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Em Janeiro de 1906, o desemprego, a escassez e a fome cresceram ainda mais. A comissão semi-legal de desempregados trabalhou debilmente devido à falta de dinheiro. As receitas chegaram perto de zero. Os trabalhadores afetados pelo lockout haviam vendido seus últimos pertences e estavam finalmente encarando a fome.
Após a derrota do levante de Moscou e de outras cidades, tive que deixar Kostroma, onde o terrorismo das Centenas Negras e das forças armadas compeliu o Soviete de Deputados Operários de Kostroma a encerrar suas atividades e agir na clandestinidade, e eu — seu presidente — fui forçado a me esconder. Em uma locomotiva, com um casaco encardido e uma boina, e com o rosto sujo, eu fui tirado de Kostroma por alguns camaradas ferroviários. Além disso, essa capital proletária — São Petersburgo — era um local mais apropriado para se viver escondido uma vez que eu havia trabalhado em fábricas lá e havia também participado da militância Bolchevique secretamente. Também seria mais fácil para eu me esconder e conseguir locais para passar a noite através dos operários ali que em qualquer outra cidade.
Na minha chegada a São Petersburgo, eu imediatamente me apresentei na sede do partido, e após me encontrar com os líderes do partido, dirigi-me ao distrito de Vyborg. Lá eu encontrei um bom camarada, um operário Bolchevique, Simon Loktev. Ele também havia vindo para São Petersburgo saindo de um distrito onde grandes eventos revolucionários haviam ocorrido apenas uma semana atrás e já começava a me contar todas as novidades do partido. Ele me disse que nossos líderes Bolcheviques haviam decido dar apoio total ao movimento de desempregados que estava apenas começando. Ele me convidou na mesma noite para um encontro de deputados da organização de desempregados do distrito, que ocorreria no distrito de Lesny. Um membro do comitê do Partido, Camarada Kairsky, iria falar em nome dos Bolcheviques de São Petersburgo. Nós tivemos algumas horas ao nosso dispor antes do encontro e então andamos por Sampsonevsky enquanto comparávamos notas sobre os eventos passados. Nós queríamos ter entrado em um bar, mas o estado de nossas finanças e o medo de espiões nos impediu. Entramos em bonde e nos dirigimos ao centro, para a rua Nevsky. Passando pela rua Liteini, na parte superior do bonde, observamos um multidão passando — bem diferente do grupo ao qual nos juntaríamos em Lesny. Nós estávamos famintos e teríamos gostado de ir ao Filippov(1) para comer, mas o exame de nossos bolsos nos convenceu de que era um prazer que teríamos que nos negar.
Caminhando pela rua Nevsky, observamos a feliz e bem alimentada burguesia. Alguns — de nível mais alto — passavam em carruagens magníficas, com brasões e um ou dois cavalos esplêndidos; outros, um estrato inferior — uma multidão burguesa — se movia a pé pela rua, enchendo o centro da cidade, pela rua Sadovaya e a travessa Gostin. Eles entravam em lojas cheias de mercadorias, saiam com os braços cheios de compras, e as crianças, carregadas junto às compras, eram arrastadas para suas casas. Tudo que estava nessas lojas, estandes e armazéns, produzido pelo proletariado, era bem acessível à burguesia. Nós andamos diversos quarteirões pela rua Nevsky, mas só pudemos olhar dentro da loja Soloviev. Nós não podíamos nem entrar e comprar cem gramas de salsicha porque o bem alimentado vendedor da loja Soloviev não venderia porções tão pequenas e, além disso, o preço da salsicha não correspondia aos nossos bolsos.
Para aliviar nossos sentimentos, xingamos, demos os braços, e viramos as costas para essa rua esnobe. Atravessamos becos estreitos e finalmente, na rua Bassein, encontramos um restaurante barato onde nós dois nos enchemos com algum tipo de tripa por dois kopeks.
Notas de rodapé:
(1) Da edição em inglês “We were hungry and would have liked to go to Filippov's for some food,(...)". Provavelmente Filippov se refere à uma taverna ou restaurante. (retornar ao texto)