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Primeira Edição: Em Marcha, 19 de Setembro de 1980
Fonte: Francisco Martins Rodrigues — Escritos de uma vida
Transcrição: Ana Barradas
HTML: Fernando Araújo.
Direitos de Reprodução: licenciado sob uma Licença Creative Commons.
O dr. Mário Soares anda por aí a explicar que o voto na FRS é o único voto útil para derrotar a AD. O dr. Álvaro Cunhal, claro, garante que o único voto útil, seguro e fixe para derrotar a AD é o voto na APU.
Vejamos. O que fará o dr. Cunhal ao reforço da APU se lho dermos? A resposta é óbvia: tentará forçar o PS a um acordo para um governo comum. Que é o que anda a fazer há 5 anos.
E o dr. Mário Soares, o que fará? A resposta também não oferece dúvida: quer a FRS saia forte das eleições, quer saia fraca, está posta de parte a hipótese de um acordo com a APU. Só procurará alianças à sua direita. Que é o que sempre tem feito.
É por esta razão que os votos na APU ou na FRS não podem ter qualquer utilidade contra a AD. Porque a dinâmica nas relações entre os principais partidos é tal que o PC está a reboque do PS e o PS está a reboque do PPD e CDS.
Por isso, as grandes massas que têm insistido na miragem do voto “útil” no PC e no PS têm visto a vida a piorar, as fortunas a crescer, a GNR a matracar no Alentejo, o CDS a entrar para o governo, o Mota Pinto a reinar e por fim a AD preparar uma nova ditadura.
Culpa de Mário Soares? Sim, porque quer governar com a confiança do PPD e CDS, dos capitalistas, do FMI, da CEE e da NATO. Mas culpa também de Cunhal porque entrega nas mãos de Soares a chave da situaçio política, sabendo que ele a vai entregar nas mãos da direita. Soares está amarrado à direita e Cunhal está amarrado a Soares. Cunhal e Soares estão amarrados à direita. É isto que resume a situação.
Qual é pois o voto útil para derrotar a AD? É aquele que contribua para romper esta cadeia de dependências. O voto útil contra a AD — é preciso dizê-lo com força — é o voto na UDP. Porque a UDP joga outro jogo. Não pede votos para ficar em melhor posição para negociar acordos à sua direita. A UDP quer um grupo parlamentar para com ele impulsionar a luta popular independente, deslocar pela acção grandes massas para a esquerda, arrancá-las ao pântano do centro onde os seus anseios são diariamente frustrados e traídos, pulverizar a actual correlação de forças entre os partidos, gerar uma situação política nova na qual o povo possa retomar a marcha para diante interrompida no dia 25 de Novembro de 1975. É isto uma política realista. Por isso é útil votar UDP.
Observação: Tiro ao Alvo - Coluna de FMR no jornal Em Marcha e no jornal Política Operária
Inclusão | 03/02/2019 |