O Verdadeiro Senhor do Mundo é o Proletariado

Georgi Mikhailovich Dimitrov

20 de Agosto de 1935


Primeira Edição: Discurso de encerramento do VII Congresso Mundial da Internacional Comunista, pronunciado por Dimitrov em 20 de agosto de 1935.
Fonte: Partido Comunista Revolucionário
HTML: Fernando A. S. Araújo


O VII Congresso Mundial da Internacional Comunista, o congresso dos comunistas de todos os países e de todos os continentes do mundo, termina seus trabalhos.

Qual o balanço, que representa o congresso para o nosso movimento, para a classe operária mundial, para os trabalhadores de todos os países?

Este congresso foi o congresso do triunfo completo da unidade entre o proletariado da União Soviética – o país em que o socialismo venceu – e o proletariado do mundo capitalista em luta pela libertação. A vitória do socialismo na União Soviética, vitória que interessa à história mundial, provoca em todos os países capitalistas um poderoso movimento na direção do socialismo. Esta vitória firmou a obra de paz entre os povos, aumentando a importância internacional da União Soviética e o seu papel de poderoso reduto dos trabalhadores na sua luta contra o Capital, contra a reação e o fascismo. Fortifica a União Soviética enquanto base da revolução proletária mundial. Põe em movimento no mundo inteiro não só os operários que se voltam cada vez mais para o comunismo, mas também os milhões de camponeses e pequenos trabalhadores das cidades, uma parte considerável dos intelectuais, os povos escravizados das colônias; enche-os de entusiasmo pela luta, aumenta a sua união à grande pátria de todos os trabalhadores, intensifica a sua resolução de apoiar e defender o estado proletário contra todos os seus inimigos.

Esta vitória do socialismo aumenta a confiança do proletariado internacional nas suas próprias forças e na real possibilidade de obter a sua própria vitória, confiança que se torna, ela própria, uma imensa força em ação contra a dominação da burguesia.

É na união das forças de combate do proletariado e das massas trabalhadoras dos países capitalistas que reside a formidável perspectiva de um próximo desmoronamento do capitalismo e a garantia da vitória do socialismo no mundo inteiro.

Nosso congresso lançou os fundamentos de uma vasta mobilização das forças de todos os trabalhadores contra o capitalismo como nunca aconteceu na história da luta da classe operária.

O congresso coloca diante do proletariado internacional, como a mais importante tarefa imediata, a união das suas forças no domínio político e da organização, e a liquidação do isolamento a que o conduz a política socialdemocrata de colaboração de classe com a burguesia: a união dos trabalhadores em volta da classe operária numa vasta Frente Popular contra a ofensiva do capital e da reação do fascismo e a ameaça de guerra em cada país e na arena internacional.

Não inventamos de modo algum esta tarefa. Foi a própria experiência do movimento operário mundial que a pôs em evidência, e, sobretudo, a experiência do proletariado na França. O mérito do Partido Comunista Francês é ter compreendido o que é necessário fazer hoje, não ter escutado os sectários que assediam o Partido e dificultam a realização da frente única de luta contra o fascismo, mas, pelo contrário, ter preparado corajosamente, à maneira bolchevique, mediante um pacto de ação comum com o Partido Socialista, a Frente Popular Antifascista em via de formação.

Por este ato, que responde aos interesses vitais de todos os trabalhadores, os operários franceses, comunistas e socialistas, colocam novamente o movimento operário francês em primeiro lugar, à cabeça da Europa capitalista; demonstram que são dignos descendentes dos partidários da Comuna e os herdeiros dos gloriosos ensinamentos da Comuna de Paris. Nós, comunistas, somos um partido de classe, um partido proletário. Mas estamos prontos, como vanguarda do proletariado, a organizar ações comuns do proletariado e de outras classes trabalhadoras interessadas na luta contra o fascismo. Nós, comunistas, somos um partido revolucionário, mas estamos prontos para ações comuns com os outros partidos em luta contra o fascismo.

Fortalecer as posições do proletariado

O objetivo final para nós, comunistas, não é o mesmo dessas classes e desses partidos, mas estamos prontos ao mesmo tempo para lutar em comum pelas tarefas imediatas cuja realização enfraquece as posições do fascismo e fortifica as posições do proletariado.

Se estivermos prontos para fazer tudo isto é porque queremos, nos países de democracia burguesa, barrar o caminho à reação e à ofensiva do Capital e do fascismo, impedir a supressão das liberdades democráticas burguesas, prevenir o esmagamento terrorista do proletariado, da ala revolucionária do campesinato e dos intelectuais.

 Nosso congresso é o congresso da luta da manutenção da paz contra a ameaça de guerra imperialista.

Esta luta, compreendemo-la hoje de uma nova maneira. Nosso congresso recusa resolutamente a atitude fatalista em relação às guerras; mas é igualmente verdade que as massas trabalhadoras, pelas suas ações de luta, podem impedir a guerra imperialista.

O mundo hoje já não é o que era em 1914.

Atualmente, numa sexta parte do globo, estabeleceu-se um poderoso Estado proletário, que se apóia na força material do socialismo vitorioso. Graças à sua inteligente política stalinista de paz, a União Soviética fez mais uma vez abortar os planos agressivos dos promotores de guerra.

Atualmente, na luta contra a guerra, o proletariado mundial não dispõe apenas da arma que constituía sua ação de massa, como em 1914. Hoje a luta de massa da classe operária internacional contra a guerra conjuga-se com o ascendente do Estado Soviético e com o seu poderoso Exército Vermelho, principal guardião da paz.

Hoje, a classe operária internacional não se encontra, como em 1914, sob a influência exclusiva da socialdemocracia coligada com a burguesia. Hoje, existe um partido comunista mundial: a Internacional Comunista. Hoje, as massas de operários socialdemocráticas viram-se para a União Soviética e para sua política de paz, para a frente única com os comunistas.

Hoje, os povos dos países coloniais e semicoloniais não consideram a causa da libertação como uma causa desesperada. Pelo contrário, passam cada vez mais à luta resoluta contra os opressores imperialistas.  A melhor prova é fornecida pela Revolução Soviética da China e pelas proezas heróicas do Exército Vermelho do povo chinês.

O ódio dos povos contra a guerra torna-se cada vez mais profundo e intenso. A burguesia, que lança os trabalhadores para o abismo das guerras imperialistas, arrisca aí a cabeça. Atualmente, vemos levantar-se pela causa da manutenção da paz não só a classe operária, o campesinato e os outros trabalhadores, mas também as nações oprimidas e os povos fracos, cuja independência está ameaçada por novas guerras. Até mesmo determinados grandes Estados capitalistas, temendo as perdas que poderiam sofrer na seqüência de uma nova partilha do mundo, estão interessados, na presente etapa, em evitar a guerra.

Daí a possibilidade de uma vastíssima frente única da classe operária, de todos os trabalhadores e dos povos inteiros contra a ameaça de guerra imperialista. Apoiando-se na política de paz da União Soviética e no desejo de paz de milhões e milhões de trabalhadores.

Nosso congresso mostrou a perspectiva de desenvolvimento de uma vasta frente antibelicista, não só à vanguarda comunista, mas também a toda classe operária internacional e aos povos de todos os países. Do grau de realização e de atividade dessa frente mundial dependerá a questão de saber se, num dado futuro mais próximo, os promotores das guerras fascistas e imperialistas conseguirão provocar o incêndio de uma nova guerra imperialista, ou se as suas mãos criminosas serão cortadas pelo machado da poderosa frente de luta contra a guerra.

Congresso da unidade da classe operária

Nosso congresso é o congresso da unidade da classe operária, o congresso da luta pela frente única proletária.

Não temos ilusões sobre a possibilidade de ultrapassar facilmente as dificuldades que a ação reacionária dos líderes socialdemocratas oporá à tarefa de realização da frente única proletária. Mas não temos medo dessas dificuldades porque, lutando pela frente única, servimos melhor aos interesses do proletariado, pois a frente única proletária é a via segura para derrubar o fascismo e o regime capitalista, para conjurar as guerras imperialistas.

Levantamos bem alto, neste congresso, a bandeira da unidade sindical. Os comunistas não defendem a todo custo a existência independente dos sindicatos vermelhos. Mas os comunistas querem unidade sindical com base na luta de classes e na supressão, de uma vez por todas, do estado de coisas em que os partidários mais conseqüentes e mais resolutos da unidade sindical e da luta de classe são expulsos dos sindicatos da Internacional de Amsterdã.

Sabemos que nem todos os militantes dos sindicatos que fazem parte da Internacional sindical vermelha compreenderam e assimilaram ainda esta linha do congresso. Existem ainda sobrevivências de presunção sectária, que nos será necessário fazer desaparecer dos militantes para aplicar firmemente a linha do congresso. Mas, essa linha, realizá-la-emos, custe o que custar, e descobriremos uma linguagem comum com os nossos irmãos de classe, os nossos camaradas de luta, os operários que aderem hoje à Federação Sindical de Amsterdã.

Neste congresso, adotamos a orientação da criação do partido único de massa da classe operária, da abolição da cisão política do proletariado, causada pela política social-democrata de abolição de classe. A unidade política da classe operária não é, para nós, uma manobra, mas o problema do futuro de todo o movimento operário. Se encontrassem entre nós umas pessoas que encarassem a formação da unidade política da classe operária como uma manobra, lutaríamos contra elas como se luta contra pessoas que prejudicam a classe operária. É precisamente porque encaramos esta questão com uma gravidade e uma sinceridade profundas, ditadas pelos interesses do proletariado, que pomos determinadas condições de princípio na base de tal unidade. Essas condições de princípio não foram inventadas por nós; são os frutos dos sofrimentos do proletariado no decorrer da sua luta; respondem igualmente à vontade de milhões de operários socialdemocratas, vontade imanente da lição das derrotas sofridas. Essas contradições de princípio foram verificadas pela experiência do conjunto do movimento operário revolucionário.

E, pelo fato de o nosso congresso se ter desenrolado sob o signo da unidade proletária, não foi apenas o congresso da vanguarda comunista; foi o congresso de toda a classe operária internacional que aspira ardentemente à unidade da luta sindical e política.

Embora não tenham assistido ao nosso congresso delegados dos operários socialdemocratas; embora não tenha havido aqui delegados sem partido; embora os operários alistados à força nas organizações fascistas não tenham sido representados, o congresso não falou apenas para os comunistas, mas também para esses milhões de operários; expressou os pensamentos e os sentimentos da imensa maioria da classe operária. E se as organizações operárias das diversas tendências procedessem ao exame verdadeiramente livre das nossas decisões em face dos proletários do mundo inteiro, os operários defenderiam, não duvidamos, as resoluções que vocês votaram com uma tão grande unanimidade.

Além disso, essa circunstância obriga-nos, tanto mais a nós, comunistas, a fazer das decisões de nosso congresso o bem de toda a classe operária. Não é suficiente votar a favor dessas resoluções. Não é suficiente popularizá-las entre os membros dos partidos comunistas. Queremos que os operários dos partidos da Segunda Internacional e da Federação Internacional de Amsterdã, tal como os operários aderentes às organizações de outras tendências políticas, estudem estas resoluções conosco; tragam suas propostas e suas emendas práticas; que meditem conosco sobre a melhor maneira de aplicá-las na vida; que, lado a lado conosco, as realizem de fato.

Nosso congresso foi o congresso da nova orientação tática da Internacional Comunista.

Mantendo-se firmemente na posição sólida do marxismo-leninismo confirmada por toda a experiência do movimento operário internacional e, antes de tudo, pela vitória da Grande Revolução de Outubro, nosso congresso reviu, no mesmo espírito e com a ajuda do método do marxismo-leninismo, a tática da Internacional Comunista em função da modificada situação mundial.

É a nós operários e não aos parasitas sociais e aos ociosos, que pertence o mundo, o mundo construído pelas mãos operárias.

O interesse da causa do comunismo exige não só uma luta abstrata, mas também uma luta concreta contra os desvios, uma resposta dada a tempo e de forma decisiva às tendências nocivas que abrem caminho, a correção a tempo dos erros cometidos. Substituir a necessária luta concreta contra os desvios por uma espécie de desporto, fazer a caça aos desvios aos desviacionistas imaginários, é entregar-se a um sobrelanço nocivo e inadmissível. Na vida prática de nossos partidos, é preciso ajudar de todas as maneiras o desenvolvimento da iniciativa na colocação de novos problemas, favorecer o exame aprofundado das questões relativas à atividade do partido e não qualificar apressadamente de desvio a menor dúvida ou a menor observação crítica feita por um membro do partido a respeito das tarefas práticas do movimento. É preciso agir de modo a que o comunista que cometeu um erro possa corrigi-lo na prática e censurar severamente aqueles que persistirem nos seus erros e que desorganizam o partido.

Lutando pela unidade da classe operária, lutaremos ao mesmo tempo com uma energia e uma intransigência cada vez maiores pela unidade interna dos nossos partidos. Não pode haver lugar, nas nossas fileiras, para frações, para tentativas de fração. Quem quer que procure violar a unidade de ferro das nossas fileiras por uma ação fracionista aprenderá por si próprio o que significa a disciplina bolchevique que sempre nos ensinaram Lênin e Stálin. O Partido acima de tudo! Manter a unidade bolchevique do partido como a pupila dos olhos, tal a primeira lei suprema do bolchevismo!

Nosso congresso é o congresso da autocrítica bolchevique e do reforço da direção da Internacional Comunista e de suas seções.

Não temos receio de assinalar abertamente os erros, as fraquezas e os defeitos que se manifestem nas nossas fileiras, porque somos um partido revolucionário que sabe que só pode desenvolver-se, crescer e cumprir as suas tarefas na condição de se desembaraçar de tudo o que dificulta o seu desenvolvimento como partido revolucionário.

Na sua resolução sobre o relatório de atividade do Comitê Executivo, o Congresso decidiu concentrar, para o nosso movimento, a direção nas próprias seções. Daí a obrigação de reforçar por todos os esforços o trabalho de formação e educação dos quadros, tal como o trabalho de consolidação dos partidos comunistas com a ajuda de verdadeiros dirigentes bolcheviques, a fim de que os partidos, fortalecidos pelas decisões dos congressos da Internacional Comunista e das Assembléias Plenárias do seu Comitê Executivo, possam, no momento das bruscas viragens dos acontecimentos, encontrar com rapidez e por si próprios uma solução justa para as tarefas políticas e táticas do movimento comunista. Ao eleger os organismos dirigentes, o congresso esforçou-se por criar uma direção da Internacional Comunista, composta por pessoas que tornaram suas, não por sentimento de disciplina mas como conseqüência de uma profunda convicção, as novas diretivas e decisões do congresso, pessoas prontas e aptas a transformá-las em atos, com firmeza.

É igualmente necessário assegurar em cada país a justa aplicação das decisões adotadas pelo congresso; isso dependerá, em primeiro lugar, da comprovação, da repartição e da orientação adequadas dos quadros. Sabemos que esta tarefa não é fácil. É preciso não perder de vista que uma parte de nossos quadros foi formada pela experiência política de massa bolchevique, mas principalmente na base da propaganda geral. Devemos fazer de tudo para ajudar  nossos quadros a refazerem-se, a reeducarem-se no novo espírito, no espírito das decisões do congresso. Mas, onde se concluir que os odres velhos não valem nada para um vinho novo, será preciso tirar as conclusões que se impõem: não deitar ou deixar estragar o vinho nos odres velhos, mas substituir os odres velhos por novos.

Eliminamos, de propósito, dos relatórios tal como das resoluções do congresso as  frases sonoras sobre as perspectivas revolucionárias. Mas não é tivéssemos razões para apreciar, de um amaneira menos otimistas que antes, a maneira de andar do desenvolvimento revolucionário, é porque queremos desembaraçar os nossos partidos de qualquer tendência para substituir a atividade bolchevique por frases revolucionárias ou discussões estéreis sobre a apreciação da perspectiva. Combatendo toda a orientação para a espontaneidade, vemos e fazemos entrar na linha de conta o processo de desenvolvimento da revolução, não como observadores, mas  como participantes ativos deste processo. Como partido de ação revolucionária, realizando no interesse da revolução as tarefas colocadas em cada etapa do movimento, tarefas que correspondem ás condições de cada etapa, levando sensatamente, em linha de conta o nível político das grandes massas trabalhadoras, aceleramos o melhor que podemos a formação das condições subjetivas necessárias para a vitória da revolução proletária.

“É preciso aceitar as coisas como elas são, dizia Marx, quer dizer, defender os interesses revolucionários de uma que corresponda às nossas condições”.

Está aí o essencial! Nunca devemos esquecer!

É necessário levar as massas as decisões do congresso mundial, explicá-las às massas, aplicá-las como diretivas para ação das massas, numa palavra torna-las carne e sangue de milhões da trabalhadores!

É necessário reforçar em todo o lado, o máximo possível, a iniciativa dos operários, lá onde se encontram, a iniciativa das organizações de base dos partidos comunistas e do movimento operário, na aplicação destas decisões.

Ao partirem daqui, os representantes do proletariado revolucionário, devem levar para os seus países a firme convicção de que nós, comunistas, somos responsáveis pelo futuro da classe operária, do movimento operário, do destino de cada povo, do destino de toda humanidade trabalhadora.

É a nós operários e não aos parasitas sociais e aos ociosos, que pertence o mundo, o mundo construído pelas mãos operárias. Os atuais governantes do mundo capitalista são homens provisórios.

O proletariado é o verdadeiro senhor do mundo, o senhor do futuro. E deve tomar posse dos seus direitos históricos, tomar em mãos as rédeas do poder em cada país, no mundo inteiro.

Somos discípulos de Marx e de Engels, de Lênin e de Stálin. Devemos ser dignos dos nossos grandes mestres.

Viva a unidade da classe operária!

Viva o VII Congresso Mundial Internacional Comunista!


pcr
Inclusão 17/07/2012