(1856-1918): Em inglês e francês, grafam Plekhanov e, em espanhol, Plejanov. Em português, deve ser grafado Plerrânov, para corresponder à pronuncia russa. Um dos mais notáveis marxistas, foi também ativo e corajoso divulgador do marxismo na Rússia e uma das personalidades mais extraordinárias, mais influentes, da Segunda Internacional.
Ainda jovem estudante, Plerrânov juntou-se ao movimento revolucionário dos narodniki (populistas), mas, por volta de 1880, no exílio, rompeu com a sua ideologia e fundou, em 1883, ainda exilado, juntamente com L. Axelrod, Leo Deutsch e Vera Zassúlitch, a primeira organização social-democrata russa, o grupo Emancipação do Trabalho. Esse “grupo” traduziu para o russo uma série de trabalhos de Marx e Engels, imprimiram-nos no estrangeiro e os difundiram secretamente na Rússia. Plerrânov não foi somente um excelente divulgador do marxismo, mas também um talentoso discípulo de Marx e Engels, que defendeu o desenvolvimento de sua teoria de maneira brilhante e original.
O mérito de Plerrânov é particularmente grande na sua luta contra o idealismo, contra as numerosas tentativas de unir o marxismo ao kantismo. Quando, mais ou menos em 1890, o revisionismo começava, sob a direção de Eduard Bernstein, a tomar vulto e se tratava de defender os fundamentos do marxismo contra todos os críticos que pretendiam “completar" o marxismo, Plerrânov foi dos mais brilhantes polemistas a serviço do materialismo dialético. Na luta contra o oportunismo internacional, bem como contra as duas variedades russas, o “economismo" e o “struvismo", Plerrânov logo se colocou na primeira fila. Foi um dos raros, no movimento socialista mundial, que se ocuparam sistematicamente da filosofia do marxismo, e seus trabalhos sobre o assunto até hoje são de valor incontestável, os “melhores de toda a literatura internacional do marxismo" (Lénin). Não foi gratuitamente que Lénin recomendou a leitura das obras filosóficas de Plerrânov como “manual obrigatório do comunismo". “Em vinte anos (de 1883-1903), produziu um grande numero de excelentes trabalhos, especialmente contra os oportunistas, os machistas e populistas" (Lénin).
Apesar disso, nos trabalhos filosóficos de Plerrânov há grandes defeitos que Lénin criticou numa série de obras suas. Cometeu, por exemplo, um grande erro em relação à teoria dos hieroglifos. Separava da dialética a teoria do conhecimento, não compreendendo que a dialética é, precisamente, a teoria do conhecimento do marxismo. Fazia, ininteligivelmente, certa distinção entre o conceito materialista e o idealista da experiencia, proporcionando uma válvula de escape ao idealismo, e tolerando alguns outros graves erros filosóficos.
Até o segundo congresso do Partido Social Democrático da Rússia e mesmo nesse congresso, Plerrânov trabalhou estreitamente com Lénin, o líder da jovem geração marxista. Ambos pertenciam, no inicio do seculo, à redação dos órgãos social-democratas Iskra (A Fagulha) e Zariá (A Aurora), que tinham por objetivo combater a corrente “economista" e criar um partido revolucionário centralizado. Depois da cisão nesse congresso, Plerrânov, após alguma hesitação, juntou-se aos mencheviques. A partir desse momento, os caminhos de Lénin e Plerrânov se separaram. E a separação mais se acentuou no desenrolar da revolução de 1905, culminando com a atitude critica de Plerrânov, em face do fracasso da revolução. Lénin, criticando-o acerbamente por esse motivo, escreveu: “Plerrânov, que, depois de 1905, escrevia vergonhosamente: “Não se devia pegar em armas", teve a modéstia de se comparar com Marx. Segundo ele, também Marx teria freado a revolução, em 1870. Sim, Marx também a freou. Vide, entretanto, que abismo nos abre essa comparação feita por Plerrânov, entre Plerrânov e Marx. Plerrânov, em novembro de 1905, (Nota 1: Lénin faz alusão ao artigo de G. Plerrânov: Nossa situação publicado em novembro de 1905. “Não é suficiente que se procurem revólveres ou punhais — escrevia Plerrânov — é preciso também que se aprenda a servir-se deles... É indispensável que completemos, o mais depressa possível, esta lacuna na nossa educação revolucionária. A arte de se servir das armas deve ser, no nosso meio, objeto de legitimo orgulho para os que já a possuem e de inveja para os que ainda não a têm".) um mês antes do clímax da primeira onda revolucionária russa, longe de prevenir com resolução o proletariado, falava-lhe, ao contrário, nitidamente, da necessidade de aprender a servir-se das armas e de se armar. E quando, um mês depois, a batalha se desenvolveu, Plerrânov, sem tentar de modo algum analisar a importância, o caráter da marcha geral dos acontecimentos, o elo com as lutas precedentes, apressou-se, desempenhando o seu papel de intelectual arrependido, a exclamar: “Não se devia pegar em armas". Marx, em setembro de 1870, seis meses antes da Comuna, advertiu diretamente os operários franceses. A insurreição seria uma loucura, afirmou em sua famosa mensagem da Internacional (Nota 2: “Toda a tentativa de derrubar, na crise atual, o novo governo, quando o inimigo chega quase às portas de Paris, seria uma loucura desesperada. Os operários franceses devem cumprir os seus deveres de cidadãos, mas. ao mesmo tempo, não se devem deixar penetrar pelas reminiscencias nacionais de 1792. “Não devem recapitular o passado mas, sim, edificar o futuro”. (Mensagem do Conselho Geral da Associação Internacional dos Trabalhadores, 9 de setembro de 1870) Ver: Karl Marx, La Guerre Civile en France, pags. 48-49 — Bureau d’Editions — Paris, 1933.). Denunciou com antecedência as ilusões nacionalistas com relação a um movimento no gênero do de 1792. Não foi depois do golpe, mas muitos meses antes, que ele soube dizer: “Não se deve pegar em armas”. E como se conduziu ele quando esta iniciativa, desesperada, segundo a sua própria declaração de setembro, começou a realizar-se em março de 1871? Aproveitou-se Marx por acaso, da ocasião (como se aproveitou Plerrânov dos acontecimentos de dezembro) somente para “humilhar” os seus adversários proudhonianos e blanquistas, que dirigiam a Comuna? Acaso pôs-se ele a resmungar como uma velha dona de pensão: “Eu bem que tinha dito, eu bem que tinha prevenido, eis aonde levam o vosso romantismo, as vossas fantasias revolucionadas”? Acaso deu ele aos comunardos, como Plerrânov aos combatentes de dezembro, as lições de um filisteu satisfeito de si mesmo: “Não se devia pegar em armas”? Não, em doze de abril de 1871, Marx escreve a Kugelmann uma carta cheia de entusiasmo, uma carta que gostaríamos de apregoar para todo social-democrata russo, para todo operário russo, que caiba ler. Marx, que dizia, em setembro de 1870, que a insurreição seria uma loucura, quando assistiu, em abril de 1871, um movimento popular de massa, acompanhou-o com grande atenção, como um homem que participa em grandes acontecimentos, que marcam um progresso no movimento revolucionário histórico mundial. Esta tentativa, diz ele, tem por objetivo destruir a maquina burocrática e militar e não somente o de fazê-la passar para outras mãos. E ele ergue um verdadeiro “hosanna”, aos heroicos operários, dirigidos por proudhonianos e blanquistas."... de quanta vivacidade, escreve ele, de quanta iniciativa histórica, de quanta capacidade de sacrifícios, são dotados estes parisienses... “A historia não conhece ainda um exemplo tão grande!” (Nota 3: Pag. 162, edição francesa. Editions Sociales Internationales.) Marx considera, acima de tudo, a iniciativa histórica das massas Oh! se os nossos social-democratas russos aprendessem com Marx a julgar a iniciativa histórica dos operários e dos camponeses russos, em outubro e em dezembro de 1905! Marx, o mais profundo dos pensadores, ele, que previu com 6 meses de antecedência um desastre, inclina-se frente à iniciativa histórica das massas Do outro lado, o que vemos é esta declaração sem vida, sem alma, esta declaração pretensiosa: “não se devia pegar em armas!” O que temos diante de nós não é um contraste entre o céu e a terra? (Lénin — Marx, Engels, Marxismo, pag. 241-2 — Edit. Calvino Ltda. — 1945). Somente de 1908 a 1912 é que Plerrânov se aproxima de novo momentaneamente dos bolcheviques, desenvolvendo com Lénin a campanha contra o empiro-criticismo e os “liquidacionistas".
Durante a guerra imperialista, tomou posição extremamente socialpatriótica, mantida até depois da revolução de março de 1917. Até sua morte, foi adversário do Poder Soviético, mas, depois da revolução de outubro, sempre se recusou a intervir abertamente contra os bolcheviques e o regime soviético.
Os principais trabalhos de Plerrânov são: O socialismo e a luta politica (1883); Nossas discrepâncias (1885); Contribuição ao problema do desenvolvimento da concepção monista da historia (1895) ; Contribuição ao problema do papel da personalidade na historia (1898) ; Ensaios de historia do marxismo (1896) ; Sobre a concepção materialista da historia (1897); Contribuições à historia do materialismo, (1896); N. G. Tchernitchevski, um estudo de historia literária, (1894) ; As questões fundamentais do marxismo, (1913); Anarquismo e socialismo, (1894). Cumpre-nos indicar, ainda, que escreveu inúmeros trabalhos na Neue Zeit. Suas Obras Completas foram editadas por D. Riazanov, em 26 volumes (Moscou, 1923-1925).