Cinismo Genocida
(segunda parte e final)

Fidel Castro

13 de Novembro de 2011


Fonte: Cuba Debate - Contra o Terrorismo Midiático.
Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo.
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Para dar uma idéia do potencial da URSS em seus esforços por manter a paridade com os Estados Unidos da América nesta esfera, basta assinalar que quando ocorreu sua desintegração em 1991, na Bielo-Rússia tinham 81 cabeças nucleares, no Cazaquistão 1400 e na Ucrânia aproximadamente 5000, as quais passaram à Federação Russa, único Estado capaz de sustentar seu imenso custo, para manter a independência.

Em virtude dos tratados START e SORT, sobre redução de armas ofensivas subscritos entre as duas grandes potências nucleares, o número delas ficou reduzido a vários milhares.

Em 2010 foi assinado um novo Tratado desse tipo entre ambas as potências.

Desde então os maiores esforços se consagraram ao aprimoramento dos meios de direção, alcance, precisão e engano da defesa adversária. Imensas cifras são investidas na esfera militar.

Muito poucos no mundo, salvo contados pensadores e cientistas, percebem e advertem que bastaria o estalido de 100 armas nucleares estratégicas para pôr término à existência humana no planeta. A maioria esmagadora teria um fim tão inexorável como horrível a conseqüência do Inverno Nuclear que seria gerado.

O número de países que possuem armas nucleares neste momento se eleva a oito, cinco deles são membros do Conselho de Segurança: os Estados Unidos da América, a Rússia, o Reino Unido, a França, e a China. A Índia e o Paquistão adquiriram o caráter de países possuidores de armas nucleares em 1974 e 1998 respectivamente. Os sete mencionados reconhecem esse caráter.

O Israel, no entanto, nunca tem reconhecido seu caráter de país nuclear. Contudo, calcula-se que possui entre 200 e 500 armas desse tipo, sem se dar por aludido quando o mundo fica inquieto pelos gravíssimos problemas que traria o estalido de uma guerra na região onde é produzida grande parte da energia que movimenta a indústria e a agricultura do planeta.

Graças à posse das armas de destruição em massa é que o Israel tem podido desempenhar seu papel como instrumento do imperialismo e do colonialismo nessa região do Oriente Médio.

Não se trata do direito legítimo do povo israelita a viver e trabalhar em paz e liberdade, trata-se precisamente do direito dos demais povos da região à liberdade e à paz.

Enquanto o Israel criava aceleradamente um arsenal nuclear, atacou e destruiu, em 1981, o reator nuclear iraquiano em Osirak. Fez exatamente a mesma coisa com o reator sírio em Dayr az-Zawr no ano 2007, um fato do qual estranhamente a opinião mundial não foi informada. As Nações Unidas e a OIEA conheciam perfeitamente o acontecido. Tais ações contavam com o apoio dos Estados Unidos da América e da Aliança Atlântica.

Nada tem de esquisito que as mais altas autoridades do Israel proclamem agora sua intenção de fazer a mesma coisa com o Irão. Esse país, imensamente rico em petróleo e gás, fora vítima das conspirações da Grã-Bretanha e dos Estados Unidos da América, cujas empresas petroleiras pilhavam seus recursos. Suas forças armadas foram equipadas com o armamento mais moderno da indústria bélica dos Estados Unidos da América.

O Xá Reza Pahlevi também aspirava a dotar-se de armas nucleares. Ninguém atacava seus centros de investigação. A guerra do Israel era contra os muçulmanos árabes. Os do Irão não porque se tinham convertido em um baluarte da OTAN que apontava ao coração da URSS.

As massas dessa nação, profundamente religiosas, sob a direção do Ayatollah Khomeini, desafiando o poder daquelas armas, desalojaram o Xá do trono e desarmaram um dos exércitos mais bem equipados do mundo sem disparar um tiro.

Por sua capacidade de luta, o número de habitantes e a extensão do país, uma agressão ao Irão, não guarda similitude com as aventuras bélicas do Israel no Iraque e na Síria. Inevitavelmente seria desatada uma guerra sanguenta. Sobre isso não deve haver dúvida alguma.

O Israel dispõe de um elevado número de armas nucleares e a capacidade de fazê-las chegar a qualquer ponto da Europa, Ásia, África e Oceania. Pergunto-me: A OIEA tem direito moral para sancionar e asfixiar um país se tenta fazer em sua própria defesa o que o Israel fez no coração do Oriente Médio?

Acho realmente que nenhum país do mundo deve possuir armas nucleares, e que essa energia deve ser colocada ao serviço da espécie humana. Sem esse espírito de cooperação a humanidade marcha inexoravelmente rumo à sua própria destruição. Entre os próprios cidadãos do Israel, um povo sem dúvida laborioso e inteligente, muitos não concordarão com essa disparatada e absurda política que os leva também ao desastre total.

O quê se fala hoje no mundo sobre a situação econômica?

As agências internacionais de notícias informam que

“o presidente dos Estados Unidos da América, Barack Obama, e seu par chinês, Hu Jintao, apresentaram agendas comerciais divergentes […] salientando as crescentes tensões entre as duas maiores economias do mundo.”

“Obama usou seu discurso ―afirma Reuters― para ameaçar com sanções econômicas a China a menos que comece a ‘jogar segundo as regras’…”. Tais regras são sem dúvida, os interesses dos Estados Unidos da América.

“Obama ―afirma a agência― está engajado na batalha pela reeleição no próximo ano e seus opositores republicanos o acusam de não ser o suficientemente severo com a China.”

As notícias publicadas na quinta e sexta-feira refletiam muito melhor as realidades que estamos vivendo.

AP, a agência dos Estados Unidos da América mais bem informada comunicou:

“O líder supremo iraniano advirtiu os Estados Unidos da América e Israel que a resposta do Irão será enérgica se seus arquiinimigos lançarem um ataque militar contra o Irão…”

A agência noticiosa alemã informou que a China tinha declarado que, como sempre, acreditava que o diálogo e a cooperação era a única forma de aproximação ativa para a resolução do problema.

A Rússia se opôs igualmente às medidas punitivas contra o Irão.

A Alemanha rejeitou a opção militar mas se mostrou partidária de fortes sanções contra o Irão.

O Reino Unido e a França advogam por fortes e enérgicas sanções.

A Federação Russa assegurou que fará tudo o possível por evitar uma operação militar contra o Irão e criticou o relatório da OIEA.

“‘Uma operação militar contra o Irão pode acarretar conseqüências muitos graves e a Rússia terá que pôr tudo de sua parte para aplacar os ânimos’, afirmou Konstantín Kosachov, chefe do comitê de Exteriores da Duma” e criticou segundo EFE “as afirmações por parte dos Estados Unidos da América, da França e do Israel do possível uso da força e que o lançamento de uma operação militar contra o Irão está cada vez mais próximo”.

O editor da revista estadunidense EIR, Edward Spannaus declarou que o ataque contra o Irão terminará na III Guerra Mundial.

O próprio Secretário de Defesa dos Estados Unidos da América, depois de viajar ao Israel há uns dias, reconheceu que não pôde obter do governo israelita um compromisso de consultar previamente com os Estados Unidos da América um ataque contra o Irão. A esses extremos se tem chegado.

O Subsecretário de Assuntos Políticos e Militares dos Estados Unidos da América exteriorizou cruamente os obscuros propósitos do império:

“O Israel e os Estados Unidos da América se comprometerão nas manobras conjuntas ‘mais importantes’ e ‘de maior transcendência’ da história dos aliados, tem declarado no sábado Anrew Shapiro, subsecretário de Assuntos Políticos e Militares dos Estados Unidos da América”.

“…no […] Instituto Washington para a Política do Oriente Próximo, Shapiro anunciou que participarão nas manobras mais de 5.000 efetivos das forças armadas estadunidenses e israelitas e simulará a defesa de mísseis balísticos do Israel”.

“‘A tecnologia israelita está resultando essencial para melhorar nossa segurança nacional e proteger nossas tropas’, acrescentou…”

“Shapiro salientou o apoio do Governo de Obama ao Israel apesar dos comentários da sexta-feira por parte de um alto funcionário estadunidense que expressou sua preocupação de que o Israel não avisasse os Estados Unidos da América antes de levar a cabo uma ação militar contra as instalações nucleares do Irão.”

“Nossa relação com a segurança do Israel é mais ampla, mais profunda e mais intensa que nunca antes.”

“‘Apoiamos o Israel porque é em nosso interesse nacional fazê-lo’ […] É a pura força militar do Israel o que dissuade os possíveis agressores e ajuda a fomentar a paz e a estabilidade.”

Hoje 13 de novembro a embaixadora norte-americana na ONU, Susan Rice disse à cadeia BBC que a possibilidade de uma intervenção militar no Irão não só não está fora da mesa, senão que é uma opção real que está crescendo por causa do comportamento iraniano.

Insistiu em que a administração norte-americana está chegando à conclusão de que será necessário acabar com o atual regime do Irão para evitar que este crie um arsenal nuclear.

“Sou uma convencida de que a mudança de regime vai ser nossa única opção aqui”, reconheceu Rice.

Não é preciso mais uma palavra.


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Inclusão 30/08/2016