A Ação Individual

Anton Pannekoek

Março de 1933


Primeira Edição:Persdienst van de Groep van Internationale Communisten” número 7, março, 1933. Juntamente com o texto “A destruição como forma de luta”.
Fonte: PANNEKOEK, Anton. The Personal Act. http://libcom.org/library/the-personal-act-pannekoek. Acesso em: 15 set. 2010.
Tradução de: Claus Henrique Bianco de Castro e José Carlos Mendonça
HTML de: Fernando A. S. Araújo
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O incêndio do Reichstag por Van Der Lubbe revela as mais divergentes posições. Nos órgãos da esquerda comunista (Spartacus, De Radencommunist), o incêndio foi aprovado como a ação de um revolucionário comunista. Aprovar e aplaudir tal ato significa advogar pela sua repetição. Portanto torna-se necessário apreciar sua utilidade integralmente.

Talvez o significado do incêndio poderia ser afetar ou debilitar a classe dominante, a burguesia. Nisto não pode haver dúvidas. A burguesia não foi nem um pouco afetada pelo incêndio do Reichstag, de forma alguma sua dominação foi debilitada. Pelo contrário, para o governo, foi uma ocasião para reforçar consideravelmente seu terror contra o movimento operário. Porém, as conseqüências indiretas devem ser enfatizadas.

Mesmo que tal ação afete ou debilite a burguesia, a única conseqüência é desenvolver nos operários a convicção que somente ações individuais como essa podem libertá-los. A verdade que os operários devem assimilar é que apenas a ação de massas da classe operária como um todo pode derrotar a burguesia. Este princípio básico do comunismo revolucionário permanecerá, neste caso, oculto para eles. Sua ação independente como classe se perderá. Ao invés de concentrar todas suas forças na propaganda entre as massas trabalhadoras, as minorias revolucionárias dispersarão suas forças em ações individuais que, mesmo quando tais ações sejam realizadas por um grupo dedicado e com muitos membros, são incapazes de romper a dominação de classe. Com suas consideráveis forças de repressão, a burguesia poderia facilmente perseguir esse grupo. Raramente existiu um grupo revolucionário minoritário que levasse a cabo ações com mais devoção, sacrifício e energia que os niilistas russos de meio século atrás. Em alguns momentos, até parecia que mediante uma série de atentados bem organizados, os niilistas poderiam derrubar o czarismo. Mas um detetive francês, contratado para assumir a luta anti-terrorista no lugar da incompetente polícia russa, foi bem sucedido em destriur o niilismo em apenas poucos anos por meio de sua energia pessoal e organização ocidental. Somente quando se desenvolveu um movimento de massas que o czarismo finalmente foi derrubado.

É possível, no entanto, que tais ações individuais tenham valor como forma de protesto contra o eleitoralismo abjeto, que desvia os operários de sua verdadeira luta?

Um protesto tem valor somente se surge da convicção, produz uma forte impressão, ou se desenvolve a consciência. Mas quem acredita que um operário que defende seus interesses votando nos social-democratas ou nos comunistas duvidará do eleitoralismo porque alguém incendiou o Reichstag? Este é um argumento totalmente ridículo, similar ao que a própria burguesia faz para livrar os operários de suas ilusões, tornando o Reichstag totalmente impotente, decidindo dissolvê-lo, deixando-o a margem do processo de decisão. Os camaradas alemães disseram que isto só podia ser positivo já que a confiança dos operários no parlamentarismo receberá um grande golpe. Sem dúvida, mas esta não é uma maneira muito simplista de encarar as coisas? Nesse caso, as ilusões democráticas serão redirecionadas para outro caminho. Assim, onde inexiste o direito ao sufrágio universal ou onde o parlamento é débil, a conquista da verdadeira democracia é um objetivo avançado e os operários se convencem que somente chegarão a essa conquista por meio de sua ação coletiva. Na verdade, a propaganda sistemática dirigida a explicar cada evento desde o princípio e a entender o verdadeiro significado do parlamento e da luta de classes, sempre permanece como o ponto principal.

A ação individual pode ser um sinal, dando o empurrão final que inicie, por meio do exemplo radical, esta imensa luta?

Existe um certo momento na história em que ações individuais, em momentos de tensão, são como faíscas sobre um barril de pólvora. Mas a revolução proletária em nada se parece com a explosão de um barril de pólvora. Mesmo que o Partido Comunista lute para convencer a si mesmo e ao mundo que a revolução pode explodir a qualquer momento, sabemos que o proletariado ainda deve dar a si mesmo uma nova forma para lutar como massa. Um certo romantismo burguês ainda pode ser percebido nestas visões. Nas revoluções burguesas do passado, a burguesia ascendeu com o povo por trás e se confrontaram contra os soberanos e sua opressão arbitrária. Um atentado à pessoa de um rei ou de um ministro podia ser o sinal da revolta. Hoje, a visão segundo a qual uma ação individual poderia colocar as massas em movimento se revela como uma concepção burguesa de chefe. Não um líder de um partido eleito, mas um chefe que se autodesigna e que, por suas ações, lidera as massas passivas. A revolução proletária nada encontra neste anacrônico romantismo do líder. Uma classe, impulsionada por forças sociais massivas, deve ser a fonte de toda iniciativa.

Contudo, a massa se compõe de indivíduos, e as ações da massa contêm um certo número de ações individuais. Certamente, aqui se encontra o verdadeiro valor da ação individual. Separada da ação de massas, a ação de um indivíduo que pensa que pode realizar sozinho algo grandioso é inútil. Mas como parte de um movimento de massas, a ação individual adquire a mais alta importância. Os operários em luta não são um regimento de marionetes idênticas em coragem, mas estão compostos por forças de diferentes naturezas concentradas no mesmo objetivo, seu irresistível movimento. Neste corpo, a audácia dos corajosos encontra tempo e lugar para se expressar em ações pessoais de coragem, quando a clara compreensão dos demais os levam para um objetivo adequado para não perder o conquistado. Da mesma maneira, em um movimento em ascensão, esta interação de forças e ações é de grande valor quando orientada por uma compreensão clara que anima os operários neste momento, necessária para desenvolver sua combatividade. Mas neste caso será exigida muita tenacidade, audácia e coragem, por isso não será necessário queimar um parlamento.


Inclusão 14/10/2010