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Juraci! Onde estás que não respondes?!
Em que escuso recanto tu te escondes,
Quando zombam de ti?!
Há duas noites te mandei meu brado,
Que embalde desde então corre alarmado...
Onde estás, Juraci?
Qual Zigomar, tu me encerraste um dia
Nas celas vis da infinda galeria,
Provisório galé!...
Por tóxico – me deste uma água escassa!
E imenso bolachão – foi a argamassa...
Que ligaste ao café...
O costado robusto de assassino
Sob a vergasta larga o pêlo fino
Feito chaga afinal.
Meu dorso se ensanguenta, a dor poreja
Quando eu deitado por acaso esteja
No grabato infernal.
Meus colegas têm sorte, são ditosos...
Dorme o C.P.O.R. em volutuosos
Leitos no Aclamação,
Ou em redes de couros de elefantes
Embalam-se os rapazes, bons instantes,
Num enorme salão.
Por tenda – têm os tetos do Palácio...
Não comem bóia nem pirão sebáceo
Com gosto de aguarrás
O fumo do cigarro do céu inflama...
E organizam a noite sobre a cama
Pagodes colossais.
A Legião é sempre a gloriosa!...
A unidade maldita e caprichosa,
Sabuja e cortesã.
Vagabunda – não tem pudor na cara,
Pusilânime – à noite se prepara
para fuga amanhã!...
Sempre a láurea lhe cabe no pagode...
Ora uma pinga, ora um xinxim de bode
Faz-lhe a pança feliz.
Seu protetor – estúpido tunante
Segue cativo passo delirante
Da grande meretriz.
Mas eu, tentente!... Eu, triste, abandonado,
À classe dos detentos nivelado,
Perdido clamo em vão!...
Se protesto... a cadeia é iminente!...
Talvez, pra que o protesto, ó vil tenente!
Não se mude em vulcão.
E nem mesmo um colchão tenho de festa!...
Para cobrir-me nem um pano resta
No quarto aterrador...
Quando pressinto o ressoar do apito,
Embalde a Fachinetti em prantos grito:
"Liberta-me, senhor!..."
Como o detento a quem o gorro cobre,
Levo à cabeça o mesmo gorro pobre
Do assassino feroz...
Assim que à galeria sou levado,
Dizem os presos: - "Ei-lo engaiolado
Tal e qual como nós..."
Nem vêem que o xadrez é meu sudário.
Que o horror vai lavrando solitário
Por sobre o peito meu.
Do antigo pavilhão na cela escura,
Muito rapaz "chinchado" se esconjura
Do dia em que nasceu.
Do teto e das paredes derrocadas
As aranhas espiam debruçadas
O cárcere sem fim...
Onde aparece a caravana errante,
Amordaçada pelo torpe guante
De um tenente ruim...
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Não basta inda de dor, homem terrível?
É, pois, teu peito inchado inexaurível
De vingança e rancor?
E que fiz eu, senhor? que torvo crime
Eu cometi, jamais, que assim me oprime
Teu gládio vingador?...
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Foi depois dos discursos... Um "secreta",
Símbolo ideal da insensatez concreta
Feriu um popular...
E eu gritei ao sicário desalmado:
- "Vou furar-te, ladrão, de lado a lado..."
E me pus a atirar...
Desde esse dia de ódio e de desgraça,
A bolachão a estudantada passa
Na reclusão cruel...
Os sambas troam pela noite a fora,
E a faxina começa de hora em hora
Pra varrer o papel.
Vi a turma render-se após as sete...
Vi meu povo seguir de "marinetti"
Caminho da prisão...
Depois vi minha gente desgraçada,
Por membros da milícia aprisionada...
Imundo Gavião!...
Bahia!... em vão exiges liberdade!
Teu sangue não lavou desta cidade
A mancha original.
Ainda hoje são por sorte vária
Burro – HANNEQUIM, FACÓ – uma alimária...
JURACI – um boçal.
Hoje em teu sangue um salteador se nutre,
Com dor de não poder ser mais que abutre,
Ave da escravidão...
Ele juntou-se os outros fementido,
E vive assim todo o país traído,
Longe da salvação.
Basta, senhor tenente! De teu bucho
Jorre através das tripas um repuxo
De judas e sandeus!
Há duas noites... eu soluço um grito...
Escuta-o conclamando do infinito
À morte os crimes teus!
Penitenciária da Bahia,
22 de agosto de 1932.
Inclusão | 24/06/2016 |