MIA> Biblioteca> José Carlos Mariátegui > Novidades
Primeira Edição: Publicado em Mundial, Lima, 18 de fevereiro de 1927
Fonte: Nova Cultura - https://www.novacultura.info/post/2018/01/12/o-ensino-artistico
Tradução: Equipe de Traduções Nova Cultura
Transcrição: Igor Dias
HTML: Fernando Araújo.
Direitos de Reprodução: licenciado sob uma Licença Creative Commons.
O programa de ensino, – e mais que o programa, que é teoria, a prática do ensino – não concede ao Peru nada além de um lugar escasso para a educação artística. Até hoje não se deu, – no sentido de organizar, ou melhor, de instruir – nenhum passo elementar de encarregar a este ensino os professores qualificados. O ensino de desenho em faculdades e escolas nacionais ainda está nas mãos de "amadores". Os diletantismos mais medíocres e vulgares dominam nesse aspecto da instrução pública.
Esta deficiência se explicava, plenamente, na época em que não existia uma Escola de Belas Artes, apta ao menos para abastecer aos colégios e escolas com professores adequados, com título e capacidade para o ensino artístico. Porém, desde que esta escola se encontra num grau de prover a Instrução Pública um número apreciável de professores, desaparece todos os motivos para prorrogar o domínio do diletantismo na aprendizagem de desenho e em geral, de noções de arte nas escolas e colégios. Já é tempo, melhor dizendo, de estabelecer o ensino artístico, pois, até agora não existe.
O pessoal disponível para este objetivo não é numeroso, mas, já é suficiente para a experiência em que se deve elaborar um programa de ensino artístico. Um grande progresso seria um regulamento que impusesse a preferência dos diplomados da Escola de Belas Artes no ensino de desenho, história da arte, etc., nos colégios e escolas. Só os profissionais não bastariam para desalojar totalmente aos “aficionados” ou diletantes. Mas, o mesmo acontece em todos os ramos da instrução pública. Como o Ministro de Instrução declarou recentemente no Congresso, o problema do ensino se apresenta, antes de tudo, como um problema de professores. A lei quer que o ensino esteja a cargo de normalistas; mas a porcentagem destes no pessoal de preceptores do Estado é, todavia, muito reduzida.
A Escola de Belas Artes deve ter uma função na educação pública. O Peru não pode se dar ao luxo de uma academia sem aplicação prática. Não basta, como rendimento da Escola, uma colheita anual de quadros e diplomas que na história artística do Peru, se reduzirá naturalmente a uma ou outra vocação verdadeira de artistas oportunamente auxiliada e disciplinada.
O estabelecimento do ensino artístico resolverá, por outro lado, um problema que está destinado, se oportunamente não o tratam com consideração, não buscam solucioná-lo e anulam em grande parte a eficácia da Escola de Belas Artes. Os alunos pobres desta Escola, quando saem dela, fazem a triste descoberta de que sua aprendizagem de desenho e pintura ou escultura, não lhes servem para ganhar a vida imediatamente.
O Peru ainda não é capaz de dar trabalho a seus artistas, não tanto porque é um país pobre, mas porque a educação artística de sua classe "ilustrada" ou dirigente avançou muito pouco, apesar da aparente europeização de pessoas e costumes. Da civilização ocidental, esta classe ilustrada aprecia bastante o automóvel, o cimento, o asfalto, o enfeite, mas estima ainda muito pouco a arte. Os artistas encontram-se bloqueados pelo ambiente, o qual exigem deles pelo menos o sacrifício de suas personalidades.
Dentro desta situação, proporcionar aos diplomados da Escola de Belas Artes um meio honrado de subsistência, como artistas, significaria facilitar aos mais aptos, a realização de sua personalidade, distantes de todo o humilhante tráfico. A instrução pública se beneficiaria com o trabalho de professores adequados e a utilidade da Escola de Belas Artes se multiplicaria, pois, este instituto não se limitaria apenas à missão de cultivar alguns poucos temperamentos artísticos para depois abandoná-los aos seus destinos num meio indiferente e impróprio.
O exemplo do México pode nos ensinar muito neste como em todos os aspectos da organização do ensino. Na escola primária no México, os casos de vocação artística são destacados, fazem-se exposições de trabalhos de alunos destas escolas primárias positivamente interessantes, que demonstram o acerto com que se tem trabalhado a educação artística neste país, estas entre outras coisas podem servir de modelo a educação artística de nossas crianças.
A aptidão artística certamente não é menos frequente nas crianças peruanas. A raça indígena aparentemente pouco dotada para a atividade teórica, apresenta-se ao contrário disso, extremamente dotada para criação artística. O que o índio mais conserva até agora, enraizado em seus hábitos é seu sentimento artístico expresso de várias maneiras. Verbigracia, pela associação de música e dança ao seu trabalho agrário.
Não me refiro desta vez a educação elementar das artes plásticas, mas os mesmos conceitos são em teoria aplicáveis ao ensino da música nas escolas. Também deste terreno é urgente extirpar o diletantismo dos "amadores". As performances da Academia Nacional de Música são muito ruins é verdade, apesar dos anos em que foram estabelecidas. Mas adiciona-se à esta escola um ou dois conservatórios particulares.
A reforma que parece urgente ser feita nesse respeito é a de tirar a Academia Nacional de Música da tutela da chamada sociedade musical, que não tem qualquer aptidão técnica para dirigi-la e guiá-la com eficiência.
Colaboração |