Contra o nacional-comunismo
(as lições do plebiscito ''vermelho'')

Leon Trotsky


O centralismo burocrático, escola de capitulações


Há alguns anos, a Oposição de esquerda avisava que a teoria ''verdadeiramente russa'' do socialismo num só país levaria inevitavelmente as tendências social-patriotas nas outras secções da Internacional Comunista. Na época, isso parecia uma fantasia, uma invenção pérfida, uma ''calúnia''. Mas as ideias têm não somente a sua lógica, elas têm ainda a sua força explosiva. O P. C. alemão deslizou rapidamente, debaixo dos nossos olhos, na esfera do social-patriotismo, quer dizer de tendências e palavras de ordem cujo ódio mortal inspirou outrora a fundação da Internacional Comunista. É extraordinário? Não, está na ordem das coisas!

O método que consiste a se travestir com o vestuário do adversário e da classe inimiga – método profundamente contrário à teoria e à psicologia do bolchevismo – decorre de uma maneira completamente orgânica da essência do centrismo, da sua ausência de princípios, da sua inconsistência, do vazio ideológico. Assim, a burocracia estalinista aplicou durante alguns anos uma política termidoriana para fazer perder terreno aos termidorianos. Por temor da Oposição de esquerda, a burocracia estalinista começou a fazer por bocados falsificações da plataforma da esquerda. Para arrancar aos operários ingleses no poder do trade-unionismo, os estalinistas substituíram política marxista pela política trade-unionista. Para ajudar os operários e camponeses chineses a encontrar uma via independente, os estalinistas fizeram eles entrar no Komitang burguês. Pode-se continuar esta numeração sem fim. Nas grandes questões como nas pequenas, nós vemos sempre o mesmo espírito de travesti, de falsificação contínua das ideias do adversário, de tentativa de se servir contra o inimigo e não das suas próprias armas – que faltam, infelizmente! - mas de arma roubada no arsenal do adversário.

O regime actual do partido age no mesmo sentido. Nós dissemos e escrevemos mais de uma vez que a autocracia do aparelho enfraquece inevitavelmente a vanguarda proletária diante do inimigo, desmoralizando os operários avançados, em dobrando e quebrando os caracteres revolucionários. Aquele que baixa servilmente a cabeça diante de cada oukase vindo de cima é um militante revolucionário sem qualquer valor!

Os burocratas centristas eram zinovievistas sob Zinoviev, bukarinists sob Bukarine, estalinistas e molotovistas com o aparecimento de Estaline e Molotov. Eles baixaram a cabeça mesmo diante dos Manuilsky, dos Kussinen e os Losovsky. Eles repetiam a cada etapa as palavras, as intonações e as caretas do ''chefe'' do dia, eles renunciam hoje, segundo as ordens recebidas, ao que eles juram fidelidade ontem e, tendo metido os dedos na boca, eles assobiam o chefe em debandada que ontem eles erguiam ao céu. Nesse regime funesto, a virilidade revolucionária é suprimida, a consciência teórica esvazia-se, e as espinhas amolecem. Só os burocratas que passaram pela escola zinovievo-estalinista podem com uma tal facilidade substituir a revolução proletária pela revolução popular e, após ter tratado os bolcheviques-léninistas de renegados, erguer sobre seus ombros os chauvinistas do tipo Scheringer.


Inclusão 14/05/2017