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Fonte: Arquivo Vania Bambirra - https://www.ufrgs.br/vaniabambirra/ - Datilog. S/d.
HTML: Fernando Araújo.
1 – A formação política do brasileiro, em sua maioria, é precária, para não dizer inexistente. Um povo iletrado não tem condições de assimilar informações sobre o país e o mundo e de articular um pensamento crítico sobre a realidade. E sua mentalidade política é formada em parte pela vivência mas sobretudo pela mídia eletrônica. Apenas uma parcela minoritária da população tem acesso adicional ao conhecimento através do estudo e da informação periodística. Porém tal conhecimento e informação é, no fundamental, orientada desde a ótica dos interesses das classes dominantes.
2 – Cabe portanto ao partido político comprometido com o progresso, o desenvolvimento e as transformações sociais tratar de preencher essa enorme lacuna por meio da formação de seus quadros. Isso supõe que o partido tenha bem definida sua concepção estratégico-tática, vale dizer, seus objetivos programáticos a curto, médio e longo prazos e os passos concretos a serem dados para que os mesmos sejam alcançados. É pois imprescindível definir claramente as alianças de classes e forças sociais que são substantivas distinguindo-as das ocasionais; as que em definitiva são antagônicas – inimigos; e o que deve ser mantido, contruído ou destruído de imediato dentro dos limites das possibilidades reais.
3 – No Brasil, ao contrário do que ocorre nos países europeus e mesmo em países latino-americanos como o Chile e o Uruguai, os eleitores votam em pessoas ou em siglas – direita, centro, esquerda – desconhecendo o conteúdo programático dos partidos. Apenas o PT desenvolve um trabalho sistemático de formação de quadros (isso se deve ao fato de que sua base social provém da Igreja acostumada a catequizar boa parte de suas lideranças da esquerda revolucionária formada a partir dos anos sessenta, que conservou uma tradição leninista, trotskysta ou stalinista de organização político-partidária). O PDT se bem em suas origens resgatava a concepção de partido de massas com uma estrutura de quadros elaborada por Palmiro Togliatti para o PCI, na prática não a implementou. Seus militantes sequer conhecem o programa – ademais nunca houve a preocupação em fazer grandes edições do mesmo – e a adesão é fundamentalmente movida pela admiração e confiança ao líder. Devido a isso seus militantes sequer estão capacitados para enfrentar o PT que dispõe de quadros melhor preparados para o embate político. Ora, um partido não se afirma apenas porque tenha um grande líder mas pela solidez de sua proposta, sua coerência e pelas sua organização. Quem organiza são os quadros; se não estão preparados sua “organização” é inepta ou personalista-oportunista. Em sua época Lenin dizia que preferia dez militantes inteligentes do que cem bobos (a citação é do livro Que fazer?). As condições de luta eram adversas na Rússia Tzarista e o partido era clandestino. Porém, além de uma proposta imediata para organização partidária eficaz, o que ele queria dizer era que dez homens bem preparados mobilizam milhares enquanto cem despreparados não mobilizam nada.
4 – De acordo com a concepção clássica são duas as categorias de quadros: os propagandistas e os agitadores. O propagandista é o que elabora, fundamenta e divulga da maneira mais ampla possível a doutrina do partido. São intelectuais, jornalistas, políticos de maior nível, estudantes, etc. Para que esse trabalho seja frutífero, além de aproveitar os espaços abertos pelos meios de comunicação existentes o partido deve dispor de veículos próprios de divulgação tais como jornais, revistas, boletins, panfletos, etc. O ideal seria dispor também de emissoras de rádio (foi a utilização da rádio Piratini que transformou Brizola em líder nacional). O agitador é o que sintetiza em palavras de ordem a linha partidária. Ele é o elo de contato, de ligação do partido com a massa. O partido deve se preocupar com a formação de agitadores, de líderes em potencial pois serão eles os novos mobilizadores, condutores das massas nos movimentos sociais. Deve preocupar-se em muni-los de argumentos fundamentados e sólidos. Devem possuir conhecimentos profundos não apenas das questões específicas de suas áreas mas da problemática nacional. Devem aprender a desenvolver um espírito crítico em relação aos partidos conservadores, aos centristas e à falsa esquerda. Só assim o quadro partidário se destacará da “massa média”. Não se trata de discutir se a capacidade de liderança é inata ou não; trata-se de ajudar a despertá-la e de prepará-la.
5 – A formação de quadros supõe a elaboração de uma literatura, de uma biblioteca partidária. Essa literatura partidária deve abordar os temas mais relevantes da realidade nacional e a concepção pedetista sobre os mesmos. A temática deve abranger desde as questões econômico-sociais (inflação, privatizações, desemprego, capital estrangeiro, desenvolvimento regional, Amazônia e soberania nacional, etc.) até as questões culturais. Cada diretório seria encarregado de reproduzir e divulgar os textos bem como o programa do partido que deve ser discutido parte por parte e transformar-se no que a bíblia é para os evangélicos (primeiro é preciso elaborá-lo).