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Primeira Edição: L'Ordine Nuovo
Tradução: Elita de Medeiros — da versão disponível em https://www.marxists.org/archive/gramsci/1921/07/arditi_del_popolo.htm
HTML: Fernando Araújo.
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As declarações feitas à imprensa pelo Exmo. Sr. Mingrino, em relação ao seu apoio ao Arditi del Popolo, é extremamente útil como meio de destacar a declaração do Partido Comunista sobre o mesmo assunto.
As declarações de Mingrino correspondem à psicologia antiquada e esfarrapada do Partido Socialista, que anteriormente batizamos de neo-malthusiana.
Se a concepção de Mingrino fosse aceita, seria fatal. O movimento Arditi del Popolo estaria condenado a trilhar o mesmo caminho dos metalúrgicos em setembro de 1920, quando foram conduzidos ao campo da ilegalidade – e foram colocados em uma posição de onde só poderiam resistir armando-se e violando os privilégios mais sagrados do capitalismo. Mas então, de repente, tudo acabou — porque as ocupações das fábricas apenas propuseram metas sindicais.
O Exmo. Sr. Mingrino está se juntando ao Arditi del Popolo. Ele dá à instituição seu nome, seu status de deputado socialista e seu prestígio pessoal (o proletariado revolucionário considera-lhe calorosamente por sua conduta durante os ataques fascistas ao camarada Misiano).
Mas qual é a missão do Arditi del Popolo, de acordo com o Exmo. Migrino? Ele acredita que deve se limitar a ser um contrapeso à violência dos fascistas, deve ser uma resistência pura – deveria, em suma, ter objetivos puramente sindicais.
O Exmo. Sr. Mingrino ainda acredito que o fascismo é apenas uma manifestação superficial da psicose do pós-guerra? Ele ainda não está convencido de que o fascismo está organicamente ligado à atual crise do regime capitalista — e que só desaparecerá com a eliminação deste regime?
Ele ainda não está convencido da necessidade de atribuir um significado puramente marginal às ideologias patrióticas, nacionalistas e reconstrucionistas de Mussolini e Cia. – da necessidade, em vez disso, de ver o fascismo em sua realidade objetiva — livre de qualquer esquema preconcebido, livre de qualquer modelo político abstrato?
O fascismo é um enxame espontâneo de energias reacionárias que se aglutinam, se dissolvem e depois se reagrupam, seguindo os líderes oficiais apenas quando suas ordens correspondem à natureza interna do movimento. O fascismo é o que é, independentemente dos discursos de Mussolini, das declarações de Pasella e dos gritos de guerra de todos os idealistas do mundo.
Lançar ou juntar-se a um movimento de resistência popular — estabelecendo antecipadamente os limites à sua expansão — é o erro tático mais grave que se pode cometer neste momento.
É vital não criar ilusões entre as massas populares, que sofrem cruelmente. Suas condições de vida miseráveis lhes inclinam a delírios — à crença de que podem aliviar sua dor simplesmente mudando de posição.
Eles devem compreender — devem ser compelidos a compreender — que hoje o proletariado não enfrenta apenas as associações privadas, mas confronta todo o aparato do Estado: com sua força policial, seus tribunais e seus jornais que manipulam a opinião pública de acordo com os desejos do governo e dos capitalistas.
Eles devem entender o que não foi bem compreendido em setembro de 1920:
Quando os trabalhadores ultrapassam os limites da legalidade, mas não conseguem encontrar o espírito de sacrifício e capacidade política necessários para levar a cabo suas ações — eles serão punidos com pelotões de fuzilamento, com fome, com frio e com a inanição que irá matá-los lentamente, dia após dia.
Os comunistas se opõem ao Arditi del Popolo? Ao contrário disso. Eles aspiram ao armamento do proletariado, à criação de uma força proletária armada que seja capaz de derrotar a burguesia — e de manter a guarda da organização e do desenvolvimento das novas forças produtivas geradas pelo capitalismo.
Os comunistas também são da opinião que, quando alguém se envolve em uma luta, não adianta esperar que a vitória seja garantida por um atestado registrado em cartório.
As pessoas muitas vezes se encontraram em uma encruzilhada na história:
Podem escolher definhar enquanto morrem lentamente de fome e exaustão, enchendo suas próprias ruas com alguns cadáveres a cada dia — até que, conforme as semanas, meses e anos passam, uma montanha de corpos se acumula;
Ou podem arriscar tudo, inclusive suas próprias vidas – e se lançam em uma batalha total.
Então essas pessoas se arriscariam a vencer, interrompendo o processo de dissolução com um único golpe — e iniciando o trabalho de reorganização e desenvolvimento que irá, pelo menos, assegurar às gerações futuras um pouco mais de tranquilidade e bem-estar.
Nessas ocasiões, eram as pessoas que tinham fé em si mesmas e no seu próprio destino que eram salvas — aquelas que enfrentavam a luta com audácia.
Mas se os comunistas pensam assim — quanto aos fatos objetivos da situação, quanto à relação de forças com o inimigo, quanto à possibilidade de dominar a decadência e o caos criados pela guerra imperialista, quanto a todos os elementos que não se pode inventariar (e sobre os quais nem sempre se pode calcular probabilidades exatas) – eles desejam, pelo menos, que os objetivos políticos sejam claros e concretos.
Eles não querem uma repetição do que aconteceu em setembro de 1920, pelo menos não aquela parte que pode ser prevista, que pode ser avaliada e que pode ser evitada com a atividade política organizada por um partido.
Os trabalhadores têm uma forma de expressar sua opinião. Os trabalhadores socialistas, que são revolucionários e tiraram lições das experiências dos últimos meses, têm formas de exercer pressão sobre o Partido Socialista – para obrigá-lo a parar de se equivocar e se refugiar em ambiguidades – obrigá-lo a assumir uma posição clara e precisa sobre esse problema, em que está em jogo a própria segurança física do trabalhador e do camponês.
O Exmo. Sr. Mingrino é um deputado socialista. Se for um homem sincero, como acreditamos, então ele tomará a iniciativa de superar o torpor e a indecisão das massas que ainda seguem seu partido. Mas ele não vai colocar um limite em seu desenvolvimento – a menos que ele queira ser responsável por obter, para o povo italiano, uma nova derrota e um novo fascismo, muitas vezes pior do que antes – com toda a vingança que a reação desencadeará sobre os irresolutos e indecisos, depois de massacrar as tropas da vanguarda de assalto.