Compreende-se que se um Estado é internamente fraco e não tem meios para assegurar sua defesa, procure alianças com outros Estados interessados na defesa de seu território, em caso de ameaça. Na Polônia, antes de setembro de 1939, a procura de aliados verdadeiros, capazes de ajudar o país em caso de perigo, pressupunha a necessidade de completa reviravolta na política exterior do governo.
Qual era a política do governo polonês de então? Ela pode ser resumida em poucas palavras: colocar-se invariavelmente ao lado da reação internacional, sempre mostrar-se hostil — e isto desde o dia seguinte ao da constituição da Polônia como Estado independente — ao novo Estado operário e camponês, à União Soviética e manter essa atitude embora fosse o governo revolucionário soviético o primeiro a reconhecer o direito da Polônia à independência. Essa política do governo soviético decidiu sobre a independência da Polônia e forçou as potências ocidentais a reconhecê-la.
Contudo foi a Polônia — recentemente reconstituída depois de anos de servidão e de partilha — que se lançou, contra a vontade do povo, à insensata expedição de Kiev.(1)
Precisamente no solo da Polônia o capitalismo internacional lançou as bases de agressão contra a União Soviética. Isto se tomou absolutamente claro depois da subida de Hitler ao poder. Eis como a política polonesa era definida por um representante da fração comunista, durante a discussão do orçamento nacional, na sessão da Dieta, de 7 de fevereiro de 1935:
"O que caracteriza a política exterior fascista da Polônia na hora atual é, de um lado, o enfraquecimento da aliança franco-polonesa, a tensão das relações polono-tchecoslovacas, a frieza das relações com os países bálticos e, de outro lado, a aliança com a Alemanha nazista e o entendimento com o Japão….
Essa reviravolta na política externa da Polônia, que parece incompreensível ao Sr. Czapinski (socialista) membro da Comissão de Assuntos Estrangeiros, produziu-se em seguida à modificação da correlação de forças no plano mundial, à base das tentativas de cerco militar do único Estado proletário: a União Soviética.
Até agora era a França um dos principais organizadores da guerra antissoviética; hoje seriamente ameaçada pelo ascenso contínuo do imperialismo alemão (o Presidente da Dieta, a essa altura, tenta interromper o orador), a França é obrigada a mudar de atitude e procurar na U.R.S.S. uma aliada eventual para a defesa de suas fronteiras. A Tchecoslováquia, também, é obrigada a abandonar sua política antissoviética. Os Estados bálticos, ameaçados pelo imperialismo alemão, que vê neles uma esfera de expansão e uma cabeça de ponte para o ataque à U.R.S.S., sabem que a garantia de sua independência não pode vir senão de uma cooperação harmoniosa com a União Soviética.
(Ameaçado pelo Presidente de ter a palavra cassada, o orador prossegue): O programa do imperialismo polonês, depois da restauração pela Polônia de sua independência nacional, quer sob governos de membros da nacional-democracia, do centro ou da Sanatzia, sempre se caracterizou por uma orientação nitidamente belicista e antissoviética. (O Presidente mais uma vez interrompeu o orador, que prossegue): O proprietário de terras não esqueceu suas propriedades situadas na Bielorrússia e na Ucrânia soviéticas; não esqueceu os bens que servem agora para a organização de fazendas coletivas; a indústria polonesa nunca deixou de ver na Ucrânia e na Bielorrússia terras de rapina colonial. Essas tendências do imperialismo polonês encontraram igualmente um apoio nos ataques, nas calúnias e difamações dirigidas contra a União Soviética...” (A essa altura o Presidente cassa a palavra ao orador).
Nessa intervenção não há uma só palavra que não corresponda à verdade. O desenfreado ódio de classe em relação à União Soviética, de um lado e os sonhos de conquista, de outro lado, tornavam cega a política de nossa burguesia, atirando-a ao caminho da aventura. Aqueles que não eram senão clientes pobres das potências ocidentais, sonhavam com uma política exterior de “grande potência” e de conquista de territórios estrangeiros. No fundo pensavam que se os Estados Unidos, a Inglaterra, a França, a Alemanha e até mesmo a pequena Bélgica tinham conseguido, durante um século, apropriar-se de tantas terras estrangeiras, não havia qualquer razão para que a Sanatzia polonesa não pudesse nivelar-se a eles.
Aqueles que haviam reduzido a Polônia a uma colônia do capital estrangeiro mais poderoso pensavam em ter colônias. (Não poderia renunciar a referir-me aqui a uma história tragicômica que está na memória de muitos poloneses. Via-se antes da guerra, nos muros de nossas cidades, um cartaz da Liga Marítima e Colonial, onde se desenhava um litoral imaginário cortado por uma locomotiva com o pavilhão polonês. Também se via no cartaz um negro conduzindo às costas imenso fardo, sobre o qual se lia: “72 quilos”. Eis o triste “ideal” desses políticos mesquinhos: possuir suas próprias colônias e poder explorar seus próprios negros. No território polonês, segundo esses senhores, eram bem reduzidas tais possibilidades...)
Essa megalomania da política de grandeza fazia crer em triunfos. Obsedados por ela, os dirigentes da Polônia de antes da guerra perdiam todo o senso das medidas e mesmo do humor. Vejamos, por exemplo, o que, a 10 de maio de 1935, em relatório político n.º XIII/I (1/F/11) dirigido ao Ministro J. Beck, escrevia M. Chlapowski, Embaixador da Polônia em Paris, a respeito da política francesa, que procurava então aproximação com a União Soviética:
“A concepção de uma política ligada às ‘grandes potências’ conduz frequentemente à megalomania francesa. Aqui, considera-se, apesar de tudo, a Rússia Soviética, uma grande e forte potência. Aqui, em consequência da evolução muito lenta dos hábitos mentais, não se considera também a Polônia como uma ‘grande e forte potência’.”
Sátira involuntária, visando seu próprio campo! Os franceses que procuravam contacto com as grandes potências seriam “megalomaníacos”, enquanto que, segundo o Embaixador, a França não seria uma verdadeira potência e a U.R.S.S. seria, malgrê tout, considerada uma grande potência. Apesar de quê? Apesar da opinião da Sanatzia, que não queria adotar uma tal atitude, os franceses ousavam considerar a U.R.S.S. como verdadeira potência. E observemos como o Embaixador frisa a “falta de agilidade” francesa (“a evolução muito lenta dos hábitos mentais”), pois nada convence a França de que a Polônia da Sanatzia é “uma grande e forte potência”!
Enquanto que em todo o mundo aumenta a inquietação provocada pela subida de Hitler ao poder, o “pensamento” político da Sanatzia volta-se precisamente para ele como o homem capaz de compreender mais rapidamente que os outros o “papel de grande potência” que cumpre à Polônia desempenhar no Leste, como “bastião da Europa”, como defensor da “cultura da Europa Ocidental” contra o “perigo bolchevista”. Esta ameaça — observemo-lo — era na época tão imaginária quanto hoje, mas igualmente necessária para encobrir a “cruzada” antissoviética em preparação.
Entretanto, na página 742 de Mein Kampf, Hitler dizia, de maneira muito explícita:
“Nós, nacional-socialista, também abandonamos deliberadamente a orientação da política exterior de antes da guerra. Nós começamos do ponto deixado há seiscentos anos. Interrompemos a eterna marcha dos germânicos para o Sul e para o Oeste da Europa e lançamos nossas vistas para o Leste... O próprio destino parece apontar-nos o caminho com o dedo.”
Seriam necessárias provas mais claras do fato de que a sensacional chegada de Hitler ao poder anunciava um perigo de morte para a Polônia?
Apesar disso em oposição aos mais evidentes interesses do país, o governo da Sanatzia estabelece relações estreitas e cordiais com o novo regime hitlerista. Não se tratava então de tentativas diplomáticas ingênuas e simplesmente formais, visando a garantir os interesses da Polônia, mas o que se via era uma convicta aproximação ideológica. Sem procurá-la mais longe, temos a prova num artigo publicado a 28 de janeiro de 1934 na Gazeta Polska, sob o título: Balanço Histórico do Ano. Eis um trecho desse artigo:
“A 30 de janeiro terminará o primeiro ano do governo do chanceler Hitler e de seu partido. É um ano que marca uma grande modificação, um ano que pôs fim na história da Alemanha à democracia parlamentar e que abriu uma era nova cujos traços característicos já estão nitidamente delineados. Para Hitler pessoalmente e para seu partido, esse foi um período de confronto perigoso dos sonhos com a realidade, o primeiro ano de aplicação do célebre programa de vinte e cinco pontos — programa proclamado desde 23 de fevereiro de 1920. É preciso dizer imediatamente que Hitler saiu vitorioso dessa prova. Só os primários e os hipócritas poderiam espantar-se com o fato de que, no curso do primeiro ano de governo, o programa não tenha sido realizado em sua totalidade. Os observadores objetivos devem reconhecer que se fez mais do que era lícito esperar. O edifício do III Reich repousa, já, em bases sólidas, tendo paredes e teto: só falta mobiliar o interior.”
Quem poderá taxar-nos de exagerados quando afirmamos que só um aliado poderia escrever tais coisas sobre Hitler? Ali encontramos “a nova política”, o “célebre programa” e o tom entusiástico, enfim, tudo o que Hitler tinha o direito de exigir de seus admiradores. Descobre-se mesmo ali um reflexo de defesa dos “primários” e a afirmação de que os objetivos nazistas não conseguidos durante o primeiro ano (e em particular o de “lançar suas vistas para o Leste” sem dúvida….) seriam alcançados no curso dos anos seguintes, pois o edifício do III Reich repousava “sobre bases sólidas”.
Esse tom de adoração referente ao novo aliado não era só da Sanatzia, mas também de meios denominados “nacionalistas”. Não é por acaso que um dos “teóricos” desse campo, Adam Doboszynski, escrevia no prefácio de seu livro intitulado A Economia Nacional:
“Contrariamente a um ponto de vista muito difundido, os princípios ideológicos que guiam a economia hitlerista decorrem igualmente de princípios cristãos.”
Não é de estranhar, então, que um “nacionalista” tão notável como Doboszynski venha a colocar-se pura e simplesmente a serviço da espionagem hitlerista. Eis o que ele próprio reconhece a esse respeito (página 244 do primeiro volume do relatório sobre seu processo):
“A primeira diretiva (dos serviços da espionagem alemã) referia-se a dois problemas diferentes. Um era o de propagar o ponto de vista de que a ideologia hitlerista e a ideologia polonesa convergiam. Deram-me ordem sobretudo para chamar a atenção para o fato de que Hitler conseguira um entendimento com o Vaticano e que havia assinado uma Concordata — o que não devia deixar de influenciar o pensamento dos católicos poloneses, tornando-os favoráveis à ideologia hitlerista. A segunda parte dessa primeira diretiva referia-se à propaganda concernente a uma aproximação polono-alemã; a esse respeito o residente (o agente do serviço de espionagem alemã — N. do A.), ordenou-me ressaltar que a Alemanha hitlerista não tinha nenhum 'plano de' conquista a respeito dos territórios poloneses, interessando-se, entretanto, pela Ucrânia.”
Como vemos, aí está uma coincidência, completa de pontos de vista ideológicos e políticos (“o interesse comum” em relação à Ucrânia). Sem dúvida, em sua aliança com a reação polonesa agrária e capitalista, Hitler era o sócio muitíssimo mais forte, tanto no plano material quanto no “ideológico”. Assim, não seria possível uma aliança, de igual para igual. A reação polonesa adotou subitamente uma atitude de nítida vassalagem em relação ao autor do “glorioso programa”, concordando, de resto, com as teses dessa “gloriosa,” Bíblia hitlerista, Mein Kampf, que considerava os outros povos e, em primeiro lugar, os povos eslavos como destinados ao extermínio ou à escravidão.
O que expomos, não corresponde apenas à nossa atual apreciação, pois coincide com a ponto de vista de pessoas afastadas de nossa posição ideológica, tais como o Ministro francês do Exterior e os embaixadores da Franca em Moscou e Varsóvia. Num relatório estritamente confidencial, dirigido ao Ministro Beck (n.º 3/2 de 9-1-1935), o Embaixador da Polônia em Roma comunica que, interpelado o ministro francês, em sua visita à Itália, a respeito do pacto de segurança coletiva, respondeu:
“Com toda certeza a Polônia se dirigirá primeiro à Alemanha e em seguida responderá.”
Em Moscou, o Sr, Alphand, Embaixador da França, durante uma conversação mantida a 25 de setembro de 1934 com Lukasiewicz, Embaixador da Polônia, queixou-se a este da
“... insinceridade da política polonesa em relação à França, da constante oposição aos projetos e planas franceses, e das súbitas démarches, realizadas sem prévio entendimento com Paris.” (Relatório de Lukasiewicz a Beck, datado de 29-9-1934. n.º 3/Sow/21.)
Em nota confidencial (S.M.P. 396/F/7) sobre conversação que teve a respeito do mesmo assunto a 3 de fevereiro de 1935 o Sr. Szembek, Vice-Ministro polonês, com o Embaixador Laroche, pode-se ler:
“Em todo este assunto — observava Laroche — vosso governo marcha de mãos dadas com a Alemanha, o que não pode deixar de causar em Paris a impressão de que. cada gesto político de vosso governo se verifica de acordo com Berlim. A convicção de que, em todos os problemas de maior importância, a Polônia se coloca ao lado da Alemanha, penetra cada vez mais na opinião pública francesa.”
O conjunto da política exterior do Ministro Beck demonstra que não somente a opinião pública francesa tinha justificados motivos de inquietação, mas que em primeiro lugar a própria Polônia só podia receá-la. Em nenhuma questão importante da política internacional o governo Beck deixou de se colocar ao lado de Hitler.
Foi o governo polonês o primeiro a reconhecer a conquista da Etiópia pelos sócios italianos de Hitler. Durante a agressão de Hitler e Mussolini à Espanha republicana, a diplomada polonesa colocou-se fielmente do lado hitlerista contra os “vermelhos” — embora fosse bem evidente que o interesse da Polônia (precisamente da Polônia) estava do lado republicano.
O coronel Beck, esse homem que em 1932 o governo francês se esforçou para afastar de Paris, onde, era adido militar, como suspeito de espionagem em favor da Alemanha (acusação confirmada pela imprensa inglesa), podia então, na qualidade de Ministro do Exterior, transformar-se em verdadeiro caixeiro-viajante da diplomacia hitlerista.
Beck intervinha onde se tomava necessário ajudar Hitler e enfraquecer ou mesmo aniquilar a aliança antinazista em formação. Foi à Bélgica para afastá-la da França, sua aliada e aliada da Polônia. Viajou pela Escandinávia para sabotar a confiança na Sociedade das Nações e conduzir pelo caminho da pretensa “neutralidade” os países escandinavos, ao momento em que se aproximava a prova de força entre a democracia e o fascismo. Visitou a Iugoslávia, a fim de afastá-la da Pequena Entente francófila. Na Romênia, dirigiu intrigas pessoais, por intermédio de seu Embaixador, para sustentar e desenvolver a tendência antissoviética, assegurando-lhe a maioria. Por toda parte e sempre, agia no interesse do bloco fascista, isto é, no interesse, dos inimigos declarados da Polônia.
O Sr. Joseph Beck, Ministro do Exterior da Polônia, seguramente tornou-se credor da gratidão da diplomacia hitlerista.
Seu maior título de glória, no que tange à diplomacia hitlerista, bem entendido, foi, sem dúvida, haver torpedeado o Pacto Oriental, tentativa, de Louis Barthou, então Ministro do Exterior da França, visando organizar a segurança coletiva através de uma aliança entre a França, a União Soviética, a Tchecoslováquia e a Polônia.
Para todo mundo, e portanto também para Beck, tornou-se então evidente que a única maneira de conter Hitler — que já estendia a mão para territórios estrangeiros, inclusive territórios poloneses — era a criação de um sistema de segurança coletiva. Era preciso colocar o Estado hitlerista, que ainda não estava tão forte, em face de uma poderosa aliança antifascista. Mais do que qualquer outra coisa, Hitler temia, ver a realização de uma aliança entre suas futuras vítimas. E nesse receio de Hitler estava evidentemente a razão pela qual Beck recusava categoricamente a participação da Polônia no pacto de segurança coletiva proposto por Barthou.
Entretanto, não somente na França e na Polônia desejava-se que Beck apoiasse a política anti-hitlerista. O mundo democrático em seu conjunto, todos os que adquiriam consciência do perigo hitlerista, contavam com a possibilidade de que, em seu próprio interesse e no interesse geral, a Polônia ficasse ao lado da França para formar uma barreira contra Hitler.
Orlowski, Encarregado de Negócios da Polônia em Londres, comunicou a Beck, em seu relatório político de 12 de outubro de 1934 (n.º 23/34) que os políticos e jornalistas ingleses
“... criticam com certo nervosismo a atitude da Polônia, à qual, de um lado, censuram a aliança com a Alemanha, e à qual alertam, por outro lado contra o perigo que poderia ameaçá-la se se passasse para o campo alemão, o que acarretaria o enfraquecimento de sua aliança com a França.”
Louis Barthou, promotor desse pacto oriental, que sem a participação da Polônia perderia metade de seu valor, continuava pensando (convicção que conservou quase que até sua morte) que a Polônia modificaria sua atitude. O relatório de Orlowski, já citado, refere-se a uma opinião atribuída a Barthou, segundo a qual
“…. o governo polonês terminaria reconhecendo que a política polonesa atual é desarrazoada e terminaria modificando sua atitude.”
Mas Barthou cometia um erro trágico. O governo polonês não modificou sua atitude pró-hitlerista. Ao contrário, o novo Ministro do Exterior francês, Pierre Laval, é que mudou a orientação da política francesa. É verdade que a 10 de maio de 1935 o Embaixador Chlapowski comunicava ainda timidamente de Paris a Beck:
“Abstração feita de suas simpatias e opiniões pessoais, o Sr. Laval não pode atualmente abandonar por completo a política de aproximação com a Rússia, em virtude mesmo do estado de espírito da opinião pública.”
Entretanto, a 9 de outubro de 1935, o primeiro aniversário da morte trágica de Barthou, o Ministro Komarnicki, delegado da Polônia na Sociedade das Nações, já comunicava a Beck o resumo de sua entrevista com Laval (138-f/65/35):
“Ele me revelou seu desejo de encontrar um modus vivendi com a Alemanha, afirmando que se sente constrangido por seus compromissos com ,a Rússia. Disse que realizou a política de aproximação com a Rússia a contragosto e que por esse motivo foi criticado pelos Sovietes. O Sr. Laval desejaria que o Sr. Ministro o ajudasse nessa pequena questão do Pacto Oriental. Quem poderia sentir-se preso por esse pacto? Ele contém tantas cláusulas que sua aplicação é inconcebível.”
Em lugar de uma aproximação sincera com a União Soviética, em lugar de influenciar a Polônia no mesmo sentido, observamos uma tentativa de manobra e a procura do apoio de Beck a uma política que permitisse a Laval desembaraçar-se da aliança franco-soviética. O governo francês avançava a passos largos pelo caminho que conduziria a Munique e à catástrofe que atingiria a França. Nessa estrada Laval deveria encontrar o Ministro polonês, em busca há muito da mesma sorte. Aí estava a razão por que Barthou e seus embaixadores falavam aos diplomatas da Sanatzia naquele tom amargo, com tantas reticências e censuras, enquanto o futuro colaboracionista Laval tratava, os funcionários de Beck de maneira jovial, com amizade, de igual para igual, como verdadeiros cúmplices.
Compreende-se que tanto o Ministro das Relações Exteriores como seu colega francês conheciam os objetivos da política hitlerista, à qual os dois prestavam os maiores serviços. Entretanto, um e outro imaginavam que poderiam entender-se eternamente com a Alemanha às custas da política antissoviética e que, nessa associação, salvariam a pele e a carreira. De seu lado o Ministro polonês esperava assim realizar planos aos quais Pilsudski renunciara, quando de sua marcha sobre Kiev.
Portanto é em vão que os responsáveis pela derrota de setembro de 1939 tentam desculpar-se, argumentando que “não sabiam” ou que “estavam longe de supor” que Hitler nutria intuitos agressivos em relação à Polônia. A experiência de uma vizinhança de mil anos ensinara a todas as crianças polonesas que os nacionalistas alemães consideravam não apenas Gdansk, mas o “corredor”, a Silésia e a Posnânia como territórios tomados à Polônia pelo diktat de Versalhes.
Se alguém mantinha dúvida a esse respeito, bastava ler atentamente Mein Kampf — leitura que, como se sabe, estava bem em moda nos círculos da Sanatzia e da nacional-democracia.
Desgraçadamente não se lia com cuidado senão os trechos daquele livro referentes aos judeus.
Políticos progressistas da França e da Inglaterra esforçavam-se, por sua vez, tentando arrancar a venda dos olhos daqueles para os quais a leitura de Mein Kampf não era suficiente.
Houve, por fim, e nesse caso não mais se tratava de persuasão, mas de urna lição dada debaixo de golpes, a crise tchecoeslovaca de maio a outubro de 1938. O crime praticado pelos muniquistas contra a Tchecoslováquia abriu os olhos, no Ocidente, a muitos conservadores britânicos antissoviéticos e políticos franceses de direita. Convenceu também muitos ministros na Europa, menos os ministros poloneses da época.
Não se limitavam eles a fechar os olhos ante a tempestade que se anunciava nas relações polono-alemães. Deixaram de marchar em socorro da Tchecoslováquia — o que teria salvo a Polônia. Não somente não tocaram alarma e não reclamaram o socorro mais forte de outros, mas se colocaram ao lado do banditismo desenfreado, não apenas em plano diplomático: foram ao ponto de participar do desmembramento do povo irmão esmagado, aliado natural da Polônia.
É bem significativo que se tenha simplesmente proibido a publicação, na imprensa polonesa, das declarações feitas em Dantzig, a 9 de agosto de 1938, pelo já célebre gauleiter Forster; não se desejava ouvir o que anunciava sem rebuços esse hitlerista:
“Podemos de agora em diante trabalhar mais corajosamente, com a certeza absoluta de que nossos esforços e nossa confiança — a exemplo das lutas conduzidas pelos austríacos e alemães dos Sudetos — serão um dia coroados de maior sucesso, com a completa libertação de Dantzig.”
O papel desempenhado pelo regime fascista de Rydz-Smigly e Beck no desmembramento da Tchecoslováquia é sem precedentes na história de nosso povo. Um país que durante século e meio gemeu sob o jugo da escravização ao estrangeiro um país que no século XIX foi e inspirador de poetas e representou a bandeira dos que combatiam pela liberdade — esse país cujo destino sempre esteve ligado ao nobre princípio da luta “pela vossa e pela nossa liberdade”, foi forçado por seus governantes a desempenhar o papel de hiena interessada em aproveitar os restos deixados pelas feras mais fortes. Menos de vinte anos antes a Polônia havia sido libertada do jugo da ocupação estrangeira, gerações inteiras ainda guardavam na memória seus anseios de vida em liberdade, quando era imposta essa vergonha aos poloneses!
Não queiramos aplicar aos políticos da Sanatzia critérios morais. Isto seria ridículo. Sua permanência no poder durante longos anos demonstra que eles jamais pecaram por excesso de moralidade.
Mas, onde estava o bom senso político? E o simples bom senso? Não era de uma evidência gritante que depois da catástrofe da Tchecoslováquia, a Polônia seria envolvida de três lados pela Alemanha? Não era evidente, inclusive para os que não fossem militares, que a Polônia nessa situação poderia ser atacada por toda a extensão de sua fronteira meridional, visto que a fronteira polono-alemã se alongara em centenas de quilômetros constituídos pela antiga fronteira polono-tchecoslovaca?
À luz de documentos, verifiquemos de perto o desenrolar da crise tchecoslovaca, pois ela se reveste de um caráter altamente instrutivo para o conhecimento dos coveiros da Polônia.
A 27 de maio de 1938, Lukasiewicz, Embaixador da Polônia em Paris, manteve uma conversação com o Ministro do Exterior francês. No relatório ultraconfidencial (n.º XVII/2), enviado no mesmo dia ao Ministro Beck para informá-lo sobre o desenrolar dessa conferência, lê-se o seguinte:
“Ele me disse acentuadamente que havia falado ao general Gamelin sobre nossa situação estratégica no caso em que a Tchecoslováquia fosse ocupada pela Alemanha e que o Estado-Maior francês considerava que isso corresponderia a uma profunda e perigosíssima agravação de nossa situação militar.”
Vê-se que o governo francês já manifestava inquietude. Segundo nos revela o relatório, o Ministro francês pedira a Lukasiewicz que
“chamasse imediatamente a atenção de seu governo sobre os fatos mencionados.”
O Ministro francês de quem se falava era, na época, George Bonnet, um dos principais muniquistas franceses. Assim, ele evitava insistências junto ao Embaixador polonês e frisava explicitamente:
“O governo francês nada exige da Polônia em favor da Tchecoslováquia, desejando contudo contar com a vossa colaboração para assegurar a manutenção da paz e barrar a expansão alemã.”
Tem-se a impressão nítida de que Bonnet de maneira nenhuma desejava obter qualquer coisa da Polônia, mesmo no que se relacionava com a expansão alemã a que se referia, pois logo a seguir acrescentava:
“O pacto franco-soviético é muito ‘vago’; o governo francês não cogita apoiar-se nele de mandra alguma. Ele não influirá senão quanto à maneira pela qual a França reagirá em face das hesitações da Polônia.”
Vê-se que o Sr. Bonnet desejava obter do Embaixador polonês uma resposta que servisse para solapar o valor do pacto de assistência franco-soviético. O Sr. Lukasiewicz pegou no ar a intenção do Ministro, de resto bem amoldada a seus sentimentos. E assim respondeu ao representante francês:
“Para evitar qualquer mal-entendido e qualquer equívoco, devo lembrar que, no curso dos entendimentos entre o general Gamelin e o marechal Rydz-Smigly, a eventualidade de uma ajuda em material e matérias-primas vindas da Rússia soviética foi sugerida pelo general Gamelin e que o marechal Rydz-Smigly recusou categoricamente qualquer entendimento ou discussão a esse respeito.”
Não desejava mais do que isso o Beck francês. A atitude da Polônia facilitava consideravelmente a liquidação da cooperação com a União Soviética. É verdade, por outro lado, que o governo polonês, com sua atitude, tornava mais difícil a posição francesa, expondo muito cedo os planos sobre a Tchecoslováquia, o que obrigou Bonnet a dizer a Lukasiewicz:
“É infinitamente lamentável e perigoso que o Sr. Ministro (Beck) formule novas exigências, fazendo-o de forma tão categórica.”
Bem depressa, entretanto, Bonnet “modificou sensivelmente o tom da conversação” e os dois muniquistas — o grande e o pequeno — separaram-se em perfeito acordo.
Hitler então sabia muito bem como tratar seus cúmplices. Conhecia muito bem o grupo de muniquistas ocidentais que a ele se submetiam sistematicamente, passo a passo e que o nutriram com a carne humana ao Leste, — pois na época não se tratava ainda de carne francesa ou britânica — estando assente que o ataque seria a Leste e tão-somente a Leste.
Quanto aos megalomaníacos poloneses da “política de grandeza’’, Hitler não duvidava um só instante de que poderia contar com eles. Não se tinha feito antever a perspectiva de obter um pedaço da Tchecoslováquia e não se prometia aos megalomaníacos um pedaço da Ucrânia soviética? A esse respeito a diplomacia primitiva e vulgar da Alemanha hitlerista não tivera necessidade de realizar esforços extraordinários.
Em relatório ultraconfidencial de 11 de agosto de 1938 (n.º 1/137/38), Lipski, Embaixador da Polônia em Berlim, comunica a respeito de uma conversação com Hermann Goering:
“Goering disse-me que desejaria ter comigo, dentro em breve, um entendimento circunstanciado durante o qual examinaríamos — como sempre confidencialmente e não oficialmente, bem entendido — as possibilidades de uma aproximação polono-alemã mais estreita quanto a certas questões. Ele falou…. numa troca de informações sobre os problemas russos e tchecoslovacos…. Segundo sua opinião a Polônia pode ter certos interesses na própria Rússia, na Ucrânia, por exemplo.”
Recordemos que isso se passava enquanto a imprensa inglesa antinazista já publicava mapas ilustrando a futura agressão hitlerista à Polônia e quando os cofres do Estado-Maior hitlerista já encerravam planos detalhados das operações contra a Polônia. Não esqueçamos esses fatos e prossigamos a leitura do relatório de Lipski:
“Julguei poder ir mais longe a respeito do assunto de meu encontro com Goering. Frisei que durante a conferência de Paris já a política tchecoslovaca se esforçava para obter uma fronteira comum com os Sovietes, estendendo desmesuradamente seu território ao longo de nossa fronteira ao sul. Isto nos impediu de ter uma fronteira com a Hungria, o que é contrário aos interesses polono-húngaros... GOERING RESPONDEU QUE COMPREENDIA A NECESSIDADE DE UMA FRONTEIRA POLONO-HÚNGARA COMUM.”
É compreensível que Goering tenha concordado sem dificuldade em satisfazer o apetite de seus cúmplices. Ele sabia que dentro de pouco tempo engoliria a Polônia e suas recentes “conquistas”. Como dissemos, os planos de agressão à Polônia já estavam nas gavetas do Estado-Maior da Wehrmacht. Considerava-se, portanto, possível emprestar Teschen a Beck por um ano.
A atitude de Hitler numa conversação com o Embaixador Lipski, sobre a qual somos informados por um relatório “ultraconfidencial” deste último (1/165/38) foi análoga.
Teve lugar o encontro a 20 de setembro de 1938 (dez dias antes de Munique) em Obersalzberg, imediatamente depois de uma audiência concedida ao Primeiro-Ministro húngaro, Imredy.
“Levantei expressamente a questão da Rússia subcarpática, frisando o aspecto estratégico representado por ela em relação à Rússia…. O Chanceler interessou-se particularmente por esse problema.”
Depois o Sr. Lipski tratou da questão de Teschen e asseverou ao Chanceler que
“…. não recuaríamos a esse respeito diante do recurso da força se nossos interesses não fossem levados em consideração.”
Sobre esse ponto Lipski obteve enfim a promessa de Hitler:
"O chanceler declarou:
Em caso de aceitação de condições sobre os Sudetos e se se fizessem exigências de garantias para o resto da Tchecoslováquia, sua resposta seria que ele não poderia dá-las senão mediante acordo da Polônia, da Hungria e da Itália. Ele acha que a Polônia e a Hungria não oferecerão essas garantias sem que antes sejam reguladas as questões de suas minorias. Sobre esse ponto ofereci garantias em nome do governo polonês.
O Chanceler me informou hoje, em tom absolutamente confidencial, mas observando que poderia usar a informação como julgasse útil, que, no caso de um conflito com a Tchecoslováquia em consequência do ajuste de nossos interesses relativos a Teschen, o Reich tomaria posição ao nosso lado. Em tal eventualidade, o Chanceler aconselha que não passemos à ação senão depois que a Alemanha ocupar os montes Sudetos, porque então as operações serão de mais curta duração.”
Esse tipo de conversação entre Hitler e o Embaixador da Polônia não faz lembrar um complô de bandidos? A única diferença é que nesse caso trata-se do assassínio de um Estado e que os assassinos são os chefes do governo hitlerista e da Sanatzia polonesa. A participação no crime e a partilha do bolo devia ser proporcional à importância dos cúmplices.
Não devemos ter a mínima ilusão a respeito da moralidade de Beck ou de Lipski. Vê-se que eles eram tão desprovidos de escrúpulos quanto o hospedeiro de Obersalzberg. Outro fato interessante: Lipski e consequentemente Beck, estavam em situação de conhecer a “técnica” de Hitler, assassino de povos. Entretanto, não tiraram dessa circunstância nenhum ensinamento quanto à sorte que estava reservada à Polônia!…. Ao contrário, ajudaram na execução do crime!
Vejamos mais um trecho do relatório “ultraconfidencial” de Lipski:
“Na continuação da entrevista o Chanceler observou com vigor que a Polônia é um fator de primeira linha para proteger a Europa do perigo russo.”
Depois deu ao Sr. Lipski a segurança de que:
“Além de uma certa linha de interesses alemães, nós (a Polônia) temos carta branca.”
E não podendo conter a alegria, o Embaixador de Beck apressou-se em mandar a seu chefe um relatório triunfal.
O tom desse relatório, em seu conjunto, é tal, que esperamos encontrar em suas linhas finais, em lugar das fórmulas tradicionais de polidez, o grito de: “Marchemos sobre a Tchecoslováquia!” ou “Adiante, até Moscou!” Esse entusiasmo criminoso não foi arrefecido também na conversação entre Lipski e Ribbentrop, mantida em Berlim, a 27 de novembro de 1938. Nesse relatório, que Lipski enviou a Beck (sob o número 1/.82/38 e com a menção de “ultraconfidencial”), pode-se ler essa passagem sensacional:
“Em caso de ocupação pela Alemanha de toda a Tchecoslováquia, von Ribbentrop considera útil….”
E assim continua o documento. Pouco importa o que o Sr. Ribbentrop considera útil; o que interessa é que desde 27 de novembro ele fala, ele insiste, como se observa desse relatório, na “ocupação de toda a Tchecoslováquia”. Torna-se claro, portanto, que Beck e sua camarilha estavam bem informados sobre a técnica criminosa de Hitler. Seis meses antes da ocupação de Praga pela Alemanha, a Sanatzia sabia que o acordo de Munique não seria respeitado por Hitler. Que advertência eloquente poderia encerrar esse fato para o governo polonês! Entretanto, uma vez mais, não somente o governo polonês não tirou de tudo isso a conclusão de que colaborava com um bandido, que não assinava acordos senão para ganhar e não para mantê-los, mas, ao contrário, o governo polonês se preparava para agredir a Tchecoslováquia abandonada e traída por Chamberlain e Daladier.
À luz desse documento, como se apresentam ridículas e lamentáveis as queixas veladas do Sr. Racczynsky, Embaixador da Polônia em Londres, que observa, em relatório dirigido a Beck, a 16 de dezembro de 1938 (n.º l/WB/257/tj: anexo):
“Sou obrigado a constatar a existência, desde algum tempo, na opinião pública e na imprensa britânicas, de uma espécie de campanha organizada com a ajuda de informações deformadas, quando não se trata simplesmente de absurdos ou insinuações, tendendo apresentar as relações polono-alemães de maneira desfavorável, isto provoca inquietação e juízos pessimistas sobre a situação política da Polônia. A ‘ação’ em questão menciona também outros pontos de conflito possíveis, tais como Dantzig.”
Que dizer desse imbecil que, em dezembro de 1938, considera como absurdos e insinuações os juízos pessimistas sobre a situação polono-alemã no setor de Dantzig? Não se trata simplesmente de um imbecil? Os que dirigiam nossa política exterior antes de 1939 não eram verdadeiros loucos?
Através dessa loucura distingue-se perfeitamente um método, aplicado de maneira consequente, com uma obstinação e perseverança de maníacos. Aliar-se com o Diabo em pessoa, contrariamente aos interesses da Polônia e mesmo à custa de sua destruição, contanto que se ficasse contra a União Soviética: eis a quintessência desse método, nascido da mistura de um cego ódio de classe ao Estado operário e camponês com a grotesca vaidade de sonhos pueris, de pretensa “política de grandeza”, de uma Polônia indo “de mar a mar”, tudo isso temperado com o pseudo-romantismo que tentava mascarar características aventureiras de uma insondável ignorância política.
Seria viável na Polônia uma outra política exterior? Certamente que era possível, mas nem esse governo nem tais governantes poderiam realizá-la….
Essa outra política, fundamentada no interesse evidente do Estado polonês, exigia imperiosamente a cooperação com a União Soviética. Isto implicava em renúncia aos planos megalomaníacos de uma Polônia indo do Báltico ao Mar Negro. Era preciso abandonar as fanfarronadas que consistiam em proclamar que seriamos capazes de nos defender sós; era preciso aderir à política de segurança coletiva. Era preciso não intrigar, juntamente com os países do Eixo, visando a Sociedade das Nações, mas, ao contrário, lutar para que ela se transformasse em verdadeiro órgão de cooperação das forças da paz. Era preciso não reconhecer e apoiar os fatos consumados que os fascistas impunham ao mundo, mas, ao contrário, mobilizar as outras nações para a luta contra esses fatos consumados. Era preciso não assistir como espectador e muito menos participar da violação da independência de outros países. Era preciso, ao contrário, assegurar a defesa desses países, segundo o princípio de que o destino da Polônia está indissoluvelmente ligado à liberdade de todos os povos.
Mais do que qualquer outro partido burguês da Polônia, o pilsudskismo era incapaz de realizar uma tal mudança de política, pois os pilsudskistas achavam que “a missão histórica da Polônia” era realizar um papel de direção na cruzada antissoviética.
Em nome desse sonho reacionário e delirante, os partidários de Pilsudski serravam, ao som de fanfarras festivas, a ponta de tábua sobre a qual se encontravam sentados. Tal política levava sistematicamente a Polônia ao isolamento, arrebatando-lhe a possibilidade de conservar um único aliado real em caso de agressão.
Em nome desse sonho reacionário e delirante, eles preferiam combater a política antifascista de segurança coletiva, preferiam chegar ao isolamento da Polônia e deixá-la, fraca e sem forças, diante da Alemanha hitlerista, em lugar de permitir a execução de um sistema comum de defesa do qual participasse a União Soviética.
Sem dúvida, alguém observará que os Beck, os Rydz-Smigly e os Lipski não eram os únicos responsáveis e que havia na Europa os Chamberlain e os Halifax, os Daladier e os George Bonnet, portadores da maior responsabilidade, em razão da correlação de forças.
Estamos de acordo. Mas nós, poloneses, somos naturalmente interessados antes de tudo numa política externa polonesa e por isso começamos a varrer a rua na porta de nossa casa.
Notas de rodapé:
(1) Expedição de Kiev — Tentativa polonesa de se apoderar da Ucrânia, durante a guerra de intervenção de Pilsudski, em 1920. (retornar ao texto)