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OS REPRESENTANTES dos círculos dirigentes americanos não poupam suas afirmações adocicadas e promessas hipócritas ao se dirigirem aos povos da Europa e às massas trabalhadoras de seu próprio país. Falam aos europeus, da magnanimidade e desinteresse da República transoceânica. E procuram demonstrar aos simples cidadãos dos Estados Unidos a necessidade de sacrifícios e privações em nome de um fim elevado: a salvação da Europa.
No entanto, muita vez a eloqüência farisaica dos «salvadores» da
Europa é substituída por uma linguagem, seca, infinitamente mais
expressiva de homens de negócios.
Em seu discurso transmitido pelo rádio a 18 de junho de 1948, o senador Vandenberg declarou que o plano Marshall é «para nós o melhor dos investimentos». Esta formulação corresponde tão bem às inclinações dos políticos americanos, que foi repetida depois de alguns dias por Dwight Green, governador de Illinois, correligionário político do famoso McCormick, diretor do «Chicago Tribune». Eleito presidente provisório do Congresso do Partido Republicano em Filadélfia, Green em seu discurso, agressivo do princípio ao fim, elogiou o plano Marshall e declarou:
«É um plano dispendioso, e temos o direito de contar que nossos investimentos nos dêem um lucro real sob o aspecto de paz e segurança.»
Não há necessidade de lembrar de novo o que os expansionistas americanos entendem por «paz e segurança». Sabe-se que incluem nesta fórmula a dominação sobre as bases militares e recursos em matérias primas, a formação de alianças militares agressivas, uma política de força e de chantagem, os preparativos para uma nova guerra.
Os monopolistas americanos associam ao plano Marshall vastos projetos econômicos e políticos.
No domínio econômico, trata-se, por um lado, de escravizar economicamente os países da Europa Ocidental.
São os seguintes os argumentos que de ordinário na América apresentam os partidários do plano Marshall: este plano estimulará, dizem eles, a «atividade econômica» nos Estados Unidos, «permitirá a saída dos excedentes», afastará dos operários a ameaça do desemprego e dos empregadores a da perda dos lucros e dos capitais, inevitável no caso de crise econômica de super-produção. Constata-se que o plano Marshall é apresentado como uma espécie de emplastro que deve absorver os intumescimentos do organismo econômico americano.
Fazendo a comparação do plano Marshall com o «New Deal» seguido por Roosevelt depois da Crise de 1929-1933, a revista «United States News and World Report» escreveu recentemente:
«O programa de ajuda aos países estrangeiros comporta também um meio mais fácil de manter a atividade comercial dos. Estados Unidos e permite a saída dos excedentes. A maioria das encomendas serão divididas entre os ramos da industria que produzem as máquinas, os caminhões, os tratores, aparelhagem elétrica, isto é, os ramos que o «New Deal» não pôde reanimar antes da guerra. A saída dos excedentes de sementes, legumes e algodão para o estrangeiro será talvez mais útil do que os programas de ajuda interna ao país.»
Deve notar-se que o papel do plano Marshall, como fator de retardamento da crise, é muitas vezes invocado para combater as objeções que lhe são feitas. Por exemplo, por ocasião dos debates sobre o plano Marshall na comissão de créditos da Câmara dos Representantes, Dodd, ministro da Agricultura em exercício declarou:
«Penso que se o plano for cortado, sereis testemunhas de um dos maiores craques nos mercados de escoamento dos produtos».
Mahon, membro da citada comissão, usou a mesma argumentação. Declarou que ao conseguir o escoamento dos excedentes americanos de produtos agrícolas, o plano Marshall dá meios para evitar «uma baixa imediata dos preços desses produtos». Outro membro da Comissão, Cannon, disse que, sem o plano Marshall, os preços dos produtos da economia rural americana baixariam e «nos encontraríamos em plena depressão».
Já é bastante demonstrativo que seja invocado o espectro da crise para fazer aprovar a política do Sr. Marshall. Mas o mais importante ainda é o fato de que a esperança de conjurar a crise pela ajuda do plano Marshall é manifestamente edificada sobre areia. Isto porque os fundos para a realização desse plano, são tirados, não dos lucros extraordinários dos monopolistas, e sim da bolsa magra dos contribuintes americanos. E este fato não pode deixar de restringir ainda mais o mercado interno. O mal não pode ser curado por tal processo. Pode apenas ser recolhido, após o que a explosão da crise será ainda mais violenta.
Para os monopólios americanos o plano Marshall representa sem dúvida um investimento vantajoso. Para tal, basta o fato dos capitais serem fornecidos pelo Estado e os lucros serem para os monopolistas. Este processo é familiar às corporações que o usaram durante a guerra. Hoje as firmas americanas encontraram de novo um grande e excelente cliente: à frente do qual está o diretor da Cooperação Econômica, Hoffman, A encomenda por parte deste cliente é considerada nos meios monopolistas dos Estados Unidos como um «ersatz» de uma parte da encomenda do tempo da guerra, de que guardam a mais preciosa lembrança com a apetência insaciável de um regresso a esse estado de coisas. . . O que deve suprir a outra parte da encomenda do tempo de guerra são as despesas para a realização do plano de armamentos, proclamado pelo presidente Truman.
É com conhecimento de causa que os organismos governamentais de Washington ligam constantemente as despesas para a corrida aos armamentos às referentes ao plano Marshall. Por exemplo, o relatório do Conselho Econômico junto ao presidente para o primeiro trimestre:
«O plano de reerguimento da Europa e o da defesa devem ser considerados em conjunto, visto que suas conseqüências econômicas são idênticas».
De fato, a natureza dessas despesas é muito semelhante na medida que se refere a seus resultados para a vida econômica americana. Tiram do bolso dos contribuintes bilhões de dólares que vão cair no bolso dos monopolistas da indústria de guerra, dos negociantes de algodão, de trigo, de ovos em pó, dos reis do automóvel, etc.. Desta forma, o relatório do Conselho Econômico, que já mencionamos, exorta os americanos a que abandonem a esperança alimentada depois da guerra de obterem um nível de vida mais elevado e declara com louvável franqueza:
«Esta é nossa variante específica da velha alternativa: «Canhões ou manteiga».
A esta confissão, pode acrescentar-se que a pudica reserva que fala da «variante específica» é manifestamente supérflua. Mesmo examinando ao microscópio nada se encontrará de «específico» na política americana da corrida aos armamentos e de escravizarão da Europa. É a velha variante da «velha alternativa». É a política de Goering que renasce com todos os seus traços característicos.
Inclusão | 28/03/2008 |
Última alteração | 07/04/2016 |