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Um recente ''Memorandum sobre a Legislação Nacional de interesse para os Grupos Religiosos", expedido pelo Comitê de Amigos para a Legislação Nacional, de Washington, declara que,
"a despeito do franco reconhecimento, por parte dos seus principais proponentes, de que o primeiro objetivo é proteger o nosso petróleo no Oriente Médio e refrear a Rússia, antes de aliviar a fome na Grécia e na Turquia, o Congresso parece inclinar-se a aprovar a resolução 938, do Senado e a resolução 2.616, da Câmara".
Outros adversários do projeto de lei para "emprestar" 400 milhões de dólares à Grécia e à Turquia, dos quais dois terços terão a forma de auxílio militar, também salientaram os aspectos petrolíferos da Doutrina Truman. O senador Claude Pepper, democrata, membro da Comissão de Relações Exteriores do Senado, em audiência sobre a resolução 938, interrogou o então Secretário de Estado interino, Dean Acheson. Pepper perguntou:
"Temos algum interesse, dos que chamais diretos, exceto os nossos interesses nos campos petrolíferos da Saudi Arábia?... Tanto quanto me lembro, não temos interesses diretos, financeiros ou de posse, nessa área, exceto os interesses que as companhias petrolíferas americanas têm na Saudi Arábia".
A isto Acheson respondeu:
"Penso que podeis deixar de fora a exceção e a declaração estará correta... Não temos interesses diretos, de posse ou de outra natureza, nesses países".
Os fatos verdadeiros a respeito da vasta penetração do imperialismo americano nas áreas produtoras de petróleo do mundo — e, entre todas elas, o Oriente Próximo e o Oriente Médio são o maior potencial conhecido — foram, entretanto, em geral, esquecidos durante os debates sobre a Doutrina Truman.
Estes fatos se contêm no que se tornou uma raridade para colecionadores, um volume intitulado Interesses Petrolíferos Americanos em Nações Estrangeiras, constituído das longas audiências do 79.° Congresso através da Comissão Especial de Investigação dos Recursos Petrolíferos O'Mahoney. Tanto a Imprensa Nacional como a Comissão esgotaram os seus milhares de exemplares, de que somente um, de arquivo, resta.
Os mapas, os dados e os depoimentos se somam numa simples história, embora não surja esta nas conclusões da Comissão. É a de que o imperialismo americano não está apenas a ponto de estender os seus tentáculos sobre o que, antigamente, era domínio da Grã- Bretanha; já se tornou o fator dominante. Há anos que vem dominando os interesses britânicos e abocanhando os bens petrolíferos da Grã-Bretanha. A posição imperialista britânica há muito vem sendo minada e o imperialismo americano, com a sua agressividade, chegou ao topo da colina. É um pouco tarde para que nos inquietemos com a nossa intromissão no Oriente Próximo e no Oriente Médio. Que isto se tenha produzido tão tranquilamente, sem que o público americano se tornasse inteiramente cônscio do nosso envolvimento, sem a preocupação ostensiva como é de tradição na Grã-Bretanha, é uma peculiaridade do imperialismo americano.
Ora, de repente, a apreensão do público sobre os desígnios imperialistas americanos está se comunicando até mesmo a algumas das grandes companhias petrolíferas. Sabe-se, por exemplo, que um funcionário da Arabian-American Oil Co., ao ouvir a notícia de que a Marinha Norte-Americana ia mandar uma fôrça do Golfo Pérsico, para visitar o porto petrolífero iraniano de Abadan, ficou inquieto, temendo que, se isto acontecesse, propalassem a notícia de que a sua companhia o pedira. Entrementes, os advogados administrativos da Gulf Oil Corp., controlada pela firma Mellon, e um sócio da Kuwait Oil Co., que tem uma concessão no Golfo Pérsico, afirmavam que somente tai fôrça naval daria resultado.
Estas pequenas divergências sem importância, naturalmente, são apenas divergências táticas. Nem é mais importante quem se coloca em primeiro plano se uma decisão do governo ou os objetivos de uma companhia petrolífera, — como não adianta discutir quem nasceu primeiro, se a galinha, se o ovo. Quando o filho de Ibn Saud, o rei da Saudi Arábia, visitou os Estados Unidos, o inverno passado, como convidado oficial do presidente, o avião que o levou em excursão pelo país era pago pela Arabian-American Oil Co., mas três funcionários do Departamento de Estado seguiram com ele, não apenas pelo passeio, mas para dirigir o espetáculo.
O importante é que a base econômica de toda a transação com a Grécia e a Turquia foi disfarçada pela tentativa do governo de vendê-la ao povo americano como um gigantesco desafio aos "vermelhos". O senador Glen Taylor, democrata progressista do Idaho, disse da tribuna, durante os debates:
"Eu gostaria de salientar... que não estamos votando livremente aqui. A Associated Press, a 16 de março, disse. "Quem quer que se levante contra o pedido do sr. Truman estará em perigo de parecer favorável ao comunismo".
Alguns dos proponentes republicanos da medida foram mais francos do que Dean Acheson, ao defendê-la. Num debate radiofônico, o deputado Chester Merrow, republicano, membro da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, declarou:
"A não aprovação do programa do presidente de dar auxílio à Grécia e à Turquia significaria que a Rússia Soviética, como a sua política exterior de expansão e de agressão, em breve controlaria o Mediterrâneo e o Oriente Médio. É perfeitamente óbvio que isto porá em periga os interesses petrolíferos americanos e ocidentais no Oriente Médio. Para nos certificarmos de que esta vasta fonte de energia permaneça em mãos inteiramente amigas, devemos ser firmes e resolutos... Não é somente o petróleo, mas também rotas marítimas e aéreas vitais que estão envolvidas" (NBC, 5 de abril).
Se substituirmos "mãos inteiramente amigas" por "governos sobre que os Estados Unidos possam exercer completo controle político", teremos o programa do imperialismo americano. Ao sair dos lábios do sr. Truman, entretanto, esse programa se envolve em frases de untuosa preocupação pela "liberdade" dos povos, que lembra a preocupação que enchia o rádio e a imprensa, há pouco mais de um ano, pela integridade do Irã. Muitas das críticas sobre os regimes políticos e os problemas interiores da Iugoslávia e da Rumânia têm também o seu aspecto petrolífero. Não foi por nada que a Standard Oil Co. de Nova Jersey, diretamente e através de subsidiárias e afiliadas, inverteu dinheiro na Polônia e na Rumânia, como o fez na Palestina.
"A guerra nos revelou a importância de ter bases de abastecimentos em pontos diferentes no estrangeiro"
— concluiu a Comissão O'Mahoney no seu volume sobre os bens petrolíferos das companhias americanas no exterior, publicado em 1945, antes de terminada a guerra. —
"Para garantir que estas instalações estejam à disposição das nossas fôrças militares em momentos de emergência, devemos ter mercados de tempo de paz".
Não é para consumo de tempo de paz, é óbvio, que o governo estimula as companhias a desenvolver a produção em terra estrangeira, mas para dependermos das nossas reservas aqui para uso na guerra.
Das quatro grandes áreas produtoras de petróleo fora dos Estados Unidos, — as Antilhas, a bacia do Cáspio na União Soviética, o Golfo Pérsico e as índias Orientais Holandesas, —
"as companhias americanas estão à frente na primeira, com as firmas anglo-holandesas em segundo lugar", diz o volume da Comissão O'Mahoney.
Na terceira área,
"dominam as firmas britânicas, embora as companhias americanas tenham grandes propriedades com enormes reservas provadas",
e uma testemunha disse que essas propriedades estavam divididas igualmente. Na quarta área, as firmas anglo-holandesas estão à frente, enquanto as companhias americanas se tornam "cada vez mais importantes". Salientando que essas áreas serão "ativa e crescentemente exploradas", a Comissão insta por "uma política petrolífera nacional, animadora do empreendimento americano no exterior", a fim de diminuir os "riscos políticos".
O total das reservas de petróleo estrangeiro em 1945 se elevava a 43.319.800.000 barris, de que as companhias americanas eram donas de 17.371.700.000 ou 40,1%. O total de reservas estrangeiras, exclusive russas, era 37.554.800.000 barris, de que 46,3% eram americanos.
Onze companhias petrolíferas, em resposta a um questionário (91% da indústria, no que se refere ao controle), deram cifras incompletas para 1944 mostrando que, no fim do ano, a inversão cumulativa das companhias americanas no estrangeiro seria de 3.200 milhões de dólares. O total dos seus bens no estrangeiro foi estabelecido em 2.300 milhões de dólares, 29% do seu valor líquido total, 4.400 milhões de dólares.
O relatório diz:
"A magnitude das reservas do Oriente Próximo e do Oriente Médio deixa na somara as reservas de todas as demais áreas desse hemisfério".
As inversões de capitais das companhias americanas se elevaram de apenas 277.000 dólares em 1918 para 147.507.000 dólares em 1943 e para 202.918.000 em 1944. Sem dúvida estão ainda se elevando.
Como um exemplo de perspectiva e um indício de como estes gigantes do petróleo estão dispostos a inverter capitais e esperar durante um longo período os lucros, a Iraque Petroleum Co., Ltd., gastou cerca de 62 milhões de dólares no desenvolvimento de um campo, o de Kirkuk, um dos maiores do mundo, entre 1925 e a data em que começou a produzir comercialmente, em 1934. Desta soma, a parte americana foi de cerca de 14.720.000 dólares. Esta companhia, que tem grandes bens na Palestina, era antigamente a Turkish Petroleum Co. A sua história abarca a era de rude luta anglo-americana pelo petróleo. O Departamento de Estado, em negociações que se prolongaram de 1920 a 1928, finalmente obteve uma concessão no Iraque. Os americanos puderam ter interesses de 23,3/4%, através da Near East Development Corp., na Iraque Petroleum Co.
Os americanos conduziram a sua penetração no Oriente Próximo por vários meios. Ao passo que as suas maquinações para obter grandes concessões de açúcar, de café, de estanho e de nitratos em todo o mundo são bem conhecidas, por terem tido lugar num período de grande confiança, a sua luta pela posse das reservas petrolíferas mundiais se conduziu em aparente quietude e muitas vezes com a conivência de certos setores do capital britânico.
Vem a propósito a história do desenvolvimento de Bahrein. Sob o chamado Acordo de Linha Vermelha, os participantes da Iraque Petroleum Co., uma companhia internacional, (capitais britânicos, americanos, franceses e holandeses), se comprometiam a não buscar isoladamente concessões no que fora em geral o Império Otomano ou na parte árabe do antigo Império Turco. Mas a Eastern Gulf Corp., uma companhia americana, então participante da Iraque Co., obteve dois contratos de opção de um Sindicato britânico que cobriam a concessão da ilha Bahrein e uma outra na área de Kuwait. Então a companhia transferiu a concessão de Bahrein para a Standard Oil Co. da Califórnia. A Standard formou então uma companhia subsidiária, a Bahrein Petroleum Co., para tomar as concessões. Entretanto, para obedecer aos dispositivos dos acordos britânicos em Bahrein, esta subsidiária foi registrada como corporação britânica, de acordo com as leis canadenses. Quando o Sindicato britânico, para continuar o mito da propriedade britânica, pagou o arrendamento aos americanos, o Colonial Office britânico descobriu a» tramoia. E, indignado, ameaçou de anular toda a transação. Somente a intervenção do Departamento de Estado salvou a situação. Depois de três anos de negociações, o primeiro representante da Standard Oil da Califórnia chegou a Bahrein. Um documento do Departamento de Estado, entregue à Comissão em 1945, quando o Departamento de Estado não estava negando o seu auxílio às companhias petrolíferas americanas, declara, com orgulho, que
"aqui, mais uma vez, a pronta e positiva atitude do Departamento de Estado garantiu resultados favoráveis a uma companhia de propriedade americana".
A Bahrein Petroleum Co., Ltd., é agora propriedade da Standard Oil da Califórnia e da Texas Co. A concessão de Kuwait, depois de mais longa pressão do nosso Departamento de Estado, foi dada à Kuwait Oil Co., semi-britânica e semi-americana, ficando a Gulf Oil Corp. na sua posição e mantendo todos os interesses americanos.
A Standard Oil da Califórnia e a Texas Corp. possuem, meio a meio, a Arabian-American Oil Co., que conseguiu concessões exclusivos na Saudi Arábia, em 1939, com Ibn Saud.
O Departamento de Estado, que nomeou treze ou catorze consultores petrolíferos, em importantes pontos do mundo, "para ajudar os Embaixadores no lidar com os problemas do petróleo", também ajudou companhias americanas ou companhias com parte de interesses americanos, a obter concessões no Irã, no Afeganistão, na Índia, na Síria, na Palestina, no Egito e em Qatar.
E, embora neste país tivéssemos produzido 4.600.000 barris de petróleo por dia em 1944, o febril incremento da produção no estrangeiro continua. A concessão da Saudi Arábia, que testemunhas afirmam “ter provavelmente a maior potencialidade de reservas" no Oriente Médio, que por sua vez "tem o maior entre todas as áreas conhecidas do mundo", está produzindo 225.000 barris por dia, de acordo com a Associação de Pesquisas sobre o Trabalho. Ainda mais, está planejando um oleoduto de 1.200 milhas através do deserto árabe até a costa do Mediterrâneo, para o que companhias de seguros, controladas por Wall Street, estão emprestando 125 milhões de dólares. A Standard Oil da Califórnia tem ligações com o Continental Illinois Bank de Chicago e o Chase National Bank (controlado por Rockefeller) está contribuindo com um empréstimo de 100 milhões de dólares.
A Standard Oil de Nova Jersey e a Socony-Vacuum estão tentando comprar acoes da Arabian-American Oil Co. Isto está sendo contestado, entretanto, nas Côrtes britânicas, pelos franceses, que, a despeito de terem sido desalojados de muitos pontos, retêm interesses na Iraque Petroleum Co. e afirmam que o acordo da Linha Vermelha está envolvido aqui.
E, sempre que os oleodutos se estendem, como os da Iraque Petroleum Co., do campo de Kirkuk, por 469 milhas, numa direção, para Haifa, no Mediterrâneo, e por 382 milhas para Trípoli, noutra direção, isto significa uma concentração de usinas de fôrça, instalações, fôrças armadas residentes. E significa também governos que devem ser comprados, com todo o seu acompanhamento pitoresco de sheiks, de rebanhos de cabras e de albornozes.
No caso do oleoduto de Kirkuk, a companhia foi isentada de todos os impostos pelo governo britânico, que também suavizou as dificuldades para a obtenção de propriedades — uma clara revivescência dos direitos de extraterritorialidade. Mas o preço do petróleo em Haifa não refletiu esta generosidade. Era o mesmo que o preço do petróleo em Manchester, mais o transporte de volta à Palestina.
Se a Saudi Arábia se tornou importante em petróleo, e muitas testemunhas já salientaram como a segunda guerra mundial foi ganha através do petróleo, é apenas uma espécie de páteo dos fundos da Palestina, a grande área de saída para o Mediterrâneo. A Palestina — onde, de um orçamento de 20 milhões de libras despendidas pela Grã-Bretanha, mais de 6 milhões são gastos somente com a polícia e as prisões e apenas 1.684.000 libras com a educação e a saúde pública. Mas muitos judeus que desejam que os Estados Unidos assumam o controle na Palestina e implantem um regime de justiça e de liberdade, se esquecem de que o imperialismo americano, hoje, tem os seus tentáculos firmemente plantados na Terra Santa. Esquecem que é no Oriente Próximo e no Oriente Médio, com a sua provada reserva de 26.800.000.000 de barris de petróleo (1945), que cerca de 64% de toda a reserva americana, no estrangeiro, está localizada. Para se ter uma ideia da sua magnitude, basta dizer que somente 41 bilhões de barris foram produzidos em todo o mundo nos últimos trinta anos e 2.500.000.000 em 1944.
O povo americano terá de tomar uma decisão. Como o senador republicano Edward Martin, que esclareceu não se opôr à Doutrina Truman, declarou, —
"o nosso povo deve ser informado... de que, se dermos ou emprestarmos estes 400 milhões de dólares à Grécia e à Turquia — que aparentemente nos obrigará ao dispêndio de somas ainda maiores, se necessárias, — não será possível esperar novos benefícios educacionais do governo federal..."
Os reacionários republicanos e democratas usarão isto como desculpa a fim de barrar toda legislação social aqui. Isto será um dos grandes resultados do envio de armas e de missões militares à Grécia e à Turquia e a outros Estados, para sustentar títeres que tornem menos problemáticas as nossas aventuras imperialistas.
“Creio que os bolcheviques se assemelham à Anteu, o herói da mitologia grega. Da mesma forma que Anteu, são fortes, porque mantêm contacto com a sua mãe, as massas que os deram à luz, criaram e educaram. E enquanto mantiverem contacto com sua mãe, as massas, contam com todas as possibilidades de serem invencíveis. Nisto está a chave do porque e invencível a direção bolchevique.”
Stalin
Inclusão | 29/06/2013 |