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Enquanto essas negociações aconteciam, alguém que percebeu que a Duma estava cercada de policiais, soldados e cossacos, correu para o Ministério do Interior buscando uma explicação. O governador da Cidade, aparentemente, havia informado o Ministro que trabalhadores haviam aparecido na Duma armados com porretes e outras armas, haviam cercado a Duma, e estavam agredindo os conselheiros municipais.
Esse relatório foi passado por telefone para a Câmara e Kedrin o repetiu para as pessoas reunidas. Isso causou uma enorme gargalhada. Nós imediatamente juntamos cerca de vinte bengalas e guarda-chuvas que carregávamos, as contamos, e os oferecemos aos conselheiros municipais, mas eles recusaram.
“Não, nós entregaremos nossas armas.” Declaramos rindo. “Informe quem quer que se interesse que os representantes do proletariado na Duma Municipal renderam suas armas.”
E nossos camaradas deram os guarda-chuvas e as bengalas ao comissário.
Nesta hora, o chefe da polícia, alguns oficiais e um batalhão de policiais apareceram no corredor Alexandrov. A Duma parecia um quartel. Ninguém tinha permissão para entrar ou sair. A delegação do Conselho de Desempregados se reuniu em um canto para considerar a situação e decidiu não sair, nem entrar em qualquer negociação com os conselheiros a não ser que a polícia se retirasse e a delegação fosse ouvida.
Alguém novamente foi ao Ministério e ao governador para perguntar por que a polícia foi chamada. Algum conselheiro municipal liberal começou a repreender os outros. Ele apontou para os trabalhadores e disse:
"Vejam como os representantes dos trabalhadores se comportam. Nenhuma palavra supérflua, nenhum gesto supérfluo. E aqui, o diabo sabe o que está acontecendo hoje, uma verdadeira balbúrdia. Nós devemos pedir que a polícia se retire imediatamente.”
Os conselheiros municipais discutiram entre si por muito tempo. Todos negando ter chamado a polícia. Mas nós sabíamos. Nossos representantes disseram, em tom de brincadeira, mas de maneira franca, a eles:
"Vocês estão todos mentindo. Todos vocês chamaram a política e agora negam isso.”
Os conselheiros municipais insistiram que o prefeito e o presidente da Duma Municipal, Dimsha, pedissem ao governo para retirar a polícia e os guardas da Duma Municipal. O prefeito e Dimsha disseram que eles iriam solicitar imediatamente que a polícia se retirasse da Duma. A delegação respondeu que não pediu que solicitassem isso por eles, mas para o bem da própria Duma, para que não se envergonhassem depois.
"Mas temos um pedido a vocês,” nossa delegação acrescentou. "Continuem a sessão e nos ouçam.”
O prefeito e o presidente Dimsha foram ao governador e de seu escritório nos informou que o governador ouviu que uma multidão de trabalhadores invadiu a Duma e estavam agredindo os conselheiros.
"Se os conselheiros não se consideram em perigo, e se não desejam que os trabalhadores sejam presos, o Governo concorda em retirar a polícia.”
Dentro de cinco ou dez minutos, todas as forças armadas se retiraram. Depois disso, em conversas mais pacíficas, a Duma chegou a um acordo conosco. A Duma concordou em receber a delegação do Conselho de Desempregados no dia 14 de Junho, mas uma delegação menor.
Naquele dia, o comitê executivo do Conselho de Desempregados decidiu enviar uma delegação de 14 pessoas, dois representantes de cada distrito; e só dois deles discursariam na Duma. A delegação foi comissionada a negociar habilmente e não dar às Centenas Negras nenhuma desculpa para impedir nosso encontro na Duma.
Quando a delegação apareceu na Duma no dia marcado, eles levaram uma declaração que havia sido escrita anteriormente com o consenso do Conselho de Desempregados. Ela dizia:
“Para investigar o progresso da organização dos empregos públicos e para relatar suas necessidades, os desempregados de São Petersburgo deseja enviar uma delegação de duas pessoas de cada distrito para o encontro na Duma Municipal. Ao notificar o prefeito, os desempregados também querem apontar, ao mesmo tempo, que é absolutamente essencial que ele receba a delegação e a ouça no encontro da Duma Municipal.”
Tendo ouvido nosso informe, a Duma decidiu por ouvir os representantes dos desempregados, mas apenas como ‘especialistas’.
Quando um de nós, que deveria falar à Duma no dia 14 de Junho(1), começou a se aproximar da tribuna da Duma para falar de lá, Dimsha o parou e insistiu que permanecesse abaixo. Não éramos orgulhosos e concordamos em dizer o que queríamos do chão.
O primeiro orador disse:
“A Duma nos prometeu um grande negócio, mas até agora não recebemos nada. A duma realizou o registro dos desempregados. Os desempregados acharam que estavam sendo registrados para conseguirem empregos, mas não há empregos. O único resultado desse registro é que agora a polícia e todos os espiões sabem quantos desempregados há na cidade. A comissão preparatória da Duma trabalhou por muito tempo nos projetos de empregos públicos. Os desempregados pensaram que eles os conseguiriam, mas até agora não receberam esse trabalho. E na cidade os trabalhos estão indo, como sempre, para as mãos das empresas. A polícia cercava os locais onde os desempregados se encontravam. Nós começamos a nos encontrar fora da cidade, mas eles nos tiraram de lá também, e nos prenderam. Estamos sendo expulsos de nossas casas; os refeitórios estão fechando. Isso é tudo que recebemos da Duma. Vocês irão finalmente organizar os empregos públicos? Vocês nos enganaram e nos fizeram de trouxas. Mas pessoas que vocês enganaram nos mandaram aqui para trazer essa questão a vocês uma última vez: haverá empregos públicos ou não?”
O orador seguinte enfatizou a mesma coisa, mas de uma maneira diferente e fez a mesma pergunta:
“Haverá empregos públicos ou não?”
Então um terceiro orador, o comissionado pelo Comitê Executivo para alertar a Duma sobre as consequências de recusar a organização de empregos públicos. Esta fala fez os conselheiros municipais protestarem.
"Uma segunda vez eu falo a vocês, cavalheiros conselheiros,” disse o orador, um representante dos desempregados. "Desde o dia 12 de Abril, nós estamos trabalhando em suas comissões, trabalhamos para suprir as necessidades dos desempregados. Estas necessidades estão à nossa volta desde que nós mesmos as sentimos. Vocês que não as sentem e não sabem o que elas são. Por que nós viemos uma segunda vez exigir de vocês auxílio aos desempregados? Nós, os trabalhadores com a consciência de classe mais avançada, somos revolucionários. Nós lutamos contra aqueles que vocês servem. Nós sofremos por essa luta e não deixaremos de lutar até o fim. Nós sabemos o que é necessário para dar fim ao desemprego. Mas a massa como um todo não sabe. O desemprego os leva a roubar e matar. Vocês têm medo disso. Eu não quero os assustar falando disso. Vocês temem por vocês mesmos, por sua riqueza. Nós tememos por nossa força, pois tais coisas enfraquecem e desmobilizam nossas fileiras. Vocês deram aos desempregados promessas, não porque vocês concordam que eram direitos deles, mas porque vocês têm medo deles. Nós entendemos isso muito bem, e aceitamos sua ajuda. Nós levamos suas promessas de criar empregos públicos à nossos companheiros trabalhadores, mas desde então vocês apenas enganaram os trabalhadores, e nós não queremos parecer traidores como vocês. Se vocês não derem essa ajuda aos desempregados agora, se vocês não criarem os empregos públicos, nós diremos a toda a massa de desempregados que apenas mentiras alimentaram sua esperança. Vocês devem nos dizer, haverá empregos públicos ou não?”
A câmara se encheu com barulho e agitação. Os conselheiros municipais gritavam ao mesmo tempo. As Centúrias Negras rugiam.
“Oh... vocês vieram para nos amedrontar!”
O presidente pedia ordem. Muitas vezes ele parava o orador, mas nosso representante, tendo terminado seu discurso, pegou um papel e começou a ler as exigências. O presidente o cortou abruptamente e declarou que a Duma não iria ouvir as exigências. Então nosso orador concordou em chamar essas exigências de “pontos” e então começou a numerá-los sem nenhuma outra objeção pelo presidente.
Após esses pontos terem sido lidos, Dimsha exigiu que os trabalhadores deixassem a câmara. Quando concordamos com isso, os conselheiros, sobre pressão dos liberais, decidiram permitir que sentássemos atrás das grades enquanto uma decisão sobre essa questão era tomada, apesar do fato de que o presidente, Dimsha, exigiu que deixássemos a câmara.
Os conselheiros começaram a considerar nossas demandas. Alguns propuseram uma votação secreta, mas eles estavam com medo de decidir por votações. Após a discussão, o presidente da Duma, Dimsha, levantou a questão:
“É desejo da Duma Municipal aceitar a proposta na comissão preparatória de, por exemplo, organizar empregos e liberar dinheiro?”
Nenhum dos conselheiros poderia não concordar com a proposta. Os trabalhadores, pendurados nas grades, observavam a votação. Catorze pares de olhos brilhavam com raiva e ira sobre aqueles governantes da cidade. Muitos conselheiros olhavam com medo. Dois conselheiros das Centenas Negras levaram. O presidente perguntou:
“Vocês são contra?”
Mas os conselheiros, levantando os olhos para as grades, e vendo que ninguém os apoiava, disseram rapidamente:
“Não, não. Nós somos a favor da proposta da comissão de apoiar os desempregados.”
A questão do auxílio aos desempregados foi decidida de maneira afirmativa e as seguintes resoluções foram aprovadas:
O dinheiro foi conseguido, e imediatamente depois foi dada a permissão para começar a contratação pública dos desempregados, para a elevação do porto de Halerna, impedindo que ele afundasse.
Notas de rodapé:
(1) A edição em inglês diz "July, 14"(14 de Julho). Porém, com o desenvolvimento do texto fica evidente que foi um erro da edição e se trata do dia "14 de Junho" (retornar ao texto)