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Fonte: http://resistir.info
Transcriçãoe HTML: Fernando Araújo.
Nos primeiros dias de Abril, quando milhões de pessoas protestavam pelo mundo afora em dezenas de cidades contra crimes monstruosos cometidos no Iraque pelas Forças Armadas dos EUA e do Reino Unido, uma estranha campanha ganhou som e volume nas grandes capitais do mundo capitalista.
Governos, meios de comunicaçao social, organizações ligadas à defesa dos direitos humanos formularam contra Cuba graves acusações, a propósito do julgamento de 75 cidadãos, apresentados como «dissidentes».
Resido em Cuba há anos e posso garantir que essa campanha está cimentada sobre uma montanha de mentiras forjadas com transparentes objectivos políticos.
O governo cubano reagiu com serenidade à manobra. Esperou que baixasse a onda de emoção levantada pelos sequestros de dois aviões e da lancha «Baraguá» acontecimentos debatidos durante largas horas num programa de televisão especial para responder às calúnias que o atingiam e repor a verdade sobre os julgamentos através da revelação de factos e documentos indesmentiveis.
Essa tarefa coube a Felipe Perez Roque, ministro das Relações Exteriores.
Abrindo uma conferencia de imprensa que ocupou três horas, arrancou a máscara de diplomata ao actual chefe do Escritório de Interesses dos EUA em Cuba, embaixador James Cason.
Desde a sua nomeação, esse senhor instalou na sede da missão estadunidense aquilo que Perez Roque definiu como um estado-maior empenhado em fomentar actividades contra-revolucionárias na Ilha. Numa entrevista em Dezembro de 2002 informou que tudo faria para unificar os grupos contra-revolucionários que lutam contra o regime constitucional cubano. Trataria de os ajudar a elaborar um programa de luta. E assim fez. Nessa mesma entrevista não escondeu que se reúne frequentemente com os dirigentes da Fundação Cubano Americana de Miami, que patrocinou e financiou os actos terroristas contra hotéis da Ilha.
Amigos cubanos manifestaram estranheza pela gritaria levantada na Europa em torno dos julgamentos. Como é possível tanta desinformação? perguntavam. Era difícil para alguns compreender os mecanismos que tinham levado a União Europeia a somar-se a protestos contra decisões da Justiça cubana a partir de grosseiras mentiras difundidas por forças políticas sem qualquer credibilidade.
Esse espanto reflecte mais do que ingenuidade o desconhecimento que muitos cubanos tem do funcionamento das engrenagens de poder na União Europeia.
O que se passou concretamente nos tão falados julgamentos?
Na primeira semana de Abril, em diferentes Províncias de Cuba, foram julgados ao abrigo da lei vigente similar no tocante ao Processo Penal à de uma centena de países, incluindo os EUA 75 cidadãos acusados da pratica de crimes graves, alguns definidos como de «traição». Todos foram condenados. As penas oscilaram entre 6 e 28 anos de «privação de liberdade». Contrariamente ao que algumas agencias noticiosas afirmaram, não foi aplicada a pena máxima a nenhum dos réus, sequer a de prisão perpétua.
Todos os acusados tiveram direito a constituir advogado; os que não exerceram esse direito foram defendidos por advogados oficiosos, nomeados pelo Estado. Nenhum cumpriu o período de prisão preventiva em celas de «segredo». Nenhum foi submetido a tratamento humilhante ao contrário do que aconteceu com os cinco patriotas cubanos presos em cárceres dos EUA e ali condenados em farsas judiciais.
Os julgamentos foram todos públicos. Aproximadamente 3000 pessoas, incluindo os familiares, acompanharam as audiências.
Segundo artigos publicados na Europa e nos EUA, 37 dos réus eram jornalistas. Mais uma inverdade. Somente quatro deles exerceram por algum tempo o jornalismo ou realizaram estudos de comunicaçao social.
Nenhum tinha alcançado prestígio profissional mínimo. Apesar disso não faltaram abaixo-assinados de solidariedade aos representantes da «intelectualidade cubana, julgados e condenados à porta fechada».
Perez Roque exibiu perante a televisão documentos comprovativos do envolvimento dos «dissidentes» em actividades contra-revolucionárias. Em Cuba não se comparece perante a Justiça por delitos de opinião. Não existe na Ilha essa "figura jurídica".
Alguns dos réus dispunham de cartões de livre transito que lhes permitiam entrar a qualquer hora na sede da missão diplomática dos EUA. Um deles, quando foi detido, tinha no bolso 13 600 dólares; não soube explicar como os obtivera. Outro escondia num frasco 5 000 dólares.
Como adquiriram esse dinheiro?
A maioria não exerceu nos últimos anos qualquer actividade remunerada.
Perez Roque deixou muito claro que cabe ao governos dos EUA a responsabilidade pela criação de grupos contra-revolucionários como aqueles cujos membros se apresentam agora mascarados de intelectuais perseguidos por defenderem as liberdades.
Somente em postos-chave da Administração há no momento duas dezenas de cubanos da mafia de Miami. O conselheiro especial para assuntos da América Latina do Presidente é Otto Reich, um homem da CIA, nascido em Havana.
Quatro décadas de bloqueio, de agressões e sabotagens terroristas e 600 tentativas, fracassadas, de atentados para assassinar Fidel Castro, bem como o estímulo permanente à emigração ilegal, comprovam a permanência de uma obsessão patológica. Sucessivos governos dos EUA têm tentado sem êxito, recorrendo aos métodos mais sujos, derrubar o poder revolucionário, destruir a Revoluçao Cubana.
O povo cubano tem consciência dessa realidade, sabe extrair as lições implícitas na escalada neofascista em curso, na teoria das guerras preventivas.
Os julgamentos de gente contra-revolucionária, acarinhada e financiada pelo embaixador Cason, coincidiram com a exibição da barbárie estadunidense no Iraque.
É chocante, indecoros esta campanha anti-cubana quando centenas de cadáveres de civis iraquianos destroçados pela metralha dos EUA se acumulam ainda nas ruas de Bagdad, quando jornalistas, esses sim autênticos, foram deliberadamente alvejados e mortos pelos canhões inteligentes dos tanques da US Army, quando prisioneiros afegãos continuam a ser tratados como animais nos cárceres da Base de Guantanamo, quando há mais de 2000 presos em cárceres norte-americanos dos quais não se sabe sequer o nome. É uma atitude não ética, de cumplicidade com o neofascismo da Administração Bush, encontrar pretextos para atacar a Cuba revolucionaria, levando solidariedade a mercenários que desejariam ver a pátria de Marti recolonizada.
Perez Roque enunciou uma evidencia ao afirmar:
«O Governo e o povo de Cuba compreendem muito claramente que travam, ainda hoje, uma dura batalha pelo seu direito à livre determinação, pelo seu direito à independencia».