Conselhos de Desempregados em São Petersburgo em 1906

Sergei Malyshev


Os desempregados atacam a Duma Municipal de São Petersburgo


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Sob a liderança direta do Partido Bolchevique, o Conselho de Desempregados de São Petersburgo começou os preparos para a primeira ofensiva na Duma Municipal de São Petersburgo. Certos preparativos tinham que ser feitos para conseguir o apoio incondicional das massas de trabalhadores ao ataque dos desempregados sobre a Duma Municipal. Através da agitação nos distritos, o Conselho de Desempregados publicou vários apelos aos empregados e aos desempregados.

Uma petição para a Duma Municipal de São Petersburgo foi feita pelo Conselho de Desempregados, escrita em termos bolchevique-proletários da maneira mais vigorosa possível. A petição foi discutida pelo Conselho de Desempregados, adotada, e enviada para todas as fábricas e usinas de São Petersburgo e arredores para ser discutida pelos trabalhadores e para conseguir assinaturas. Obviamente a discussão sobre a petição nas fábricas foi realizada nas assembleias gerais dos operários. Mas, junto a isso, foi discutida na imprensa proletária, exceto no jornal sob controle dos Mencheviques. Os Mencheviques (escreverei mais sobre isso adiante) se opuseram ao Conselho de Desempregados da maneira mais enérgica, e levantavam obstáculos a cada passo de nosso trabalho em organizar os desempregados. Os delegados de nosso Conselho insistiram na leitura da petição na sessão da Duma Municipal antes que a votação fosse realizada. A petição era a seguinte:

“Devido ao desemprego, inúmeras famílias de trabalhadores estão agora sem pão. Os trabalhadores não querem caridade ou doações. Demandamos trabalho. Os mestres se negam a nos dar trabalho. Eles dizem que não possuem serviços a serem feitos. Mas a cidade possui serviços a serem feitos e pode dar emprego aos desempregados. Nós pensamos que a maneira que a cidade gasta seus fundos é vergonhosa. Fundos públicos devem ser usados para necessidades públicas e a necessidade de hoje é: emprego. Portanto, nós exigimos que a Duma Municipal organize imediatamente empregos públicos para todos os que necessitam. Nós não exigimos caridade, mas nossos direitos, e não estaremos satisfeitos com caridade. Os empregos públicos que exigimos devem se iniciar imediatamente. Todos os desempregados de São Petersburgo devem ter permissão para conseguir esses empregos; todo trabalhador desempregado deve receber um salário adequado. Nós fomos escolhidos delegados para insistir na realização de nossas demandas. As massas que nos enviaram, não estarão satisfeitas com menos. Se vocês não aceitarem nossas demandas, informaremos as massas de sua recusa e então vocês não lidarão conosco, mas com as massas que nos enviaram.”

A petição conseguiu a simpatia de todos trabalhadores nas fábricas e usinas. Foi discutida nas assembleias gerais de todas as fábricas, e posteriormente, assinaturas foram coletadas nas oficinas. Oradores foram enviados às fábricas onde após o lockout apenas trabalhadores com consciência de classe pouco avançada permaneceram. Nossos oradores foram com grupos de desempregados, pararam os trabalhadores enquanto eles saiam para o jantar, ou à noite, na troca de turnos, e realizaram encontros nas portas das fábricas para discutir as questões do desemprego e da necessidade de prestar auxílios aos desempregados. Os encontros eram sempre bem sucedidos. Breves resoluções sobre a necessidade de se auxiliar os desempregados foram feitas e assinaturas foram coletadas para a petição.

Mas o Conselho de Desempregados, além de elevar a moral das massas de trabalhadores, feito que realizou sem sombra de dúvidas, também precisava criar um desejo de ajudar os desempregados entre os grupos pequeno-burgueses. O Conselho de Desempregados conseguiu o interesse de alguns jornais liberais de São Petersburgo. Camaradas que possuíam conexões com pessoas desses jornais liberais foram comissionados para falar com os mais liberais entre eles a fim de fazê-los ajudar através de artigos e anúncios nos jornais. Tovarishch, onde Kuskova e Propovich haviam trabalhado; Rus, liderado pelo filho liberal de Suvorin; o jornal dos Cadetes(1), Sovremennoye Slovo; e mesmo Birshevka, publicaram anúncios e artigos sobre o movimento dos desempregados, onde eles defenderam em larga escala a organização de empregos públicos. Eles apoiaram os desempregados porque seus leitores pequeno-burgueses fizeram grande pressão para que o fizessem. Os exércitos de centenas de milhares de desempregados alarmaram seriamente os pequeno-burgueses. Essa enorme massa de pessoas famintas, eles argumentaram, iria espalhar diversas epidemias que, sem sombra de dúvidas, iria afetar primeiro os oficiais de baixa patente, trabalhadores de escritório, etc., que entraram em contato com eles ao longo de seu trabalho.

"Ajuda é essencial não apenas ao interesse dos trabalhadores, mas pelo bem da saúde de toda população,” disse o presidente da Comissão da Duma. "É sabido que tifo, começando em porões e sótãos, tende a aumentar o número de vítimas dos estratos mais altos da sociedade. Por outro lado, a perspectiva de morrer de fome pode levar as pessoas, desesperadas pela pobreza, a tomar medidas extremas. Sendo este o caso, é essencial ajudá-los agora. Ajuda dada tarde demais pode nos custar caro.”

Simpatia pelo movimento dos desempregados cresceu diariamente em todos os distritos, fábricas e usinas. Núcleos do Conselho de Desempregados foram formados nas fábricas e usinas. Conselhos distritais foram organizados. Comitês eram formados para investigar a situação dos desempregados e auxiliá-los em sua luta com a Duma Municipal.


Notas de rodapé:

(1) Como eram chamados os membros do Partido Constitucional Democrata. (retornar ao texto)

Inclusão: 05/12/2019