"São vários os alvos, claramente expressos, que Hegel, nesta interessante e valiosa introdução à obra Filosofia da religiãode H. Fr. W. Hinrichs, tem em mira: o Iluminismo, a filosofia crítica de Kant, a religião do sentimento (decerto de D. F. Schleiermacher); mas há ainda um quarto, menos explícito, ou seja, a religião reificada ou propensa à superstição (quiçá o catolicismo). O ataque incide sobretudo na postura iluminista que, entre outras coisas, professa a liberdade do espírito e o princípio de uma religião espiritual, mas isola o entendimento e cultiva o pensar abstracto, ignora o particular e não consegue vislumbrar o jogo do Infinito com materiais finitos e na história. O seu conceito de Deus, porque assenta na disjunção entre fé e saber, é inteiramente oco, indeterminado e anónimo e convida tão-só ao anseio subjectivo.
Mais violenta é, porventura, a contraposição de Hegel à religião do sentimento, porque esta entrega os sujeitos à indeterminidade da sua via emocional, à casualidade e à arbitrariedade do sentimento subjectivo o mal da época, segundo o filósofo, porque nela se abstrai da questão da verdade, do Direito, da justiça." (da Apresentação) |