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O 24º Congresso do PCUS destacou que a luta contra todos os tipos de oportunismos e anticomunismos é a principal tarefa dos trabalhadores da frente ideológica, de todos os comunistas. Neste sentido, cresce a importância de criticar as concepções dos dirigentes chineses, que distorcem o marxismo-leninismo, suas linhas antissoviéticas e antissocialistas, devemos denunciar as “justificações teóricas” dos maoístas em sua trajetória política oportunista.
Um dos traços característicos do maoísmo é o desejo de encobrir uma mistura eclética de várias ideias e dogmas políticos, incompatíveis com a cosmovisão comunista, como se fossem parte constituinte do marxismo-leninismo. Tentam passá-los como uma “nova palavra”, como um “novo estágio” da teoria marxista-leninista. Assim, o estatuto estabelecido pelo 9º Congresso do PCCh continha formulações extremamente pretensiosas no sentido de que Mao “herdou, defendeu e desenvolveu o marxismo-leninismo, elevando-o a um estágio completamente novo”.
O recente 10º Congresso do PCCh, diante dos fracassos óbvios e da grave crise do “Pensamento Mao Zedong”, foi forçado a suavizar um pouco as reivindicações anteriores de Mao, considerando suas ideias como o “auge do marxismo-leninismo”. O atual governo chinês aparentemente preferiu enfatizar novamente as ideias de Mao Zedong como o “marxismo chinês”. No informe político do Comitê Central do PCCh, elaborado por Zhou Enlai, a autoridade de “continuador” do trabalho de Marx e Lênin é colocada atrás de Mao Zedong. Pelo contrário, a fórmula “marxismo-leninismo são as ideias de Mao Zedong” é lançada, com a ajuda da qual, de fato, é feita uma tentativa totalmente infundada de garantir a imagem do maoísmo como uma contribuição essencial para o desenvolvimento do marxismo-leninismo.
Deve-se ter em mente que a extrema heterogeneidade e o ecletismo característicos do maoísmo, permitem que ele se adapte a diferentes situações e necessidades políticas. Isto é claramente observável no exemplo da metamorfose da “ideologia” maoísta nos tempos atuais.
Sabe-se que a chamada “revolução cultural” foi realizada como uma concretização prática das “ideias de Mao”. Sob a bandeira desta, por assim dizer, “revolução”, livros clássicos da literatura chinesa e da literatura internacional foram destruídos, monumentos culturais foram destruídos, espancamentos em massa foram perpetrados e o terror foi instaurado contra a intelectualidade progressista. A leitura de literatura científica foi tratada como uma manifestação da “ideologia burguesa”, “revisionismo”, etc.
No campo da política externa, foram proclamadas palavras de ordem militaristas manifestamente extremistas: “as guerras desempenham o papel de uma antitoxina purificadora” e assim por diante, a política de coexistência pacífica foi tachada de “traição” e “manifestação do revisionismo”.
Hoje, os maoístas e alguns de seus admiradores estrangeiros na Itália, na França, nos EUA e no Japão (entre outros revisionistas ou anticomunistas declarados) “trabalham” incansavelmente para sobrepor à ideologia antipopular e anti-humanista do maoísmo à bandeira do “democratismo” e do “anti-burocratismo”, para apresentar os maoístas como “apoiadores consistentes” da política de coexistência pacífica entre países com estrutura social diferente.
Não faz muito tempo, os maoístas declararam que Mao, em certo sentido, é “muito superior a Marx e muito superior a Lênin” e que, portanto, ler as obras dos fundadores do comunismo científico não faz sentido. Como pregou o presidente da Academia de Ciências da República Popular da China, Guo Moruo, “a prática discutida nas obras de Marx, Engels e Lênin está ‘longe de nós’, suas obras estão escritas em um idioma incompreensível para nós”. Atualmente, se o que a imprensa chinesa diz é verdade, toda a população do país — desde os jovens até os idosos — está ocupada estudando os clássicos do marxismo-leninismo.
As tentativas redobradas dos maoístas de se vestirem como defensores do marxismo-leninismo podem ser explicadas pelo fato de que Mao Zedong e os “teóricos” do maoísmo, não ousando revelar sua verdadeira essência, tentam usar a alta autoridade da teoria revolucionária para seus próprios interesses, pedindo à teoria revolucionária que lhes empreste algumas teses para encobrir a pobreza ideológica do maoísmo. Dessa forma, as fórmulas marxistas adotadas pelos maoístas no contexto geral de sua ideologia são seriamente modificadas, deformadas e não alteram em nada a essência anticientífica e anti-proletária da ideologia maoísta. O principal objetivo dessas manipulações é reforçar a autoridade vacilante de Mao Zedong como “teórico” com a ajuda de teses preparadas a partir dos livros de Marx, Engels e Lênin. Ao caracterizar o maoísmo no informe do Comitê Central do PCUS para o 24º Congresso do Partido, até mesmo Brejnev destacou que o programa político-ideológico da direção chinesa é incompatível com o leninismo.
A plataforma ideológica do maoísmo é usada para “justificar” as reivindicações de Pequim quanto à direção política e teórica do movimento comunista internacional. Os maoístas tentam reivindicar o direito de excluir países inteiros e muitos partidos comunistas do marxismo e do socialismo, dependendo de sua atitude em relação ao “Pensamento Mao Zedong” e à política de Pequim. Os maoístas acusam os partidos comunistas e os países socialistas que estão firmemente estabelecidos na base do marxismo-leninismo de “social-imperialismo” ou “revisionismo”, e classificam apenas um grupo insignificante de seus apoiadores como “comunistas de verdade”. Quando os países socialistas repudiaram as pretensões hegemônicas de Mao Zedong, foi decidido em Pequim, no 10º Congresso do PCCh, “fechar” o sistema socialista mundial e declará-lo inexistente, e os propagandistas de Pequim só falam da fraternidade socialista acrescentando as palavras “assim chamado”. Mas essa falsificação dos fatos reais não dá crédito aos maoístas. Como diz a sabedoria chinesa, “o sol não pode ser escondido com a mão”.
Sob a bandeira de declarações pomposas de lealdade ao marxismo-leninismo e ao internacionalismo proletário, das quais as transmissões de rádio de Pequim e os materiais da imprensa chinesa estão repletos, os maoístas buscam impor um curso desastrosamente aventureiro ao movimento comunista internacional, desejando assim realizar suas próprias aspirações chauvinistas.
Os maoístas tentam sustentar “teoricamente” todas as suas ações anticomunistas e chauvinistas por meio de manipulações da dialética materialista, explorando a tese da transformação mútua dos contrários. Assim, por exemplo, durante o 10º Congresso, no informe sobre as mudanças na composição do PCCh, Wang Hongwen se esforçou para justificar o ultraje da “revolução cultural” e essa mesma campanha, e até mesmo para “provar” a necessidade de sua repetição múltipla no futuro, referindo-se à revelação “dialética” de Mao Zedong. Ele afirmou literalmente o seguinte: “Já em 1966, quando a grande revolução cultural proletária tinha acabado de se desenvolver, o presidente Mao Zedong disse: ‘O caos completo na terra leva à ordem universal. Isso se repetirá a cada sete ou oito anos. Qualquer lixo se arrastará com ela’”. E então Wang Hongwen, chamando essa passagem de “lei objetiva da luta de classes”, diz: “É indispensável realizar novamente uma grande revolução cultural como a grande revolução cultural proletária”. A inconsistência e a essência antimarxista dessas afirmações são completamente óbvias: ao interpretar erroneamente as teses da dialética materialista, dissolvendo-as de seu conteúdo científico revolucionário, os maoístas se esforçam para dar visibilidade à “justificativa teórica” de sua política. Dessa forma, a dialética marxista-leninista é reduzida à “arte” de apresentar o desejado como real, o branco como preto e o preto como branco, ou seja, torna-se o mais puro sofisma e, mais concretamente, na aceitação da demagogia política, um meio de justificar as ações oportunistas. Da dialética, aqui, restam, propriamente falando, apenas a terminologia e um compêndio de conjunções verbais que têm um significado puramente incidental.
Por essa razão, a exposição da pseudocientificidade da “dialética” maoísta não pode ser reduzida simplesmente a uma análise crítica dos textos “teóricos” que apresentam e comentam o “Pensamento Mao Zedong”, uma vez que esses textos desempenham apenas o papel de uma “cortina de fumaça” sob a qual são realizadas manobras políticas que não têm nenhuma conexão com esses escritos.
Verbalmente, os maoístas, na medida do possível, defendem o estudo rigoroso das teses do marxismo-leninismo. Na realidade, eles demonstram constantemente uma lacuna chocante e sem precedentes na história do pensamento humano e do movimento revolucionário entre as palavras e os atos.
“A força central que lidera nossa causa é o Partido Comunista da China” — essa frase, que infelizmente inicia o conhecido “ditado” de Mao Zedong, foi ouvida, lida e recitada por milhões de chineses, individualmente e em coro, exatamente nos dias em que as organizações do partido foram expostas à sua própria derrota real. Foram grupos armados de pessoas agitando um pequeno folheto que dizia: “Nosso princípio é: o partido orienta o fuzil, e nunca permitiremos que o fuzil oriente o partido”, que se propuseram a dissolver essas organizações partidárias.
É pertinente lembrar que os maoístas iniciaram seu trânsito manifesto contra o leninismo e sua ruptura com a linha geral do movimento comunista internacional com a publicação da famosa coleção “Viva o Leninismo” e a seleção de seis citações das obras de Vladimir Lênin. Na realidade, essa foi a revisão do leninismo em sua essência pura, e talvez até mesmo em sua forma mais perigosa, uma vez que foi projetada para enganar (por meio de manipulações da autoridade da teoria revolucionária) precisamente aqueles estratos sociais que, com toda a lógica da época atual, estão se movendo em direção ao marxismo; estudando-o como uma teoria exclusivamente ligada aos seus próprios interesses fundamentais de desenvolvimento social, esses estratos, no entanto, ainda não possuem experiência política suficiente para distinguir com certeza o marxismo genuíno do falso, do substituto.
A dialética materialista em seu aspecto sintetizado materializa em si mesma um resultado, uma soma, uma conclusão de toda a história do conhecimento humano. Desenvolvendo-se e enriquecendo-se constantemente com base na compreensão teórica de novos fenômenos sociais, das novas conquistas da ciência contemporânea, o materialismo dialético representa um método de conhecimento e de transformação revolucionária do mundo; ele serve como base para a elaboração da política genuinamente científica dos partidos marxista-leninistas, que consideram completa e profundamente o trânsito dos processos sociais objetivos, da disposição das forças de classe e expressa os interesses fundamentais da classe operária, de todos os trabalhadores. O estudo da dialética marxista forma uma cultura genuína de pensamento e produz no indivíduo os princípios da visão científica do mundo, a metodologia correta para o estudo dos processos complexos que ocorrem no mundo objetivo.
É bem conhecida a tese de Lênin de que a dialética é um conhecimento vivo e profundo com uma infinidade de nuances de abordagens e enfoques da realidade que surgem devido à mudança e ao desenvolvimento contínuos da própria realidade no processo de aprofundamento do conhecimento do mundo. Por essa razão, Marx e Engels, assim como Lênin, se opuseram a qualquer tentativa de estudar o método dialético como se ele fosse um tipo de conjunto de teses prontas que dão respostas a qualquer pergunta que apareça na vida. A visão de mundo do marxismo, nas palavras de Engels, “não fornece dogmas prontos, mas pontos de partida para um estudo mais aprofundado e o método para esse estudo”.
Lênin e nosso partido deram exemplos brilhantes de um estudo profundo das novas posições da dialética com base na síntese da prática enriquecida das explorações revolucionárias. Foram expostas as leis objetivas universais da construção do socialismo e do comunismo, a dialética do processo revolucionário na época da formação do sistema socialista internacional, etc.
A enorme contribuição de Vladimir Lênin, do partido criado sob sua direção e dos marxista-leninistas de diferentes países do mundo para o estudo dos problemas da dialética materialista marcou uma nova época no desenvolvimento da filosofia marxista, seu estágio leninista.
A análise leninista das leis da dialética e sua manifestação em diferentes condições históricas concretas é uma demonstração da união da objetividade científica, do compromisso com o partido e do vínculo indissolúvel entre a teoria e a prática revolucionária.
As leis da dialética, como as leis mais universais do desenvolvimento da natureza, da sociedade e do pensamento humano, operam em toda parte, sempre, mas sua manifestação em cada época ou circunstância historicamente determinada é específica. As próprias leis da dialética operam objetivamente e em inseparável auto conexão; cada uma delas caracteriza um ou outro aspecto mais essencial do processo de desenvolvimento ou de seu estágio. A lei da transição de mudanças quantitativas para qualitativas caracteriza a determinação objetiva, interna e qualitativa de coisas e fenômenos no processo de desenvolvimento durante o estágio de transição de um estado qualitativo para outro. A lei da unidade e da luta dos contrários mostra o impulso interno do autodesenvolvimento, do movimento próprio, expõe o mecanismo interno da relação mútua entre diferenças, contradições e contrários. É exatamente por isso que Lênin chamou essa lei de “núcleo da dialética”. A lei da negação da negação reflete a profunda conexão mútua interna dos elementos do velho e do novo no desenvolvimento de fenômenos e coisas, caracterizando a essência da sucessão e da tendência do processo de desenvolvimento.
Precisamente porque as leis da dialética revelam as linhas do processo único de desenvolvimento, não é possível opor uma lei a outra, nem as extrair do sistema de leis dialéticas, muito menos “não reconhecer” uma ou outra lei(1).
As concepções de Mao Zedong e de outros “teóricos” maoístas sobre as leis da dialética, sua essência e o caráter de sua atividade, como será mostrado a seguir, são fundamentalmente opostas às concepções marxista-leninistas e, em essência, anti-dialéticas, e são caracterizadas por extremo utilitarismo e subjetivismo.
O tesouro mais precioso do pensamento marxista-leninista é substituído pelos maoístas por um tipo de “teoria-Ersatz”(2) primitiva, cujo objetivo é introduzir um método de pensamento que é, em essência, igualmente primitivo e não científico. A esse respeito, é impressionante o esforço dos maoístas para apresentar os julgamentos mais triviais do “senso comum” humano como as sínteses teóricas mais elevadas, para elevá-los à categoria de “regras e leis universais”. Julgamentos do tipo “se a mesa não for movida, ela não se moverá”, “para endireitar, você tem que dobrar”, “se você não varrer o lixo, ele não desaparecerá”, “se uma vassoura cair em suas mãos, você tem que aprender a usá-la”, “ao atingir a idade adulta, o homem morre”, etc., são considerados exemplos de exposições dialético-materialistas.
Por ocasião de esforços semelhantes para apresentar exposições mundanas elementares como teses teóricas científicas, Friedrich Engels se expressou muito claramente em sua época. “O bom senso, por mais valioso que seja seu companheiro no domínio doméstico de suas quatro paredes, experimenta aventuras surpreendentes assim que se aventura no vasto mundo da pesquisa”(3). No entanto, para os maoístas, é exatamente essa maneira de pensar que é característica. A tentativa de Mao Zedong de estabelecer a experiência estritamente empírica da reunião de Yan'an de 1936-1947, entendida incorretamente, para criar uma imagem do movimento revolucionário nos países em desenvolvimento, para apresentar ações práticas regidas pelas condições de uma base revolucionária isolada como princípios universais da estratégia revolucionária do século 20, não é testemunha disso?!
O primitivismo das representações maoístas da dialética do processo do conhecimento e seu uso na política é claramente manifestado não apenas nos julgamentos acima mencionados sobre a “transformação mútua” do “caos completo” para a “ordem universal”, mas em um grande número de exemplos. Isso é o que Mao afirma, em particular, sobre a dialética do “universal” e do “particular”, intervindo como um “teórico”. Até mesmo uma criança de três anos tem discernimento. Ela já viu uma pessoa e um cachorro, portanto, se lhe perguntarmos: “Quem é sua mãe, a pessoa ou o cachorro”, ela responderá imediatamente que sua mãe é a pessoa, não o cachorro. A criança viu sua mãe (particular) e se compreende no conceito de “pessoa” (universal). Portanto, sua resposta representa a unidade do universal com o particular. Uma criança de três anos entende a dialética" — disse Mao na segunda sessão do 8º Congresso do PCCh em maio de 1958.
Esse raciocínio de Mao Zedong não é, de forma alguma, um lapso de linguagem. Um entendimento semelhante permeia todas as suas obras “filosóficas”, o mesmo esquema de deduções é o método fundamental de pensar também em questões muito mais sérias. Assim, no artigo Sobre a Contradição, que, juntamente com outras obras de Mao, é considerado pelos propagandistas chineses como “o ponto mais alto de todo o desenvolvimento da filosofia”, Mao Zedong dá abertamente lições precisamente a partir dessa “dialética”, dessa explicação “teórica” de fenômenos específicos.
“Por que um ovo com segue transformar-se em uma galinha, mas uma pedra não pode transformar-se em uma galinha? Por que existe uma relação entre guerra e paz, mas não existe a mesma relação entre a guerra e uma pedra? Por que uma pessoa pode dar à luz apenas a um ser humano e não a outra coisa? A questão aqui demonstra, nada mais e nada menos, que a unidade dos contrários só é possível a partir de certas condições determinadas”(4). Raciocínios desse estilo impõem ao leitor não formado uma representação totalmente distorcida da dialética como um conjunto de certas “regras” simples sob a observância das quais se pode pensar cientificamente. O esquema de pensamento ensinado por Mao é simples: “a unidade dos contrários só é possível sob certas condições determinadas; portanto, uma pedra não pode ser transformada em uma galinha”, e assim por diante.
O verdadeiro significado do “desenvolvimento da dialética” nas obras Sobre a Prática e Sobre a Contradição de Mao Zedong foi totalmente descoberto apenas mais tarde, quando ficou claro que os raciocínios sobre a “pedra” e a “galinha” não são apenas tentativas anedóticas fracassadas de popularizar verdades concretas, mas sim a manifestação da representação totalmente errada, equivocada e errônea de Mao Zedong da essência da dialética materialista.
Do ponto de vista dos seguidores de Mao Zedong, é necessário declarar como “metafísica” típica, por exemplo, a afirmação de que uma guerra futura pode gerar montes de pedras mortas ou levar a uma devastação terrível e perdas irreparáveis para a civilização. Essa possibilidade é excluída a priori pela interpretação maoísta da lei da unidade e da luta dos contrários como “metafísica”. De acordo com a “dialética” de Mao, a guerra pode gerar paz, e somente a paz celestial, assim como, inversamente, a paz só pode gerar seu “oposto”, a guerra.
Mao Zedong literalmente tira esta conclusão de sua “dialética”: “Se metade da humanidade morrer durante a guerra, isso não significa nada. Não é ruim se um terço da humanidade permanecer. Depois de alguns anos, a população voltará a crescer. Eu disse isso a Nehru. E ele não acreditou em mim. Se a guerra atômica realmente estourar, não será tão ruim, pois o resultado será a morte do capitalismo e a paz eterna reinará na Terra”.
Jawaharlal Nehru não acreditou em Mao Zedong. Os comunistas que ouviram o raciocínio análogo de Mao na Conferência de Moscou em 1957 também não acreditaram nele. Hoje, os maoístas, como demonstraram os materiais do 10º Congresso do PCCh, seguem a mesma “dialética” oportunista, condenam a diminuição da tensão internacional e declaram abertamente que caracterizam a situação internacional como “desordens colossais na terra” e que “isso é bom, não é ruim”. Sua lógica é primitiva: as “desordens colossais” devem ser transformadas em ordem maoísta.
A orientação de Mao para a “criação de contradições” serve ao propósito de justificar a extrema arbitrariedade na política e é um exemplo da completa licenciosidade dos maoístas em relação aos princípios da dialética. De fato, a prática da famosa “revolução cultural” não oferece inúmeras demonstrações de como Mao “criou contradições” acusando dezenas, centenas de milhares de comunistas, muitos militantes importantes da cultura e da ciência como “inimigos de classe” e expondo-os a severas repressões? Afinal de contas, a tese difamatória da “ameaça do Norte”, segundo a qual a União Soviética é declarada o “principal inimigo” da China, não é a invenção consciente de um inimigo para justificar o curso da política externa chauvinista e a militarização do país?
Como podemos ver, os “exercícios” maoístas de dialética estão longe de ser tão inofensivos quanto podem parecer à primeira vista.
É interessante notar que as revelações “filosóficas” de Mao e seus acólitos encontraram inesperadamente novos adeptos entre “intelectuais refinados” e renegados do marxismo como, por exemplo, o francês Roger Garaudy. Reconhecendo a famosa “primitivização” a que a dialética foi submetida nas obras “filosóficas” de Mao, eles encontraram uma justificativa para isso no que o próprio Mao disse, que, graças a uma vulgarização ou outra, ele colocou as amplas massas do povo chinês em contato com os rudimentos da cultura do pensamento europeu, familiarizando-as com a “dialética”.
O primitivismo extremo do maoísmo e sua propensão a paradoxos extravagantes são evidentes. E isso serve a fins totalmente determinados: persuadir ideologicamente as massas e fortalecer o regime burocrático-militar da política maoísta.
É sabido que existem simplificações e simplificações, e que a simplificação para fins de vulgarização também tem seu limite, e que, ao cruzar esse limite, ela inevitavelmente transforma uma verdade vulgarizada em seu oposto — uma pura mentira; e tal, se assim posso dizer, a “vulgarização” da dialética materialista não pode trazer nada além de danos. Pois está muito claro que somente os quadros enganados, educados na interpretação maoísta da dialética, foram capazes e podem considerar razoável a política de “divisão do um em dois” que Mao vem tentando usar em relação ao movimento internacional da classe trabalhadora e ao sistema socialista mundial há mais de 10 anos, uma política de divisão sob a bandeira do “princípio dialético mais elevado”.
A análise das obras de Mao mostra que a teoria marxista-leninista e as autênticas tradições de pensamento de Marx, Engels e Lênin são estranhas ao maoísmo. Além disso, essa análise prova que a familiaridade de Mao Zedong com a teoria marxista-leninista em geral e sua parte filosófica em particular é muito superficial e, além disso, não vem da fonte original, mas de segunda ou terceira mão. Isso é atestado pelo fato de que as obras de Mao contêm um conjunto tremendamente modesto das mesmas citações repetidas várias vezes, referências a elas e pouquíssimas obras clássicas que, via de regra, estão no mesmo contexto dos inúmeros panfletos de filosofia popular do final da década de 1930 e início da década de 1940.
A dialética nas obras dos maoístas se torna uma coleção de axiomas simples, de “exigências”, de esquemas — prescrições que o pensamento é obrigado a seguir rigorosamente. Mas, sob essa interpretação, até mesmo as fórmulas mais corretas da verdadeira dialética são infalivelmente transformadas em modelos mortos que acorrentam o pensamento criativo vivo e não o equipam com a capacidade de se orientar livremente nos fenômenos do desenvolvimento social e do conhecimento científico.
Falando sobre o estilo de pensamento característico da “filosofia” maoísta, deve-se observar que a antiga filosofia chinesa exerceu uma forte influência na formação das posições de Mao Zedong. A compreensão maoísta da dialética é, na verdade, apenas a “dialética” do círculo de taoístas modernizada com uma nova terminologia que foi reduzida à contraposição de fenômenos, à troca de seus lugares, e não à confluência e formação do novo. Aqui está um exemplo de uma “dialética maoísta” semelhante: “Sem vida não haveria morte; sem morte também não haveria vida. Sem”acima“, não haveria”abaixo“; sem”abaixo“, também não haveria”acima“. Sem infortúnio, não haveria felicidade; sem felicidade, não haveria infortúnio. Sem a burguesia, não haveria proletariado; sem o proletariado, não haveria burguesia. Sem a opressão nacional pelo imperialismo, não haveria colônias e semicolônias; sem colônias e semicolônias, não haveria opressão nacional pelo imperialismo. Assim é com todos os contrários”, conclui Mao Zedong em sua obra Sobre a Contradição.
Mao fornece exemplos análogos em obras muito posteriores. “O filho se torna pai, o pai se torna filho, a mulher se torna homem, o homem se torna mulher [...] Os opressores e os oprimidos se transformam mutuamente; exatamente assim são as relações entre a burguesia e os proprietários de terra, de um lado, e os trabalhadores e camponeses, de outro. A guerra se transforma em paz, — Mao continua a argumentar, — a paz se transforma em guerra. A paz é o oposto da guerra”(5).
Falando na segunda sessão do 8º Congresso do PCCh, Mao disse: “As coisas e os fenômenos sempre tendem ao seu oposto. A dialética da Grécia Antiga tornou-se a metafísica da Idade Média. A metafísica medieval tornou-se novamente a dialética de nosso tempo”.
Em todos esses raciocínios, apenas o lado externo é considerado, apenas a contraposição, a exclusão mútua dos aspectos contraditórios das coisas e dos fenômenos. Todo o caráter complexo das relações mútuas entre esses aspectos contraditórios é artificialmente reduzido à mudança mecânica de sua posição dentro do todo. Precisamente essas representações primitivas servem como metodologia do maoísmo. Toda essa “dialética” se assemelha ao jogo de preto e branco, a mudança de “Yin-Yang” na dialética ingênua da China antiga. Mas é precisamente com base nessa “dialética” que as atuais conclusões políticas sobre guerra e paz, sobre as relações mútuas das forças sociais na época atual, etc., são tiradas.
De acordo com Mao, tudo tende ao seu oposto no sentido literal da palavra. “A paz tende a se tornar guerra, a guerra tende a se tornar paz, o capitalismo tende a se tornar socialismo, o socialismo tende a se tornar capitalismo e assim por diante. As coisas sempre tendem ao seu oposto. O chauvinismo das grandes potências aparecerá e também tenderá ao seu oposto, à negação do chauvinismo das grandes potências, ao marxismo. Sempre haverá algo que o forçará a mudar”, disse Mao na segunda sessão do 8º Congresso do PCCh.
Está claro que a interpretação maoísta da relação dialética entre contrários é incompatível com a dialética marxista. Karl Marx escreveu: “A coexistência de dois aspectos mutuamente contrários, sua luta e sua união em uma nova categoria formam a essência do movimento dialético”(6). Em contraste com isso, o maoísmo, como pode ser visto nas frases citadas acima, entende a dependência mútua e a condicionalidade mútua dos contrários de forma mecânica, reduzindo tudo à mudança de suas posições. Dessa forma, o maoísmo reduz o movimento dialético a um simples ciclo. Assim, conclui-se que a paz deve se transformar em guerra, a guerra em paz, o chauvinismo deve se transformar em marxismo, a burguesia em proletariado e o proletariado em burguesia, e assim por diante.
O primitivismo na interpretação das relações entre os contrários leva os maoístas à negação do desenvolvimento progressivo. Mao rejeita abertamente a lei da negação da negação, que estabelece as linhas gerais desse desenvolvimento progressivo (como, por outro lado, faz a lei da transição de mudanças quantitativas para qualitativas). Ao mesmo tempo, Mao contrasta algumas leis da dialética com outras, extraindo-as da cadeia única e indivisível de ligação mútua e condicionalidade. Em uma entrevista com um grupo de filósofos chineses em agosto de 1964, Mao disse: “Engels falou de três leis, mas eu não acredito em duas delas (a lei fundamental é a unidade dos contrários, a transição da quantidade para a qualidade é a unidade dos contrários quantidade e qualidade, e a negação da negação simplesmente não existe). Se você coloca a transição da quantidade para a qualidade e a negação da negação junto com a lei da unidade dos contrários, você obtém, não um monismo, mas um ‘triplismo’, de modo que a lei da unidade dos contrários é a lei fundamental”, Mao tenta explicar sua concepção.
Mais adiante, Mao dá uma amostra da transição “dialética” característica para ele da “teoria” para as conclusões práticas: “Uma destrói a outra — ela surge, se desenvolve e morre. Essa é uma lei universal. Se você não for destruído por outro, então você mesmo se autodestruirá”. Em seguida, ele formula sua opinião sobre o destino da dialética: “O destino do método dialético consiste em um movimento ininterrupto em direção ao seu oposto. No final, a humanidade terá seu último dia”.
As frases acima de Mao expõem claramente outro traço muito característico da metodologia maoísta: os “saltos” no pensamento e no raciocínio de teses extremamente gerais para os fatos mais triviais da vida cotidiana, as tentativas de “deduzir” fatos concretos de leis e postulados universais, o que contradiz na raiz os princípios da dialética materialista, que exige uma concepção histórico-concreta para a análise de todas as coisas e fenômenos.
O modo de pensar maoísta descrito acima está imediatamente ligado à tradição confucionista do modo de pensar complexo-associativo, autoritário e normativo. Essa forma de pensar, com a ajuda de “saltos” de postulados universais e trivialidades cotidianas para conclusões concretas sobre processos sociais complexos, é uma evidência do subjetivismo dos maoístas e de sua concepção estritamente utilitarista do pensamento teórico e da teoria em geral.
Essa concepção de teoria encontra sua continuação na prática política e nos métodos ideológicos de trabalho, especialmente na leitura de citações, etc. A conformidade de qualquer fato concreto com este ou aquele postulado das “ideias de Mao Zedong” é apresentada como a expressão da mais alta sabedoria, e se, contra todas as probabilidades, qualquer fato ou fenômeno não estiverem em conformidade com esta ou aquela “frase”, então esses fatos são simplesmente declarados como inexistentes, e aquele que se aventura a falar deles é tachado de “herege”, inimigo do “Pensamento Mao Zedong”, “inimigo de classe” e assim por diante.
É significativo que, quanto mais o caráter antimarxista, arbitrário e chauvinista do curso político dos maoístas se manifestava, mais livre se tornava sua interpretação da dialética materialista. Assim, precisamente nos anos em que Mao tomou abertamente o caminho da divisão do movimento comunista internacional, o conteúdo da lei da unidade e da luta dos contrários foi relegado à conhecida fórmula da “divisão da unidade” (que, falando corretamente, na tradução oficial chinesa é proclamada como “a divisão de um em dois”). Essa fórmula é repetida como um feitiço ritual, como um símbolo mágico de fé, e é, portanto, categoricamente oposta à fórmula da unidade dos contrários — “a união de dois em um”.
“O termo ‘dividir o um em dois’ expressa de forma extraordinariamente exata, vívida e alcançável o núcleo da dialética, enquanto o termo de Yang Xianzhen(7), ‘unir o dois em um’ é, do começo ao fim, a sistematização da metafísica”, afirmou em seu editorial o órgão teórico oficial de Pequim, o jornal Hongqi (nº 16, 1964). (Embora possamos acrescentar, entre parênteses, que na obra eclética de Mao Zedong, Sobre a Contradição, é possível ler as seguintes palavras: “Nós, chineses, estamos acostumados a dizer: ‘Coisas que se opõem umas às outras, se sustentam’. Em outras palavras, há identidade entre coisas que se opõem umas às outras. Esse ditado é dialético e contrário à metafísica. ‘Elas se opõem’ significa que os dois aspectos contraditórios se excluem ou lutam entre si. ‘Elas se sustentam’ significa que, sob certas condições, os dois aspectos contraditórios se interconectam e adquirem identidade”. Mas, nas condições atuais, os maoístas preferem não se lembrar dessas palavras).
A fórmula segundo a qual a dialética deve ser encontrada única e exclusivamente no princípio da “divisão de um em dois” e em nenhum caso na “união de dois em um” não foi afirmada por acaso, e certamente não por qualquer razão filosófica ou teórica. Os eventos subsequentes demonstraram claramente o verdadeiro significado da canonização dessa fórmula: nela foi depositado o supremo “argumento filosófico” das ações políticas para a realização das quais o governo de Pequim rapidamente começou a trabalhar, a chamada “revolução cultural” e as ações destrutivas e divisionistas na arena internacional, incluindo a feroz campanha antissoviética. Todas essas ações começaram a ser representadas como a realização consistente e principal do “núcleo da dialética”, sua lei superior e universal.
Essa política antissocialista revelou até o âmago o verdadeiro entendimento de Mao Zedong e dos maoístas sobre a dialética, um entendimento que, em trabalhos teóricos, tem sido encoberto aqui e ali com argumentos sobre a necessidade da “análise concreta” na maneira de usar fórmulas dialéticas, sobre a inadequação de transformar essas fórmulas em esquemas de pensamento a serem usados irrefletidamente, e assim por diante. Assim que o discurso começou a lidar com a validação “teórica” da política divisionista de Pequim, toda a conversa sobre a relação “dialética” do “universal” (da “lei”) com o “particular”, ou seja, com as situações reais e concretas da vida, foi deixada de lado, e a “divisão de um em dois” tornou-se um princípio indiscutível que justificava direta e imediatamente todos os casos “particulares” de seu uso. Essa aplicação — manifesta — do “universal” à situações particulares, que cria uma aparência de validação e justificativa “dialética” de ações políticas concretas, não foi e não é combinada, de forma alguma, é claro, com a dialética genuína, mas, em vez disso, está em perfeita sintonia com um entendimento dele que há muito se manifesta nas obras de Mao Zedong — com o entendimento simplificado e vulgarizado da relação do “universal” com o “particular”, que, segundo Mao, é acessível e compreensível “até mesmo para uma criança de três anos”.
É precisamente com a ajuda da fórmula da “divisão de um em dois” que os maoístas tentam justificar sua atividade divisionista no sistema socialista internacional, para “validar” a tese trotskista de que, na sociedade socialista, mesmo na construção do comunismo, há uma luta de duas linhas, o caminho socialista e o caminho capitalista.
A concepção estritamente utilitarista e arbitrária do maoísmo sobre a teoria marxista-leninista em geral, incluindo a dialética materialista, manifesta-se na tentativa de transformar a dialética em uma apologia da prática oportunista dos maoístas. De acordo com o pensamento de Mao, “dialética significa precisamente o ataque aos outros e a exaltação de si mesmo” (discurso na reunião de Chengdu em março de 1958).
Uma expressão brilhante dessa compreensão da dialética por parte dos maoístas são as repetidas declarações de Mao sobre a necessidade de “criar contrários”, de “criar contradições”. “A construção de contrários é uma questão muito importante”, diz ele. Além disso, tudo isso está ligado à atividade divisionista na arena internacional.
Já em 1958, quando as verdadeiras intenções em relação ao sistema socialista internacional e ao movimento comunista internacional estavam sendo ocultadas em Pequim, Mao Zedong disse na segunda sessão do 8º Congresso do PCCh: “Estamos otimistas. Não há necessidade de temer a divisão. A divisão é uma lei objetiva”.
As tentativas de Mao de usar fórmulas dialéticas para justificar uma política traiçoeira de dividir o movimento comunista internacional, as forças do socialismo e o movimento de libertação nacional são mostradas graficamente em seu tratamento das contradições fundamentais do mundo atual. Sabe-se que, em 1960, na coletânea Viva o Leninismo, na qual Pequim promulgou publicamente pela primeira vez suas concepções particulares, “quatro grandes contradições” foram delineadas, caracterizando a disposição das forças no mundo atual: “entre a classe trabalhadora e o capital monopolista; entre os países imperialistas; entre os povos dos países coloniais e semicoloniais e o imperialismo; entre os países socialistas onde o proletariado alcançou a vitória, por um lado, e os países imperialistas, por outro”.
Esse esquema de contradições foi corretamente submetido a críticas pelos partidos marxista-leninistas precisamente porque obscureceu a principal contradição da época atual: a contradição entre o socialismo e o capitalismo na arena internacional.
Em Pequim, a tática de atrair diferentes partidos comunistas para suas trincheiras, até certo ponto e à sua própria maneira, considerou essa crítica. Havia, é claro, diferenças de opinião dentro do próprio governo chinês. Em uma carta da direção do PCCh para o Comitê Central do PCUS, em 14 de junho de 1963, a contradição entre os sistemas capitalista e socialista foi colocada em primeiro plano. Fora isso, o esquema de contradições permaneceu o mesmo que havia aparecido na coleção Viva o Leninismo.
No entanto, embora formalmente a contradição entre os sistemas socialista e capitalista tenha sido colocada em primeiro plano, sob a interpretação desse documento, essa contradição foi obscurecida e, quanto mais os maoístas se afastavam da linha geral do movimento comunista internacional, mais espaço o antissovietismo e o hegemonismo ocupavam em sua política, mais nítida e duramente o esquema das contradições fundamentais do mundo atual era ajustado ao papel de “base teórica” do curso antissoviético e chauvinista de Mao Zedong.
Durante a “revolução cultural”, como já se sabe, o antissovietismo tornou-se cada vez mais a pedra de toque da ideologia e da política maoísta. Mao se propôs a reorientar o curso político da China, disfarçando-o com frases anti-imperialistas. No entanto, ficou claro que a União Soviética não só foi colocada no mesmo nível do imperialismo pelos maoístas, mas também foi declarada, essencialmente, como o “principal inimigo” da China.
No 9º Congresso do PCCh, em abril de 1969, foi promulgado o “apelo” de Mao, dirigido a ninguém menos que “os povos revolucionários de todo o mundo”. Ele dizia: “Começou um novo período histórico, o período de luta contra o imperialismo americano e o revisionismo soviético”. A essa “tarefa” estava subordinada a nova construção das contradições fundamentais do mundo contemporâneo. Além disso, o esquema maoísta de contradições fundamentais não apenas adquiriu um caráter flagrantemente antissoviético e antissocialista, mas também se tornou uma espécie de justificativa teórica para a inevitabilidade de uma guerra mundial.
O monstruoso conglomerado de insultos à União Soviética é complementado aqui pela negação do sistema socialista, pela “excomunhão” do socialismo de todos os países e partidos que não compartilham posições com o “Grande Timoneiro” e não aprovam a “revolução cultural”.
Um novo passo nessa evolução das posições maoístas foi dado agora. No editorial conjunto de Ano Novo (1973) das revistas Renmin Ribao e Jiefangjun Bao e do jornal Hongqi, as “quatro grandes contradições” foram reduzidas a duas: a contradição entre as “superpotências”, por um lado, e o resto do mundo, por outro, e também a contradição das “superpotências” entre si. Foi exatamente essa interpretação das contradições internacionais que também foi estabelecida no 10º Congresso do PCCh. Como se pode ver, essa concepção está muito distante da análise científica e de classe das contradições na época atual. Seu objetivo é claro: tentar justificar teoricamente o antissovietismo dos maoístas e sua afirmação caluniosa de que a URSS é o “principal inimigo” da China.
Uma construção igualmente arbitrária de contradições também é usada para justificar a política de militarização da China em face da lendária “ameaça do Norte”, para a traição dos maoístas aos interesses de classe do socialismo e para a tentativa imoral de bloqueio junto com as forças imperialistas reacionárias com base no antissovietismo e no anticomunismo.
Assim, a evolução do esquema maoísta das “quatro grandes contradições” demonstra claramente como as teses interpretadas a partir da dialética materialista foram usadas arbitrariamente para justificar o caráter antissocialista de Mao Zedong no campo da política externa. Mao e seu círculo colocam a URSS, que, como todos os comunistas reconhecem, é a força anti-imperialista fundamental hoje, no mesmo nível do imperialismo, e tentam contrapor a União Soviética às forças anti-imperialistas e, especialmente, aos países do “terceiro mundo”. Por trás das acusações caluniosas de “degeneração” e das ficções sobre a existência na União Soviética e em outros países socialistas de “uma contradição entre o proletariado e a burguesia”, pode-se ver facilmente as tentativas dos maoístas de encobrir os danos à unidade político-moral dos povos desses países. A solidariedade dos maoístas com elementos direitistas e antissocialistas na Tchecoslováquia no período dos eventos de 1968 mostra até onde os dirigentes de Pequim foram em sua ação subversiva. Ao mesmo tempo, tudo isso mostra a que objetivos miseráveis e antissocialistas servem as manipulações maoístas da dialética materialista. Da dialética, aqui, restam apenas algumas fórmulas verbais, apenas frases feitas, e sua interpretação é inevitavelmente subordinada à mais pura arbitrariedade, ditada por motivos que não têm relação com o materialismo dialético.
Seguindo os preceitos leninistas, os comunistas realizam um extenso trabalho para unir o socialismo científico ao movimento operário, para armar as massas trabalhadoras com uma visão de mundo genuinamente científica e revolucionária, o marxismo-leninismo. Sem a luta diária para a resolução dessas tarefas, os comunistas não poderiam ter conquistado as vitórias históricas mundiais que hoje exercem uma influência decisiva em toda a vida política. O maoísmo tenta usar a autoridade do marxismo-leninismo para seus próprios interesses egoístas, para acolchoar sua própria miséria ideológica e para submeter o movimento revolucionário e suas ideias a serviço de objetivos chauvinistas e de superpotência. Ao usar teses isoladas do marxismo, incluindo algumas teses da dialética materialista, o maoísmo de fato rejeita o marxismo-leninismo como uma visão de mundo, como uma metodologia. É por isso que os maoístas, tomando emprestadas essas e aquelas teses do arsenal da visão científica do mundo, conscientemente as falsificam, interpretando-as erroneamente de todas as formas possíveis.
O malabarismo com os conceitos “dialéticos” e, acima de tudo, com a tese da “divisão de um em dois”, é usado pelos maoístas na esfera da política interna para encobrir as intermináveis agitações e perseguições daqueles que expressam a menor dúvida sobre a “sabedoria” de Mao Zedong e suas “ideias”. As tentativas da direção chinesa de estudar a pseudo-dialética maoísta como base metodológica para a elaboração do curso político do país levam-na ao beco sem saída do irracionalismo e do oportunismo extremo, e essa mesma política maoísta acaba sendo a causa da crise crônica de desenvolvimento da China. Em outras palavras, o maoísmo se transformou em vários caminhos ideológicos que restringem o grande povo chinês e sua energia criativa.
Assim, o raciocínio maoísta sobre a dialética não tem nada em comum com a dialética verdadeiramente científica e é uma confusão mecânica e metafísica com cuja ajuda em Pequim eles tentam justificar “teoricamente” os ataques, o subjetivismo extremo e a arbitrariedade na política.
Quanto às constantes referências de Mao Zedong à lei da contradição (referências que adquiriram o caráter de um encantamento), isso pode ser caracterizado nas seguintes palavras de Karl Marx: “O pequeno burguês adora a contradição, porque a contradição é a base de sua essência. Ele próprio nada mais é do que a contradição social encarnada. Ele deve justificar na teoria o que ele é na prática”(8).
O desenvolvimento do movimento revolucionário e a própria vida da China atacam os dogmas maoístas a cada passo e provam sua inconsistência. As tentativas de colocar as ideias maoístas em prática revelam sua hostilidade à construção do socialismo, ao movimento comunista internacional, à guerra de libertação nacional e aos interesses reais do povo chinês.
Justamente por isso, o movimento comunista internacional e os genuínos marxista-leninistas descobriram a essência antimarxista do maoísmo e mostraram profunda e completamente a vacuidade ideológica dos maoístas, sua animosidade em relação ao movimento revolucionário internacional e aos interesses da construção do socialismo na China.
Notas de rodapé:
(1) Vale ressaltar que Mao Zedong renegava a lei dialética da negação da negação e, mais especificamente, da luta dos contrários. Em seu artigo Questões Sobre Filosofia, em 18 de agosto de 1964, Mao nega as leis da dialética. – Nota da Tradução (retornar ao texto)
(2) Por “Teoria-Ersatz”, Ilyenkov quer dizer que o maoísmo se propõe ser o estágio superior do marxismo-leninismo quando é, na verdade, inferior à sua versão original, uma versão piorada. – Nota da Tradução. (retornar ao texto)
(3) Karl Marx e Friedrich Engels: Obras Completas, Volume 39, página 352 – Edição Russa. (retornar ao texto)
(4) Mao Zedong: Sobre a Contradição. (retornar ao texto)
(5) Discurso em uma reunião em Chengdu, em março de 1958. (retornar ao texto)
(6) Karl Marx e Friedrich Engels: Obras Completas, Volume 04, página 136 – Edição Russa. (retornar ao texto)
(7) O proeminente filósofo marxista chinês Yang Xianzhen (ex-membro do Comitê Central do PCCh, vice-reitor da Escola Superior do Partido no âmbito do Comitê Central do PCCh até 1962) opôs-se à redução da lei da unidade e da luta dos contrários apenas para luta e insistiu que é necessário ver também a luta e a unidade na relação dos contrários. Os maoístas criticaram ferozmente estas opiniões de Yang Xianzhen. – Nota do Autor. (retornar ao texto)
(8) Karl Marx e Friedrich Engels: Obras Completas, Volume 27, página 412 – Edição Russa. (retornar ao texto)