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Transcrição Autorizada pela Editora Civilização Brasileira |
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Escrito em: 1921
1ª Edição:"L'Ordine Nuovo" de 11 de março de 1921.
Origem da presente transcrição: Escritos Políticos, volume 2, Editora Civilização Brasileira, Brasil 2004.
Direitos de Reprodução: © Editora Civilização Brasileira
O que é o fascismo, visto em escala internacional?
É a tentativa de resolver os problemas da produção e da troca através de rajadas de metralhadora e de tiros de pistola.
As forças produtivas foram arruinadas e dilapidadas na guerra imperialista.
Vinte milhões de homens foram mortos na flor da idade e da energia; outros vinte milhões tornaram-se inválidos.
Os milhares e milhares de laços que uniam os diversos mercados mundiais foram violentamente rompidos.
As relações entre cidade e campo, entre metrópoles e colônias, foram subvertidas.
As correntes de emigração, que restabeleciam periodicamente os desequilíbrios entre excesso de população e as potencialidades dos meios produtivos em cada nação, foram profundamente abaladas e já não funcionam normalmente.
Criou-se uma unidade e simultaneidade de crises nacionais, que fazem com que a crise geral seja extremamente aguda e incontornável.
Mas existe, em todos os países, um estrato da população - a pequena e média burguesia - que considera ser possível resolver estes gigantescos problemas com metralhadoras e pistolas.
E é este estrato que alimenta o fascismo, que fornece seus efetivos.
Na Espanha, a organização da pequena e média burguesia em grupos armados ocorreu antes mesmo que na Itália, tendo inicio já em 1918 e 1919.
A guerra mundial precipitou a Espanha numa terrível crise, mas cedo do que em outros países; com efeito, os capitalistas espanhóis haviam saqueado o país e vendido tudo o que era vendável já nos primeiros anos da conflagração.
A Entente pagava melhor do que os consumidores pobres espanhóis podiam pagar - e os proprietários venderam à Entente toda a riqueza e as mercadorias que deveriam servir à população nacional.
Já em 1916, a Espanha era um dos países europeus mais ricos financeiramente, porém mais pobres em mercadorias e energias produtivas.
O movimento revolucionário tornou-se impetuoso; os sindicatos organizaram quase a totalidade da massa industrial.
As greves, os locautes, os estados de sítio, a dissolução das Câmaras do Trabalho e das Ligas, os assassinatos, a fuzilaria nas ruas tornaram-se o tecido cotidiano da vida política.
Formaram-se os fasci (os somaten) antibolcheviques[1]; eles se constituíram inicialmente, como na Itália, com pessoal militar, provenientes dos clubes(juntas) dos oficiais, mas rapidamente ampliaram suas bases, chegando a recrutar, como em Barcelona, 40.000 homens armados.
Seguiram a mesma tática que os fascistas na Itália: agressão aos líderes sindicais, violenta oposição as greves, terrorismo contra as massas, oposição a toda forma de organização, ajuda à polícia regular nas repressões e prisões, ajuda aos fura-greves nas agitações grevistas e locautes.
Há três anos a Espanha se debate nesta crise: a liberdade pública é suspensa a cada quinze dias, a liberdade pessoal tornou-se um mito, os sindicatos operários funcionam em grande parte clandestinamente, a massa operária está faminta e exasperada, a grande massa popular está reduzida a condições de selvageria e de barbárie indescritíveis.
E a crise se acentua.
Chegou-se agora ao atentado individual.
A Espanha é um país exemplar.
Representa uma fase pela qual todos os países da Europa Ocidental passarão, se as condições econômicas gerais se mantiverem como estão hoje, com as mesmas tendências atuais.
Na Itália, atravessamos a fase pela qual a Espanha passou em 1919: a fase do armamento das classes médias e da introdução, na luta de classes, dos métodos militares do assalto e dos golpes de surpresa.
Também na Itália a classe média acredita poder resolver os problemas econômicos através da violência militar; acredita poder solucionar o desemprego com tiros de pistola a placar a fome e enxugar as lágrimas das mulheres do povo com rajadas de metralhadora.
A experiência histórica não vale para os pequenos burgueses, que não conhecem a história: os fenômenos se repetem e ainda se repetirão, além da Itália, nos demais países.
Não se repetiu na Itália, para o Partido Socialista, o mesmo que já há alguns anos ocorreu na Áustria, na Hungria, na Alemanha?
A ilusão é o alimento mais tenaz da consciência coletiva.
A história ensina, mas não tem alunos.
Notas:
[1] - Como os fasci na Itália, os somaten (
originariamente uma milícia municipal surgida no século XI ) tiveram na
Espanha, num primeiro momento, uma função democrática e até mesmo revolucionária,
sobre tudo durante a guerra contra Napoleão.
Na época em que Gramsci escreve, porém os fasci (literalmente "feixos",
palavra herdada de um dos símbolos militares da antiga República Romana)
passou a ser o nome assumido pelas tropas de assalto do Partido Fascista na Itália,
enquanto somaten tornou-se a designação de grupos semelhantes na Espanha. (retornar ao
texto)
Inclusão | 23/07/2006 |