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Primeira edição: Pravda, n.° 44, de 12 de Maio (29 de Abril) de 1917.
Fonte: Obras Escolhidas em Três Tomos, 1977, tomo 2, pág: 76 a 78. Edições Avante! - Lisboa, Edições Progresso - Moscovo
Tradução: Edições "Avante!" com base nas Obras Completas de V. I. Lénine, 5.ª ed. em russo, t. 31, pp. 403-406,
Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo
Direitos de Reprodução: © Direitos de tradução em língua portuguesa reservados por Editorial "Avante!" - Edições Progresso Lisboa - Moscovo, 1977.
A guerra actual é, por parte de ambos os grupos de potências beligerantes, uma guerra imperialista, isto é, conduzida pelos capitalistas pela partilha das vantagens que provêm do domínio sobre o mundo, pelos mercados do capital financeiro (bancário), pela submissão dos povos fracos, etc. Cada dia de guerra enriquece a burguesia financeira e industrial e arruina e esgota as forças do proletariado e do campesinato de todos os países beligerantes, e depois também dos países neutrais. E na Rússia o prolongamento da guerra põe, além disso, em grandíssimo perigo as conquistas da revolução e o seu desenvolvimento.
A passagem do poder de Estado na Rússia para o Governo Provisório, governo de latifundiários e capitalistas, não mudou nem podia mudar esse carácter e significado da guerra por parte da Rússia.
Este facto manifestou-se com particular evidência em que o novo governo não só não publicou os tratados secretos concluídos pelo tsar Nicolau II com os governos capitalistas da Inglaterra, da França, etc, como confirmou formalmente, sem consultar o povo, estes tratados secretos, que prometem aos capitalistas russos a pilhagem da China, da Pérsia, da Turquia, da Áustria, etc. Com a ocultação desses tratados engana-se o povo russo sobre o verdadeiro carácter da guerra.
Por isso, o partido proletário não pode apoiar nem a guerra actual, nem o governo actual, nem os seus empréstimos, sem romper por completo com o internacionalismo, isto é, com a solidariedade fraternal dos operários de todos os países na luta contra o jugo do capital.
Não merecem nenhum crédito as promessas do governo actual de renunciar às anexações, isto é, à conquista de países estrangeiros ou à retenção pela força nos limites da Rússia de qualquer povo. Porque, em primeiro lugar, os capitalistas, unidos por milhares de fios do capital bancário, não podem renunciar às anexações nesta guerra sem renunciar ao lucro dos milhares de milhões investidos em empréstimos, em concessões, em empresas de guerra, etc. Em segundo lugar, o novo governo, que renunciou às anexações para iludir o povo, declarou pela boca de Miliukov, em 9 de Abril de 1917, em Moscovo, que não renunciou às anexações, e pela nota de 18 de Abril e pela sua explicação de 22 de Abril confirmou o carácter rapace da sua política. Ao prevenir o povo contra as promessas ocas dos capitalistas, a conferência declara, por isso, que é necessário distinguir rigorosamente entre a renúncia às anexações em palavras e a renúncia às anexações de facto, isto é, a publicação imediata e a anulação de todos os banditescos tratados secretos e a concessão imediata a todos os povos do direito de decidir por votação livre a questão de se desejam ser Estados independentes ou fazer parte de qualquer Estado existente.
O chamado «defensismo revolucionário», que hoje se apoderou na Rússia de todos os partidos populistas (dos socialistas populares, dos trudoviques, dos socialistas-revolucionários), e do partido oportunista dos sociais-democratas mencheviques (Comité de Organização, Tchkheídze, Tseretéli e outros) e também da maioria dos revolucionários sem partido, representa, quanto ao seu significado de classe, por um lado, os interesses e o ponto de vista dos camponeses abastados e de parte dos pequenos patrões, os quais, do mesmo modo que os capitalistas, tiram proveito da violência contra os povos fracos. Por outro lado, o «defensismo revolucionário» é o resultado do engano pelos capitalistas de uma parte dos proletários e semi-proletários da cidade e do campo, os quais, pela sua posição de classe, não estão interessados nos lucros dos capitalistas nem na guerra imperialista.
A conferência considera absolutamente inadmissível e equivalente de facto à ruptura completa com o internacionalismo e o socialismo quaisquer concessões ao «defensismo revolucionário». Quanto ao estado de espírito defensista das grandes massas populares, o nosso partido lutará contra este estado de espírito mediante o esclarecimento incansável da verdade de que a atitude de confiança inconsciente no governo dos capitalistas é, neste momento, um dos principais obstáculos ao rápido fim da guerra.
No que diz respeito à questão mais importante de como acabar o mais cedo possível esta guerra dos capitalistas mediante uma paz não imposta pela força mas verdadeiramente democrática, a conferência considera e delibera:
Não se pode pôr fim a esta guerra com a recusa dos soldados de um só dos lados à continuação da guerra, com a simples cessação das actividades militares por uma das partes beligerantes.
A Conferência protesta uma e outra vez contra a baixa calúnia, difundida pelos capitalistas contra o nosso partido, de que simpatizamos com uma paz em separado com a Alemanha. Consideramos os capitalistas alemães tão bandidos como os capitalistas russos, ingleses, franceses e outros, e o imperador Guilherme um bandido coroado como Nicolau II e os monarcas inglês, italiano e romeno e todos os outros.
O nosso partido explicará ao povo com paciência, mas também com insistência, a verdade de que as guerras são conduzidas pelos governos, de que as guerras estão sempre inseparavelmente ligadas à política de classes determinadas e de que esta guerra só pode terminar com uma paz democrática pela passagem de todo o poder de Estado, pelo menos em alguns países beligerantes, para as mãos da classe dos proletários e semiproletários, que é a única verdadeiramente capaz de pôr fim ao jugo do capital.
A classe revolucionária que tomasse nas suas mãos o poder de Estado na Rússia adoptaria uma série de medidas que minem a dominação económica dos capitalistas, e medidas orientadas no sentido da sua completa neutralização política, e proporia imediata e abertamente a todos os povos uma paz democrática, na base da renúncia total às anexações e contribuições, quaisquer que fossem. Estas medidas e estas propostas abertas de paz criariam uma mútua confiança plena entre os operários dos países beligerantes e conduziriam inevitavelmente às insurreições do proletariado contra os governos imperialistas que se opusessem à paz proposta.
Mas enquanto a classe revolucionária na Rússia não tiver tomado nas suas mãos todo o poder de Estado, o nosso partido apoiará por todos os meios os partidos e grupos proletários do estrangeiro que já durante a guerra conduzem de facto a luta revolucionária contra os seus próprios governos imperialistas e a sua própria burguesia. Em particular, o partido apoiará a confraternização em massa já iniciada entre os soldados de todos os países beligerantes na frente, procurando transformar essa manifestação espontânea de solidariedade dos oprimidos num movimento consciente e o melhor organizado possível para a passagem de todo o poder de Estado, em todos os países beligerantes, para as mãos do proletariado revolucionário.
Inclusão | 25/03/2011 |