% | |
SUL | Atlântico Sul | 42,0 | 142 | 1,37 | 0,80 | +71% |
Sudeste Central | 31,6 | 107 | 0,80 | 0,49 | +63% | |
Sudoeste Central | 35,6 | 178 | 1,03 | 0,75 | +37% | |
OESTE | Montanhas | 46,8 | 547 | 2,95 | 2,43 | +22% |
Pacífico | 58,0 | 694 | 3,47 | 1,92 | +80% | |
Conjunto dos EUA | 45,9 | 223 | 1,36 | 0,86 | +58% |
Este quadro mostra, em primeiro lugar, que os Estados "intensivos" do Norte distinguem-se dos Estados extensivos por um maior desenvolvimento do capitalismo na agricultura; em segundo lugar que nas primeiras regiões o desenvolvimento do capitalismo é mais rápido que nos Estados extensivos; em terceiro lugar, que a região de menores farms - a nova Inglaterra - supera todas as outras regiões do país, tanto pelo nível mais elevado de desenvolvimento do capitalismo na agricultura, quanto pela maior rapidez deste desenvolvimento. O crescimento dos gastos com mão-de-obra assalariada por acre de terra cultivada é, aí de 86% e neste aspecto os Estados do Pacífico vem em segundo lugar. Entre os estados do Pacífico, é ainda a Califórnia que está à frente, onde como já dissemos, desenvolve-se com rapidez a "pequena" cultura capitalista de frutas. É comum considerar-se a região do Noroeste Central como a região capitalista "exemplar" da agricultura americana, onde a dimensão das farms é a mais significativa (148,0 acres, em média, em 1910, computando-se apenas a terra cultivada), e onde ela aumenta de forma mais rápida e constante desde 1850. Vemos no presente que esta opinião é profundamente errónea A importância do emprego de mão-de-obra assalariada é, evidentemente, o indicador mais incontestável e direto do desenvolvimento do capitalismo. Ora, este indicador nos mostra que o celeiro da América, a região das famosas e impressionantes "fábricas de trigo", é menos capitalista que a região industrial e a região de agricultura intensiva, onde o progresso agrícola não se expressa através do crescimento da superfície cultivada, mas pelo crescimento das inversões de capital na terra, que vai de par com a redução desta superfície.
É fácil imaginar que o cultivo do Chernozen(1*), ou dás terras virgens em geral, possa se estender com muita rapidez através do emprego de máquinas — a despeito de um crescimento mias medíocre da mão-de-obra assalariada. Nos Estados do Noroeste Central, os gastos com mão-de-obra assalariada por acre de terra cultivada atingiram 0,56 dólares em 1899 e a quantidade de terra cultivada tende a diminuir ao invés de aumentar, o mesmo ocorrendo com a dimensão média das farms, os gastos com mão-de-obra não apenas foram muito superiores em 1899 (2,55 dólares por acre), e em 1909 (4,76 dólares), como também cresceram com muito mais rapidez no curso deste período (+86%).
Na Nova Inglaterra, a farm média é quatro vezes menor que nos Estados do Noroeste Central (38,4 acres contra 148,0), mas os gastos com mão-de-obra assalariada são mais elevados: 277 dólares contra 240. A redução da extensão das farms significa, portanto, em tal caso, um crescimento do montante de capital investido na agricultura, um reforçamento de seu caráter capitalista, o desenvolvimento do capitalismo e da produção capitalista.
Se os Estados do Noroeste Central, que fornecem 34,3% da superfície total cultivada dos Estados Unidos, são particularmente representativos enquanto regiões-modelo da agricultura capitalista extensiva, os Estados das montanhas aparecem como um modelo de exploração extensiva análogo, no quadro de uma colonização bastante acelerada. Aí, o emprego de mão-de-obra é bem menos acentuado que no Noroeste Central em relação à percentagem de farms que contratam operários; entretanto, ele é muito mais considerável no tocante ao montante médio das despesas com mão-de-obra. Mas o crescimento do trabalho assalariado é mais lento nesta região (apenas +22%) que em todas as outras regiões da América. Esta evolução se deve, provavelmente, às seguintes circunstâncias; nesta região, a colonização. e a distribuição de homesteads se realizam aceleradamente. A quantidade de terra cultivada aumentou mais que em qualquer outra região: 89% entre 1900 e 1910. È natural que os colonos detentores de homesteads recorram pouco ao trabalho assalariado, pelo menos de início. Por outro lado, é provável que o trabalho assalariado seja mais utilizado, primeiramente, por certos latifúndios: eles são particularmente numerosos nesta região, como em todo o Oeste em geral; em segundo lugar, por explorações que se dedicam a culturas especiais e altamente capitalizadas. Em certos Estados desta região, por exemplo, uma percentagem muito elevada do valor global da colheita t constituída de frutas (6% no Arizona, 10% no Colorado), legumes (11,9% no Cobrado, 11,2% em Nevada), etc.
Concluindo devemos dizer que a afirmação do Sr. Guimmer, segundo a qual "não existem regiões onde o processo de colonização não esteja em curso, e onde a grande agricultura capitalista não esteja em vias de decomposição e não seja eliminada pela agricultura fundada no trabalho familiar", constitui uma caricatura da verdade, sendo absolutamente contrária à realidade. A região da Nova Inglaterra, onde não existe qualquer colonização, onde as farms são menores e a agricultura mais intensiva que em qualquer outra região do país, é aquela na qual se constata o mais alto grau de capitalização na agricultura e a maior rapidez de desenvolvimento do capitalismo. Esta conclusão possui uma importância essencial e fundamental para a compreensão do processo de desenvolvimento do capitalismo na agricultura em geral, pois a intensificação da agricultura, acompanhada da redução da quantidade média de terra por farm não tem nada de acidental, local, episódico, mas constitui um fenómeno geral, comum a todos os países civilizados. Os numerosos erros cometidos por todos os economistas burgueses, sem exceção, a propósito dos dados relativos à evolução da agricultura na Grã-Bretanha, Dinamarca e Alemanha, por exemplo, explicam-se pelo fato de este fenômeno geral não ser suficientemente conhecido, compreendido, assimilado e meditado.
Notas de rodapé:
(1*) Chernozen (em russo terra preta), um solo muito preto, rico em húmus e carbonatos, encontrado em climas frios ou temperados com uma umidade relativamente baixa, (Nota da edição brasileira.) (retornar ao texto)
Fonte |
Inclusão | 04/03/2012 |