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Transcrição e HTML: Fernando Araújo.
A todos os responsáveis, militantes e combatentes de todas as frentes de luta do nosso grande Partido
No começo dum novo ano de luta pela libertação total do nosso povo na Guiné e em Cabo Verde, dirijo-vos mais esta mensagem de saudação, em nome da direcção nacional do nosso Partido e em meu nome pessoal. Por intermédio da nossa Estação Emissora — a Radio Libertação — endereço aos glorioso combatentes e militantes do nosso grande Partido, a todos os patriotas da nossa terra, ao nosso povo da Guiné e Cabo Verde, os votos fraternais dum ANO NOVO pleno de vitórias morais, políticas e militares contra os criminosas colonialistas portugueses.
Nesta ocasião tradicional de festa e de esperança, em que temos de enfrentar vitoriosamente a guerra colonial que nos é imposta pelo governo português - o qual é hoje o inimigo nº. 1 dos povos africanos - tenho o prazer de poder reafirmar-vos que nenhuma força no mundo é nem será capaz de parar a marcha do nosso povo para a libertação, a independência nacional, a paz e o progresso.
Na verdade, o nosso Partido, mais estruturado e melhor organizado, é hoje mais forte do que nunca, sendo por todos unanimemente considerado como um dos primeiras movimentos de libertação no mundo. O nosso povo, tanto na Guiné como em Cabo Verde, tem reforçado cada dia mais a sua consciência política, tem sabido preservar e consolidar a nossa unidade nacional e não se tem poupado a sacrifícios para cumprir as palavras de ordem do nosso Partido, ao serviço da nossa luta. As nossas Forças Armadas, que temos estado a reorganizar e já reorganizamos quase totalmente para a nova fase da luta que temos diante de nós, são hoje mais experientes, dispõem de armas mais poderosas, e têm dado provas de coragem, de abnegação, de espírito de sacrifício e de iniciativa, infligindo ao inimigo cada vez maiores perdas. Posso garantir-vos que o nosso Partido, cujo prestígio é cada vez maior em África e no mundo, dispõe, tanto em quantidade como em qualidade, de todas as armas e munições necessárias para desenvolver e nossa luta armada até à vitória final. Dado que cada dia são em maior número os jovens e adultos que desejam entrar nas nossas fileiras, para se baterem contra os criminosos colonialistas portugueses, as nossas Forças Armadas têm a certeza de poder continuar a dar ao inimigo um combate sem tréguas, em todos os cantos da nossa terra, até expulsá-lo definitivamente da nossa pátria africana.
Com base nas grandes vitórias alcançadas em 1967 pelo nosso Partido e pelos nossos combatentes — pelo nosso povo, portanto, entramos confiantes em 1968, na certeza de que temos as condições morais, políticas e materiais necessárias para infligir ao inimigo cada vez mais pesadas derrotas.
Camaradas e irmãos,
1967 foi um ano decisivo e ficará na história da nossa luta como o ano em que os criminosos colonialistas portugueses tiveram a certeza de que estão irremediavelmente perdidos na nossa terra, e consolidámos a nossa certeza na vitória.
Na Guiné, os criminosos colonialistas portugueses usaram desesperadamente os aviões a jacto, os helicópteros modernos, as bombas de fragmentação, de napalm e de fósforo que lhes dão os seus aliados. É certo que destruíram muitas tabancas e mataram ou feriram com os seus bombardeamentos, alguns elementos de população, principalmente velhos e crianças. Mas o que conseguiram os criminosos portugueses com os seus actos de desespero e de barbaridade? Não conseguiram parar a nossa luta. Conseguiram, isso sim, tornar ainda maior o ódio do nosso povo à dominação colonial portuguesa, tornar mais aguerridos os nossos combatentes e baixar ainda mais o moral das tropas colonialistas.
Em Cabo Verde, alarmados com o desenvolvimento do nacionalismo e os sucessos políticos do nosso Partido, reforçaram as suas tropas, aumentaram a repressão policial e armada, prenderam vários elementos da população, dos quais alguns são torturados. Que conseguiram os criminosos colonialistas portugueses com as medidas policiais tomadas em Cabo Verde? Conseguiram criar mais interesse pela luta em todos as ilhas, virar contra eles todas as famílias dos que foram presos, fazer crescer o ódio secular que a população cabo-verdiana nutre pela presença colonial portuguesa, acelerando assim a satisfação das condições necessárias à passagem da nossa luta a uma nova fase nas ilhas de Cabo Verde.
Nos planos africano e internacional, os criminosos colonialistas portugueses também sofreram derrotas importantes durante 1967. A O.U.A. reafirmou unanimemente a condenação do colonialismo português e a necessidade urgente de sua liquidação total em África. Para isso, comprometeu-se a reforçar a ajuda aos movimentos de libertação, em particular ao nosso Partido, o que tem estado a fazer.
A O. U. A., por seu lado, tendo reafirmado por esmagadora maioria a sua condenação do colonialismo português, chamou todos os Estados membros a darem uma ajuda concreto aos movimentos de libertação que, como o nosso Partido, lutam de armas nas mãos contra o colonialismo. Isso é uma decisão muito importante, porque nos permite, de agora em diante, tomar novas iniciativas sobre o plano político internacional. E nós vamos tomar essas iniciativas.
Camaradas e irmãos,
Nesta entrada dum novo Ano, que para nós será o sexto da nossa gloriosa luta armada de libertação nacional, o nosso povo e todos os patriotas da nossa terra, tendo à frente os corajosos combatentes e militantes do nosso grande Partido, estão confiantes e satisfeitos do dever cumprido, ao serviço da liberdade, da paz e do progresso da nossa terra. Os sucessos obtidos durante este ano de luta não devem no entanto fazer-nos esquecer as dificuldades que ainda temos de enfrentar, os sacrifícios que temos de consentir tanto no trabalho como na luta quotidiana, para realizar os sagrados objectivos do programa do nosso Partido: libertar a nossa terra e construir a paz, o progresso e a felicidade do nosso povo na Guiné e em Cabo Verde. Devemos, por isso, estar preparados para enfrentar todos os actos criminosos da parte das tropas colonialistas que já usaram o napalm e o fósforo, proibidos pelas leis internacionais, e podem, no seu desespero, usar novos meios para tentar o genocídio das nossas populações. Devemos melhorar cada dia a nossa acção, corrigir os nossos erros, eliminar do nosso meio todos os defeitos, todas as ambições e oportunismos, e reforçar cada dia mais a unidade indestrutível do nosso Partido e do nosso povo, força principal da nossa luta. Devemos desenvolver a nossa acção no plano africano e internacional, mas intensificar cada dia a nossa luta armada e o trabalho político na nossa terra, porque nós e só nós somos capazes de libertar a nossa pátria da odiosa dominação colonial portuguesa. Devemos continuar a formar cada vez mais quadros, para garantir a continuação da nossa luta e a construção do progresso da nosso terra. Vamos fazer isso tudo - e vamos fazê-lo bem, para que 1968 seja um novo ano de vitórias decisivas na nossa luta.
Os criminosos colonialistas portuguesas, por seu lado, estão desesperados e desorientados nesta quadra de esperanças para toda a humanidade. E têm razões para isso.
Com três guerras coloniais às costas; isolados moralmente e politicamente; aliados fiéis do racistas como os da África do Sul e da Rodésia; com um povo cada vez mais miserável e, por isso mesmo, mais revoltado com as cheias do Tojo, a carestia da vida, a falta de alimentos, um fascismo velho de 40 anos, e as perdas cada vez maiores nas guerras coloniais, nomeadamente na nossa terra; com tudo isso e, ainda, com uma mentalidade política da idade média e a consciência de que estão a praticar diariamente os piores crimes contra a humanidade - os criminosos colonialistas portugueses têm razão para estar desesperados e desorientados. Para saber isso, basta ler os jornais portugueses, ouvir a Rádio portuguesa ou ler os discursos dos responsáveis do Governo colonial-fascista de Portugal, e apreciar as suas mentiras, contradições e confusões de palavra e de espírito. Basta isso para compreender que, na entrada deste novo ano, a única esperança dos criminosas colonialistas portugueses é esta palavra vazia e mágica com que eles contam hoje para enganar o seu povo: aguentar. Mas aguentar até quando? Até comprometer irremediavelmente o futuro de Portugal como nação independente, votando o povo português à mais vil das condições económicas e sociais que a História registou.
Este é, camaradas e irmãos, o futuro que o Governo colonial—fascista de Portugal está preparando para o seu povo, ao teimar na sua política criminosa de querer perpetuar em África a sua odiosa dominação. Lamentamos a situação do povo português, e a dos jovens portugueses que morrem ingloriamente na nossa terra mas compete aos portugueses, aos verdadeiros patriotas de Portugal, civis ou militares, tomar as iniciativas necessárias para pôr termo à loucura criminosa do seu Governo, que despreza ostensivamente os verdadeiros interesses do povo português.
Nós, patriotas da Guiné e Cabo Verde, homens e mulheres conscientes desta África nova que luta pela sua libertação total do jugo estrangeiro, pegámos em armas e estamos decididos a bater-nos corajosamente até à vitória final, até à liquidação total do colonialismo português na nossa pátria!
Avante, pois, camaradas e irmãos, na luta vitoriosa pela libertação do nosso povo, sob a bandeira gloriosa do nosso Partido!
Reforcemos o nosso trabalho político, a consciência nacional, a unidade e o patriotismo do nosso povo heróico!
Organizemos cada vez melhor a vida nas regiões libertadas, consolidemos os órgãos do nosso Estado, desenvolvamos cada dia a nossa actividade na produção, na instrução e cultura, na assistência sanitária e em todos os planos da nossa vida !
Intensifiquemos e desenvolvamos a nova fase da luta em Cabo Verde, para fazê-la passar a um estádio superior!
Ao ataque, corajosos combatentes das nossas Forças Armadas, para obter novas e mais importantes vitórias contra as tropas colonialistas em 1968, infligindo-lhes cada vez maiores e mais pesadas baixas!
Viva o P.A.I.G.C., força, luz e guia do nosso povo!
Abaixo a colonialismo português!
2 de Janeiro de 1968
Do vosso camarada,
Amílcar Cabral
Inclusão | 13/09/2019 |