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Os homens da Aliança, escondidos por detrás do Comité federal de Neuchâtel, querendo tentar um novo esforço para desorganizar a Internacional, num terreno mais vasto, convocaram um Congresso das suas secções em Sonvillier para 12 de Novembro de 1871. — Já em Julho, duas cartas de mestre Guillaume ao seu amigo Robin ameaçavam o Conselho Geral com uma campanha semelhante se ele não consentisse em dar-lhes razão «contra os salteadores de Genebra».
O Congresso de Sonvillier compunha-se de dezasseis delegados, pretendendo representar ao todo nove secções, entre as quais a nova Secção de Propaganda e de Acção Revolucionária Socialista de Genebra.
Os dezasseis estrearam-se com o decreto anarquista, declarando dissolvida a federação romanda, a qual se apressou a devolver os Aliancistas à sua «autonomia» pondo-os fora de todas as secções.
De resto, o Conselho deve reconhecer que um lampejo de bom senso os fez aceitar o nome de Federação Jurassiana que a Conferência de Londres lhes tinha dado.
A seguir, o Congresso dos Dezasseis procedeu à «reorganização da Internacional», lançando contra a Conferência e o Conselho Geral uma Circular a todas as federações da Associação Internacional dos Trabalhadores.
Os autores da circular acusam, em primeiro lugar, o Conselho Geral de ter, em 1871, convocado uma conferência em vez de um congresso. Das explicações dadas precedentemente resulta que estes ataques se dirigem directamente a toda a Internacional que, no seu conjunto, tinha aceitado a convocação de uma conferência na qual, aliás, a Aliança se encontrava convenientemente representada pelos cidadãos Robin e Bastelica.
Em cada congresso, o Conselho Geral teve os seus delegados; no Congresso de Basileia, por exemplo, havia seis. Os dezasseis pretendem que
«a maioria da Conferência foi falsificada antecipadamente pela admissão de seis delegados do Conselho Geral com voto deliberativo».
Na realidade, entre os delegados do Conselho Geral à Conferência, os proscritos franceses não eram senão os representantes da Comuna de Paris, enquanto os seus membros ingleses e suíços não puderam senão excepcionalmente tomar parte nas sessões como atestam as actas que serão submetidas ao próximo Congresso. Um delegado do Conselho tinha um mandato de uma federação nacional. Segundo uma carta dirigida à Conferência, o mandato de um outro foi retido por causa do anúncio da sua morte pelos jornais(18*). Resta um delegado, de tal maneira que, só os Belgas, estavam relativamente ao Conselho como 6 estão para 1.
A polícia internacional, mantida afastada na pessoa de Gustave Durant, havia-se queixado amargamente da violação dos estatutos gerais pela convocação de uma conferência «secreta». Ainda não estava suficientemente ao corrente dos nossos regulamentos gerais para saber que as sessões administrativas dos Congressos são obrigatoriamente privadas.
As suas queixas, todavia, encontraram um eco simpático entre os dezasseis de Sonvillier que exclamaram:
«E para coroar o edifício, uma decisão desta conferência estabelece que o Conselho Geral fixará ele próprio a data e o lugar do próximo Congresso ou da Conferência que o substituir: de tal modo que eis-nos ameaçados com a supressão dos congressos gerais, essas grandes sessões públicas da Internacional.»
Os dezasseis não quiseram ver que esta decisão não vem senão afirmar, relativamente aos governos, que, apesar de todas as medidas repressivas, a Internacional tem a resolução inabalável de realizar as suas reuniões gerais de uma maneira ou de outra.
Na assembleia geral das secções genebrinas de 2 de Dezembro de 1871, que acolhia mal os cidadãos Malon e Lefrançais, estes últimos apresentaram uma proposta tendente a confirmar os decretos aprovados pelos dezasseis de Sonvillier e que continham uma censura contra o Conselho Geral assim como o repúdio da Conferência. A Conferência tinha decidido que «as resoluções da Conferência que não são destinadas à publicidade serão comunicadas aos Conselhos federais dos diversos países pelos secretários correspondentes do Conselho Geral». Esta resolução, inteiramente conforme aos estatutos e regulamentos gerais, foi falsificada por B. Malon e os seus amigos da seguinte maneira:
«Uma parte das resoluções da Conferência não será comunicada senão aos conselhos federais e aos secretários correspondentes.»
Acusam ainda o Conselho Geral de ter «faltado ao princípio da sinceridade», ao recusar-se a entregar à polícia, pela «publicidade», resoluções que têm por objectivo exclusivo a reorganização da Internacional nos países em que está proscrita.
Os cidadãos Malon e Lefrançais queixam-se, além disso, de que
«a Conferência atentou contra a liberdade de pensamento e da sua expressão..., ao dar ao Conselho Geral o direito de denunciar e de repudiar qualquer órgão de publicidade das secções e federações, tratando quer dos princípios sobre que a associação repousa, quer dos interesses respectivos das secções e federações, quer, enfim, dos interesses gerais de toda a associação (ver o Egalité de 21 de Dezembro)».
E, o que é que há no Egalité de 21 de Dezembro? Uma resolução da Conferência em que ela «anuncia que doravante o Conselho Geral será obrigado a denunciar e a repudiar publicamente todos os jornais que, dizendo-se órgãos da Internacional, seguindo o exemplo dado pelo Progrès e o Solidarité, discutam nas suas colunas, perante o público burguês, questões que não se deve discutir senão no seio dos comités locais, dos comités federais e do Conselho Geral ou nas sessões privadas e administrativas dos Congressos, quer federais quer gerais».
Para apreciar bem a lamentação agridoce de B. Malon, é preciso considerar que esta resolução põe fim, de uma vez por todas, às tentativas de alguns jornalistas desejosos de se substituírem aos comités responsáveis da Internacional e de desempenhar, no seu meio, o mesmo papel que a boémia jornalística desempenha no mundo burguês. Na sequência de uma tentativa semelhante, o Comité federal de Genebra tinha visto membros da Aliança redigir o órgão oficial da Federação romanda, o Egalité, num sentido que lhe era inteiramente hostil.
Aliás, o Conselho Geral não precisava da Conferência de Londres para «denunciar e repudiar publicamente» os abusos do jornalismo, pois o Congresso de Basileia decidiu (Res. II) que:
«Todos os jornais contendo ataques contra a Associação devem imediatamente ser enviados ao Conselho Geral pelas secções.»
«E evidente», diz o Comité federal romando na sua declaração de 20 de Dezembro de 1871 (Egalité de 24 de Dez.), «que este artigo não estava redigido com a intenção de o Conselho Geral guardar nos seus arquivos os jornais que atacam a Associação, mas para responder e destruir, se necessário, o efeito pernicioso das calúnias e dos denegrimentos maldosos. É evidente também que este artigo se refere em geral a todos os jornais e que, se não queremos tolerar gratuitamente os ataques dos jornais burgueses, por maioria de razão, devemos repudiar pelo órgão da nossa delegação central, pelo Conselho Geral, os jornais cujos ataques contra nós se fazem a coberto do nome da nossa Associação.»
Observemos, de passagem, que o Times, esse Leviatã da imprensa capitalista, o Progrès (de Lyon), jornal da burguesia liberal, e o Journal de Genève[N238], jornal ultra-reaccionário, cobriram a Conferência com as mesmas censuras e se serviram quase dos mesmos termos que os cidadãos Malon e Lefrançais.
Depois de se ter levantado contra a convocação da Conferência, em seguida, contra a sua composição e o seu carácter preten-samente secreto, a circular dos dezasseis atira-se às próprias resoluções.
Constatando, em primeiro lugar, que o Congresso de Basileia tinha abdicado
«ao dar ao Conselho Geral o direito de recusar, de admitir ou de suspender secções da Internacional»,
imputa, mais adiante, este pecado à Conferência:
«Esta Conferência... tomou resoluções... que tendem a fazer da Internacional, livre federação de secções autónomas, uma organização hierárquica e autoritária de secções disciplinadas, colocadas inteiramente sob a mão de um Conselho Geral que pode a seu prazer recusar a sua admissão ou então suspender a sua actividade!!»
Mais adiante, volta ao Congresso de Basileia que teria «desnaturado as atribuições do Conselho Geral».
Todas estas contradições da circular dos dezasseis se resumem a isto: a Conferência de 1871 é responsável pelo voto do Congresso de Basileia de 1869, e o Conselho Geral é culpado de ter observado os estatutos que o obrigam a executar as resoluções dos congressos.
Na realidade, o verdadeiro móbil de todos estes ataques contra a Conferência é de uma natureza mais íntima. Em primeiro lugar, pelas suas resoluções, ela acabava de frustrar as intrigas práticas dos homens da Aliança na Suíça. Além disso, os promotores da Aliança, na Itália, em Espanha, numa parte da Suíça e da Bélgica, tinham criado e mantido com uma maravilhosa persistência uma confusão calculada entre o programa de circunstância de Bakúnine e o programa da Associação Internacional dos Trabalhadores.
A Conferência pôs em relevo este mal-entendido intencional pelas suas duas resoluções sobre a política proletária e sobre as secções sectárias. A primeira, refutando a abstenção política pregada pelo programa Bakúnine, está plenamente justificada pelos seus considerandos, apoiados nos estatutos gerais, na resolução do Congresso de Lausanne e noutros precedentes(19*).
Passemos agora às secções sectárias:
A primeira fase na luta do proletariado contra a burguesia está marcada pelo movimento sectário. Tem razão de ser numa época em que o proletariado ainda não está suficientemente desenvolvido para agir como classe. Pensadores individuais fazem a crítica dos antagonismos sociais e dão-lhes soluções fantásticas que a massa dos operários não tem senão de aceitar, de propagar e de pôr em prática. Pela sua própria natureza, as seitas formadas por estes iniciadores são abstencionistas, estranhas a toda a acção real, à política, às greves, às coalizões, numa palavra, a todo o movimento de conjunto. A massa do proletariado permanece sempre indiferente ou mesmo hostil à sua propaganda. Os operários de Paris e de Lyon não queriam saber mais dos Saint-Simonianos, dos Fourrieristas, dos Icários[N239], do que os cartistas[N7] e os trade-unionistas ingleses queriam saber dos Owenistas. Estas seitas, alavancas do movimento na sua origem, fazem-lhe obstáculo logo que ele as ultrapassa; então, tornam-se reaccionárias; testemunhos: as seitas em França e na Inglaterra e ultimamente os Lassallianos na Alemanha que, depois de terem entravado durante anos a organização do proletariado, acabaram por se tornar simples instrumentos de polícia. Enfim, é esta a infância do movimento proletário, como a astrologia e a alquimia são a infância da ciência. Para que a fundação da Internacional fosse possível, era preciso que o proletariado tivesse ultrapassado esta fase.
Face às organizações fantasistas e antagónicas das seitas, a Internacional é a organização real e militante da classe proletária em todos os países, ligados uns com os outros na sua luta comum contra os capitalistas, os proprietários fundiários e o seu poder de classe organizado no Estado. Por isso, os estatutos da Internacional não conhecem senão simples sociedades «operárias» prosseguindo todas o mesmo objectivo e aceitando todas o mesmo programa, que se limita a traçar o grande traço do movimento proletário e deixa a sua elaboração teórica à impulsão dada pelas necessidades da luta prática e à troca das ideias que se faz nas secções, admitindo indistintamente todas as convicções socialistas nos seus órgãos e nos seus congressos.
Assim como em toda a nova fase histórica, os velhos erros reaparecem um instante para logo desaparecerem em seguida, assim também a Internacional viu renascer no seu seio secções sectárias, embora sob uma forma pouco acentuada.
A Aliança, considerando como um progresso imenso a ressurreição das seitas, é uma prova concludente de que o seu tempo passou. Pois, enquanto na sua origem ela representava elementos do progresso, o programa da Aliança, a reboque de um «Maomé sem Corão»[N240], não representa senão um apanhado de ideias de além-túmulo, disfarçadas sob frases sonoras, não podendo assustar senão burgueses idiotas ou servir aos procuradores, bonapartistas ou outros, de peças de culpa contra os internacionais(20*).
A Conferência, em que estavam representados todos os matizes socialistas, aclamou por unanimidade a resolução contra as secções sectárias, convencida de que esta resolução, reconduzindo a Internacional ao seu verdadeiro terreno, marcaria uma nova fase da sua marcha. Os partidários da Aliança, sentindo-se atingidos de morte por esta resolução não viram nela senão uma vitória do Conselho Geral sobre a Internacional, pela qual, como a sua circular diz, ele fez «predominar o programa especial» de alguns dos seus membros, a «sua doutrina pessoal», a «doutrina ortodoxa», «a teoria oficial, única a ter direito de cidade na Associação». De resto, a culpa não era de alguns dos seus membros, era a consequência necessária, o «efeito corruptor» do facto de que eles faziam parte do Conselho Geral, pois
«é absolutamente impossível que um homem que tem poder» (!) «sobre os seus semelhantes permaneça um homem moral. O Conselho Geral torna-se um foco de intrigas».
Segundo a opinião dos Dezasseis, podia já censurar-se aos estatutos gerais uma falta grave, a de dar ao Conselho Geral o direito de associar a si novos membros. Munido deste poder, dizem eles,
«o Conselho podia, posteriormente, associar a si todo um pessoal que teria modificado completamente a sua maioria e as suas tendências».
Parece que, para eles, o simples facto de homens pertencerem ao Conselho Geral é suficiente para destruir, não apenas a sua moralidade mas também o seu senso comum. De outro modo, como é que se poderia supor que uma maioria se transforma a si própria em minoria por adjunções voluntárias?
De resto, os próprios Dezasseis não parecem muito convencidos de tudo isto; pois, mais adiante, queixam-se de que o Conselho Geral foi
«composto durante cinco anos seguidos pelos mesmos homens, sempre reeleitos»,
e imediatamente a seguir eles repetem:
«a maior parte dos quais não são mandatários regulares nossos, não tendo sido eleitos por um Congresso».
O facto é que o pessoal do Conselho Geral mudou constantemente, se bem que alguns dos fundadores aí tenham permanecido, como nos Conselhos federais belga, romando, etc.
O Conselho Geral está submetido a três condições essenciais para o cumprimento do seu mandato. Em primeiro lugar, exige um pessoal bastante numeroso para executar a multiplicidade dos seus trabalhos; em seguida, uma composição de «trabalhadores pertencentes às diferentes nações representadas na Associação Internacional» e, por fim, a predominância do elemento operário. Como é que, uma vez que as exigências do trabalho são para o operário uma causa incessante de mudança no pessoal do Conselho Geral, ele poderia reunir estas condições indispensáveis sem o direito de adjunção? Não obstante, uma definição mais exacta deste direito parece-lhe necessária, como disso exprimiu desejo na última Conferência.
A reeleição do Conselho Geral, tal como estava composto, pelos Congressos sucessivos, e nos quais a Inglaterra mal estava representada, pareceria provar que ele cumpriu o seu dever dentro dos limites dos seus meios. Os Dezasseis, pelo contrário, não vêem nisso senão a prova da «confiança cega dos Congressos», confiança levada, em Basileia,
«até uma espécie de abdicação voluntária nas mãos do Conselho Geral».
Segundo eles, o «papel normal» do Conselho deve ser «o de uma simples repartição de correspondência e de estatística». Apoiam esta definição com vários artigos tirados de uma tradução errada dos estatutos.
Em oposição aos estatutos de todas as sociedades burguesas, os estatutos gerais da Internacional mal afloram a sua organização administrativa. Deixam o seu desenvolvimento à prática e a regularização aos congressos futuros. Não obstante, como só a unidade e o conjunto de acção das secções dos diversos países lhes poderiam conferir o carácter distintivo de internacionalidade, os estatutos ocupam-se mais do Conselho Geral do que das outras partes da organização.
O artigo 5 dos estatutos originais[N242] diz: «O Conselho Geral funcionará como agente Internacional entre os diferentes grupos nacionais e locais» e dá, em seguida, alguns exemplos da maneira como ele deve agir. Entre esses mesmos exemplos, encontra-se a instrução para o Conselho fazer de modo a que «sendo reclamada a acção imediata, como no caso das querelas internacionais, todos os grupos da Associação possam agir simultaneamente e de uma maneira uniforme». O artigo continua: «Segundo julgar oportuno, o Conselho Geral tomará a iniciativa das propostas a submeter às sociedades locais e nacionais.» Além disso, os estatutos definem o papel do Conselho na convocação e preparação dos congressos e encarregam-no de certos trabalhos que lhes deverá submeter. Os estatutos originais põem tão pouco em oposição a acção espontânea dos grupos com a unidade de acção da Associação que o artigo 6 diz: «Uma vez que o movimento operário em cada país não pode ser assegurado senão pela força resultante da união e da associação; uma vez que, por outro lado, a acção do Conselho Geral será mais eficaz..., os membros da Internacional deverão fazer todo o possível para reunir as sociedades operárias ainda isoladas dos seus respectivos países em associações nacionais, representadas por órgãos centrais.»
A primeira resolução administrativa do Congresso de Genebra (art. 1.º) diz:
«O Conselho Geral é obrigado a executar as Resoluções dos congressos.»
Esta resolução legalizou a posição mantida pelo Conselho Geral desde a sua origem: a de delegações executivas da Associação. Seria difícil executar ordens sem «autoridade» moral à falta de qualquer outra «autoridade livremente consentida». O Congresso de Genebra, ao mesmo tempo, encarrega o Conselho Geral de publicar «o texto oficial e obrigatório dos estatutos».
O mesmo Congresso resolveu (Res. Admin, de Genebra, art. 14):
«Cada secção tem o direito de redigir os seus estatutos e regulamentos particulares, adaptados às circunstâncias locais e às leis do seu país; mas eles não devem ser contrários em nada aos estatutos e regulamentos gerais.»
Observemos, em primeiro lugar, que não há a mínima alusão a declarações particulares de princípios nem a missões especiais de que tal ou tal secção se encarregaria fora do objectivo comum prosseguido por todos os grupos da Internacional. Trata-se muito simplesmente do direito das secções de adaptarem os estatutos e regulamentos gerais «às circunstâncias locais e às leis do seu país».
Em segundo lugar, por quem deveria a conformidade dos estatutos particulares com os estatutos gerais ser constatada? Evidentemente, se não houvesse «autoridade» encarregada dessa função, a resolução seria nula e de nenhum efeito. Não apenas se poderiam formar secções policiais ou hostis mas também a intrusão de sectários desclassificados e de filantropos burgueses na Associação poderia desnaturar o seu carácter e, pelo seu número, nos congressos, esmagar os operários.
Desde a sua origem, as federações nacionais ou locais atribuíram a si próprias nos seus países respectivos este direito de admitir ou de recusar novas secções, consoante os estatutos destas estavam ou não estavam conformes aos estatutos gerais. O exercício da mesma função pelo Conselho Geral está previsto pelo artigo 6 dos estatutos gerais, ao deixar às sociedades locais independentes — isto é, a sociedades constituindo-se fora dos laços federais dos seus países — o direito de se porem em relação directa com ele. A Aliança não desdenhou exercer este direito, a fim de estar nas condições requeridas para enviar delegados ao Congresso de Basileia.
O art. 6 dos estatutos prevê também os obstáculos legais que se opõem à formação das federações nacionais em certos países onde, por consequência, o Conselho Geral é chamado a funcionar como Conselho federal (ver Actas do Congresso, etc, de Lausanne, 1867, p. 13[N243]).
Desde a queda da Comuna, estes obstáculos legais não deixaram de aumentar em diferentes países e de tornar aí mais indispensável ainda a acção do Conselho Geral, para manter os elementos suspeitos [véreux] fora da Associação. É assim que, ultimamente, Comités em França pediram a intervenção do Conselho Geral para se desembaraçarem de bufos e que, num outro grande país(21*), os Internacionais lhe requereram que não reconhecesse nenhuma secção que não estivesse fundada por mandatários directos seus ou por eles próprios. Motivavam o seu pedido pela necessidade de afastar assim agentes provocadores cujo zelo ruidoso se manifestava pela formação rápida de secções de um radicalismo sem igual. De um outro lado, secções pretensamente antiautoritárias não hesitam em apelar para o Conselho logo que um diferendo surge no seu seio nem mesmo em lhe pedir para dar com força nos seus adversários, como aconteceu com o diferendo de Lyon. Mais recentemente, desde a Conferência, a Federação operária de Turim resolveu declarar-se secção da Internacional. Na sequência de uma cisão, a minoria fundou a sociedade: «Emancipação do Proletário»[N244]. Aderiu à Internacional e estreou-se com uma resolução a favor dos Jurassianos. O seu jornal Il Proletário formiga de frases indignadas contra todo o autoritarismo. Ao enviar as quotizações da sociedade, o seu secretário(22*) previne o Conselho Geral de que a antiga federação enviaria provavelmente também as suas quotizações. Depois, continua:
«Como teríeis lido no Proletário, a sociedade Emancipação do Proletário... declarou... recusar toda a solidariedade com a burguesia mascarada de operária que compõe a federação operária»,
e ele pede ao Conselho Geral para
«comunicar esta resolução a todas as secções e para recusar os 10 cêntimos de quotizações, no caso de eles lhe serem enviados»(23*).
À semelhança de todos os grupos internacionais, o Conselho Geral tem o dever de fazer propaganda. Cumpriu-o com os seus manifestos e com os seus mandatários que lançaram os primeiros alicerces da Internacional na América do Norte, na Alemanha e em muitas cidades de França.
Uma outra função do Conselho Geral consiste em prestar auxílio às greves, assegurando-lhes o socorro de toda a Internacional. (Ver os relatórios do Conselho Geral aos diferentes congressos.) Entre outros, o facto seguinte prova de que peso foi a sua intervenção nas greves. A sociedade de resistência dos fundidores de ferro ingleses é por si própria uma trade union internacional, possuindo ramos noutros países, designadamente nos Estados Unidos. Não obstante, numa greve de fundidores americanos, estes últimos acharam necessário invocar a intercessão do Conselho Geral para impedir a importação de fundidores ingleses para o seu país.
O desenvolvimento da Internacional impôs ao Conselho Geral assim como aos Conselhos federais a função de árbitro.
O Congresso de Bruxelas resolveu:
«Os Conselhos federais são obrigados a enviar cada trimestre ao Conselho Geral um relatório sobre a administração e o estado financeiro das secções da sua competência.» (Resol. Administ. n." 3.)
Por fim, o Congresso de Basileia, que provoca o furor bilioso dos Dezasseis, não fez mais do que regularizar as relações administrativas nascidas do desenvolvimento da Associação. Se ele estendeu excessivamente os limites das atribuições do Conselho Geral, de quem é a culpa, senão de Bakúnine, Schwizguebel, F. Robert, Guillaume e outros delegados da Aliança, que o pediram em grandes gritos? Acusar-se-iam eles, por acaso, de «confiança cega» no Conselho Geral de Londres?
Eis duas resoluções do Congresso de Basileia:
«IV. Cada nova secção ou sociedade que se forme e queira fazer parte da Internacional deve anunciar imediatamente a sua adesão ao Conselho Geral,»
e «V. O Conselho Geral tem o direito de admitir ou de recusar a filiação de todas as novas sociedades ou grupos, sem prejuízo de apelo para o próximo Congresso.»
Quanto às sociedades locais independentes, que se formam fora dos laços federativos, estes artigos não fazem senão confirmar a prática observada desde a origem da Internacional e cuja manutenção é uma questão de vida ou de morte para a Associação. Mas ia-se muito longe generalizando a prática e aplicando-a indistintamente a toda a secção ou sociedade em vias de formação. Estes artigos dão, com efeito, ao Conselho Geral o direito de se imiscuir na vida interna das federações; mas, por isso, nunca foram aplicados nesse sentido pelo Conselho Geral. Ele desafia os Dezasseis a citar um único caso em que se tenha imiscuído nos assuntos de novas secções que se queriam filiar em grupos ou em federações existentes.
As resoluções que acabamos de citar referem-se às secções em vias de formação e as resoluções seguintes às secções já reconhecidas:
«VI. O Conselho Geral tem igualmente o direito de suspender até ao próximo Congresso uma secção da Internacional.
«VII. Quando surgirem dissensões entre sociedades ou ramos de um grupo nacional ou entre grupos de diferentes nacionalidades, o Conselho Geral terá o direito de decidir sobre o diferendo, sem prejuízo de apelo para o próximo Congresso que decidirá definitivamente.»
Estes dois artigos são necessários para casos extremos, se bem que até agora o Conselho Geral nunca tenha tido de recorrer a eles. O historial feito mais acima prova que ele não suspendeu nenhuma secção e que, em caso de diferendos, nunca agiu senão como árbitro invocado pelas duas partes.
Chegamos, por fim, a uma função imposta ao Conselho Geral pelas necessidades da luta. Por muito que doa aos partidários da Aliança, o Conselho Geral, pela própria persistência dos ataques de que é objecto por parte de todos os inimigos do movimento proletário, encontra-se colocado na vanguarda dos defensores da Associação Internacional dos Trabalhadores.
Depois de terem refutado a Internacional tal como ela é, os Dezasseis dizem-nos o que ela deveria ser.
Em primeiro lugar, o Conselho Geral seria nominalmente uma simples repartição de correspondência e de estatística. Cessando as suas funções administrativas, as suas correspondências reduzir-se-iam necessariamente à reprodução das informações já publicadas nos jornais da Associação. A repartição de correspondência seria, portanto, torneada. Quanto à estatística, é um trabalho irrealizável sem uma poderosa organização e, sobretudo, como dizem expressamente os Estatutos originais, sem uma direcção comum. Ora, como tudo isto cheira fortemente a «autoritarismo», haverá talvez uma repartição, mas certamente não haverá estatística. Numa palavra, o Conselho Geral desaparece. A mesma lógica atinge Conselhos federais, Comités locais e outros centros «autoritários». Ficam apenas as secções autónomas.
Qual será agora a missão destas «secções autónomas», livremente federadas e felizmente desembaraçadas de toda a autoridade, «mesmo que essa autoridade tenha sido eleita e constituída pelos trabalhadores»?
Aqui torna-se necessário completar a circular com o relatório do Comité federal jurassiano submetido ao Congresso dos Dezasseis.
«Para fazer da classe operária a verdadeira representante dos interesses novos da humanidade», é preciso que a sua organização seja «guiada pela ideia que deve triunfar. Extrair essa ideia das necessidades da nossa época, das tendências íntimas da humanidade, por um estudo continuado dos fenómenos da vida social, fazer em seguida essa ideia penetrar no seio das nossas organizações operárias, tal deve ser o objectivo, etc, Por fim, é preciso formar no seio das nossas populações operárias uma verdadeira escola socialista revolucionária.»
Deste modo, as secções autónomas de operários convertem-se de repente em escola, de que estes senhores da Aliança serão os mestres. Eles extraem a ideia pelos «estudos continuados», que não deixam o mínimo rasto. Eles «fazem-na em seguida penetrar no seio das nossas organizações operárias». Para eles, a classe operária é uma matéria bruta, um caos, que, para tomar forma, precisa do sopro do Espírito Santo deles.
Tudo isto não é senão uma paráfrase do antigo programa da Aliança, que começa por estas palavras:
«Tendo-se a minoria socialista da Liga da Paz e da Liberdade separado desta Liga», propõe-se fundar «uma nova Aliança da Democracia Socialista... que se dá por missão especial estudar as questões políticas e filosóficas...»
Eis a ideia que daí se «extrai»!
«Semelhante empreendimento... dará aos democratas socialistas sinceros da Europa e da América o meio de se entenderem e de afirmarem as suas ideias.»(24*)
Deste modo, por confissão própria, a minoria de uma sociedade burguesa não se introduziu na Internacional, algum tempo antes do Congresso de Basileia, senão para se servir dela como meio para se colocar, perante as massas operárias, como hierarca de uma ciência oculta, ciência de quatro frases, cujo ponto culminante é «a igualdade económica e social das classes».
Fora desta «missão teórica», a nova organização proposta para a Internacional tem também o seu lado prático.
«A sociedade futura», diz a circular dos Dezasseis, «não deve ser nenhuma outra coisa senão a universalização da organização que a Internacional a si própria tiver dado. Devemos, portanto, ter o cuidado de aproximar o mais possível esta organização do nosso ideal»
«Como pretender que uma sociedade igualitária e livre saia de uma organização autoritária? É impossível. A Internacional, embrião da futura sociedade humana, é obrigada a ser, desde agora, a imagem fiel dos nossos princípios de liberdade e de federação.»
Por outras palavras, assim como os conventos da Idade Média representavam a imagem da vida celeste, a Internacional deve ser a imagem da nova Jerusalém, de que a Aliança traz o «embrião» nos flancos. Os federados de Paris não teriam sucumbido se, compreendendo que a Comuna era «o embrião da futura sociedade humana», se tivessem desembaraçado de toda a disciplina e de todas as armas, coisas que devem desaparecer, uma vez que não haverá mais guerras!
Mas, para estabelecer bem que, apesar dos seus «estudos continuados», os Dezasseis não chocaram este lindo projecto de desorganização da Internacional no momento em que ela combate pela sua existência, Bakúnine acaba de publicar o seu texto original na sua dissertação sobre a organização da Internacional. (Ver Almanach du Peuple pour 1872 [Almanaque do Povo para 1872], Genebra.)
Lede agora o relatório apresentado pelo Comité jurassiano ao Congresso dos Dezasseis.
«Esta leitura», diz o seu jornal oficial a Révolution sociale (16 de Novembro), «dará a medida exacta do que se pode esperar de devotamento e de inteligência prática por parte dos aderentes à federação jurassiana.»
Começa por atribuir a «estes terríveis acontecimentos» a guerra franco-alemã e a guerra civil em França — uma influência «em parte desmoralizadora... sobre a situação das secções da Internacional».
Se, com efeito, a guerra franco-alemã teve de levar à desorganização das secções, ao alistar um grande número de operários nos dois exércitos, não é menos verdade que a queda do Império e a proclamação aberta da guerra de conquista por Bismarck provocaram na Alemanha e na Inglaterra uma luta apaixonada entre a burguesia, tomando partido pelos prussianos, e o proletariado, afirmando mais do que nunca os seus sentimentos internacionais. Por isto mesmo, a Internacional viria a ganhar terreno nestes dois países. Na América, o mesmo facto [effet] produziu uma cisão na imensa emigração proletária alemã; o partido internacional separou-se nitidamente do partido chauvinista.
Por outro lado, o advento da Comuna de Paris produziu um surto sem precedentes no desenvolvimento exterior da Internacional e na reivindicação viril dos seus princípios pelas secções de todas as nacionalidades — excepto, todavia, as jurassianas, cujo relatório continua assim: desde «o começo da luta gigantesca... a reflexão está imposta... Uns fogem, a esconder a sua fraqueza... Para muitos, esta situação (nas suas fileiras) é um sinal de decrepitudes», mas «é, pelo contrário, uma situação própria para transformar completamente a Internacional» à imagem deles. Compreender-se-á este desejo modesto depois de um exame mais aprofundado de uma situação tão propícia.
Deixando de lado a Aliança, dissolvida e substituída a partir daí pela secção Malon, o Comité tinha de justificar a situação de vinte secções. De entre elas, sete voltam-lhe muito simplesmente as costas; eis o que o relatório diz acerca disso:
«A secção de montadores de caixas e a de gravadores e guilhochadores de Bienne nunca responderam a nenhuma das comunicações que lhes dirigimos.
«As secções dos ofícios de Neuchâtel, seja carpinteiros, montadores de caixas gravadores e guilhochadores não deram nenhuma resposta às comunicações do Comité federal.
«Não pudemos obter nenhuma notícia da secção do Val-de-Ruz.
«A secção dos gravadores e guilhochadores do Locle não deu nenhuma resposta às comunicações do Comité federal.»
Eis o que se chama um comércio livre de secções autónomas com o seu Comité federal. Uma outra secção, a
«de gravadores e guilhochadores do distrito de Courtelary, após três anos de perseverança obstinada... neste momento... constitui-se em sociedade de resistência»
fora da Internacional, o que de modo nenhum os impede de se fazerem representar por dois delegados no Congresso dos Dezasseis. Vêm, então, quatro secções bem mortas:
«A secção central de Bienne caiu momentaneamente; um dos seus membros devotados escrevia-nos, todavia, ultimamente, que não estava perdida toda a esperança de ver renascer a Internacional em Bienne. «A secção de Saint-BIaise caiu.
«A secção de Catébat, depois de ter tido uma existência brilhante, teve de ceder perante as intrigas urdidas pelos senhores» (!) «desta localidade para dissolver esta valente» (!) «secção.
«Por fim, a secção de Corgémont, ela também, foi vítima das intrigas patronais .»
Vem a seguir a secção central do distrito de Courtelary que
«tomou uma medida sábia: suspendeu a sua acção,»
o que não a impede de enviar dois delegados ao Congresso dos Dezasseis.
Vêm agora quatro secções de uma existência mais do que problemática.
«A secção do Grange encontra-se reduzida a um pequeno núcleo de operários socialistas... A sua acção local encontra-se paralisada pelo seu número restrito.
«A secção central de Neuchâtel veio a sofrer consideravelmente com os acontecimentos e, se não tivesse sido o devotamento, a actividade de alguns dos seus membros, a queda era certa.
«A secção central do Locle, entre a vida e a morte durante alguns meses, tinha acabado por se dissolver. Muito recentemente reconstituiu-se,»
evidentemente, com o único objectivo de enviar dois delegados ao Congresso dos Dezasseis.
«A secção de propaganda socialista de La Chaux-de-Fonds está numa situação crítica... A sua posição, longe de melhorar, tende antes a piorar.»
Depois, vêm duas secções, os círculos de estudos de Saint-Imier e de Sonvillier, que não são mencionados senão de passagem e sobre cuja condição não se diz uma palavra.
Resta a secção modelo que, a julgar pelo seu nome de secção central, não é ela própria senão o resíduo de outras secções desaparecidas.
«A secção central de Moutier é certamente aquela que menos sofreu... O seu comité esteve em relação contínua com o Comité federal... Ainda não estãofunda-das secções...»
Isso explica-se:
«A acção da secção de Moutier encontra-se muito particularmente favorecida pelas excelentes disposições de uma população operária... de costumes populares; gostaríamos de ver a classe operária desta região tornar-se ainda mais independente dos elementos políticos.»
Vemos, com efeito, que este relatório
«dá a medida exacta do que se pode esperar do devotamente e da inteligência prática da parte dos aderentes à Federação Jurassiana».
Teriam podido completá-lo acrescentando que os operários de La-Chaux-de-Fonds, sede primitiva do seu comité, sempre repudiaram toda a relação com eles. Recentemente ainda, na assembleia geral de 18 de Janeiro de 1872, responderam à circular dos Dezasseis com votos unânimes confirmando as resoluções da Conferência de Londres assim como a resolução do Congresso romando de Maio de 1871:
«de excluir para sempre da Internacional os Bakúnine, Guillaume e seus adeptos».
Será ainda preciso acrescentar uma única palavra sobre o valor deste pretenso Congresso de Sonvillier que, segundo as suas próprias palavras, fez «rebentar a guerra, a guerra aberta, no seio da Internacional»?
Certamente, estes homens que fazem mais barulho do que o peso que têm tiveram um sucesso incontestável. Toda a imprensa liberal e policial tomou abertamente o partido deles; foram secundados nas suas calúnias pessoais contra o Conselho Geral e nos seus ataques anódinos contra a Internacional pelos pretensos reformadores de todos os países — em Inglaterra, pelos republicanos burgueses, cujas intrigas o Conselho Geral desmanchou; em Itália, pelos livre-pensadores dogmáticos que, sob a bandeira de Stefanoni, acabam de fundar uma «sociedade universal de racionalistas», tendo sede obrigatória em Roma, organização «autoritária» e «hierárquica», conventos de frades e de freiras ateus, e cujos estatutos atribuem um busto em mármore, colocado na sala do Congresso, a todo o burguês doador de dez mil francos[N245]; por fim, na Alemanha, pelos socialistas bismarckianos que, fora do seu jornal policial, o Neuer Social-Demokrat[N246], fazem de camisas brancas[N247] do império prusso-alemão.
O conclave de Sonvillier pede a todas as secções internacionais, num apelo patético, para insistir sobre a urgência de um Congresso imediato «para reprimir», como dizem os cidadãos Malon e Lefrançais, «as usurpações sucessivas do Conselho de Londres» — na realidade, para substituir a Internacional pela Aliança. Este apelo recebeu um eco tão encorajador que eles se viram imediatamente reduzidos a falsificar um voto do último Congresso belga. Eles dizem no seu órgão oficial (Révolution Sociale, 4 de Janeiro de 1872):
«Por fim, coisa mais grave, as secções belgas reuniram-se no Congresso, em Bruxelas, a 24 e 25 de Dezembro, e votaram por unanimidade uma resolução idêntica à do Congresso de Sonvillier sobre a urgência de provocar um Congresso Geral.»
Importa constatar que o Congresso belga votou exactamente o contrário. Encarregou o Congresso belga, cuja reunião não terá lugar senão em Junho, de elaborar um projecto de novos estatutos gerais para ser submetido ao próximo Congresso da Internacional. De acordo com a imensa maioria da Internacional, o Conselho Geral não convocará o Congresso anual senão para Setembro de 1872.
Algumas semanas depois da Conferência, chegaram a Londres os senhores Albert Richard e Gaspard Blanc, membros mais influentes e mais ardentes da Aliança, encarregados de recrutar entre os refugiados franceses auxiliares prontos a trabalhar para a restauração do Império, único meio, segundo eles, de se desembaraçar de Thiers e de não ficar de bolso vazio. O Conselho Geral avisou os interessados e, entre outros, o Conselho federal de Bruxelas das suas manobras bonapartistas.
Em Janeiro de 1872, tiraram a máscara ao publicarem a brochura: L'Empire et la France nouvelle. Appel du peuple et de la jeunesse à la conscience française [O Império e a França Nova. Apelo do Povo e da Juventude à Consciência Francesa], por Albert Richard e Gaspard Blanc, Bruxelas, 1872.
Com a modéstia ordinária dos charlatães da Aliança, recitam assim a sua pantominice:
«Nós que havíamos formado o grande exército do proletariado francês... nós, os chefes mais influentes da Internacional em França(25*)... felizmente, não estamos fuzilados, nós, e nós estamos aqui para arvorar, em frente deles (os parlamentares ambiciosos, os republicanos de barriga cheia, os pretensos democratas de toda espécie), a bandeira à sombra da qual combatemos, e para lançar à Europa admirada, apesar das calúnias, apesar das ameaças, apesar dos ataques de toda a espécie que nos esperam, este grito que sai do fundo da nossa consciência e que ecoará em breve no coração de todos os franceses: "Viva o Imperador!"
«Para Napoleão III, infamado e conspurcado, é preciso uma reabilitação esplêndida,»
e os senhores Albert Richard e Gaspard Blanc, pagos pelos fundos secretos de Invasão III, estão especialmente encarregues desta reabilitação.
De resto, confessam eles:
«é a progressão normal das nossas ideias que nos tornaram imperialistas(26*)».
Eis uma confissão que deve agradavelmente fazer cócegas aos seus correligionários da Aliança. Como nos belos dias do Solidarité, A. Richard e G. Blanc debitam as suas velhas frases sobre o «abstencionismo político» que, segundo os dados da sua «progressão normal», não se torna uma realidade senão sob o despotismo mais absoluto onde, então, os trabalhadores se abstêm de toda a ingerência política, como o prisioneiro se abstém de todo o passeio ao sol.
«O tempo dos revolucionários», dizem eles, «passou... o comunismo está relegado à Alemanha e à Inglaterra, à Alemanha sobretudo. Foi aí, aliás, que ele se elaborou seriamente, desde há muito, para se espalhar em seguida por toda a Internacional e esta progressão inquietante da influência alemã na Associação não contribuiu pouco para parar o seu desenvolvimento, ou antes, para lhe dar um novo curso nas secções do Centro e do Sul da França, que nunca receberam palavras de ordem de nenhum alemão.»
Não julgaríamos ouvir o grande Hierofante ele próprio(27*) a atribuir-se, desde a fundação da Aliança, na sua qualidade de Russo, a missão especial de representar as raças latinas? ou os «verdadeiros missionários» da Révolution Sociale (2 de Novembro de 1871) a denunciarem
«a marcha atrás que os miolos alemães e bismarckianos trabalham para imprimir à Internacional»?
Mas felizmente que a verdadeira tradição não está perdida e que os senhores Albert Richard e Gaspard Blanc não estão fuzilados! Por isso, o «trabalho» deles consiste em «dar um novo curso» à Internacional, no Centro e no Sul da França, tentando fundar secções bonapartistas, por isso mesmo essencialmente «autónomas». Quanto à constituição do proletariado em partido político, recomendada pela Conferência de Londres,
«depois da restauração do Império, nós» — Richard e Blanc — «nós em breve teremos acabado, não só com as teorias socialistas mas com o começo de realização que elas revelam pela organização revolucionária das massas». Numa palavra, explorando o grande «princípio de autonomia de secções» que «constitui a verdadeira força da Internacional... especialmente nos países de raça latina (Révolution Sociale de 4 de Janeiro),»
estes senhores especulam sobre a anarquia na Internacional.
A Anarquia, eis o grande cavalo-de-batalha do seu mestre Bakúnine que dos sistemas socialistas não tomou senão as etiquetas. Todos os socialistas entendem por Anarquia isto: o objectivo do movimento proletário, uma vez alcançada a abolição das classes, o poder do Estado, que serve para manter a grande maioria produtora sob o jugo de uma minoria exploradora pouco numerosa, desaparece, e as funções governamentais transformam-se em simples funções administrativas. A Aliança toma as coisas às avessas. Proclama a anarquia nas fileiras proletárias como o meio mais infalível para quebrar a poderosa concentração das forças sociais e políticas nas mãos dos exploradores. Sob este pretexto, ela pede à Internacional, no momento em que o mundo velho procura esmagá-la, para substituir a sua organização pela anarquia. A polícia internacional não pede mais do que isso para eternizar a república —Thiers— cobrindo-a com o manto imperial(28*).
London, 5 de Março de 1872 33, Rathbone Place, W.
Escrito por Marx e Engels
Notas de rodapé:
(18*) Trata-se de Marx. (retornar ao texto)
(19*) Eis as resoluções da Conferência sobre a acção política da classe operária:
«Tendo em conta os considerandos dos Estatutos originais onde é dito: "A emancipação económica dos Trabalhadores é o grande objectivo ao qual todo o movimento político deve estar subordinado como meio";
«tendo em conta a Mensagem Inaugural da Associação Internacional dos Trabalhadores (1864) que diz: "Os senhores da terra e os senhores do capital servir-se-ão sempre dos seus privilégios políticos para defenderem e perpetuarem o seu monopólio económico. Muito longe de levarem à emancipação do trabalho, continuarão a opor-lhe o maior número de obstáculos possíveis... a conquista do poder político tornou-se, portanto, o primeiro dever da classe operária";
«tendo em conta as resoluções do Congresso de Lausanne (1867) para este efeito: "A emancipação social dos Trabalhadores é inseparável da sua emancipação política";
«tendo em conta a declaração do Conselho Geral sobre a pretensa conjura dos Internacionais franceses na véspera do plebiscito (1870), onde é dito: "Segundo o teor dos nossos estatutos, certamente que todas as nossas secções, em Inglaterra, no Continente e na América têm a missão especial, não apenas de servir de centro à organização militante da classe operária mas também de apoiar, nos seus respectivos países, todo o movimento político tendente à realização do nosso objectivo final: a emancipação económica da classe operária";
«atendendo a que traduções infiéis dos Estatutos originais deram lugar a interpretações falsas que foram prejudiciais para o desenvolvimento e a acção da Associação Internacional dos Trabalhadores;
«em presença de uma reacção sem freio que asfixia violentamente todo o esforço de emancipação por parte dos trabalhadores e pretende manter pela força brutal a distinção das classes e a dominação política das classes possidentes que dela resulta;
«considerando, além disso:
«que contra este poder colectivo das classes possidentes o proletariado não pode agir como classe senão constituindo-se ele próprio em partido político distinto, oposto a todos os antigos partidos formados pelas classes possidentes;
«que esta constituição do proletariado em partido político é indispensável para assegurar o triunfo da revolução social e do seu objectivo supremo: a abolição das classes;
«que a coalizão das forças operárias já obtida pelas lutas económicas deve também servir de alavanca nas mãos desta classe na sua luta contra o poder político dos seus exploradores;
«a Conferência lembra aos membros da Internacional:
«que, no estado militante da classe operária, o seu movimento económico e a sua acção política estão indissoluvelmente unidos.» (Nota dos Autores.) (retornar ao texto)
(20*) Os trabalhos policiais publicados nestes últimos tempos sobre a Internacional — sem exceptuar nem a circular de Jules Favre às potências estrangeiras nem o relatório do rural Sacaze sobre o projecto Dufaure — formigam de citações tiradas dos pomposos manifestos da Aliança[N241]. A fraseologia destes sectários, cujo radicalismo todo está nas palavras, serve às maravilhas os desejos da reacção. (Nota dos Autores.) (retornar ao texto)
(21*) A Áustria. (retornar ao texto)
(22*) C. Terzaghi.(retornar ao texto)
(23*) Tais eram, nesta época, as opiniões aparentes da sociedade Emancipação do Proletário, representada pelo seu secretário correspondente, amigo de Bakúnine. Na realidade, as tendências desta secção eram completamente diferentes. Depois de ter expulso, por desvio de fundos e também pelas suas relações amigáveis com o chefe da polícia de Turim, este representante duplamente infiel, esta sociedade prestou esclarecimentos que fizeram desaparecer qualquer mal-entendido entre ela e o Conselho Geral. (Nota dos Autores.) (retornar ao texto)
(24*) Os homens da Aliança que não cessam de censurar ao Conselho Geral a convocação de uma Conferência privada num momento em que a reunião de um Congresso público teria sido o cúmulo da traição ou do disparate, estes partidários absolutos da claridade e da luz do dia, organizaram, com desprezo pelos nossos estatutos, no seio da Internacional, uma verdadeira sociedade oculta, dirigida contra a própria Internacional, com o objectivo de colocar as suas secções, sem o saberem, sob a direcção sacerdotal de Bakúnine.
O Conselho Geral propõe-se reclamar do próximo Congresso um inquérito sobre esta organização secreta e os seus promotores em certos países, por exemplo, em Espanha. (Nota dos Autores.) (retornar ao texto)
(25*) Sob o título «Ao pelourinho!» o Egalité (de Genebra), de 15 de Fevereiro de 1872, diz:
«Ainda não chegou o dia para contar a história da derrota do movimento comunalista no Sul da França; mas, o que podemos anunciar desde hoje, nós, que na maior parte fomos testemunhas da deplorável derrota da insurreição de 30 de Abril em Lyon, é que esta insurreição fracassou em parte graças à cobardia, à traição, ao roubo de G. Blanc, que se intrometia em todo o lado, executando as ordens de A. Richard, que se mantinha na sombra.
«Pelas suas manobras intencionais, estes miseráveis conseguiram comprometer vários nomes daqueles que tomavam parte nos trabalhos preparatórios dos Comités insurreccionais.
«Além disso, estes traidores conseguiram desacreditar a Internacional em Lyon a tal ponto que, no momento da revolução parisiense, a Internacional inspirava aos operários de Lyon a maior desconfiança. Daí, a ausência total de organização; daí, a derrota da insurreição, derrota que teve necessariamente de arrastar a queda da Comuna, abandonada às suas forças isoladas! Não foi senão depois desta sangrenta lição que a nossa propaganda soube reagrupar os operários de Lyon em torno da bandeira da Internacional.
«Albert Richard foi o menino bonito, o profeta de Bakúnine e consortes. » (Nota dos Autores.) (retornar ao texto)
(26*) Isto é, partidários do Império. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(27*) M. Bakúnine. (retornar ao texto)
(28*)No relatório sobre a lei Dufaure, o rural Sacase atira-se antes de tudo à «organização da Internacional». Esta organização é o seu pesadelo. Depois de ter constatado a marcha ascendente desta formidável Associação, ele continua: «Esta Associação rejeita... as práticas tenebrosas das seitas que a precederam. A sua organização fez-se e modificou-se à luz do dia. Graças ao poder desta organização... ela estendeu sucessivamente a sua esfera de acção e de influência. Todos os territórios se lhe abrem.» Depois, descreve «sumariamente» a sua «organização» e conclui: «Tal é, na sua sábia unidade,... o plano desta vasta organização. A sua força está nesta própria concepção. Está também na massa dos seus aderentes, ligados a uma acção simultânea, e, por fim, na invencível impulsão que pode fazê-los mover.» (Nota dos Autores.) (retornar ao texto)
Notas de fim de tomo:
[N7] Movimento revolucionário de massas dos operários ingleses nos anos 30-40
do século XIX. Os cartistas elaboraram em 1838 uma petição (Carta do Povo) ao
Parlamento, a qual continha as reivindicações do sufrágio universal para os homens
de mais de 21 anos, o voto secreto, a abolição das restrições censitárias para os
candidatos a deputados ao Parlamento, etc. O movimento começou com grandes
comícios e manifestações e decorreu sob a palavra de ordem de luta pela aplicação
da Carta do Povo. Em 2 de Maio de 1842 foi entregue ao Parlamento uma segunda
petição dos cartistas, incluindo já uma série de reivindicações de carácter social
(redução da jornada de trabalho, aumento dos salários, etc). Esta petição, tal como
a primeira, foi rejeitada pelo Parlamento. Em resposta a isto, os cartistas realizaram
uma greve geral. Em 1848 os cartistas marcaram um desfile de massas para o Parlamento com uma terceira petição, mas o governo concentrou tropas e dispersou o
desfile. A petição foi rejeitada. Depois de 1848 o movimento cartista entrou em
declínio.
A causa principal do insucesso do movimento cartista foi a ausência de programa e táctica precisos e de uma direcção consequentemente revolucionaria. Mas os cartistas exerceram uma grande influência tanto na história política da Inglaterra como no desenvolvimento do movimento operário internacional. (retornar ao texto)
[N214] A circular de J. Favre de 26 de Maio de 1871 prescrevia aos representantes diplomáticos franceses no estrangeiro que obtivessem dos governos europeus a prisão e a entrega dos refugiados da Comuna como simples criminosos de direito comum. Dufaure propôs um projecto de lei, elaborado por uma comissão especial da Assembleia Nacional francesa e aprovado a 14 de Março de 1872, que tornava passível de prisão a adesão à Internacional. (retornar ao texto)
[N238] Journal de Genève national, politique et littéraire (Jornal de Genebra nacional, político e literário): jornal conservador; publica-se desde 1826. (retornar ao texto)
[N239] Icários: seguidores do comunista utópico francês Cabet, autor do romance Viagem a Icária. (retornar ao texto)
[N240] Trata-se de M. A. Bakúnine. (retornar ao texto)
[N241] Trata-se da circular do ministro dos Negócios Estrangeiros aos representantes diplomáticos franceses, datada de 6 de Junho de 1871, na qual Jules Favre exortava todos os governos a uma luta comum contra a Internacional. Trata-se também do relatório feito por Sacaze em 5 de Fevereiro de 1872 em nome da comissão que examinou o projecto de lei de Dufaure (ver nota 214). (retornar ao texto)
[N242] Aqui e mais adiante Marx cita os Estatutos da Internacional aprovados no Congresso de Genebra e editados em Londres, em inglês (Rules of the International Working Men's Association [Estatutos da Associação Internacional dos Trabalhadores], 1867). (retornar ao texto)
[N243] Isto é um lapso. O artigo 6 dos Estatutos Gerais foi adoptado no Congresso de Genebra da Internacional em 1866. Ver Congrès ouvrier de VAssociation Internationale des Travailleurs tenu à Genève du 3 au 8 septembre 1866, Genève, 1866, pp. 13-14 (Congresso Operário da Associação Internacional dos Trabalhadores realizado em Genebra de 3 a 8 de Setembro de 1866, Genebra, 1866, pp. 13-14). (retornar ao texto)
[N244] A Federação Operária foi fundada em Turim no Outono de 1871 e encontrava-se sob a influência dos mazzinistas. Em Janeiro de 1872 os elementos proletários saíram da Federação e fundaram a sociedade Emancipação do Proletário, reconhecida mais tarde como secção da Internacional. Até Fevereiro de 1872 a sociedade
foi dirigida pelo agente secreto da polícia Terzaghi.
Il Proletário (O Proletário): jornal italiano publicado em Turim de 1872 a 1874; defendeu os bakuninistas contra o Conselho Geral e as decisões da Conferência de Londres. (retornar ao texto)
[N245] Em Novembro de 1871 o democrata burguês Stefanoni formulou o projecto de criação de uma «Sociedade Universal de Racionalistas», cujo programa apresentava uma mistura de ideias democráticas burguesas e de socialismo utópico pequeno-burguês (criação de colónias agrícolas para resolver o problema social, etc). A Sociedade tinha por objecto desviar os operários da Internacional e impedir a difusão da sua influência em Itália; ao mesmo tempo, Stefanoni declarava a sua solidariedade com a Aliança da Democracia Socialista. As denúncias feitas por Marx e Engels dos verdadeiros objectivos de Stefanoni e dos laços directos dos anarquistas com os democratas burgueses, assim como as declarações de vários militantes do movimento operário italiano contra o projecto de Stefanoni, fizeram abortar as suas tentativas de submeter o movimento operário italiano à influência burguesa. (retornar ao texto)
[N246] Neuer Social-Demokrat (Novo Social-Democrata): jornal alemão publicado em Berlim de 1871 a 1876; órgão da Associação Geral de Operários Alemães, criada por Lassalle. O jornal lutou contra a direcção marxista da Internacional e do Partido Operário Social-Democrata alemão; apoiou os bakuninistas e os representantes de outras correntes antiproletárias. (retornar ao texto)
[N247] Chamava-se camisas brancas ou blusas brancas aos bandos formados pela prefeitura de polícia do Segundo Império. Compostos por elementos desclassificados, estes bandos, fazendo-se passar por operários, organizavam manifestações provocatórias, criando assim pretextos para repressões contra as verdadeiras organizações operárias. (retornar ao texto)
Inclusão | 22/12/2008 |
Alteração | 14/03/2009 |