Escritos sobre a Guerra Civil Americana
Artigos do New-York Daily Tribune, Die Presse e outros (1861-1865)

Karl Marx e Friedrich Engels


Seção IV. Desdobramentos do conflito
Crise na questão escravista
(Marx. Die Presse, 14 de dezembro de 1861)


capa

Londres, 10 de dezembro de 1861

Com toda evidência, os Estados Unidos chegaram à condição crítica com respeito à questão encontrada no fundo de toda a Guerra Civil: a questão da escravidão. O general Frémont foi demitido de suas funções após declarar que os escravos dos rebeldes deveriam ser libertados. Pouco depois, o governo de Washington enviava uma diretiva ao general Sherman, comandante da expedição na Carolina do Sul, que ia mais longe do que a proclamação de Frémont, pois decretava que os escravos fugitivos, mesmo os pertencentes aos escravistas “leais”, deveriam receber o estatuto de assalariados e, em certas circunstâncias, ser armados, restando aos escravistas “leais” o consolo da perspectiva de receberem futuramente uma indenização.

O coronel Cochrane foi ainda mais longe que Frémont e reclamou o armamento geral dos escravos como medida de guerra. O secretário da Guerra aprovou oficialmente o “espírito” das proposições de Cochrane. Entrementes, o secretário do Interior, falando em nome do governo, desautorizou o secretário da Guerra, o qual reiterou sua opinião mais energicamente ainda em uma conferência oficial, revelando que incluíra tal reivindicação em seu relatório ao Congresso. O sucessor de Frémont no Missouri, o general Halleck, assim como o general Dix na Virgínia oriental, estão caçando os escravos fugitivos em seus acampamentos militares, proibindo-os de reaparecerem, no futuro, próximos das posições ocupadas por seus exércitos. Ao mesmo tempo, o general Wool está acolhendo de braços abertos o “contrabando” negro no Forte Monroe. Os velhos líderes do Partido Democrata, os senadores Dickinson e Croswell (ex-membros da chamada regência democrata), aprovaram as posições de Cochrane e Cameron, tendo o coronel Jannison ultrapassado todos os seus superiores hierárquicos dirigindo uma ordem do dia às suas tropas, na qual dizia entre outras coisas:

Nenhuma contemporização com os rebeldes e seus simpatizantes. Declarei ao general Frémont que teria desembainhado minha espada caso imaginasse que a escravidão fosse sobreviver a esta luta. Os escravos dos rebeldes sempre encontrarão proteção neste acampamento e nós iremos defendê-los até o último homem e a última bala. Eu não quero, em meio às minhas tropas, homens que não sejam abolicionistas. Aqui não há lugar para eles, e espero que não haja este tipo de gente entre nós, porque cada um sabe que a escravidão é o fundamento, o centro e o vértice desta guerra infernal [...] Caso o governo desaprove a minha maneira de agir, pode retirar minha patente, porém, neste caso, agirei por minha própria iniciativa, mesmo se, no começo, não puder contar com mais do que meia dúzia de homens.

A questão da escravidão está sendo resolvida, na prática, nos estados escravistas fronteiriços, notadamente no Missouri e em grau menor no Kentucky. Os escravos estão se dispersando em larga escala. Por exemplo, 50 mil escravos desapareceram do Missouri, uma parte deles fugiu e outra foi enviada pelos escravistas para os estados mais ao sul.

É muito estranho um acontecimento de tamanho significado não ser mencionado em nenhum jornal inglês. No dia 18 de novembro, delegados de 45 condados da Carolina do Norte reunidos na ilha de Hatteras nomearam um governo provisório, revogaram a declaração de secessão e proclamaram o retorno da Carolina do Norte à União. Os condados da Carolina do Norte representados nesta assembleia foram convocados para eleger os seus representantes junto ao Congresso em Washington.


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Inclusão: 18/08/2022