Discurso ao ser condecorado com a Ordem "Playa Girón"

Vasco Gonçalves

9 de julho de 2003


Fonte: http://resistir.info

HTML: Fernando Araújo.


O Embaixador de Cuba em Portugal, Reinaldo Calviac, condecorou ontem o General Vasco Gonçalves com a Ordem "Playa Girón", uma das mais altas distinções da República de Cuba.

A cerimónia decorreu dia 9 de Julho, nas instalações da Embaixada, com a presença de numerosos amigos e admiradores do líder mais consequente da Revolução Portuguesa de Abril de 1974.

A decisão de agraciar o Gen. Vasco Gonçalves com a Ordem "Playa Girón" fora tomada pelo Conselho de Estado da República de Cuba.

Segue-se o texto do discurso pronunciado na ocasião pelo Gen. Vasco Gonçalves:

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Senhor Embaixador da República de Cuba

Minhas senhoras e meus senhores

Meus amigos

Em Maio de 2001, estando presente nesta Embaixada o Presidente da República de Cuba Fidel Castro, senti-me sobremaneira honrado ao saber, pela leitura feita pelo Senhor Embaixador, de uma carta do Ministro das Forças Armadas Revolucionárias, General de Exército Raul Castro, que o “Conselho de Estado da República de Cuba, por proposta do seu Presidente decidira conceder-me em comemoração pelos meus 80 anos, uma das mais altas condecorações que outorga o Estado Cubano, a Ordem da Playa Girón, a qual se entrega (são os termos da comunicação) a cidadãos cubanos e estrangeiros, e a Chefes de Estado e de Governo, que se destaquem extraordinariamente na luta contra o imperialismo e as forças da reacção e por grandes actos a favor da paz e do progresso da humanidade.”

Cito estes termos e, do mesmo passo, desejo dizer-vos que esta condecoração sobreleva os méritos que, porventura, terei tido no decorrer do processo revolucionário que se desenvolveu, no nosso país, logo a partir do dia 25 de Abril de 1974, após o derrubamento do governo facista-colonialista, que oprimiu o povo português e os povos das colónias, ao longo de quase meio século.

É meu dever indeclinável associar, estreitamente, a esta elevada distinção a aliança Povo-MFA, que foi motor das conquistas de Abril.

Razões de ordem pessoal, nomeadamente, diversas situações do meu estado de saúde, hoje, felizmente, ultrapassadas, impediram, como era meu desejo, que me deslocasse a Havana, a fim de que a cerimónia de imposição fosse realizada em ocasião propícia.

Esta ocasião veio a ser hoje, em Lisboa, na presença do Embaixador Reynaldo Calviac, representando o Presidente da República de Cuba, e na vossa presença.

O significado da Playa Girón é grande. São palavras do próprio Chefe da Revolução Cubana: “... a partir daquela data o destino dos povos deste continente, na liberdade e na dignidade que conquistava um deles, frente à agressão do poderoso império que os avassalava a todos, seria diferente. Porque, diga-se o que se diga, a partir de Girón, todos os povos da América foram um pouco mais livres.”

Esta cerimónia realiza-se num momento em que a situação que vive Cuba é de tal modo grave que, Fidel Castro declarou no passado dia 1º de Maio, na Praça da Revolução:

“Em nome do milhão de pessoas aqui reunidas neste Primeiro de Maio desejo enviar uma mensagem ao mundo e ao povo norte-americano. Não desejamos que o sangue de cubanos e norte-americanos seja derramado numa guerra; não desejamos que um incalculável número de vidas de pessoas que podem ser amistosas se perca numa contenda. Mas nunca um povo teve coisas tão sagradas a defender, nem convicções tão profundas pelas quais lutar, a ponto de preferir desaparecer da face da terra, antes de renunciar à obra nobre e generosa pela qual muitas gerações de cubanos pagaram o elevado custo de muitas vidas dos seus melhores filhos. Acompanha-nos a convicção mais profunda de que as ideias podem mais que as armas, por sofisticadas e poderosas que estas sejam.

Digamos como o Che ao despedir-se de nós: ATÉ À VITÓRIA SEMPRE!”

Neste momento, de tão pesadas e concretas ameaças para a independência e a autodeterminação de Cuba desejo afirmar, a minha profunda e bem sentida solidariedade com a Revolução Cubana.

Cuba, bloqueada, demonstra, a todo o mundo, que é possível resistir ao imperialismo, ao império norte-americano.

Mas esta resistência não é um acaso da história.

Ela é fruto de 44 anos de luta heróica, pela independência nacional e pela autodeterminação, pela realização de objectivos patrióticos e libertadores, luta inspirada, dia a dia, pelos elevados exemplos de patriotas, como Céspedes, Maceo, Martí, o pai da Revolução.

Ela é fruto da determinação e do empenhamento exemplares do povo e da direcção política e ideológica da Revolução, na construção de uma sociedade de equidade e de justiça social, tendo, como horizonte, o socialismo.

Ela é fruto da própria ética da Revolução desde o seu primeiro dia. Dirigindo-se aos amigos de Cuba, no passado dia 25 de Abril, o Presidente Fidel Castro afirmou, com veemência:

“Continuaremos a ser íntegros e consequentes, como temos sido desde 1959 até hoje. Jamais terão motivos para envergonhar-se do seu nobre apoio.”

Cuba, sofrendo um criminoso e cruel bloqueio, que prentendia reduzí-la à rendição, pela fome, pela miséria, pela falta de medicamentos, viu-se forçada, para, defender a Revolução e o futuro, a adoptar medidas que não estavam no seu horizonte revolucionário e que o contrariam.

Mas, Cuba, fiel aos princípios fundadores da Revolução resiste. E pelo seu extraordinário exemplo de resistência, temos o dever de afirmar a nossa gratidão. Cuba é credora da gratidão e da solidariedade de todas as forças progressistas do mundo.

Senhor Embaixador:

Solicito-lhe que transmita ao Presidente da República de Cuba, Fidel Castro, ao Ministro das FAR, Raul Castro, aos membros do Conselho de Estado e ao Povo Cubano a expressão da grande honra que sinto do mais fundo do meu coração, e a minha gratidão por tão elevada distinção.


Inclusão: 27/11/2021