Reação e Repressão: Carta do Brasil

Otávio Brandão

9 de Abril de 1924


Primeira Edição: "A Correspondência Internacional", Nº. 21 - Ano IV - 9 de abril de 1924. Reprodução de Carta de Otávio Brandão à Correspondencia Internacional sobre repressão sofrida pelo PC do Brasil nos seus primeiros anos de vida. Brandão relata perseguições, prisões e a luta do ainda pequeno movimento operário da época.

Fonte: Centro de Documentação e Memória Fundação Maurício Grabois

Transcrição e HTML: Fernando Araújo.

Direitos de Reprodução: Licença Creative Commons licenciado sob uma Licença Creative Commons.


Os trabalhadores brasileiros têm dificuldades em defender e ampliar suas conquistas num país semicolonial, semi feudal e semiburgês, onde o atraso é grande. Até 1888 a escravidão negra era lei no Brasil. Ainda hoje, as massas trabalhadoras, de cor ou brancas, estão submetidas a uma verdadeira escravidão, nas plantações de cana de açúcar e de café, onde os proprietários gozam de privilégios mais ou menos feudais.

O movimento operário só existe, realmente, em algumas grandes cidades, como Rio de Janeiro, São Paulo e Recife. E mesmo sendo um movimento operário que apenas se inicia, a burguesia o considera um inimigo mortal.

Fundado a 7 de novembro de 1921, o Partido Comunista do Brasil, que se compõe atualmente de operários, numa proporção de 95%, foi pela primeira vez objeto de perseguição, em julho de 1922; foi assaltado pela policia uma segunda vez; julho de 1923 e uma terceira vez, em janeiro de 1924.

Em 1923, aproveitando o estado de sítio lhe foram assestados os golpes mais graves. A tipografia do Partido foi saqueada, os livros do Partido apreendidos, assim como seu material de impressão. O Partido foi dissolvido. Pouco tempo depois, alguns militantes fundaram um Comitê Nacional de Socorro Operário Internacional. A policio viu nisso uma tentativa de reorganização do Partido Comunista e tentou impedir a formação do comitê. O Ministro da Justiça interveio, pois a ilegalidade desta atitude era manifesta. E o Comitê se reuniu.

No dia seguinte, 26 de janeiro de 1923, a polícia prendeu dois militantes comunistas operários, Perez e Cendon. Perez era secretario do Partido> Foi tratado com o maior rigor. Mas a polícia foi obrigado a libertá-los. Entretanto, s ameaças e as sevícias contra os membros do Partido não pararam. Nosso jovem Partido esta na ilegalidade desde julho de 1922!

Recentemente, o secretário internacional do Partido Comunista recebeu da polícia do Rio intimação para que se retirasse do movimento sob pena de ser preso e tratado de maneira a perder toda a vontade de militar.

Nós acabamos de obter uma notável vitória moral no caso de Jose Leandro da Silva. Este operário do porto de Recife, participando da greve, em fevereiro de 1921, foi atacado por um agente da policia e se defendeu no que foi ajudado por seus camaradas; logo tornou-se o pivô de uma briga da qual resultaram três mortos. A justiça burguesa considerou José Leandro responsável pelas mortes e o condenou, apesar dos protestos dos grupos anarquistas (chamados “os iluminados”) a 30 anos de prisão.

Os comunistas continuaram a defendê-lo, em nome do grupo editor da Voz Cosmopolita e da Federação dos Trabalhadores. A agitação, mantida com perseverança. Conseguiu a revisão do processo e Leandro foi novamente a julgamento.

A 8 de fevereiro último o júri se pronunciou por 6 votos a favor e um contra, por sua libertação. Este processo provocou grande emoção entre os trabalhadores brasileiros. A frente única de todas as tendências – sindicalistas, anarquistas, sem partido – realizou-se na sala das sessões. 15.000 trabalhadores tomaram parte nas manifestações.


Inclusão 08/03/2019