MIA> Biblioteca> Mao Zedong > Novidades
Tradução: A presente tradução está conforme à nova edição das Obras Escolhidas de Mao Tsetung, Tomo II (Edições do Povo, Pequim, Agosto de 1952). Nas notas introduziram-se alterações, para atender as necessidades de edição em línguas estrangeiras.
Fonte: Obras Escolhidas de Mao Tsetung, Pequim, 1975, Tomo II, pág: 357-384.
Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo
Direitos de Reprodução: licenciado sob uma Licença Creative Commons.
A tarefa central e a forma suprema da revolução é a conquista do poder político pelas armas, é a solução desse problema pela guerra. Esse princípio revolucionário do Marxismo-Leninismo é válido universalmente, tanto na China como em todos os outros países.
Todavia, se o princípio permanece o mesmo, a sua aplicação pelos partidos proletários faz-se de modo diferente, de acordo com as distintas condições em que se encontram esses mesmos partidos. Nos países capitalistas, se não se consideram os períodos de fascismo e de guerra, as condições são as seguintes: no interior do país, o feudalismo já não existe, o regime é o da democracia burguesa; nas suas relações com o exterior, tais países não sofrem uma opressão nacional, pelo contrário, eles oprimem outras nações. Dadas tais caraterísticas, educar os operários e acumular forças por meio duma luta legal de longa duração, preparando-se assim para a derrocada final do capitalismo, constitui a tarefa dos partidos do proletariado nesses países. Aí, a questão está em sustentar uma longa luta legal, utilizar o Parlamento como tribuna, recorrer a greves económicas e políticas, organizar os sindicatos e educar os operários. Aí, as formas de organização são legais e as formas de luta não são sangrentas (não são a guerra). A respeito da guerra, os partidos comunistas dos países capitalistas lutam contra toda a guerra imperialista feita pelos seus próprios países. E se tal guerra se verifica, a política desses partidos é a de contribuir para a derrota dos seus próprios governos reacionários. A única guerra que eles desejam é a guerra civil, para a qual se vão preparando(2). Mas, enquanto a burguesia não estiver verdadeiramente reduzida a impotência, enquanto o proletariado, na sua grande maioria, não estiver decidido a pegar em armas e a combater, e enquanto as massas camponesas não estiverem dispostas a prestar ajuda voluntária ao proletariado, essa insurreição e essa guerra não devem ser desencadeadas. Assim que são desencadeadas, porém, o primeiro passo deverá ser a ocupação das cidades e só depois o avanço sobre o campo, e nunca proceder da maneira inversa. Foi o que fizeram os partidos comunistas dos países capitalistas, é o que confirma a Revolução de Outubro, na Rússia.
Na China, o caso é diferente. O particularismo da China está em que esta não é independente nem democrática, mas semi-colonial e semi-feudal, vivendo internamente sem democracia, submetida a opressão feudal e não gozando, nas suas relações externas, duma independência nacional, mas antes vivendo oprimida pelo imperialismo. Essa a razão por que não há na China Parlamento que possa ser utilizado, nem lei que reconheça aos operários o direito a greve. Em consequência, aqui, a tarefa fundamental do Partido Comunista não é a de passar por um longo período de lutas legais antes de desencadear a insurreição e a guerra, nem a de ocupar primeiro as cidades e depois o campo, mas sim proceder da maneira inversa.
Para o Partido Comunista da China, se não há ataque armado imperialista, o importante é fazer a guerra civil, ou juntamente com a burguesia e contra os caudilhos militares (lacaios do imperialismo), como em 1924-1927, durante as guerras na província de Cuantum(3) e na Expedição do Norte, ou aliado aos camponeses e a pequena burguesia urbana, contra a classe dos senhores de terras e a burguesia compradora (também lacaios do imperialismo), como durante a Guerra Revolucionária Agrária de 1927-1936. Mas, se o imperialismo lança um ataque armado contra a China, então o que importa é unir, para a guerra nacional contra o inimigo exterior, todas as classes e todas as camadas sociais opostas aos agressores estrangeiros, como acontece na atual Guerra de Resistência contra o Japão.
Tudo isto mostra a diferença que existe entre a China e os países capitalistas. Na China, a forma principal de luta é a guerra e a forma principal de organização é o exército. Todas as outras formas, tais como organização de massas e luta de massas, são extremamente importantes e absolutamente indispensáveis e em nenhuma circunstância devem ser descuradas, mas todas estão subordinadas aos interesses da guerra. Antes do estalar da guerra, toda a organização e toda a luta têm o fim de preparar a guerra, como aconteceu no período que vai desde o Movimento de 4 de Maio (1919) ao Movimento de 30 de Maio (1925). Depois que a guerra rebenta, toda a organização e toda a luta são coordenadas direta ou indiretamente com a guerra, como, por exemplo, no período da Expedição do Norte, em que toda a organização e toda a luta na retaguarda do exército revolucionário estavam coordenadas diretamente com a guerra e, nas áreas dominadas pelos caudilhos militares do Norte, estavam coordenadas com esta de maneira indireta. Do mesmo modo, no período da Guerra Revolucionária Agrária, toda a organização e toda a luta, no interior das regiões vermelhas, estavam coordenadas com a guerra diretamente, e, no exterior das regiões vermelhas, ligavam-se a ela de maneira indireta. E ainda hoje, período da Guerra de Resistência contra o Japão, toda a organização e toda a luta, na retaguarda das forças anti-japonesas e nas regiões ocupadas pelo inimigo, estão direta ou indiretamente coordenadas com a guerra.
“Na China, a revolução armada luta contra a contra-revolução armada. Essa é uma das caraterísticas e uma das vantagens da revolução chinesa.”(4)
Essa tese do camarada Estáline é perfeitamente correta e é igualmente válida tanto para a Expedição do Norte como para a Guerra Revolucionária Agrária e ainda para a atual Guerra de Resistência contra o Japão. Todas são guerras revolucionárias, todas são dirigidas contra a contra-revolução e, das forças que nelas participam, a principal é sempre o povo revolucionário. Elas diferenciam-se apenas na medida em que uma guerra civil difere duma guerra nacional, e uma guerra conduzida pelo Partido Comunista difere duma guerra conduzida conjuntamente pelo Partido Comunista e pelo Kuomintang. Como é lógico, tais diferenças são importantes. Elas indicam a vastidão das forças principais na guerra (aliança dos operários e camponeses, ou dos operários, camponeses e burguesa) e se o inimigo na guerra é interno ou externo (se a guerra é contra um adversário do interior ou estrangeiro e, no caso de adversário interno, se a guerra é contra os caudilhos militares do Norte ou contra o Kuomintang). Indicam também que o conteúdo da guerra revolucionária na China é diferente em cada diferente fase da sua história. Todas essas guerras, porém, não são mais do que tipos de revolução armada contra a contra-revolução armada. Todas elas são guerras revolucionárias e todas apresentam as caraterísticas e as vantagens da revolução chinesa. A tese de que a guerra revolucionária “é uma das caraterísticas e uma das vantagens da revolução chinesa” ajusta-se perfeitamente as condições da China. A tarefa principal do partido do proletariado chinês, tarefa a que foi obrigado a fazer face quase desde o começo da sua existência, tem sido a de unir-se ao maior número possível de aliados e, de acordo com as circunstâncias, organizar lutas armadas para a libertação nacional e social, dirigidas contra a contra-revolução armada do interior ou exterior. Sem luta armada não haveria lugar na China para o proletariado e para o Partido Comunista e seria impossível cumprir-se qualquer tarefa revolucionária.
O nosso Partido não compreendeu inteiramente essa verdade durante os primeiros cinco ou seis anos após a sua fundação, isto é, desde 1921 até a sua participação na Expedição do Norte, em 1926. Ele não compreendeu, então, a suprema importância da luta armada na China, não se preparou seriamente para a guerra não organizou seriamente as forças armadas, assim como não se aplicou ao estudo da estratégia e da tática militar. Durante a Expedição do Norte ele descurou a tarefa de ganhar o exército e concentrou-se unilateralmente sobre o movimento de massas, do que resultou um desmoronamento integral de todo esse movimento quando o Kuomintang tomou uma orientação reacionária. Durante muito tempo, após 1927, muitos camaradas continuaram a fazer da preparação da insurreição nas cidades e do trabalho nas regiões brancas a tarefa central do Partido. Não foi senão após a nossa vitória, ao repelirmos a terceira campanha de “cerco e aniquilamento”, em 1931, que alguns camaradas mudaram radicalmente de atitude sobre tal questão. Mas essa não foi a atitude em todo o Partido. Houve ainda camaradas que continuaram a pensar de maneira diferente da que estamos apresentando aqui.
A experiência diz-nos que os problemas da China não podem ser resolvidos sem forças armadas. A compreensão dessa tese ajudar-nos-á a conduzir vitoriosamente a Guerra de Resistência contra o Japão. O fato de a nação inteira se erguer para a resistência armada na guerra contra o Japão, deveria ensinar a compreender melhor a importância dessa questão em todo o Partido, cujos membros deveriam estar prontos a pegar em armas e a avançar para a frente de combate em qualquer momento. Aliás, a presente sessão definiu claramente a orientação dos nossos esforços, ao decidir que os principais campos de ação do Partido estão nas zonas de combate e na retaguarda do inimigo. Isso constitui também um excelente remédio contra a tendência de alguns membros do Partido para se ocuparem unicamente do trabalho de organização do Partido e do trabalho de massas, mas pouco dispostos a estudar a guerra e a Participar nela, assim como é também um bom remédio contra o defeito de certas escolas não encorajarem os estudantes a partir para a frente de combate, etc. Na maior parte das regiões do país, o trabalho de organização do Partido e o trabalho de massas estão ligados diretamente a luta armada. Não há nem pode haver trabalho de Partido ou de massas que seja independente ou isolado desta. Mesmo nas regiões de retaguarda bastante afastadas das zonas de combate (como as províncias de Iunnan, Cueidjou e Setchuan) e nas regiões controladas pelo inimigo (como Pepim, Tientsim, Nanquim e Xangai), o trabalho de organização do Partido e o trabalho de massas estão também coordenados com a guerra, podendo e devendo, exclusivamente, servir as necessidades da frente de combate. Numa palavra, o Partido todo deve prestar uma grande atenção a guerra, estudar as ciências militares e preparar-se para combater.
É útil examinar a história do Kuomintang e ver quanta atenção este dispensou a guerra.
Desde o início, enquanto organizava um pequeno grupo revolucionário, Sun Yat-sen dirigiu várias insurreições armadas contra a dinastia Tsim(5). O período do Tonmenghuei foi particularmente rico em insurreições armadas(6), que continuaram até que os Tsim foram finalmente derrubados, pelas armas, pela Revolução de 1911. No período do Partido Revolucionário da China, houve uma campanha militar contra Iuan Chi-cai(7). Acontecimentos ulteriores, como o movimento da frota para o Sul(8), a expedição para o norte, a partir de Cueilin(9), e a fundação da Academia Militar de Huampu(10), fazem igualmente parte das empresas militares de Sun Yat-sen.
Após Sun Yat-sen veio Tchiang Kai-chek, que levou ao apogeu o poder militar do Kuomintang. Para ele, o exército é a própria vida. Ele viveu a experiência de três guerras — a Expedição do Norte, a Guerra Civil e a Guerra de Resistência contra o Japão. Nestes últimos dez anos, Tchiang Kai-chek tem sido um contra-revolucionário. Ele criou um enorme “Exército Central” com fins contra-revolucionários. Ele aferrou-se ao ponto vital de que quem tem um exército tem poder e de que a guerra decide de tudo. Sobre esse ponto, devemos aprender com ele. Sobre esse ponto, Sun Yat-sen e Tchiang Kai-chek são ambos nossos mestres.
Depois da Revolução de 1911, todos os caudilhos militares se apegaram aos seus exércitos como as suas próprias vidas, atribuindo sempre grande importância ao princípio: “Quem tem um exército tem poder”.
Tan Ien-cai(11), burocrata inteligente, várias vezes governador da província de Hunan, nunca foi pura e simplesmente governador civil; ele insistiu sempre em ser, simultaneamente, governador militar e governador civil. Mesmo quando chegou a Presidente do Governo Nacional, primeiro em Cantão e depois em Vuhan, desempenhou cumulativamente o cargo de comandante do II Corpo de Exército. Há muitos caudilhos militares que, como ele, compreendem essa Particularidade da China.
Na China, também houve partidos, nomeadamente o Partido Progressista(12), que nunca procuraram ter um exército; mas mesmo esse partido reconhecia que não era possível obter postos no governo sem estar apoiado num caudilho militar. Assim, foram sucessivamente seus protetores os caudilhos Iuan Chi-cai, Tuan Tchi-juei(13) e Tchiang Kai-chek (dependia deste último o Grupo de Ciências Políticas(14), constituído por uma fração do Partido Progressista).
Certos pequenos partidos, cuja história é curta, como por exemplo, o Partido da Juventude(15), não possuem exército, razão por que nunca chegam a coisa alguma.
Em outros países, os partidos burgueses não necessitam de ter, cada um, forças armadas sob o seu comando direto. Mas as coisas são diferentes na China onde, devido ao fracionamento feudal do país, os grupos ou partidos dos senhores de terras ou dos burgueses que possuem armas têm poder, e os que possuem mais armas detêm maior poder. Em tais condições, o partido do proletariado deve saber ver claramente o fundo da questão.
Os comunistas não lutam para dispor dum poder militar pessoal (em nenhuma circunstância devem lutar por isso. Que ninguém siga o exemplo de Tcham Cuo-tao), mas eles devem lutar pelo poder militar para o Partido, pelo poder militar para o povo. E agora que uma guerra nacional de resistência está em curso, os comunistas devem também lutar para que a Nação disponha do poder militar. Se houver ingenuidade na questão do poder militar, não chegaremos a resultado algum. É muito difícil para o povo trabalhador, que durante vários milénios foi enganado e intimidado pelas classes dominantes reacionárias, chegar a adquirir a consciência da importância de ter as armas nas suas próprias mãos. Agora que a opressão do imperialismo japonês e a resistência a escala nacional empurraram o povo trabalhador para a arena da guerra, os comunistas devem mostrar-se os dirigentes mais conscientes nessa guerra. Todos os comunistas devem compreender a seguinte verdade: “O poder político nasce do fuzil”. O nosso princípio é o seguinte: o Partido comanda o fuzil, e jamais permitiremos que o fuzil comande o Partido. Todavia, possuindo-se as armas, podem efetivamente criar-se as organizações do Partido, como prova a poderosa organização do Partido que o VIII Exército criou no Norte da China. Do mesmo modo, é possível formar quadros, criar escolas, desenvolver a cultura e organizar movimentos de massas. Tudo o que existe em Ien-an foi criado com a ajuda das armas. Com as armas pode obter-se tudo. Do ponto de vista da teoria marxista sobre o Estado, o exército é o principal componente do poder de Estado. Todo aquele que quiser conquistar e manter o poder de Estado deverá possuir um forte exército. Algumas pessoas ironizam a nosso respeito, tratando-nos de partidários da “teoria da omnipotência da guerra”. Sim, nós somos defensores da teoria da omnipotência da guerra revolucionária; isso não é mau, é bom, isso e marxista. As armas do Partido Comunista Russo criaram o socialismo. Nós criaremos a república democrática. A experiência da luta de classes na era do imperialismo ensina-nos que só pela força das armas a classe operária e as massas trabalhadoras podem derrotar a burguesia e os senhores de terras que estão, ambos, armados. Nesse sentido é correto dizer-se que só com as armas se pode transformar o mundo. Nós somos partidários da abolição da guerra; nós não queremos a guerra. Contudo, a guerra só pode abolir-se com a guerra. Para acabar com as armas há que pegar em armas.
Durante três ou quatro anos, desde 1921 (ano da fundação do Partido Comunista da China) até 1924 (quando se realizou o I Congresso Nacional do Kuomintang), o nosso Partido não compreendeu quão importante era o empenhar-se diretamente na preparação para a guerra e na organização dum exército. E mesmo no período que vai de 1924 a 1927, e até mais tarde, o nosso Partido não compreendeu isso suficientemente. Todavia, com a sua participação na organização e no trabalho da Academia Militar de Huampu, em 1924, o Partido entrou numa nova fase e começou a entender a importância das questões militares. Ajudando o Kuomintang nas guerras do Cuantum e na Expedição do Norte, o Partido conseguiu o controle duma parte das forças armadas(16). O fracasso da revolução foi para ele uma lição dolorosa, depois do que entrou num novo período, o da criação do Exército Vermelho, ao organizar a Insurreição de Nantcham, a Insurreição da Colheita de Outono e a Insurreição de Cantão. Esse foi um período extremamente importante, no qual o nosso Partido compreendeu toda a importância do exército. Se não tivesse existido nessa altura o Exército Vermelho e a sua atividade de combate, noutras palavras, se o Partido Comunista tivesse adotado a linha liquidacionista de Tchen Tu-siu, a atual Guerra de Resistência seria impensável, como seria impensável que pudesse sustentar-se por longo tempo.
Na sua Sessão Urgente de 7 de Agosto de 1927, o Comité Central do Partido combateu o oportunismo político de direita, o que lhe permitiu dar um grande passo em frente. Em Janeiro de 1931, a Quarta Sessão Plenária do Comité Central eleito pelo VI Congresso tomou nominalmente posição contra o oportunismo político de “esquerda” mas, na prática, voltou a cair em erros da mesma natureza. Essas duas sessões são diferentes pelo seu conteúdo e papel histórico, mas nem uma nem outra abordaram seriamente a questão da guerra e da estratégia, o que mostra que, nessa altura, a guerra não tinha ainda sido transformada no eixo do trabalho do Partido. Em 1933, depois que o Comité Central se transferiu para as regiões vermelhas, a situação modificou-se radicalmente. Todavia, foram de novo cometidos erros de princípio na questão da guerra (assim como nas outras questões principais), provocando sérias perdas na guerra revolucionária(17). Por outro lado, a Reunião de Tsuen-yi de 1935 foi principalmente uma luta contra o oportunismo na esfera militar e trouxe para o primeiro plano a questão da guerra. Isso foi um reflexo da situação militar. Hoje, podemos declarar com segurança que, no decurso duma luta de dezassete anos, o Partido Comunista da China forjou não só uma firme linha política marxista, mas também uma firme linha militar marxista. Nós fomos capazes de aplicar o Marxismo tanto na solução dos problemas políticos como na solução dos problemas militares. Nós formámos um grande número de quadros-chave capazes de resolver tanto os problemas do Partido e do Estado como os problemas militares. Todas essas realizações são flores da revolução que desabrocham da terra regada abundantemente com o sangue de incontáveis mártires, glória que não só cabe ao Partido Comunista da China e ao povo chinês, mas também aos Partidos Comunistas e aos povos do mundo inteiro. No mundo, não há mais do que três exércitos que pertençam ao proletariado e ao povo trabalhador: são os exércitos dirigidos pelos Partidos Comunistas da União Soviética, da China e da Espanha. Os Partidos Comunistas dos outros países ainda não têm experiência militar. Por isso, o nosso exército e a nossa experiência de guerra têm um valor particularmente precioso.
O aumento dos efetivos e a consolidação do VIII Exército, do Novo IV Exército e de todas as forças de guerrilhas dirigidas pelo nosso Partido, é extremamente importante para o prosseguimento vitorioso da atual Guerra de Resistência. Segundo tal princípio, o Partido deve enviar para a frente de combate um número suficiente de membros e de quadros, escolhidos dentre os melhores. Tudo deve servir a vitória na frente de combate; as tarefas de organização devem subordinar-se a tarefa política.
Vale a pena estudar as mudanças ocorridas na estratégia militar do nosso Partido. Abordemo-las separadamente, na guerra civil e na guerra nacional.
Em linhas gerais, o curso da guerra civil pode ser dividido em dois períodos estratégicos. No primeiro, a função principal era desempenhada pela guerra de guerrilhas e, no segundo, pela guerra regular. Essa guerra regular, porém, era de tipo chinês: regular somente na concentração das tropas para a guerra de movimento e em certo grau de centralização e planificação no comando e organização. Nos demais aspetos, ela conservava o caráter duma guerra de guerrilhas e representava urna forma inferior da guerra regular; ela não pode pois ser colocada no mesmo plano que as guerras feitas pelos exércitos estrangeiros. Em certa medida, aliás, ela diferia também da guerra feita pelo exército do Kuomintang. Em dado sentido, não era mais do que uma guerra de guerrilhas elevada a um nível superior.
Pelo que respeita as tarefas militares do nosso Partido, o curso da Guerra de Resistência contra o Japão pode também ser dividido, nas suas linhas gerais, em dois períodos estratégicos. No primeiro Período (compreende as fases de defensiva estratégica e equilíbrio estratégico), a guerra de guerrilhas ocupa o lugar principal, enquanto que no segundo (a contra-ofensiva estratégica) é a guerra regular que ocupa esse lugar principal. Todavia, a guerra de guerrilhas do primeiro período da Guerra de Resistência difere consideravelmente, pelo seu conteúdo, da guerra de guerrilhas do primeiro período da guerra civil, já que a missão de guerrilhas é realizada agora pelas forças do VIII Exército, atuando em ordem dispersa, as quais possuem (em certa medida) o caráter de forças regulares. Do mesmo modo, a guerra regular do segundo período da Guerra de Resistência diferirá da do segundo período da guerra civil, supondo que, dada a disponibilidade de equipamento de novo tipo, se operará uma grande mudança no exército e nas ações militares. O nosso exército atingirá um alto grau de centralização e organização, e a sua ação perderá em muito o caráter de guerrilha, atingindo então um alto grau de regularidade. O que agora está num baixo nível passará para um nível mais alto; e o tipo chinês de guerra regular transformar-se-á no tipo geral de guerra regular. Eis a nossa tarefa na fase da contra-ofensiva estratégica.
Assim, no decurso de dois processos de guerra — a guerra civil e a Guerra de Resistência — cobrindo quatro períodos estratégicos, registam-se três viragens na nossa estratégia. A primeira, na guerra civil, foi a passagem da guerra de guerrilhas a guerra regular. A segunda, foi a passagem da guerra regular, durante a guerra civil, a guerra de guerrilhas, durante a Guerra de Resistência. A terceira, será a passagem da guerra de guerrilhas a guerra regular, durante a Guerra de Resistência.
Ao realizar a primeira destas três viragens, nós encontrámos grandes dificuldades. A tarefa era dupla: por um lado, era preciso lutar contra a tendência de direita — o regionalismo e o espírito guerrilheiro — que se expressava na obstinação em aferrar-se ao tipo de ação de guerrilha e na recusa em passar ao tipo de ação regular; tendência que resultava do fato de certos quadros subestimarem as mudanças que se tinham verificado no campo inimigo e as tarefas que daí resultavam para nós. Assim, na Região Vermelha Central, só foi possível corrigir gradualmente essa tendência depois dum árduo trabalho de educação. Por outro lado, foi preciso lutar contra a tendência de “esquerda”, que consistia em exagerar a importância da passagem a guerra regular e se expressava na super-centralização e no espírito de aventura, tendência que resultava do fato de uma parte dos quadros dirigentes sobrestimarem as mudanças verificadas no campo inimigo, impondo-se tarefas demasiado vastas e aplicando mecanicamente a experiência estrangeira, sem ter em conta alguma as condições reais da China. Durante três longos anos (até a Reunião de Tsuen-yi), tal tendência acarretou enormes sacrifícios a Região Vermelha Central, só vindo a ser corrigida depois de lições pagas com sangue. Tal retificação, aliás, foi um dos sucessos da Reunião de Tsuen-yi.
A segunda viragem ocorreu entre duas guerras distintas, no Outono de 1937 (depois do Incidente de Lucouquiao)(18). Naquela altura, nós enfrentávamos um novo inimigo, o imperialismo japonês, e tínhamos como aliado o nosso inimigo anterior, o Kuomintang (que ainda nos permanecia hostil). O teatro de guerra era constituído pelas vastas extensões do Norte da China (que depois de terem formado provisoriamente a nossa frente, iriam logo converter-se, para longo tempo, na retaguarda do inimigo). Ante tais circunstâncias especiais, a nossa viragem de estratégia constituía uma questão de extrema gravidade. Era indispensável reorganizar o nosso exército regular em moldes de exército de guerrilhas (quanto a sua utilização em ordem dispersa, mas não quanto a sua organização e disciplina), e passar da guerra de movimento a guerra de guerrilhas, já que só isso correspondia a situação do inimigo e as nossas tarefas. Mas essa viragem tinha toda a aparência dum recuo, pelo que tinha de ser necessariamente muito difícil. Tanto a subestimação do inimigo, como o medo doentio ao Japão, tendências que podem ocorrer em tal conjuntura, surgiram efetivamente nas fileiras do Kuomintang. Se, ao passar da guerra civil a guerra nacional, o Kuomintang sofreu muitas perdas escusadas, foi principalmente em consequência da subestimação das forças do inimigo, mas também em resultado desse medo doentio ao Japão (como exemplifica o caso de Han Fu-tsiu e Liu Tchi(19)). Não obstante, nós realizámos essa viragem duma maneira bastante feliz, e conseguimos não só evitar perdas como ainda alcançar grandes êxitos. A razão do êxito está em que, apesar das sérias discussões havidas a tal respeito entre o Comité Central e uma parte dos quadros do exército, a maioria dos nossos quadros aceitou a tempo a justa orientação do Comité Central e soube apreciar com elasticidade o conjunto da situação. A extrema importância de tal viragem para o prosseguimento, desenvolvimento e conclusão vitoriosa da Guerra de Resistência, assim como para o futuro do Partido Comunista da China, pode apreender-se imediatamente, se pensarmos na significação histórica da guerra de guerrilhas anti-japonesa ao determinar a sorte da luta de libertação nacional na China. Pela sua amplidão e duração extraordinárias, a atual guerra de guerrilhas anti-japonesa não tem precedentes no Oriente e talvez mesmo em toda a história da humanidade.
A terceira viragem da guerra de guerrilhas em guerra regular contra o Japão, depende do desenvolvimento futuro da guerra que, presumivelmente, há-de encontrar então uma nova situação e novas dificuldades. Não necessitamos discuti-la agora.
Na Guerra de Resistência considerada no seu conjunto, a guerra regular desempenha o papel principal e a guerra de guerrilhas o papel auxiliar, pois só a guerra regular decidirá do resultado final. Para o conjunto do país, e no respeitante as três fases estratégicas do processo completo da Guerra de Resistência (a defensiva, a fase de equilíbrio e a contra-ofensiva), a guerra regular desempenha um papel principal e a guerra de guerrilhas um papel auxiliar, na primeira e na terceira fases. Como, na fase intermédia, o inimigo irá consolidar os territórios que tiver ocupado e nós, preparar a contra-ofensiva sem contudo a podermos realizar imediatamente, a guerra de guerrilhas passa a ser a forma principal de guerra e a guerra regular, a forma auxiliar. Ainda que essa fase Possa ser a mais longa, ela não é, porém, mais do que uma das três fases da guerra. Eis porque, na Guerra de Resistência considerada no seu conjunto, a guerra regular desempenha um papel principal e a guerra de guerrilhas, um papel auxiliar. Se não se compreende isso, se não se vê claramente que a guerra regular é decisiva para o resultado final da guerra, e se não se presta atenção a formação dum exército regular, assim como ao estudo e a arte de dirigir uma guerra regular, nós não seremos capazes de vencer o Japão. Esse é um aspeto da questão.
Seja como for, porém, a guerra de guerrilhas desempenha um importante papel estratégico em todo o decurso da guerra. Se não houvesse guerra de guerrilhas, se se descurasse a organização dos destacamentos de guerrilhas e do exército de guerrilhas, assim como o estudo e a arte de dirigir essa guerra, nós seríamos igualmente incapazes de vencer o Japão. A razão é a seguinte: agora que mais de metade da China vai transformar-se na retaguarda do inimigo, se nós não fizermos a mais vasta e tenaz guerra de guerrilhas, e se permitirmos ao inimigo que se estabeleça solidamente nos territórios ocupados, sem que tenha de preocupar-se com a sua retaguarda, as nossas forças principais que combatem de frente sofrerão, necessariamente, pesadas perdas, a ofensiva do inimigo tornar-se-á ainda mais violenta, será difícil chegar a fase de equilíbrio e a própria continuação da Guerra de Resistência poderá ficar comprometida. Mas mesmo se as coisas não tomarem esse caminho tão mau, outros resultados desfavoráveis poderão ainda produzir-se, tais como a falta de potência ou de ação coordenada na nossa contra-ofensiva, e a possibilidade de que o inimigo repare as suas perdas. Se tais circunstâncias ocorrem e não são contrabatidas pelo desenvolvimento oportuno duma guerra de guerrilhas ampla e tenaz, será igualmente impossível vencer o Japão. Por consequência, muito embora a guerra de guerrilhas desempenhe um papel auxiliar na guerra considerada no seu conjunto, ela não deixa de ter, efetivamente, uma importância estratégica considerável. É sem dúvida um erro grosseiro descurar a guerra de guerrilhas durante a Guerra de Resistência contra o Japão. Esse é o outro aspeto da questão.
Para que se possa fazer uma guerra de guerrilhas, basta uma condição: um vasto território. Assim é que a guerra de guerrilhas também existiu nos tempos passados. Contudo, a guerra de guerrilhas só pode prosseguir-se quando dirigida pelo Partido Comunista. Essa a razão por que, no passado, as guerras de guerrilhas terminaram geralmente num fracasso. A guerra de guerrilhas só pode ser vitoriosa nos grandes países dos tempos modernos onde existe um Partido Comunista, como na União Soviética durante a guerra civil ou na China da hora atual. Considerando as circunstâncias presentes e a situação geral com respeito a guerra, a divisão de trabalho entre o Kuomintang e o Partido Comunista na Guerra de Resistência contra o Japão, divisão que consiste em fazer o primeiro uma guerra regular de frente e o segundo, uma guerra de guerrilhas na retaguarda do inimigo, e tanto necessária como conveniente. Para ambas as partes, trata-se duma questão de necessidade mútua, e coordenação mútua e de mútua assistência.
Compreende-se assim quão importante e necessária era, para o nosso Partido, a transformação da sua estratégia militar de guerra regular, no último período da guerra civil, em guerra de guerrilhas, no primeiro período da Guerra de Resistência contra o Japão. As vantagens de tal viragem podem ser resumidas nos dezoito pontos seguintes:
Está fora de dúvida também que, no decurso duma luta longa, as unidades de guerrilhas e a guerra de guerrilhas não permanecerão tal qual são, pelo contrario, evoluirão para um plano superior, transformando-se gradualmente em unidades regulares e em guerra regular. Com a guerra de guerrilhas, nós devemos acumular as nossas forças e transformar-nos num fator decisivo para a liquidação do imperialismo japonês.
A solução de todo o problema entre dois exércitos hostis depende da guerra, e a sobrevivência ou extinção da China depende da sua vitória ou derrota na guerra. Daí que não se possa retardar o estudo da teoria militar, da estratégia, da tática militar e do trabalho político no exército. Muito embora o nosso estudo da tática seja insuficiente, os camaradas que se ocupam das questões militares fizeram muito nos últimos dez anos e, baseados nas condições concretas da China, formularam muita coisa nova; o defeito está em que ainda não existe uma síntese geral nesse domínio. Por agora, são muito poucos os que empreenderam o estudo dos problemas da estratégia e das teorias da guerra. No estudo do trabalho político nós obtivemos resultados de primeira ordem, os quais, pela riqueza da nossa experiência e pelo número e qualidade das inovações, colocam-se em segundo lugar unicamente quando comparados aos da União Soviética. Aqui, igualmente, o defeito está na insuficiência dum trabalho de síntese e de sistematização. A popularização dos conhecimentos militares é uma tarefa urgente face as necessidades do Partido e do país inteiro. Nós devemos, pois, prestar uma grande atenção a todas essas questões, mas a teoria da guerra e da estratégia constitui aí o fator principal. Eu considero imperioso despertar o interesse pelo estudo da teoria militar e orientar a atenção de todos os membros do Partido para o estudo das questões militares.
Notas:
(1) Este texto constitui uma parte das conclusões apresentadas pelo camarada Mao Tsetung na Sexta Sessão Plenária do Comité Central eleito pelo VI Congresso do Partido Comunista da China. Em dois dos seus escritos — “Problemas Estratégicos da Guerra de Guerrilhas contra o Japão" e Sobre a Guerra Prolongada” — O camarada Mao Tsetung tinha já solucionado a questão do papel dirigente do Partido na Guerra de Resistência contra o Japão. Alguns camaradas, porém, cometendo erros de oportunismo de direita, negavam a necessidade da independência e autonomia do Partido no seio da Frente Única, razão por que duvidavam e até se opunham a linha do Partido sobre as questões da guerra e da estratégia. Para vencer esse oportunismo de direita, ajudar os membros do Partido a compreender mais claramente a importância primordial da guerra e da estratégia na revolução chinesa e mobilizar todo o Partido para que trabalhasse conscienciosamente nessa via, o camarada Mao Tsetung voltou a tratar dessa mesma questão na Sexta Sessão Plenária do Comité Central do Partido, apresentando-a especialmente do ponto de vista da história das lutas políticas na China. Ao mesmo tempo, ele analisou o desenvolvimento da nossa atividade militar e as modificações concretas registadas na linha estratégica do nosso Partido. O resultado que se alcançou foi ter-se assegurado a unidade de direção ideológica e de trabalho prático em todo o Partido. (retornar ao texto)
(2) Ver V. I. Lénine: “A Guerra e a Social-Democracia Russa”, “A Conferência das Secções Emigradas do P.O.S.D.R.”, “Sobre a Derrota do Nosso Próprio Governo na Guerra Imperialista”, “A Derrota da Rússia e a Crise Revolucionária”. Esses escritos, datando dos anos 1914-1915, tratam particularmente da guerra imperialista que então se desenrolava. Ver igualmente Compêndio de História do Partido Comunista (Bolchevique) da U.R.S.S., "A Teoria e a Tática do Partido Bolchevique nas Questões da Guerra, da Paz e da Revolução”, capítulo VI, secção 3. (retornar ao texto)
(3) Em 1924, Sun Yat-sen, aliado ao Partido Comunista e aos operários e camponeses revolucionários, derrotou as “Milícias Comerciantes”, destacamentos armados dos compradores, dos déspotas locais e dos nobres que, ligados aos imperialistas britânicos, prosseguiam uma atividade contra-revolucionária em Cantão. A princípios de 1925, o Exército Revolucionário, no seio do qual cooperavam o Kuomintang e o Partido Comunista, partiu de Cantão para uma campanha em direção do leste e infligiu, com a ajuda dos camponeses, uma derrota as tropas do caudilho militar Tchen Tchiom-mim, regressando depois a Cantão e destruindo as forças dos caudilhos militares do Iunnan e Cuansi, que aí se tinham entrincheirado. No Outono do mesmo ano, esse Exército Revolucionário realizou uma segunda campanha em direção do leste, aniquilando enfim o exército de Tchen Tchiom-mim. Os membros do Partido Comunista e os da Liga da Juventude Comunista combateram heroicamente na primeira linha, durante essas campanhas cujo resultado foi a unificação política da província de Cuantum e, em consequência disso, a criação duma base para a Expedição do Norte. (retornar ao texto)
(4) V. Estáline: “Sobre as Perspetivas da Revolução Chinesa”. (retornar ao texto)
(5) Em 1894, Sun Yat-sen organizou em Honolulu um pequeno grupo revolucionário, o Sintchunghuei (Associação para a Regeneração da China). Depois da derrota do Governo dos Tsins, na Guerra Sino-Japonesa de 1895, Sun Yat-sen, apoiando-se nas sociedades secretas que então existiam no seio do povo, organizou, em Cuantum, duas insurreições armadas contra os Tsins: em Cantão, em 1895, e no Hueidjou, em 1900. (retornar ao texto)
(6) Em 1905 o Sintchunghuei uniu-se a outras duas organizações opostas aos Tsins: O Huacinghuei (Associação para a Renascença da China) e o Quanfuhuei (Associação para o Restabelecimento da China). Dessa união resultou a criação do Ton/nenghuei (Liga Revolucionária Chinesa — organização da frente unida da burguesia, da pequena burguesia e duma parte dos nobres que tinham tomado posição contra o Governo dos Tsins), a qual elaborou um programa de revolução burguesa com as seguintes reivindicações: “Expulsão dos tártaros (Tsins), reconstrução da China, fundação duma república e igualdade de direito a propriedade da terra”. Enquanto existiu o Tonmenghuei, Sun Yat-sen, que ganhara a sua causa as sociedades secretas e uma parte do Novo Exército dos Tsins, organizou várias insurreições armadas contra o Governo Tsim. As mais importantes foram as de 1906, nos distritos de Pinsiam (Quiansi), Liuiam e Lilim (Hunan), as de 1907 em Huancam (prefeitura de Tchaodjou) e Tchindjou — ambos na província de Cuantum — e Tchennanquan (atualmente Iu-i-quan, província de Cuansi — N.T.) e a Insurreição de 1908 em Hocou, província de Iunnan, e as de 1911 em Cantão e Vutcham. (retornar ao texto)
(7) Em 1912, o Tonmenghuei foi transformado em Kuomintang, o qual fez um compromisso com Iuan Chi-cai, chefe dos caudilhos militares do Norte. Em 1913, quando as tropas de Iuan Chi-cai avançaram em direção ao sul, para esmagar as forças que se tinham sublevado nas províncias de Quiansi, Anghuei e Cuantum, no seguimento da Revolução de 1911, Sun Yat-sen organizou a resistência armada a essas tropas, vindo a fracassar pouco depois. Em 1914, tendo tirado proveito da política errada de compromisso do Kuomintang, o Dr. Sun Yat-sen formou em Tóquio (no Japão) um novo partido, o Tchunghuaquemintam (Partido Revolucionário da China), para o distinguir do Kuomintang de então. Com efeito, o novo partido constituía uma aliança contra Iuan Chi-cai, composta de representantes políticos de parte da pequena burguesia e da burguesia. Apoiando-se nessa aliança, Sun Yat-sen organizou em 1914 uma pequena insurreição em Xangai. Em 1915, logo que Iuan Chi-cai se proclamou imperador, Tsai Hô e outros organizaram contra ele uma expedição, a partir da província de Iunnan, sendo Sun Yat-sen muito ativo entre os inspiradores e participantes na luta armada contra Iuan Chi-cai. (retornar ao texto)
(8) Em 1917, Sun Yat-sen partiu de Xangai para Cantão, a testa duma parte da frota que se encontrava debaixo da sua influência. Servindo-se da província de Cuantum como base de apoio, e aliando-se aos caudilhos militares do Sudoeste que lutavam contra o caudilho militar do Norte, Tuan Tchijuei, formou um governo militar oposto a este último. (retornar ao texto)
(9) Em 1921, em Cueilin, Sun Yat-sen preparava uma expedição sobre o norte mas, por traição do seu subordinado Tchen Tchiom-mim, conivente com os caudilhos militares do Norte, os seus esforços fracassaram. (retornar ao texto)
(10) Em 1924, depois da reorganização do Kuomintang, Sun Yat-sen criou em Huampu, perto de Cantão, com a ajuda do Partido Comunista da China e da União Soviética, uma escola militar conhecida sob o nome de Academia Militar de Huampu. Antes que Tchiang Kai-chek traísse a revolução, em 1927, essa academia militar funcionava seguindo o princípio da cooperação entre o Kuomintang e o Partido Comunista. Os comunistas Chou En-lai, Ie Tchien-im, Iun Tei-im, Siao Tchu-nhu e muitos outros camaradas, ocuparam, em diversas ocasiões, postos de responsabilidade nessa academia. Havia igualmente, entre os alunos, um grande número de comunistas e membros da Liga da Juventude Comunista. Eles constituíam o núcleo revolucionário da academia. (retornar ao texto)
(11) Tan Ien-cai, originário do Hunan, era membro da Academia Imperial, na dinastia Tsim. A princípio ele era favorável a instauração da monarquia constitucional mas, mais tarde, infiltrou-se nas fileiras da Revolução de 1911. A sua passagem para o campo do Kuomintang explica-se pelas con tradições existentes entre os senhores de terras do Hunan e os caudilhos militares do Norte. (retornar ao texto)
(12) O Partido Progressista foi formado nos primeiros anos da República Chinesa por um grupo de personalidades, entre as quais Liam Tchi-tchao, subordinadas a Iuan Chi-cai. (retornar ao texto)
(13) Tuan Tchi-juei, velho subordinado de Iuan Chi-cai, comandava o grupo de Anghuei dos caudilhos militares do Norte. Depois da morte de Iuan Chi-cai, apoderou-se várias vezes do poder, no Governo de Pequim. (retornar ao texto)
(14) O Grupo de Ciências Políticas, grupo político de extrema direita, tinha sido criado em 1916 por uma parte dos membros do Partido Progressista e do Kuomintang, os quais viviam manobrando junto dos caudilhos militares do Sul e do Norte, em busca de postos no aparelho estatal. No período da Expedição do Norte, de 1926 a 1927, uma parte dos membros do Grupo de Ciências Políticas, como por exemplo os pró-japoneses do tipo de Huam Fu, Tcham Tchiun, Iam Iom-tai, entenderam-se com Tchiang Kai-chek e, graças a sua experiência na atividade política reacionária, ajudaram-no a instaurar o poder político contra-revolucionário. (retornar ao texto)
(15) Nome abreviado do Partido da Juventude da China, chamado ainda Partido Estatal. Ver, no Tomo I, a nota 1 ao artigo “Análise das Classes na Sociedade Chinesa”. (retornar ao texto)
(16) Trata-se essencialmente do Regimento Independente que, sob as ordens do general Ie Tim, membro do Partido Comunista, combateu no período da Expedição do Norte. Ver, no Tomo I, a nota 14 ao artigo “A Luta nas Montanhas Tchincam”. (retornar ao texto)
(17) Ver, no Tomo I, o artigo “Problemas Estratégicos da Guerra Revolucionária na China”. (retornar ao texto)
(18) A 7 de Julho de 1937, os imperialistas japoneses provocaram um incidente em Lucouquiao, visando anexar a China pela força. Unânime, o povo chinês exigiu que se opusesse resistência armada ao Japão. Dez dias, porém, se passaram antes que Tchiang Kai-chek fizesse uma declaração pública em Luxan, anunciando a resistência ao Japão. Tchiang Kai-chek acabou por decidir-se forçado pela pressão da totalidade do povo e ainda porque a agressão japonesa vibrava um sério golpe nos interesses dos imperialistas ingleses e norte-americanos na China, tanto como nos interesses dos grandes senhores de terras e da grande burguesia que ele directamente representava. Ao mesmo tempo, porém, o governo tchiangkaichekista continuava em negociações com os agressores japoneses, chegando mesmo a aprovar o pretenso acordo de solução pacífica que estes haviam concluído com certas autoridades locais. Foi preciso que se produzisse o grande ataque dos agressores japoneses contra Xangai, em 15 de Agosto, colocando-o na impossibilidade de manter a dominação sobre o Sudeste da China, para que Tchiang Kai-chek se sentisse constrangido a resistir ao Japão. Mas as negociações de paz que prosseguia em segredo com o Japão mantiveram-se até 1944. Durante a Guerra de Resistência contra o Japão, Tchiang Kai-chek renegou por inteiro tudo quanto havia declarado em Luxan: “Uma vez começada a guerra, toda a gente, do Norte ou do Sul, velhos ou novos, tem o dever de resistir ao invasor e defender o solo pátrio”. Opôs-se à guerra total do povo baseada na mobilização geral e adoptou uma política reaccionária de resistência passiva ao Japão e combate activo ao Partido Comunista e ao povo. As duas linhas políticas, as duas séries de medidas e as duas perspectivas de que fala o camarada Mao Tsetung no presente artigo, traduzem justamente a luta entre a linha do Partido Comunista e a linha de Tchiang Kai-chek ao longo da Guerra de Resistência contra o Japão. (retornar ao texto)
(19) Han Fu-tsiu era um caudilho militar do Kuomintang na província de Xantum. Liu Tchi era outro caudilho militar que pertencia a fação de Tchiang Kai-chek e se havia instalado no Honan. Depois que estalou a Guerra Anti-Japonesa, Liu Tchi foi transferido para a província de Hopei, confiando-se-lhe a defesa de Paotim. Diante da ofensiva dos invasores japoneses, ambos fugiram sem dar batalha. (retornar ao texto)
Inclusão | 21/09/2013 |