As preciosas confissões de Pitirin Sorokin

Vladimir Ilitch Lênin

20 de novembro de 1918


Primeira edição: Escrito a 20 de novembro de 1918. Publicado a 21 de novembro de 1918 no jornal Pravda, nº 252. Assinado: N. Lênin. V. I. Lênin, Obras, 4.ª ed. em russo, t. 28, págs. 165/173

Fonte: A aliança operário-camponesa, Editorial Vitória, Rio de Janeiro, Edição anterior a 1966 - págs. 399-406

Tradução: Renato Guimarães, Fausto Cupertino Regina Maria Mello e Helga Hoffman de "La Alianza de la Clase Obrera y el Campesinado", publicado por Ediciones en Lenguas Extranjeiras, Moscou, 1957, que por sua vez foi traduzido da edição soviética em russo, preparada pelo Instituto de Marxismo-Leninismo adjunto ao CC do PCUS, Editorial Política do Estado, 1954. Capa e apresentação gráfica de Mauro Vinhas de Queiroz

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Pravda reproduziu hoje uma interessantíssima carta de Pitirin Sorokin, à qual todos os comunistas devem prestar particular atenção. Nesta carta, que foi publicada em Izvestia Severo-Dvinskogo Ispolnitelnogo Komiteta, Pitirin Sorokin informa que se demitiu do partido dos esserristas de direita e que renunciou ao título de deputado à Assembleia Constituinte. Os motivos aludidos pelo autor da carta consistem em que para ele é difícil apresentar, não só aos outros, mas, inclusive, para si mesmo, receitas políticas salvadoras, em vista do que «se retira de toda a política». «O ano de revolução transcorrido — escreve Pitirin Sorokin — ensinou-me uma verdade: os políticos podem enganar-se, a política pode ser útil à sociedade, mas pode também ser prejudicial; ao contrário, o trabalho na ciência e na instrução pública é sempre útil, sempre é necessário ao povo»... No fim da carta encontra-se esta assinatura: «Pitirin Sorokin, professor extranumerário da Universidade de Petersburgo e do Instituto Psiconeurológico, ex-deputado à Assembleia Constituinte e ex-membro do partido dos esserristas».

Esta carta é digna de atenção, em primeiro lugar, como um «documento humano» de extraordinário interesse. Não e muito frequente encontrar a franqueza e a sinceridade com que P. Sorokin reconhece o caráter errôneo de sua política. Na quase maioria dos casos, os políticos que se convencem de que a linha seguida por eles está errada, tentam disfarçar sua virada, escondê-la, «inventar» algum motivo mais ou menos secundário, etc. O reconhecimento franco e honrado de seu erro político é, por si mesmo, um ato político importante. Pitirin Sorokin não tem razão quando diz que o trabalho científico «é sempre útil», pois também neste terreno cometem-se erros. Na literatura russa, também, encontramos exemplos de pessoas não reacionarias que defenderam, firmemente, opiniões reacionarias, filosóficas, por exemplo. Por outro lado, a declaração pública de um homem destacado, isto é, de um homem que ocupa um posto político conhecido por todo o povo e de responsabilidade, anunciando que se retira da política, também é política. O reconhecimento honrado de um erro político é de grande proveito político para muitas pessoas, se se trata de um erro em que incorreram partidos inteiros, outrora com influência entre as massas.

A carta de Pitirin Sorokin tem extraordinária importância política precisamente nos momentos atuais. Dá-nos a todos uma «lição» que é preciso ser bem pensada e assimilada.

Todo marxista conhece há muito a verdade de que as forças decisivas, em qualquer sociedade capitalista, só podem ser o proletariado e a burguesia, enquanto que todos os elementos sociais intermediários entre essas duas classes, aos quais se dá a denominação econômica de pequena burguesia, vacilam inevitavelmente entre estas forcas decisivas. Mas existe uma enorme distância entre o reconhecimento livresco dessa verdade e o acerto em tirar as deduções que dela derivam em uma situação complexa da atividade prática.

Pitirin Sorokin representa uma corrente social e política extraordinariamente ampla: a menchevique-esserrista. Os acontecimentos da revolução russa a partir de fevereiro de 1917 mostraram com particular força de convicção e singular evidência que se trata de uma só corrente, que não é essencial a diferença entre mencheviques e esserristas do ponto-de-vista de sua atitude diante da luta entre a burguesia e o proletariado. Os mencheviques e os esserristas são variedades da democracia pequeno-burguesa: eis a essência econômica e a característica política fundamental dessa corrente. A história dos países avançados ensina-nos que, em sua juventude, esta corrente se tem por «socialista».

Surge a pergunta: o que separou com força especial os representantes dessa tendência, há vários meses, dos bolcheviques, da revolução proletária, e o que os impulsiona, agora, a uma virada que vai da hostilidade à neutralidade? É inteiramente evidente que as causas da virada foram, em primeiro lugar, a bancarrota do imperialismo alemão, junto com a revolução na Alemanha e em outros países, e do desmascaramento do imperialismo anglo-francês e, em segundo lugar, o desmascaramento das ilusões democrático-burguesas.

Examinemos a primeira causa. O patriotismo é um dos sentimentos mais profundos, firmado por séculos e milênios de pátrias isoladas. Entre as dificuldades particularmente grandes, poder-se-ia dizer excepcionais, de nossa revolução proletária figurava a circunstância de que teve que atravessar o período de mais violenta divergência com o patriotismo, o período da paz de Brest-Litovsk.(1) A amargura, a ira e a furiosa indignação suscitadas por esta paz são compreensíveis. Não é necessário dizer que nós, os marxistas, só podíamos esperar que a vanguarda consciente do proletariado compreendesse esta verdade: fazemos e devemos fazer os maiores sacrifícios no interesse supremo da revolução proletária mundial. Os ideólogos não filiados ao marxismo e as amplas massas trabalhadoras que não fazem parte do proletariado, forjado durante longos anos na escola grevista e revolucionaria, não tinham de onde tirar nem a firme convicção de que esta revolução amadurecia, nem a fidelidade incondicional a ela. No melhor dos casos, nossa tática lhes parecia fantasia, fanatismo, aventura, sacrificar os interesses evidentes e reais de centenas de milhões de seres em favor da esperança abstrata, utópica ou duvidosa do que pudesse ocorrer em outros países. A pequena burguesia, por sua situação econômica, é mais patriótica do que a burguesia e o proletariado.

Mas aconteceu o que nós dizíamos.

O imperialismo alemão, que parecia o único inimigo, desmoronou. A revolução alemã, que parecia um «sonho-farsa» (utilizando a conhecida expressão do Plekhanov), converteu-se em uma realidade. O imperialismo anglo-francês, que a fantasia dos democratas pequeno-burgueses fazia aparecer como amigo da democracia e defensor dos oprimidos, resultou na prática em uma fera que impôs à República Alemã e aos povos da Áustria condições piores do que as de Brest-Litovsk, uma fera que utiliza as tropas dos republicanos «livres», dos franceses e dos norte-americanos como policiais e verdugos para estrangular a independência e a liberdade das nações pequenas e débeis. A história mundial arrancou, com sinceridade e decisão implacáveis, a máscara deste imperialismo. Os fatos da história mundial provaram aos patriotas russos — que só queriam saber de vantagens imediatas (compreendidas igualmente à maneira antiga) de sua pátria — que a transformação de nossa revolução, russa, em socialista não era uma aventura, mas uma necessidade, pois não havia outra escolha: o imperialismo anglo-francês e norte-americano estrangularia indefectivelmente a independência e a liberdade da Rússia, se não triunfasse a revolução socialista mundial, o bolchevismo mundial.

Os fatos são teimosos, diz um provérbio inglês. Nos últimos meses temos vivido fatos que marcam uma grandiosa virada em toda a história mundial. Estes fatos obrigam os democratas pequeno-burgueses da Rússia, em que pese a seu ódio ao bolchevismo — alimentado pela história de nossa luta interna de partido — a dar uma virada e passar da hostilidade ao bolchevismo à neutralidade, primeiro, e ao apoio a este, depois. Deixaram de existir as condições objetivas que separavam de nós, com particular violência, estes patriotas-democratas. Apareceram condições objetivas mundiais que os obrigam a se orientar em nossa direção. A virada de Pitirin Sorokin não é, longe disso, uma casualidade, mas a manifestação da virada inevitável de toda uma classe, de toda a democracia pequeno-burguesa. Quem não souber levar isto em conta e aproveitá-lo, não será marxista, será um mau socialista.

Prossigamos. Em todos os países, mantiveram-se durante séculos e séculos, com particular persistência entre a pequena burguesia, a fé na ação universal e salvadora da «democracia» em geral e a incompreensão de que essa democracia é burguesa, de que sua eficácia e sua necessidade estão historicamente limitadas. O grande burguês, que passou por não poucas provas, sabe que a república democrática, como qualquer outra forma de Estado sob o capitalismo, não é outra coisa senão uma máquina para oprimir o proletariado. O grande burguês sabe isto graças a seu conhecimento mais intimo dos verdadeiros dirigentes e das molas mais profundas (e, frequentemente, por isso mais ocultas) de toda a máquina estatal burguesa. Por sua situação econômica e todas as condições de sua vida, o pequeno-burguês é menos capaz de compreender esta verdade e abriga, inclusive, a ilusão de que a república democrática significa a «democracia pura», «o Estado popular livre», o poder soberano do povo fora ou acima das classes, a expressão pura da vontade popular, etc. O democrata pequeno-burguês está mais afastado da aguda luta de classes, da Bolsa, da «verdadeira» política, o que gera inevitavelmente a consistência de seus preconceitos. Seria absolutamente não marxista esperar que seja possível erradicar esses preconceitos somente com a propaganda e a curto prazo.

Mas a história mundial avança agora com uma velocidade tão vertiginosa e destrói todo o habitual, todo o velho, com um golpe de potência tão imensa, com uma crise de força tão inusitada, que os preconceitos mais consistentes não podem resistir. No «democrata em geral» surgiu de modo natural e inevitável a ingênua confiança na Constituinte, a ingênua contraposição da «democracia pura» à «ditadura do proletariado». Mas, o que ocorreu aos «constituintistas» em Arkhanguelsk e em Samara, na Sibéria e no Sul, não podia deixar de destruir os preconceitos mais consistentes. A idealizada república democrática de Wilson resultou, na prática, em uma forma do mais furioso imperialismo, da mais desavergonhada opressão e estrangulamento dos povos fracos e pequenos. O «democrata» médio em geral, o menchevique e o esserrista, pensavam: «Para que sonhar com um tipo de Estado supostamente superior, com um Poder Soviético! Bastará que Deus nos dê uma república democrática normal!» Como é natural, em tempos «normais», em tempos relativamente pacíficos, tal «esperança» teria durado decênios.

Mas agora, o curso dos acontecimentos mundiais e a dura lição da aliança concluída por todos os monarquistas da Rússia com o imperialismo anglo-francês e norte-americano mostram, na prática, que a república democrática é uma república democrático-burguesa, já envelhecida do ponto-de-vista das questões colocadas pelo imperialismo na ordem-do-dia da história; que não há outra escolha: ou o Poder Soviético vence em todos os países avançados do mundo, ou se impõe o imperialismo anglo-norte-americano, o mais reacionário e mais furioso, que aprendeu magnificamente a aproveitar a forma da república democrática, que asfixia todos os povos pequenos e fracos e que restaura a reação em todo o mundo.

Ou uma coisa ou outra.

Não há meio termo. Até há pouco tempo considerava-se que esse ponto-de-vista era fanatismo cego dos bolcheviques.

Mas ocorreu precisamente assim.

Não é uma casualidade que Pitirin Sorokin tenha renunciado ao título de membro da Assembleia Constituinte: isso é um sintoma da virada de toda uma classe, de toda a democracia pequeno-burguesa. A divisão de suas fileiras é inevitável: uma parte virá para nosso lado, outra parte permanecerá neutra e outra se incorporará conscientemente aos monarquistas e democratas constitucionalistas, que vendem a Rússia ao capital anglo-norte-americano e tratam de esmagar a revolução com baionetas estrangeiras. Uma das tarefas essenciais do momento é a de saber levar em conta e utilizar esta virada que se produz entre a democracia menchevique e esserrista: a passagem da hostilidade ao bolchevismo à neutralidade, primeiro, e ao apoio a este, depois.

Toda palavra-de-ordem lançada pelo Partido às massas tem a propriedade de congelar-se, de tornar-se morta, de conservar sua vigência para muitas pessoas inclusive depois de se terem modificado as condições que a tornaram necessária. Este mal é inevitável, e sem aprender a lutar contra ele e a vencê-lo, é impossível assegurar uma justa política do Partido. O período em que nossa revolução proletária se separou, de modo particularmente brusco, da democracia menchevique e esserrista foi uma necessidade histórica; era impossível prescindir dessa dura luta contra tais democratas em um momento em que se inclinavam para o campo de nossos inimigos e se dedicavam ao restabelecimento da república burguesa e imperialista. Agora, as palavras-de-ordem dessa luta se congelaram e se fossilizaram em vários casos, impedindo de levar em conta com acerto e aproveitar convenientemente a nova situação, na qual se iniciou uma nova virada entre essa democracia, uma virada em nossa direção, uma virada que não é causai, mas que tem suas raízes nas condições mais profundas de toda a situação internacional.

Não basta apoiar esta virada e acolher amistosamente os que vêm em nossa direção. Um político que compreenda suas tarefas deve aprender a suscitar essa virada nas diferentes camadas e grupos da ampla massa democrática pequeno-burguesa, se está convencido de que existem causas históricas serias e profundas para tal virada. O proletariado revolucionário deve saber quem é necessário esmagar; com quem, quando e como é preciso saber concluir um acordo. Seria ridículo e estúpido renunciar ao terror e ao esmagamento com relação aos latifundiários, aos capitalistas e a seus lacaios, que vendem a Rússia aos imperialistas estrangeiros «aliados». Seria uma farsa tentar «convencê-los» e, em geral, «influir psicologicamente» sobre eles. Mas, na mesma medida, senão mais, seria ridículo e estúpido insistir exclusivamente na tática do esmagamento e do terror em relação à democracia pequeno-burguesa quando a marcha dos acontecimentos a obriga a vir em nossa direção.

O proletariado encontra essa democracia por toda parte. No campo, nossa tarefa é acabar com os latifundiários e romper a resistência dos exploradores e dos culaques especuladores; para isto podemos apoiar-nos com firmeza nos semiproletários, nos «pobres». Mas o camponês médio não é nosso inimigo. Vacilou, vacila e continuará vacilando; a tarefa de influir sobre os vacilantes não é a mesma que a de derrubar os exploradores e de vencer os inimigos ativos. Saber chegar a um acordo com os camponeses médios, sem renunciar um instante sequer à luta contra os culaques e apoiando-se firmemente somente nos camponeses pobres: eis a tarefa do momento, pois agora, precisamente, a virada dos camponeses médios em nossa direção é inevitável em virtude das causas expostas acima.

O mesmo se deve dizer dos artesãos da cidade e do campo, do operário que trabalha nas condições mais pequeno-burguesas ou que conserva em maior grau as opiniões pequeno-burguesas, de muitos empregados, dos oficiais e, especialmente, dos intelectuais em geral. É indubitável que em nosso Partido se observa frequentemente a incapacidade para aproveitar essa virada e que essa incapacidade pode e deve ser superada e transformada em capacidade.

Já temos um firme apoio na imensa maioria dos proletários organizados profissionalmente. É preciso saber ganhar, incorporar à organização geral e submeter à disciplina proletária geral as camadas trabalhadoras menos proletárias, mais pequeno-burguesas, que se orientam em nossa direção. Neste terreno, a palavra-de-ordem do momento não é lutar contra elas, mas ganhá-las, influir sobre elas, convencer os vacilantes, aproveitar os neutros, educar — no clima da grande influência proletária — os que se atrasaram ou há muito pouco tempo começaram a abandonar as ilusões «constituintistas» ou «patriótico-democráticas».

Já contamos com um apoio suficientemente firme entre as massas trabalhadoras, como o demonstrou com particular evidência o VI Congresso dos Sovietes. Não tememos os intelectuais burgueses e não enfraqueceremos um só instante a luta contra os sabotadores conscientes e os guardas brancos que surjam de seu seio. Mas a palavra-de-ordem do momento é saber aproveitar a virada a nosso favor, que se observa entre eles. Em nosso país permanecem ainda não poucos dos piores intelectuais burgueses que «se grudaram» ao Poder Soviético: jogá-los fora e substituí-los por intelectuais que ainda ontem eram conscientemente hostis a nós e que hoje são somente neutros constitui uma importantíssima tarefa do momento, uma tarefa de todos os dirigentes soviéticos que têm contato com a «intelectualidade», uma tarefa de todos os agitadores, propagandistas e organizadores.

É claro que o acordo com o camponês médio, com o operário menchevique de ontem, com o empregado ou o intelectual sabotador de ontem, requer capacidade, como qualquer outra ação política em uma situação complexa que muda vertiginosamente. A questão reside em não se dar por satisfeito com a capacidade de que nos dotou a experiência anterior, mas em marchar imediatamente mais adiante, em conseguir obrigatoriamente mais, em passar a todo custo das tarefas mais fáceis às mais difíceis. Sem isso, é impossível qualquer progresso em geral e, em particular, o progresso na edificação socialista.

Há alguns dias visitaram-me alguns representantes do Congresso de delegados das cooperativas de crédito. Mostraram-me uma resolução de seu congresso contra a fusão do banco de Crédito Cooperativo com o Banco Popular da República. Disse-lhes que sou partidário do acordo com o camponês médio e que aprecio profundamente inclusive o começo de virada dos cooperativistas da hostilidade para a neutralidade com relação aos bolcheviques; mas o terreno para o acordo só seria proporcionado pelo seu assentimento à fusão completa de um banco especial com o banco único da república. Os representantes do congresso substituíram então sua resolução por outra, fizeram com que o congresso aprovasse outra resolução, na qual eliminaram tudo o que se dizia contra a fusão, mas... mas propunham a criação de uma «união de crédito» especial dos cooperativistas, o que, na prática, em nada se diferencia de um banco especial! Isto é ridículo. Embelezando as palavras só se pode, naturalmente, enganar um idiota. Mas o «fracasso» de uma destas ... «tentativas» não fará vacilar em nada a nossa política; com relação aos cooperativistas, aos camponeses médios, aplicamos e continuaremos aplicando a política do acordo, cortando de maneira taxativa toda tentativa de modificar a linha do Poder Soviético e da edificação socialista soviética.

As vacilações dos democratas pequeno-burgueses são inevitáveis. Bastaram algumas vitórias dos tchecoslovacos para que eles fossem tomados de pânico, semeassem o pânico, desertassem para o campo dos «vencedores» e se dispusessem a recebê-los servilmente. Como é natural, não se pode esquecer um instante sequer que agora bastarão também êxitos parciais, por exemplo, dos guardas brancos anglo-norte-americanos-krasnovianos para que as vacilações recomecem em outro sentido, cresça o pânico, se multipliquem os casos de difusão do pânico, de traição e de deserção para o campo imperialista, etc.

Sabemos tudo isso. É não o esqueceremos. A base puramente proletária do Poder Soviético, conquistada por nós e apoiada pelos semiproletários, continuará sendo firme. Nossa falange não tremerá, nosso exército não vacilará: já o sabemos pela experiência. Mas quando profundíssimas mudanças de importância histórico universal suscitam uma virada inevitável a nosso favor entre as massas da democracia sem partido, menchevique e esserrista, devemos aprender e aprenderemos a aproveitar essa virada, a apoiá-la, a provocá-la nos diferentes grupos e camadas, a fazer todo o possível em favor do acordo com estes elementos, a aliviar com isso o trabalho de edificação socialista, a diminuir a carga da dolorosa desordem, do obscurantismo e da incapacidade, que freiam a vitória do socialismo.


Notas de fim de tomo:

(1) Paz de Brest-Litovsk: paz espoliadora imposta em 1918 à jovem Rússia Soviética pela Alemanha imperialista e seus aliados: Áustria, Hungria, Bulgária e Turquia. Foi assinada em Brest-Litovsk a 3 de março de 1918. Depois da revolução de novembro de 1918 na Alemanha, a paz de Brest-Litovsk foi anulada pelo governo soviético. (retornar ao texto)

Inclusão: 11/02/2022