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Hoje, inaugura-se a Escola do Partido e eu desejo-lhe todo o sucesso.
Sobre a questão do estilo de trabalho do nosso Partido gostaria de dizer algo.
Por que razão se necessita dum partido revolucionário? Porque no mundo há inimigos que oprimem o povo e este quer liquidar a opressão. Essa é a razão da necessidade dum partido revolucionário. Na era do capitalismo e do imperialismo, é dum partido revolucionário como o Partido Comunista que se necessita. Sem um partido revolucionário como o Partido Comunista é totalmente impossível ao povo libertar-se da opressão inimiga. Nós somos comunistas, o que pretendemos é guiar o povo na luta para esmagar os seus inimigos. Temos pois de manter as fileiras bem alinhadas, marchar na mesma cadencia, dispor de combatentes de elite e possuir armas de qualidade. Sem essas condições não poderemos abater o inimigo.
Que problema enfrenta agora o nosso Partido? A linha geral do Partido é justa, não dá lugar a problemas, e o seu trabalho tem sido frutuoso. O Partido conta várias centenas de milhares de membros, que têm dirigido o povo numa luta de dureza e ferocidade inauditas contra o inimigo. Para todos isto é claro e fora de qualquer dúvida.
Mas então há ou não há problemas no nosso Partido? Eu afirmo que sim, e direi mesmo que, em certo sentido, existe um problema bem sério.
Qual é o problema? O facto de existir no espírito de certos camaradas algo que se revela não muito justo, não muito bom.
Por outras palavras, um vento um tanto nocivo sopra ainda sobre o nosso estilo de estudo, sobre o nosso estilo quanto a relações internas e externas do Partido e sobre o nosso estilo de escrever. Por algo errado no nosso estilo de estudo entendemos a doença do subjectivismo; por algo errado no estilo quanto a relações do Partido entendemos a doença do sectarismo; e por algo errado no nosso estilo de escrever entendemos a doença do estilo de cliché nos escritos do Partido(1). Evidentemente, esse vento não é um vento norte invernal que varre o céu inteiro. O subjectivismo, o sectarismo e o estilo de cliché já não são entre nós o estilo dominante; não são mais que lufadas de vento contrário, correntes de ar viciado que se filtram pelos abrigos antiaéreos. (Risos.) Mas, seja como for, é mau que tal vento ainda sopre sobre o nosso Partido. Precisamos de vedar todas as frinchas que deixam passar esse ar viciado. O Partido inteiro deve tomar a cargo esse trabalho, e a Escola do Partido também. Esses três ventos doentios — subjectivismo, sectarismo e estilo de cliché — têm as suas origens históricas e, embora atualmente já não predominem no Partido, não deixam constantemente de confundir-nos e assaltar-nos. Há pois que resistir e estudá-los, analisá-los e pôr-lhes a nu a natureza.
Combater o subjectivismo a fim de corrigir o estilo do nosso estudo, combater o sectarismo a fim de corrigir o estilo do nosso Partido nas suas relações internas e externas, combater os clichés a fim de corrigir o estilo dos nossos escritos: eis a tarefa que se nos apresenta.
Para liquidar o inimigo, precisamos de retificar esses estilos no seio do nosso Partido. O estilo de estudo e o estilo de escrita são também estilo de trabalho do Partido. Uma vez que o estilo de trabalho do Partido seja totalmente correto, todo o povo aprenderá com o nosso exemplo. Aqueles que, fora do Partido, têm o mesmo mau estilo, poderão, se forem de boa vontade, aprender com o nosso exemplo e corrigir os seus erros, sendo assim influenciada a totalidade da nação. Desde que as nossas fileiras estejam bem alinhadas e marchem à mesma cadência, e desde que tenhamos combatentes de élite e armas de qualidade, todo e qualquer inimigo, por muito poderoso que seja, poderá ser abatido.
Permita-se-me agora falar do subjectivismo.
O subjectivismo é um estilo doentio de estudo; é contrário ao Marxismo-Leninismo e incompatível com um partido comunista. O que pretendemos é o estilo de estudo marxista-leninista. Quando falamos de estilo de estudo, não se trata apenas do estilo de estudo nas escolas, mas do estilo de estudo em todo o nosso Partido. Trata-se do método de pensar dos camaradas nos nossos órgãos de direcção, de todos os nossos quadros e da totalidade dos membros do Partido; trata-se da nossa atitude frente ao Marxismo-Leninismo e da atitude de todos os camaradas do Partido frente aos seus trabalhos. Trata-se, pois, duma questão de extraordinária e primordial importância.
Determinadas ideias confusas circulam atualmente entre muitos indivíduos, nomeadamente sobre o que é um teórico, o que é um intelectual e o que se entende por ligação entre a teoria e a prática.
Façamos primeiro a pergunta seguinte: é alto ou baixo o nível teórico do nosso Partido? Recentemente, traduziram-se mais obras marxistas-leninistas e mais gente passou a lê-las. Isso é muito bom. Mas poderá, por isso, dizer-se que o nível teórico do Partido se elevou grandemente? É certo que o nível, agora, é um tanto mais elevado que antes, mas a nossa frente teórica está longe de encontrar-se em harmonia com a riqueza de conteúdo do movimento revolucionário chinês; uma comparação entre os dois mostra que o lado teórico fica muito para trás. De modo geral, entre nós a teoria não vai a par com a prática revolucionária, e muito menos à frente desta, tal como deveria ser. Ainda não elevamos a nossa prática, tão rica, a um justo nível teórico. Ainda não examinamos todas as questões da prática revolucionária, nem mesmo as importantes, de maneira a elevá-la ao plano teórico. Pensem apenas: quantos de nós, nos domínios econômico, político, militar e cultural da China, criaram já teorias dignas desse nome, teorias que possam ser olhadas como científicas e globais e não como rudimentares esboços? Em matéria de teoria econômica, nomeadamente, se bem que o desenvolvimento do capitalismo na China conte já cem anos, se partimos da Guerra do Ópio, ainda não surgiu entre nós uma só obra verdadeiramente científica, que esteja de acordo com a realidade do desenvolvimento econômico da China. No estudo das questões econômicas da China, por exemplo, acaso poderemos considerar o nosso nível teórico como já elevado? Poderemos acaso dizer que o nosso Partido possui já teóricos, dignos desse nome, em ciências econômicas? Seguramente que não. Lemos um grande número de obras marxistas-leninistas, mas poderá pretender-se que existem, entre nós, teóricos? Não, não pode. Com efeito, o Marxismo-Leninismo é a teoria que Marx, Engels, Lénine e Estáline criaram na base da prática, a conclusão geral que tiraram da realidade histórica e revolucionária. Se apenas lemos as suas obras, se não avançamos pelo estudo da realidade da história e da revolução chinesas, à luz dessa teoria, nem fazemos qualquer esforço para pensar cuidadosamente a prática revolucionária chinesa em termos de teoria, não devemos, pretensiosamente, intitular-nos teóricos marxistas. As realizações na frente teórica serão realmente muito débeis se nós, comunistas chineses, fechamos os olhos aos problemas da China, limitando-nos a reter algumas conclusões ou princípios isolados, extraídos das obras marxistas. Se tudo o que uma pessoa sabe fazer é decorar a Economia e Filosofia marxistas, recitando-as dum só jacto, do capítulo I ao X, sendo incapaz da menor aplicação prática, acaso poderá considerar-se teórico marxista? Não, não pode! De que teóricos necessitamos? De teóricos que possam, em harmonia com a posição, ponto de vista e método marxistas-leninistas, interpretar corretamente as questões práticas que se levantam ao longo da história e da revolução, de teóricos que saibam dar explicações científicas e esclarecimentos teóricos sobre as questões econômicas, políticas, militares e culturais da China. São os teóricos que queremos. Para ser teórico desse tipo, há que dominar realmente a essência do Marxismo-Leninismo, a posição, o ponto de vista e o método marxistas-leninistas, assim como as teorias de Lénine e Estáline sobre a revolução nas colônias e na China, e ser capaz de aplicá-las à análise aprofundada e científica dos problemas práticos da China e descobrir assim as leis do seu desenvolvimento. São esses os teóricos de que realmente necessitamos.
O Comité Central do nosso Partido acaba de tomar uma decisão apelando para que os camaradas aprendam a aplicar a posição, o ponto de vista e o método marxistas-leninistas no estudo sério da história da China e dos seus problemas econômicos, políticos, militares e culturais, e na análise concreta de cada problema com base numa documentação detalhada, para daí tirar, em seguida, conclusões teóricas. Essa é a responsabilidade que devemos assumir.
Os camaradas da Escola do Partido não devem considerar o Marxismo como um dogma sem vida. Quanto à teoria marxista, há que assimilá-la e aplicá-la, o objectivo da sua assimilação consiste exclusivamente na sua aplicação. Se chegarem a poder aplicar o ponto de vista marxista-leninista ao esclarecimento de um ou dois problemas práticos, vocês merecerão elogios e poderá dizer-se que conseguiram certo êxito. Quanto mais problemas forem capazes de esclarecer, quanto mais vastos e profundos forem nessa clarificação, tanto maior será o vosso êxito. A Escola do Partido devia também adoptar a regra de ver como os estudantes encaram os problemas da China depois de terem estudado o Marxismo-Leninismo, alguns veem-nos claramente, outros confusamente, uns sabem vê-los, outros não, e assim classificar os melhores e os piores, os bons e os maus.
Tratemos em seguida da questão dos “intelectuais”. Como a China é um país semi-colonial e semi-feudal, sem cultura desenvolvida, nela os intelectuais são particularmente preciosos. Sobre esse assunto dos intelectuais, há já mais de dois anos(2) que o Comité Central do Partido adoptou uma resolução no sentido de que ganhemos em massa os intelectuais e os recebamos bem, sempre que sejam revolucionários e desejem participar na resistência ao Japão. E perfeitamente justo que os estimemos, pois sem intelectuais revolucionários a revolução não pode triunfar. Contudo, como todos sabemos, há muitos intelectuais que, julgando-se muito instruídos, tomam ares eruditos sem se aperceberem de que a sua atitude é despropositada, nociva e os impede de progredir. Eles deviam compenetrar-se dessa verdade segundo a qual, em termos relativos, muitos dos chamados intelectuais são na realidade bem ignorantes, os operários e os camponeses sabem às vezes mais do que eles. Aqui, alguns dirão, “eh! tu confundes tudo, falas a torto e a direito!” (Risos) mas, camaradas, não se precipitem, há sim certa verdade naquilo que estou dizendo.
O que é o conhecimento? Desde que se constituiu a sociedade de classes o mundo apenas registou duas espécies de conhecimento, o conhecimento resultante da luta pela produção e o conhecimento resultante da luta de classes. As ciências da natureza e as ciências sociais constituem a cristalização dessas duas espécies de conhecimento; e a filosofia é a generalização e o somatório dos conhecimentos sobre a natureza e a sociedade. Haverá acaso outra espécie de conhecimento? Não. Agora, consideremos o caso de certos estudantes, desses que se formam em escolas totalmente cortadas da actividade prática da sociedade. O que é que se passa com eles? Uma pessoa frequenta uma dessas escolas primárias e depois uma universidade do mesmo tipo, gradua-se e acaba sendo considerada possuidora dum cabedal de conhecimentos. Mas tudo o que possui é conhecimento livresco; nunca participou em qualquer actividade prática nem aplicou aquilo que aprendeu em qualquer dos ramos da vida. Poderá então tal indivíduo ser olhado como um intelectual acabado? Muito dificilmente, a meu ver, uma vez que os seus conhecimentos são ainda incompletos. O que é pois um conhecimento relativamente completo? O conhecimento relativamente completo adquire-se em duas fases: a primeira é o conhecimento sensível e a segunda, o conhecimento racional, é o grau superior de desenvolvimento da primeira. O que representam então os conhecimentos adquiridos pelos estudantes nos livros? Mesmo quando tais conhecimentos são verdades, nem por isso deixam de ser teorias que os seus predecessores elaboraram generalizando as experiências da luta pela produção e da luta de classes, não resultando pois da experiência pessoal dos estudantes. Claro que é absolutamente necessário possuírem esses conhecimentos, mas devem ter em conta que, em certo sentido, isso não é mais do que conhecimento unilateral: verificado por outros, não verificado por eles próprios. O mais importante para eles é pois saber aplicar esses conhecimentos na vida, na prática. É por isso que eu aconselho, aos que adquiriram conhecimentos nos livros e não tiveram ainda contacto com a prática ou apenas tiveram pouca experiência prática, que sejam conscientes das suas insuficiências e se mostrem um pouco mais modestos.
Como se poderá converter os que apenas têm conhecimentos livrescos em autênticos intelectuais? O único caminho é levá-los ao trabalho prático, fazer deles trabalhadores práticos, engajar os que fazem trabalhos teóricos na realização dum estudo de questões práticas importantes. Desse modo pode atingir-se o objectivo.
Muito provavelmente, o que acabei de dizer deixará alguns irritados. E dir-me-ão: “Segundo a sua exposição, nem o próprio Marx poderia ser considerado intelectual”, ao que eu responderei: Erro! Marx participou na prática do movimento revolucionário e, mais ainda, criou a teoria da revolução. Começando pela mercadoria, o elemento mais simples do capitalismo, ele fez um estudo minucioso da estrutura econômica da sociedade capitalista. Milhões de homens tinham quotidianamente sob os olhos essa realidade que é a mercadoria e serviam-se dela sem dar-se conta do que representava. Só Marx submeteu a mercadoria a estudo científico. Ele efetuou um colossal trabalho de investigação sobre o processo de desenvolvimento real da mercadoria e, do que existia universalmente, deduziu uma teoria científica em toda a linha. Ele estudou a natureza, a história e a revolução proletária e criou o materialismo dialéctico, o materialismo histórico e a teoria da revolução proletária. Assim, Marx converteu-se no intelectual mais completo, aquele que representa o cimo da sabedoria humana; era fundamentalmente diferente daqueles que apenas possuem conhecimentos livrescos. Marx procedeu a investigações e estudos minuciosos no decorrer de lutas práticas, procedeu a generalizações e depois passou à verificação das suas conclusões na luta prática — isso é o que chamamos trabalho teórico. O nosso Partido necessita dum grande número de camaradas que aprendam a trabalhar assim. Há, aliás, dentro do Partido, muitos que podem aprender a fazer tais estudos teóricos; na sua maioria são inteligentes e prometedores, pelo que devemos estimá-los. Contudo, eles devem guiar-se por princípios justos e evitar de repetir os erros do passado. Devem repudiar o dogmatismo e não se limitarem a frases feitas contidas nos livros.
No mundo só há uma teoria verdadeira: a que é tirada da realidade objectiva e confirmada por essa mesma realidade; nada mais é digno do nome de teoria, no sentido em que a entendemos. Estáline disse que a teoria perde o seu objecto quando se desliga da prática(3). A teoria que não tem objecto é inútil, é falsa e deve ser rejeitada. Há que apontar a dedo todos os que se comprazem em pregar teorias sem objecto. O Marxismo-Leninismo é a verdade mais justa, mais científica e mais revolucionária, nascida da realidade objectiva e confirmada por esta, mas muitos dos que estudam o Marxismo-Leninismo consideram-no como um dogma inerte, impedindo portanto o desenvolvimento da teoria e prejudicando tanto a si mesmos como aos demais camaradas.
Por outro lado, os camaradas que se empenham em trabalhos práticos sofrerão reveses se fizerem mau uso da sua experiência. E verdade que eles têm, com frequência, grande experiência, o que é muito precioso, mas seria muito perigoso se se contentassem com tal experiência. Eles precisam de compreender que os seus conhecimentos são principalmente de grau sensível, parciais, faltando-lhes conhecimentos racionais, generalizados; noutros termos, falta-lhes teoria e, por consequência, os conhecimentos que possuem são relativamente incompletos. Ora, é impossível levar a bom termo uma obra revolucionária sem conhecimentos relativamente completos.
Há pois duas espécies de conhecimentos incompletos: os que se adquirem todos prontos nos livros e os que são principalmente de grau sensível, conhecimentos parciais. Tanto uns como outros pecam pelo carácter unilateral. Só a combinação de ambos pode produzir conhecimentos verdadeiros e relativamente completos.
Para estudarem a teoria, porém, os nossos quadros de origem operária e camponesa têm de começar por adquirir alguns conhecimentos de base. Doutro modo é-lhes impossível aprender a teoria marxista-leninista. Uma vez adquirida essa base, eles podem, em qualquer momento, aprender o Marxismo-Leninismo. Na minha infância, nunca frequentei uma escola marxista-leninista, apenas me ensinavam coisas tais como “O mestre diz: ‘Que felicidade aprender e rever constantemente o que se aprendeu!’”(4) Embora antiquado no seu conteúdo, esse material de ensino foi-me útil, pois, a partir dele, aprendi a ler. Hoje, já não se estudam os clássicos de Confúcio, mas sim matérias novas, como o Chinês Moderno, a História, a Geografia e as ciências naturais elementares; bem aprendido isso é sempre útil. O Comité Central do nosso Partido exige especialmente dos nossos quadros de origem operária e camponesa que adquiram alguns conhecimentos de base, visto que então poderão estudar toda e qualquer matéria: política, ciência militar, economia. A não ser assim, apesar da sua rica experiência eles serão incapazes de estudar a teoria.
Segue-se que, para combater o subjectivismo, devemos ajudar essas duas categorias de camaradas a adquirir o que lhes falta, combinar uma categoria com outra. Os que têm conhecimentos livrescos devem voltar-se para a prática, único meio de não mais se limitarem aos livros e evitarem os erros de carácter dogmático. Os que têm experiência prática devem empreender o estudo da teoria e ler seriamente; só então poderão sistematizar as experiências, sintetizá-las e elevá-las ao nível da teoria, só assim poderão abster-se de tomar a sua experiência limitada pela verdade geral e cometer erros de carácter empírico. O dogmatismo e o empirismo constituem ambos uma expressão do subjectivismo, cada um vindo de um dos polos opostos.
Há pois no nosso Partido duas formas de subjectivismo: o dogmatismo e o empirismo. Um e outro encaram as coisas parcialmente, não na totalidade. Se as pessoas não tomam cuidado, se não compreendem que um ponto de vista unilateral é um defeito e não fazem todo o possível por corrigi-lo, arriscam-se a embrenhar-se pela via errada.
Dessas duas formas de subjectivismo, porém, a mais perigosa para o Partido, hoje em dia, é ainda o dogmatismo. Com efeito, é fácil para os dogmáticos darem-se ares de marxistas, para assombrar, para subjugar e pôr a seu serviço os quadros de origem operária e camponesa, que não podem facilmente descobrir-lhes a verdadeira natureza. Eles podem igualmente assombrar e subjugar a juventude ingênua e inexperiente. Se triunfamos do dogmatismo, os quadros que têm apenas conhecimentos livrescos ligar-se-ão voluntariamente aos quadros que têm experiência prática e lançar-se-ão de bom grado no estudo da realidade concreta; então surgirão muito bons quadros trabalhadores capazes de unir a teoria à prática, bem como alguns verdadeiros teóricos. Se triunfamos do dogmatismo, os camaradas que possuem experiência prática encontrarão bons professores para ajudá-los a elevar ao nível da teoria os conhecimentos adquiridos pela experiência e evitarão assim os erros de carácter empírico.
Além das ideias confusas sobre as noções de “teórico” e “intelectual”, existe uma ideia confusa, entre muitos camaradas, no que respeita a “ligação da teoria com a prática”, expressão que, não obstante, trazem diariamente na ponta da língua. Eles falam constantemente de “ligar” mas, concretamente, pensam em “romper”, uma vez que nenhum esforço fazem para “ligar”. Como ligar a teoria marxista-leninista com a prática da revolução chinesa? Para usar uma expressão corrente, diremos que é “disparando a flecha contra o alvo”. Quando disparamos uma flecha devemos dirigi-la contra o alvo. A flecha está para o alvo assim como o Marxismo-Leninismo está para a revolução chinesa. Alguns camaradas, porém, “disparam sem ser contra o alvo”, disparam à toa. As pessoas assim arriscam-se a prejudicar a revolução. Outros contentam-se em virar e revirar a flecha entre os dedos, exclamando: “Que bela flecha! Que bela flecha!” mas não têm a menor intenção de fazer o disparo. Não são no fundo mais que apreciadores de antiguidades, nada quase têm a ver com a revolução. A flecha do Marxismo-Leninismo deve ser usada para disparar sobre o alvo que é a revolução chinesa. Enquanto esse ponto não ficar esclarecido, o nível teórico do nosso Partido jamais poderá elevar-se e a revolução chinesa triunfar.
Os camaradas devem compreender que não estudamos o Marxismo-Leninismo para fazer alarde, nem porque haja nisso algo de misterioso, mas única e exclusivamente porque se trata da ciência que permite levar a causa da revolução proletária à vitória. E mesmo agora, ainda não são poucos os indivíduos que consideram as frases isoladas, extraídas das obras marxistas-leninistas, como uma panaceia cuja aquisição basta para curar facilmente todas as doenças. Tal gente demonstra com isso uma ignorância pueril, razão por que devemos esclarecê-los. São exactamente esses ignorantes que consideram o Marxismo-Leninismo como um dogma religioso. Temos que dizer-lhes sem rodeios: “O vosso dogma para nada serve”. Marx, Engels, Lénine e Estáline afirmaram repetidas vezes que a nossa teoria não é um dogma mas sim um guia para a acção. Não obstante, essa gente prefere esquecer essa muito importante e primordial afirmação. Os comunistas chineses só poderão ser tidos como gente que liga a teoria à prática quando se tornarem bons na aplicação da posição, ponto de vista e método marxistas-leninistas, bem como na aplicação dos ensinamentos de Lénine e Estáline sobre a revolução chinesa e, mais ainda, quando, através dum estudo sério da realidade histórica e revolucionária da China, realizarem o trabalho teórico criador que responda às necessidades da China nos vários domínios. A simples conversa sobre a ligação da teoria com a prática, não acompanhada de actos nesse sentido, é também inútil, mesmo que se fique conversando durante cem anos. Para combater a maneira subjetivista e unilateral de abordar os problemas, precisamos de liquidar o subjectivismo e o unilateralismo dogmáticos.
Por hoje é tudo, quanto à nossa luta contra o subjectivismo, a fim de retificar o estilo de estudo na totalidade do Partido.
Permitam-me agora tratar da questão do sectarismo.
Temperado ao longo de vinte anos, o nosso Partido já não é dominado pelo sectarismo. Contudo, existem ainda sobrevivências de sectarismo tanto nas relações internas do Partido como nas relações exteriores. Nas relações internas, as tendências sectárias conduzem ao exclusivismo para com os camaradas e afetam a unidade e a solidariedade do Partido, enquanto que, nas relações externas, engendram exclusivismo relativamente aos não-comunistas e prejudicam o Partido na sua causa de unir a totalidade do nosso povo. Só extirpando esse mal, nos seus dois aspectos, o Partido poderá cumprir sem entraves a sua grande tarefa de unir a totalidade dos nossos camaradas e do povo.
Quais são as sobrevivências do sectarismo interno do Partido? Eis a principal:
Primeiro, a afirmação de “independência”. Certos camaradas veem apenas os interesses da parte e não os do todo; indevidamente, acentuam a importância do sector de trabalho de que estão encarregados e buscam uma subordinação dos interesses do todo aos interesses da parte. Não compreendem o sistema de centralismo democrático do Partido; não veem que o Partido necessita de democracia mas necessita ainda mais de centralismo. Esquecem que, no centralismo democrático, a minoria deve submeter-se à maioria, os escalões inferiores aos escalões superiores, a parte ao todo, o conjunto dos membros do Partido ao Comité Central. Tcham Cuo-tao afirmou a sua “independência” frente ao Comité Central e, como resultado, “afirmou-se” como traidor do Partido e converteu-se num agente do Kuomintang. Embora não seja de tanta gravidade esse sectarismo de que agora falamos, mesmo assim devemos defender-nos dele e extirpar por inteiro todas as manifestações de desunião. Nós devemos encorajar os camaradas a terem em conta os interesses do conjunto. Cada membro do Partido, cada sector de trabalho, cada palavra e cada acção, tudo deve partir dos interesses do Partido no seu conjunto. E absolutamente inadmissível violar esse princípio.
Os que buscam essa “independência” geralmente não podem libertar-se da tendência para pôr o seu “eu” em primeiro lugar, e estão frequentemente errados no problema das relações entre o indivíduo e o Partido. Em palavras também respeitam o Partido mas, na prática, põem a sua pessoa em primeiro plano e o Partido, em segundo. Que buscam eles? Honrarias, posição, querem figurar. Assim que ficam encarregados dum sector de trabalho, reclamam imediatamente a sua “independência”. Com esse fito, atraem uns, afastam outros, recorrem à gabarolice, à adulação e aliciamento entre camaradas, introduzindo no seio do Partido Comunista o estilo vulgar dos partidos políticos burgueses. A sua própria desonestidade perde-os. Eu penso que devemos trabalhar honestamente. A não ser assim, será absolutamente impossível cumprir bem qualquer tarefa no mundo. Quem pode ser qualificado como honesto? Marx, Engels, Lénine e Estáline são honestos; os homens de ciência são honestos. Quem é desonesto? Trotsky, Bucarine, Tchen Tu-siu e Tcham Cuo-tao, que são duma desonestidade enorme; e aqueles que em razão dos seus interesses pessoais, ou por interesses dum sector, reclamam “independência” são igualmente desonestos. Todos os manhosos, todos os que não adotam uma atitude científica no trabalho, julgando-se ladinos e inteligentes, no fundo são tudo quanto há de mais estúpido e a nada de bom podem chegar. Os alunos da Escola do Partido devem prestar atenção a isso. Precisamos de edificar um partido centralizado e unificado e acabar com todas as lutas fraccionistas e sem princípios. Temos de combater o individualismo e o sectarismo a fim de habilitar o conjunto do nosso Partido a marchar cadenciado e lutar por um objectivo comum.
Os quadros vindos do exterior e os quadros locais devem fazer unidade entre si e combater as tendências sectárias. Há que prestar muita atenção às relações entre os quadros locais e os quadros vindos do exterior, uma vez que muitas das nossas bases anti-japonesas só se criaram após a chegada do VIII Exército ou do Novo IV Exército, e muito do trabalho local só se desenvolveu nelas após a chegada dos quadros do exterior. Os camaradas devem compreender que, em tais circunstâncias, não é possível a consolidação das nossas bases de apoio nem o enraizamento nelas do Partido se essas duas categorias de quadros não se unem estreitamente e se não conseguimos formar e promover um grande número de quadros locais. Não há outro processo. Ambas as categorias de quadros têm os seus pontos fortes e os seus pontos fracos; para progredir, cada uma deve corrigir os seus pontos fracos tomando os pontos fortes da outra como exemplo. Os quadros vindos do exterior conhecem sempre menos as condições locais e estão menos ligados às massas que os quadros locais. É, aliás, o meu próprio caso. Eu já estou no norte do Xensi há uns cinco a seis anos, e mesmo assim conheço bem menos a situação e estou muito menos ligado à população que os camaradas da região. Os camaradas que forem para as bases anti-japonesas do Xansi, Hopei, Xantum e outras províncias, deverão pensar seriamente nisso. E ainda não é tudo. Mesmo no interior duma base de apoio, sempre que as suas diversas zonas não tenham sido estabelecidas ao mesmo tempo, existe uma diferença entre os quadros da zona e os quadros vindos de fora. Os quadros que, das zonas mais avançadas, são enviados para as menos avançadas, são igualmente aí considerados como quadros do exterior; eles também devem prestar uma grande atenção à ajuda que têm de dispensar aos quadros locais. De modo geral, ali onde estiverem na direcção, os quadros vindos de fora devem arcar com a principal responsabilidade sempre que as suas relações com os quadros locais deixem a desejar. Tal responsabilidade é bem maior com relação aos camaradas que assumem funções de direcção principais. Em vários lugares, a atenção dispensada a esta questão está bem longe de ser suficiente. Indivíduos há que tratam os quadros locais desdenhosamente, zombam deles, dizendo: “Mas o que é que pode entender a gente local, uns rústicos!” Isso prova que não têm a menor ideia sobre a importância dos quadros locais, não veem os pontos fortes destes últimos nem os seus próprios pontos fracos, adotam uma atitude falsa, sectária. Todos os quadros vindos de fora devem estimar os quadros locais e prestar-lhes ajuda constante, não lhes sendo permitido ridicularizá-los ou golpeá-los. Como é evidente, os quadros locais devem, por seu turno, inspirar-se nos pontos fortes dos quadros vindos de fora e desembaraçar-se das suas vistas estreitas e inadequadas, de modo a fazerem um bloco só, sem distinção entre “eles” e “nós”, evitando-se a tendência ao sectarismo.
O mesmo é válido para as relações entre os quadros no serviço militar e os quadros no serviço das localidades. Todos devem igualmente unir-se intimamente e combater as tendências sectárias. Os quadros do exército e os quadros locais têm o dever de se ajudarem mutuamente. Em caso de desacordo, as duas partes devem mostrar-se mutuamente compreensivas e proceder cada uma a autocríticas apropriadas. De modo geral, ali onde a direcção é na prática exercida pelos quadros do exército, são estes últimos que devem arcar com a principal responsabilidade sempre que as suas relações com os quadros locais deixem a desejar. Antes de mais, importa que os quadros do exército compreendam a sua responsabilidade e se conduzam com modéstia frente aos quadros locais, pois só assim poderão criar-se, nas bases de apoio, condições favoráveis ao desenvolvimento do nosso esforço de guerra e do trabalho de edificação.
O mesmo acontece nas relações entre unidades militares, entre regiões e entre sectores de trabalho. Há que lutar contra as tendências particularistas que consistem em só ter em conta os interesses do seu próprio sector, descuidando os interesses dos outros sectores. Aqueles que ficam indiferentes diante das dificuldades dos outros, que repelem os seus pedidos de envio de quadros ou não lhes cedem senão quadros medíocres, “considerando o campo do vizinho como desaguadouro”, e se desinteressam completamente das outras unidades, regiões ou pessoas, são particularistas. Perderam completamente o espírito comunista. A recusa em considerar os interesses do conjunto, a indiferença total com relação às demais entidades, regiões ou pessoas, tais são as suas características. Há que reforçar a educação desses indivíduos, para fazê-los compreender que tudo isso são tendências sectárias que poderão tornar-se muito perigosas se as deixarmos crescer.
Outro problema é o das relações entre os velhos quadros e os novos quadros. Desde o começo da Guerra de Resistência o nosso Partido desenvolveu-se muito e surgiu um grande número de novos quadros, o que é muito bom. No seu relatório ao XVIII Congresso do Partido Comunista (Bolchevique) da URSS, o camarada Estáline afirmou:
“... Velhos quadros, há sempre muito poucos, menos do que o necessário; ademais eles começam, de acordo com as leis da natureza, a sair em parte das fileiras.”
Aí ele referia-se à situação dos quadros e também às leis da natureza. Se o Partido não dispuser dum grande número de novos quadros trabalhando em plena e total cooperação com os velhos quadros, a nossa causa extinguir-se-á. Por consequência, todos os velhos quadros devem acolher com grande entusiasmo os novos quadros e demonstrar-lhes a máxima solicitude. É claro que os novos quadros têm os seus defeitos. Há pouco tempo que participam na revolução, falta-lhes experiência e alguns não podem deixar de arrastar ainda vestígios da ideologia viciosa da velha sociedade, sobrevivências ideológicas do individualismo pequeno-burguês. Esses defeitos, porém, podem ser eliminados gradualmente, com educação e têmpera revolucionária. Como disse Estáline, o ponto forte dos novos quadros está no facto de terem um sentido agudo daquilo que é novo e serem portanto entusiastas e activos em alto grau — justamente as qualidades que muitos velhos quadros não possuem(5). Os quadros velhos e os quadros novos devem respeitar-se mutuamente, aprender uns com os outros e vencer os defeitos a- través do estudo dos pontos fortes de cada parte, de modo que se unam como um só homem na causa comum e evitem as tendências sectárias. De modo geral, onde os velhos quadros desempenham o papel principal na direcção, se as relações com os novos quadros deixam a desejar, são os velhos quadros quem deve ser tido como principal responsável.
Todas as relações de que acabo de falar, entre a parte e o todo, entre o Partido e os seus membros, entre os quadros locais e os quadros vindos de fora, entre os quadros do exército e os quadros locais, entre as unidades militares, entre as regiões, entre os sectores de trabalho, entre os quadros velhos e novos, são relações no interior do Partido. Em todos esses casos, deve-se reforçar o espírito comunista e evitar as tendências sectárias, a fim de manter as nossas fileiras bem alinhadas e marchar à mesma cadência, no interesse do nosso combate. Essa é uma questão muito importante, que precisamos de resolver totalmente no decurso da rectificação do estilo de trabalho no Partido. O sectarismo é uma manifestação do subjectivismo no domínio da organização; se insistimos em liquidar o subjectivismo, se queremos desenvolver o espírito marxista-leninista que consiste em buscar a verdade nos factos, temos de eliminar no nosso Partido todas as sobrevivências do sectarismo e partir do princípio de que os interesses do Partido estão acima de todos os interesses pessoais e de todos os interesses parciais; é assim que o Partido atingirá uma solidariedade e unidade totais.
As sobrevivências do sectarismo devem ser eliminadas tanto nas relações internas do Partido como nas relações exteriores. A razão disso está em que, para vencer o inimigo, não temos apenas de unir a totalidade dos membros do Partido, mas também a totalidade do povo. O Partido Comunista da China realizou em vinte anos um trabalho árduo e imenso nesse sentido e, desde o começo da Guerra de Resistência, tem obtido êxitos ainda maiores que no passado. Mas de modo nenhum isso significa que todos os nossos camaradas adotam uma atitude correcta nas suas relações com as massas populares ou que estão isentos de tendências sectárias. Não! Na realidade essas tendências ainda existem entre uma parte dos camaradas, e mesmo muito seriamente em alguns deles. Muitos gostam de figurar aos olhos dos não-comunistas, para quem olham com desdém ou desprezo, recusando-se a respeitá-los e a reconhecer-lhes qualidades. Essa é bem uma tendência sectária. A leitura dumas quantas obras marxistas torna-os mais arrogantes em vez de inspirar-lhes mais modéstia; aos olhos deles, os demais nunca valem coisa alguma, não vendo que eles próprios são ainda meio ignorantes. Os camaradas precisam de compreender essa verdade segundo a qual os comunistas são sempre uma minoria com relação aos não-comunistas. Supondo-se que há um comunista entre cada cem pessoas, os comunistas seriam quatro milhões e quinhentos mil entre os quatrocentos e cinquenta milhões de habitantes da China. Mesmo que os efectivos do nosso Partido atingissem uma cifra assim tão elevada, não haveria mais que um por cento de comunistas face a noventa e nove por cento de não-comunistas. Que razão poderia pois levar-nos a não cooperar com estes últimos? Com relação aos que querem ou são susceptíveis de cooperar conosco, nós temos o dever de cooperar, de modo nenhum sendo nosso direito afastá-los. Mas determinados membros do Partido não compreendem ainda essa verdade; consideram desdenhosamente os que desejam cooperar conosco e chegam até a repeli-los. Nada justifica tal comportamento. Marx, Engels, Lénine e Estáline deixaram-nos razões que justifiquem isso? Não! Pelo contrário, eles recomendam instantemente a ligação estreita com as massas, e não o divórcio com relação a estas. Será que foi o nosso Comité Central que nos deu razões para isso? Não! Nenhuma das suas resoluções nos autoriza a desligar-nos das massas, a isolar-nos. Pelo contrário, o nosso Comité Central nunca deixou de pedir-nos que nos ligássemos estreitamente às massas, que não nos desligássemos delas. Qualquer ato que nos afaste das massas não está pois, de modo algum, justificado; é resultado das ideias sectárias forjadas por certos camaradas. Como esse sectarismo continua a manifestar-se bem seriamente e embaraça a aplicação da linha do Partido, devemos realizar no Partido um vasto trabalho de educação sobre isso. Acima de tudo importa que os nossos quadros vejam realmente a gravidade do problema, compreendam que, se os comunistas não se unem aos quadros não-comunistas e às pessoas que não pertencem ao Partido, o inimigo não poderá ser derrotado nem os objectivos da revolução atingidos.
Todas as ideias sectárias constituem subjectivismo e são incompatíveis com as necessidades reais da revolução; há pois que lutar simultaneamente contra o sectarismo e contra o subjectivismo.
Quanto ao estilo de cliché do Partido, hoje já não resta tempo para pronunciar-me; discutiremos sobre isso noutra reunião. Apenas direi que se trata dum monturo de imundície, duma manifestação de subjectivismo e sectarismo. É algo de nocivo aos homens e prejudicial à revolução, razão por que devemos desembaraçar-nos completamente disso.
Para combater o subjectivismo, precisamos de propagar o materialismo e a dialéctica. Não obstante, bastantes camaradas no nosso Partido não atribuem importância a tal propaganda. Alguns permitem com toda a calma a propagação do subjectivismo. Pensam que possuem convicções marxistas, mas não fazem qualquer esforço para propagar o materialismo e, quando ouvem ou lêem algo de subjetivista, não pensam nisso nem manifestam a sua opinião. Esse não é um comportamento de comunista. Muitos dos camaradas estão intoxicados por ideias subjetivistas que lhes embotam o espírito. Devemos pois lançar uma campanha de esclarecimento no interior do Partido, a fim de ajudar tais camaradas a livrar-se da névoa do subjectivismo e do dogmatismo; há que chamá-los a boicotar o subjectivismo, o sectarismo e o estilo de cliché do Partido. Tudo isso assemelha-se à mercadoria japonesa; só o inimigo deseja que a preservemos e continuemos a embrutecer-nos com tal bugiganga; sendo assim, há que propugnar o respectivo boicote, como fazemos com as mercadorias japonesas(6). Devemos boicotar o subjectivismo, o sectarismo e o estilo de cliché do Partido, a fim de tornar-lhes a colocação difícil no mercado e impedi-los de encontrar saída beneficiando do baixo nível teórico que se verifica no Partido. Para isso, os nossos camaradas devem desenvolver a sua perspicácia e examinar cada questão, de modo a determinar se é boa ou má, se deve ser aceite ou boicotada. Um comunista deve perguntar sempre pelos porquês de todas as coisas, usar a própria cabeça para pensá-las em todos os aspectos, ver se correspondem ou não à realidade e se estão verdadeiramente bem fundadas. Em nenhum caso um comunista deve seguir cegamente os outros ou encorajar a obediência servil.
Por último, no combate ao subjectivismo, sectarismo e estilo de cliché no seio do Partido, devemos ter presentes dois objectivos: primeiro, “tirar lições dos erros passados a fim de evitar erros no futuro” e, segundo, “tratar a doença para salvar o doente”. Os erros do passado devem ser apontados sem poupar a sensibilidade deste ou daquele indivíduo; é necessário analisar e criticar de forma científica o que havia de mau no passado, de tal maneira que, no futuro, o trabalho seja mais cuidadoso e melhor. É o que significa “tirar lições dos erros passados a fim de evitar erros no futuro”. O nosso objectivo, porém, ao apontarmos os erros e criticarmos as falhas, tal como acontece com um médico que trata uma doença, consiste exclusivamente em salvar o doente, e não em matá-lo. Um indivíduo com apendicite salva-se quando o cirurgião lhe extrai o apêndice. Desde que aquele que cometeu erros não esconde a sua doença com medo do tratamento, nem persiste nos erros ao ponto de tornar-se incurável; desde que, honesta e sinceramente, deseja ser curado e corrigir-se, devemos acolhê-lo e curar-lhe a doença de maneira que se converta num bom camarada. Jamais poderemos ter êxito se nos deixamos levar por impulsos momentâneos e o fustigamos desmedidamente. Quando se trata uma doença ideológica ou política nunca se deve ser rude nem imprudente, mas sim adoptar a atitude de “tratar a doença para salvar o doente”, que é o único método correto e eficaz.
Hoje, eu aproveitei a ocasião da abertura da Escola do Partido para falar extensamente, e espero que os camaradas meditem no que aqui disse. (Vivos aplausos.)
Notas de rodapé:
(1) Ver “Problemas Estratégicos da Guerra Revolucionária na China”, nota 34, Obras Escolhidas de Mao Tsetung, Tomo I. A “dissertação em oito partes”, destituída de qualquer conteúdo, jogava com as palavras e apenas se preocupava com a forma. Cada uma das partes estava limitada a regras imutáveis e, inclusivamente, a um número determinado de caracteres; assim, para a composição, não havia mais que conformar-se mecanicamente às fórmulas requeridas para um ou outro assunto determinado. “O estilo de cliché do Partido” era uma expressão que designava os artigos escritos por certos indivíduos nas fileiras da revolução, que não faziam a menor análise dos factos, contentavam-se com um emprego despropositado de palavras e expressões revolucionárias, não sendo os artigos mais que tagarelice interminável, como a “dissertação em oito partes”. [Nota 34 referida acima: Dissertação especial que o sistema dos exames imperiais previa na China feudal, do século XV ao século XIX. A dissertação compreendia oito partes: introdução, exposição do tema, teses gerais da dissertação, passagem à exposição, começo da exposição, meio da exposição, fim da exposição e conclusão. A "introdução" compunha-se apenas de duas frases explicativas do tema. A "exposição do tema" eram três ou quatro frases que se seguiam à explicação dada na introdução. As "teses gerais da dissertação" apresentavam, em resumo, o tema, marcando o começo do comentário. A "passagem à explicação" era uma fórmula de transição que se seguia às teses gerais. As últimas quatro partes — começo da exposição, meio da exposição, fim da exposição e conclusão — constituíam o comentário propriamente dito; o meio da exposição era a essência do trabalho. Cada uma dessas quatro partes compunha-se duma tese e duma anti-tese, o que, no total, perfazia oito secções, donde a designação de "dissertação em oito partes" ou "dissertação em quatro pares". O camarada Mao Tsetung refere-se aqui à exposição consequente do tema duma "dissertação em oito partes , para mostrar duma maneira imagética o desenvolvimento das diferentes fases da revolução. Geralmente, porém, recorre-se à expressão "dissertação em oito partes' como metáfora irónica, subentendendo-se por isso o dogmatismo.] (retornar ao texto)
(2) Decisão que o Comité Central do Partido Comunista da China adoptou, em Dezembro de 1959, a respeito do recrutamento de intelectuais. Essa decisão figura nas Obras Escolhidas de Mao Tsetung, Tomo II, sob o título: “Recrutar em Grande Número os Intelectuais”. (retornar ao texto)
(3) Ver J. V. Estáline: “Fundamentos do Leninismo”, parte III. (retornar ao texto)
(4) Primeira frase de Conversações, de Confúcio com os seus discípulos. (retornar ao texto)
(5) Ver J. V. Estáline: “Relatório Conclusivo ao XVIII Congresso do Partido sobre a Actividade do Comité Central do Partido Comunista (Bolchevique) da URSS”, parte III, secção 2. (retornar ao texto)
(6) O boicote das mercadorias japonesas foi um meio que o povo chinês empregou com frequência na luta contra a agressão imperialista japonesa, durante a primeira metade do século XX, por exemplo, durante o Movimento Patriótico de 4 de Maio, após o Incidente de 18 de Setembro de 1931 e durante a Guerra de Resistência contra o Japão. (retornar ao texto)
Inclusão | 06/01/2015 |