Textos em Defesa da Revolução de Outubro

Astrojildo Pereira

1917 - 1918 - 1922


Fonte: Revista Crítica Marxista.
HTML: Fernando A. S. Araújo, Agosto 2008.


Os documentos que seguem(1) procuram apenas sugerir como, no calor da hora e com as poucas notícias disponíveis, Astrojildo Pereira acompanhou a guerra e os acontecimentos revolucionários na Russia e Europa (1 a 3) e enfrentou o debate com os anarquistas, no processo de fundação do Partido comunista, defendendo sempre a Russia soviética (4 a 6 ).

1 - A Revolução Russa
(O Debate, ano I, nº1, 12 de julho de 1917).

Bem difícil, sem dúvida, é precisar o curso dos atuais acontecimentos na Rússia. Aliás, seria rematada tolice pretender firmar tais ou quais traços definitivos do grande movimento que deu por terra, abruptamente, com a casta dos Romanov, e com ela, de cambulhada, todas as demais castas
aristocráticas e monopolizadoras das riquezas e do poder.

Movimento de tal magnitude e complexidade, revolvido por mil correntes diversas, há de por força manifestar-se confuso e contraditório, com altos e baixos, com claros e escuros violentos. Impossível, pois, determinar em linhas inflexíveis os traços essenciais dos fatos revolucionários e suas conseqüências.

O que não quer dizer que, em meio do cipoal dos telegramas e correspondências e de outros documentos mais raros, não se possa fazer uma idéia mais ou menos aproximada do grande drama político — grande por si mesmo e ainda maior por suas conseqüências —, da orientação que o tem guiado e das tendências que o caracterizam.

Os dois núcleos orientadores do movimento, a Duma e o Comitê de Operários e Soldados, este surgido da própria revolução, logo tomaram posições antagônicas, terminado o primeiro golpe demolidor. A Duma, vinda do antigo regime, pode dizer-se representa, em maioria, a burguesia moderada e democrática, ao passo que o Comitê de Operários e Soldados, composto de operários, representa o proletariado avançado, democrata, socialista e anarquista. A Duma deu o governo provisório e o primeiro ministério; o Comitê de Operários e Soldados derrubou o primeiro ministério, influiu poderosamente na formação do segundo e tem anulado quase por completo, senão de todo, a ação da Duma.

Insignificante, sem nenhum peso, pelo menos até agora, o elemento reacionário e aristocrático, a situação russa tem que obedecer, na sua luta pela estabilização pública, às duas forças principais enfeixadas pelo proletariado socialista e anarquista e pela burguesia democrática e republicana. A qual das duas forças está destinada a preponderância na reorganização da vida russa?

O que se pode afirmar com certeza é que essa preponderância tem cabido, até agora, ao proletariado. E como o proletariado, cuja capacidade política já anulou o papel da Duma burguesa, está também com as armas na mão, não encontrando, pois, resistência séria aos seus desígnios, não muito longe da certeza andará quem prever a sua contínua preponderância, até completa absorção de todos os ramos da vida nacional, extinguindo-se, de tal modo, num prazo mais ou menos largo, a divisão do povo russo em castas diversas e inimigas. E inútil é insistir na influência que tais acontecimentos exercerão no resto do mundo, na obra de reconstrução dos povos, cujos alicerces estão sendo abalados pelo fragor inaudito dos grandes canhões destruidores...

2 - A Revolução Russa e a Imprensa
(março de 1918)

As páginas que formam este folheto foram escritas em dias espaçados, no intervalo de tempo contado de 25 de novembro do ano findo até 4 de fevereiro último. Algumas delas foram enviadas, em forma de cartas, aos jornais, rebatendo injúrias ou deslindando confusões. Reunidas e coordenadas nesta brochurinha, creio valerão como um documento e um protesto mais duradouro contra as calúnias e imbecilidades de que se tem servido a nossa imprensa nas apreciações sobre a obra dos maximalistas russos...

A Revolução Russa e a imprensa carioca

Jamais, jamais se viu na imprensa do Rio tão comovedora unanimidade de vistas e de palavras, como, neste instante,(2) a respeito da Revolução Russa. Infelizmente, tão comovedora quanto deplorável, essa unanimidade toda afinada pelas mesmíssimas cordas da ignorância, da mentira e da calúnia. Saudada quando rebentou e deu por terra com czarismo dominante, a Revolução Russa é hoje objeto das maldições da nossa imprensa, que nela só vê fantasmas de espionagem alemã, bicho perigoso de não sei quantos milhões de cabeças e de garras. Provavelmente os nossos jornais desejariam que se constituísse, na Rússia, sobre as ruínas do Império, uma flamante democracia de bacharéis e de negociantes, como a que tem por presidente o sr. Wilson, ou como esta nossa, presidida pela sabedoria inconfundível do sr. Wenceslau. A caída do nosso Império e a implantação desta nossa República, sem gota de sangue, com uma simples e vistosa procissão na rua, parece ter-se tornado, aos olhos dos nossos jornalistas, o padrão irrevogável pelo qual se devem guiar as revoluções antidinásticas que se forem efetuando pelo mundo. Como a Revolução Russa, ao contrário disso, tem tomado um caráter profundo, de verdadeira revolução, isto é, de transformação violenta e radical de sistemas, de métodos e de organismos sociais, levada para diante aos empurrões, pelo povo, pela massa popular, eis que os nossos jornais desabam sobre ela, de rijo, toda a fúria da sua indignação democrática e republicana. É que os nossos jornais partem dum ponto de vista errado, supondo que o povo russo tem a mesma mentalidade do povo brasileiro de 89, que assistiu, "bestializado", à proclamação, por equívoco, desta bela choldra que nos desgoverna.

Não: o povo russo é um povo de memoráveis tradições revolucionárias, cuja mentalidade, formada através das mais ásperas e mais empolgantes batalhas libertárias destes últimos cem anos, não pode satisfazer-se com o regime falsamente democrático da plutocracia, regime de espoliação em
nome da igualdade perante a lei, de embuste e burla eleitoral e de parlamentarismo oco, palavreiro, desmoralizado, safadíssimo... Já em 1869, há quase meio século, escrevia Bakunine, um dos grandes
precursores da atual revolução e que se achava então na Suíça, exilado:

"Eles (os revolucionários russos) querem nem mais nem menos que a dissolução do monstruoso Império de todas as Rússias, que, durante séculos esmagou com o seu peso a vida popular, não conseguindo, porém, extingui-la de todo. Eles querem uma revolução social tal que a imaginação do Ocidente, moderada pela civilização, apenas consegue pressentir". "Um pouco mais de tempo... e então ver-se-á uma revolução que sem dúvida ultrapassará tudo quanto se conhece até aqui em matéria de revoluções".(3)

"Agentes alemães"

Uma das teclas mais batidas pelas ilustríssimas gazetas do Rio, quando se referem à Revolução Russa, é a de que os bolcheviques, em geral, e Lenin em particular, são agentes do governo alemão. Ora, há em tudo isso, a par do evidente contra-senso, um crasso desconhecimento dos fatos.

Leniné um velho socialista militante de mais de vinte anos, e como tal ferozmente perseguido pela autocracia moscovita, mas sempre o mesmo homem de caráter indomável e intransigente.(4) Como pode, pois, entrar nos cascos de alguém que um homem destes, precisamente quando vê os seus caros ideais em marcha, a concretizar-se numa soberba floração de energia vital, vá vender-se a um governo estrangeiro? Lenin, se quisesse vender-se, algum dia, bastava esboçar o mais leve sinal e o governo de S. Petersburgo lhe rechearia os bolsos fartamente, vencendo pelo dinheiro o inimigo implacável. Não precisava esperar através de anos inteiros de perseguições e sofrimentos, que a revolução social de seus sonhos se iniciasse para entregar-se ao marco prussiano, como um vulgaríssimo trampolineiro, como um jornalista qualquer destes que abundam na imprensa desta terra. Os cascos do mais espesso jumento repelirão, por demasiada, tal sandice... Aos nossos jornalistas, a honra de a fecundarem!

E grande honra, essa, que a Revolução, ao extravasar-se da Rússia, ao espraiar-se pela Europa, ao atravessar os oceanos e ao vir sacudir-nos da bestialização republicana, saberá, de certo, regiamente e merecidamente recompensar...

Incoerências e imbecilidades

Interessantíssimo, o artigo estampado há dias no Imparcial,(5) sobre a situação russa. Notório acérrimo defensor da "ordem social", o Imparcial serve, assim, valentemente a causa do Estado, de que é um dos esteios e na qual tem empregado sérios interesses. E tanto mais valentemente quanto é certo que, brigando contra os fermentadores de revolta, briga também contra a lógica e contra a verdade dos fatos. Exemplo flagrante disso é o trecho seguinte do citado artigo:

"A Rússia era uma nação governada pelo knut. Sacudido o jugo dos Romanov, entregou-se a embriaguês da emancipação, com todos os seus excessos. Falta-lhe a cultura moral necessária para disciplinar a liberdade sob autoridade e para compreender que um governo acatado e leis obedecidas são condições indispensáveis à existência de uma nação livre. O espírito militar extinguiu-se no exército, destruindo-lhe a força de agressão, e até o estímulo de resistência".

Eu sublinho as palavras que me parecem mais comprometedoras...

Acho estupendo que se julgue a emancipação capaz de causar embriaguez. Isso é querer compará-la ao álcool, ao vinho, à vodca, que embriagam aos viciados (permanentes ou momentâneos, pouco importa), isto é, aos escravos da bebida. Ora, um escravo, se me não engano, é tudo quanto há no mundo de menos emancipado. Não, a emancipação não pode jamais embriagar. Ela é água límpida, refrigerante, saudabilíssima...

Não menos estupendo acho eu o conceito de disciplinar a liberdade sob autoridade. Essa é a linguagem de todos os despótas de todos os tempos, isto é, dos grandes inimigos da liberdade. Liberdade disciplinada é liberdade limitada, cortada, imposta, — de onde resulta deixar de ser liberdade. E não falemos em liberdade sob a direção da autoridade... A autoridade, por sua origem, por sua função essencial e formal, por seu papel histórico, representa precisamente e concretamente o princípio oposto ao princípio da liberdade. Pode dizer-se que a autoridade e a liberdade são os dois antípodas da história da humanidade. Esta mesma história prova-o abundantemente: toda e qualquer conquista de liberdade implica necessariamente em diminuição de autoridade. Autoridade é força manejada pelo arbítrio de alguns: é violência, é compressão, é brutalidade, é imposição — tudo quanto há de menos liberdade.

O espírito militar extinguiu-se no exército russo...: é verdade, e felizmente, muito felizmente. Eu sou antimilitarista e alegro-me imenso com tão auspicioso acontecimento. E desejo ardentemente que o mesmo aconteça na França, na Inglaterra, na Itália, na Alemanha, na Áustria, nos Estados Unidos, no Brasil... no mundo todo. O que, porém, não posso compreender, por mais esforços que faça, é que o Imparcial, que combate o espírito militar existente no povo alemão, como um perigo universal, entenda que o desaparecimento desse espírito militar, na Rússia, constitui um mal. De duas uma: ou o espírito militar (ou militarismo, que tudo é um) é um bem, ou é um mal. Se é um mal (como afirmam os aliados, referindo-se à Alemanha), o seu desaparecimento, ou a sua não existência, num país qualquer (como é o caso da Rússia, segundo afirma o Imparcial) constitui um motivo de felicidade inestimável, e deve, assim, ser louvado por toda a gente, amiga da humanidade e da liberdade. Se ao contrário, o espírito militar é um bem, ele deve ser louvado também na Alemanha, que, incontestavelmente, é a pátria mestra em militarismo, mestra cujos exemplos devem ser seguidos por quantos entendem que o espírito militar é um bem. Combater o militarismo tedesco e, ao mesmo tempo, louvar e incitar (o que têm feito todos os aliados, inclusive agora o Brasil, por desgraça nossa) o espírito militar no resto do mundo, eis uma incoerência que eu não posso compreender, por mais esforços que faça... Enfim, bem pode ser que seja eu o imbecil!

Divergência fundamental

"É evidente que a concepção dos maximalistas sobre a liquidação da guerra diverge muito da de Berlim e Viena". Eis o que afirmava a Agência Havas, em telegrama de Paris, datado do dia 7 de dezembro último e aqui publicado, pelos jornais seus clientes, ao dia seguinte. É uma informação absolutamente insuspeita, pois que parte duma agência francesa oficiosa, cujos despachos são diretamente controlados pelo governo da França.

Ora, se "é evidente" a divergência entre os maximalistas e os governantes de Berlim e Viena, a respeito da liquidação do conflito guerreiro, isso quer dizer, nem mais nem menos, que os maximalistas pensam e querem que a guerra termine dum modo diverso do modo que pensam e querem os governantes alemães e austríacos. Divergir é pensar e querer a mesma coisa de maneira diferente, e quando duas pessoas, ou grupo de pessoas, ou duas coletividades, têm firmado sobre um mesmo assunto, um pensamento e uma vontade divergentes, isso significa que não existe acordo entre as duas partes. É o que se dá agora entre Berlim e Viena, dum lado, e Petrogrado, do outro: entre os maximalistas e os governos tedescos não existe concordância de opinião sobre a guerra e a paz. Nem poderia jamais existir concordância entre uns e outros: os maximalistas, socialistas revolucionários batendo-se por um programa "máximo"(6) de reinvidicações populares; os imperantes austro-alemães, a personificação culminante da autoridade, da tirania, da opressão, espoliação das massas populares. O programa essencial de todos os partidos socialistas consiste precisamente no combate aos instrumentos e aos partidos de tirania e espoliação. Os maximalistas, que formam uma fração dos socialistas russos, são por sua própria natureza, especificamente inimigos de todos os governos monárquicos e plutocráticos, da Rússia e de fora da Rússia, portanto inimigos naturais dos governantes de Berlim e Viena. E é daí que resulta a divergência radical entre uns e outros, sobre a guerra e a paz.

Ora, se isso é verdade, se isso constitui um fato evidente, como conceber que os maximalistas sejam agentes alemães, agindo por influxo do marco, prussiano, traidores da pátria e outras coisas não menos feias?(7)

"Alteração" maximalista é "evolução" aliada...

"Petrogrado, 23 [de dezembro] (Havas). Discursando nesta capital a respeito das negociações de paz com os impérios centrais, o sr. Trotski disse:

"A Revolução Russa não derrubou o czar para cair de joelhos ante o kaiser, implorando paz. Se as condições oferecidas não forem conformes aos princípios da revolução, o partido maximalista recusará assinar a paz. Fazemos guerra a todos os imperialismos".

Como se vê, este telegrama, da mesma insuspeitíssima (no caso) agência, veio confirmar, com as próprias palavras de Trotski, os comentários que o telegrama do dia 7 me sugerira.

Na sua edição de 24 de dezembro, A Noite, desta cidade, assim se exprimia:

"O programa de paz dos maximalistas, apresentado à conferência (de Brest-Litovski, inaugurada nesse dia), podia ser aceita, com pequenas alterações, por todos os países aliados. Nunca poderá ser aceito, porém, pelos impérios centrais"... "Estas condições (as apresentadas pelos russos) são inteiramente inaceitáveis pelos impérios centrais, porque elas repousam sobre bases democráticas contrárias em absoluto, ao imperialismo que domina em Berlim e Viena".

É outro testemunho insuspeitíssimo, contra conceitos próprios anteriormente espendidos e confirmando integralmente o que eu dissera nos comentários do dia 9...

Uma observação curiosíssima. Referindo-se às condições de paz expostas simultaneamente pelo sr. Lloyd George, no Congresso dos Sindicatos Operários Ingleses, e pelo sr. Wilson, na mensagem ao Congresso americano, O Imparcial de 10 de janeiro último estampa entre outras coisas de maior interesse, esta:

"Alguns órgãos da imprensa aliada, por um excesso de zelo que prejudica em vez de favorecer a causa comum, nos comentários bordados sobre essas solenes declarações, procuram mostrar que a Entente não modificou uma linha dos seus propósitos anteriormente assentados sobre a guerra. Basta reler com atenção o discurso do primeiro ministro inglês e a mensagem ao Congresso Americano, para ver que os aliados evoluíram no seu programa"...

Ao ser divulgado o programa de paz apresentado pelos maximalistas, A Noite, a 24 de dezembro, afirmava que tal programa "podia ser aceito, com pequenas alterações, por todos os países aliados". Realmente, três semanas depois, a Inglaterra e os Estados Unidos, e com eles os demais aliados, aderiram ao programa russo. Aderiram, é claro, com alterações, não pequenas, mas grandes, e alterações da parte deles aliados, como confessa O Imparcial, quando diz, com deliciosa candura, que "os aliados evoluíram no seu programa"...

A mensagem de Wilson

A mensagem do presidente Wilson, aqui publicada no dia 9 de janeiro, é que veio entupir de vez as goelas dos miseráveis escribas de penas permanentemente voltadas à calúnia. Eu não resisto ao desejo de transplantar para estas páginas os trechos da mensagem em que se toca nos russos e na conferência de Brest-Litovski. Vale a pena dar-lhes relevo:

"Os representantes da Rússia em Brest-Litovski apresentaram não só uma exposição perfeitamente definida e clara dos princípios sobre os quais eles estariam dispostos a concluir a paz, mas também um programa igualmente nítido e preciso sobre o modo concreto desses princípios poderem ser aplicados"... "As negociações foram quebradas. Os representantes da Rússia eram sinceros e como tais não podiam seriamente dar incremento", etc... "Os representantes russos têm insistido, muito justa e sabiamente e dentro do espírito da moderna democracia, em que as conferências que eles têm celebrado com os estadistas teutônicos e turcos deviam ser celebradas a portas abertas, tendo por auditório todo o mundo, como se desejava"...

"Há além disso uma voz a reclamar essas definições de princípios e propósitos, que, em minha opinião, é mais comovente e intimativa do que qualquer das muitas vozes tocantes que povoam o ambiente do mundo. É a voz do povo russo... Ele não cede nem nos princípios nem na ação. A sua concepção do que é justo, do que é humano, do que é honroso aceitar, já foi exposta com uma franqueza, uma largueza de vistas, uma generosidade de espírito, uma universal simpatia humana que há de provocar a admiração de todos os amigos da humanidade. Tem ele recusado transigir nos seus ideais, ou abandoná-los para garantir a sua própria segurança"...

Depois disso, não há senão que subscrever e seguir com entusiasmo as recomendações feitas pelo Cosmopolita,(8) ao comentar estes mesmos trechos da mensagem de Wilson:

"Tornando... às imbecilidades estampadas na imprensa carioca, só nos resta recomendar aos nossos amigos e camaradas esses senhores jornalistas dos rotativos: por enquanto o desprezo e o desdém... e mais tarde, na hora solene do grande e próximo ajuste de contas, então, sim, saibamos tirar proveito da rijeza combativa dos nossos músculos!".

O desmembramento do colosso

Uma das conseqüências da Revolução Russa que mais assombro e indignação causam aos nossos jornalistas é a do desmembramento do ex-Império. Eles põem as mãos na cabeça, desorientados, ao lerem os telegramas que noticiam a independência e autonomia da Finlândia, do Cáucaso, da Sibéria, da Ucrânia... E as suas apóstrofes de maldição desabam sobre os maximalistas, "monstros" satânicos e cruéis, provocadores da derrocada da própria pátria! Isto se tem dito e redito em vários tons, graves e agudos, descompassados todos... Ora, são esses mesmissímos jornalistas açambarcadores da opinião, cuja vacuidade mental e cuja barriga não são inferiores nem à barriga, nem à vacuidade mental dos açambarcadores de açúcar ou de charque, são esses mesmissímos plumitivos super-aliadófilos que proclamam, desde há três anos e meio, baterem-se os aliados pelo direito das nacionalidades, pelo princípio das nacionalidades, pela independência das nacionalidades! De duas, uma: ou tais pregoeiros são insinceros, quando defendem a causa aliada da independência dos povos, ou então ignoram inteiramente a história, a constituição e a organização do ex-Império de todas as Rússias. Isto é, pode ser por um terceiro motivo: a insinceridade e a ignorância juntas. Eu estou certo de que, mesmo quando se lhes prove, documentos na frente,(9) que a Rússia de ontem era um amontoado heterogêneo de nacionalidades, eles continuarão, cegos e surdos às boas razões (mas de olhos arregalados e ouvidos aguçados no tilintar dos esterlinos...) a apostrofar a "insensatez", a "loucura", a "infâmia", a "traição" e não sei mais que outros tremendos pecados dos maximalistas!

A "traição" dos aliados...

Todos os tratados e convênios, secretos ou não, firmados pela Rússia e pelas nações da Entente, datam do governo autocrático do czar. Mas o governo autocrático do czar caiu, e debaixo de palmas dos aliados, pela vontade revolucionária do povo russo, num soberbo quebrar de cadeias tirânicas. A revolução, como se viu, de começo manietada pelo Lvov, pelos Rodzianko, pelos Miliukov, pelos Kerenski, integrou-se finalmente nas mãos da plebe, tomando uma orientação verdadeiramente popular e libertária, — antiguerrista, antiburguesa, antiautoritária. Nada mais lógico, nem mais justo, pois, que se declarem anulados todos os convênios e tratados anteriormente concluídos entre os governantes da Rússia e os governantes de outras nações. O governo do czar era um governo de tirania, constituído fora da vontade, contra a vontade da massa da população, e por isso acabou sendo derrubado por essa massa: conseqüentemente, todos os atos, todos os contratos firmados no tempo do czar o foram pela vontade exclusiva da tirania dominante e contra a vontade do povo. Desde, pois, que a tirania foi vencida e o povo triunfou, aqueles tais atos e contratos, conluios e entendimentos, por sua própria natureza, por seu próprio mal de origem ficaram desfeitos e anulados. É um ponto, este, deploravelmente olvidado pela imprensa, quando se refere, furiosa, à "traição ignóbil e abominável" feita pelos comissários do povo russo aos aliados... Aos governantes aliados, entenda-se!

As utopias deliciosas e alegres...

"Foi, de fato, a Revolução Russa, com todos os trágicos sucessos, o acontecimento que mudou a face das coisas, começando a tornar possíveis programas, transformações sociais, movimentos de independência política e sistemas de governo que já nos primeiros meses de guerra continuavam a ser considerados como fatos impraticáveis e inconvenientes, como utopias deliciosas e alegres" — "Esqueciam-se os que assim pensavam que, igualmente como utopias consideradas foram, no seu início, todas as grandes conquistas da humanidade e da civilização..."

Estas palavras — mirable dictu! — são rigorosamente transcritas do Paiz, da apreciação com que o famigerado órgão encabeçava as notícias de revolução na Áustria.(10) Apenas, o redator de O Paiz devia ter escrito: "esquecíamos, os que assim pensávamos" ... Menos esta restrição, alias secundária, não há como louvar a agudeza de vistas e a rara franqueza do comentador. Porque tais conceitos destoam completamente dos em geral espendidos pela imprensa, quando nos chegam notícias de realização e concretização das antigas utopias socialistas e anarquistas... Antes da guerra, toda a imprensa graúda, e com ela os seus sacerdotes maiores e menores e mais os seus devotos, riam-se (às vezes, choravam também...), com um superior e piedoso desdém, das idéias e dos ideais dos utopistas, dos sonhadores, dos visionários, dos aluarados, dos quimeristas... E quando não era o riso escarninho, sabêmo-lo todos, substituía-o a pancadaria grossa das calúnias, das infâmias, dos insultos, dos doestos, das ameaças.

Rebentada a guerra, o riso se estendeu abertamente até à gargalhada estrondosa: foram então dados como falidos de vez, e sem mais remédio, o socialismo, o anarquismo, o internacionalismo, o antimilitarismo...

Debalde os anarquistas e só os anarquistas (porque os próprios socialistas, com pouquíssimas exceções, e até mesmo alguns anarquistas aderiram todos mais ou menos à guerra e ao Estado), gritaram e afirmaram a integridade das suas convicções e das suas esperanças; os apodos recrudesceram, e com os apodos dos sabicholas da letra de forma, a perseguição, a cadeia, a morte... A guerra porém, levada a excessos inauditos, acabou por provocar a Revolução Russa, revolução social e não apenas política e antidinástica, que fatalmente se estenderá pelo mundo inteiro, arrasando tudo, transformando tudo, reconstruindo tudo sobre bases novas. Pois bem: neste momento, quando nos chegam da Rússia notícias de caráter libertário, de socialização da propriedade, de entrega das terras aos lavradores e das fábricas aos operários, de administração da produção e do consumo diretamente feita pelo proletariado de blusa e de farda, quando numa palavra, se realizam e se concretizam as "utopias deliciosas e alegres", outrora perigosas ou bonitas, mas sempre absolutamente impraticáveis, saem-se os grandes jornalistas com os olhos a saltarem fora das órbitas, a falarem em "espantosas" transformações, em "loucuras" do populacho, em "bebedeiras" de liberdade!... Assim: antes da guerra, as nossas doutrinas eram muito "bonitas", mas irrealizáveis; ao declarar-se a guerra, estavam todas "falidas"; e agora, no começo da revolução social, quando vão tendo aplicação, são "espantosas" e "absurdas"... Não admira, pois, que a burguesia esteja irremediavelmente perdida: essa incapacidade intelectual dos seus mentores e publicistas vale por um sintoma grave e definitivo...

Os escribas de a Razão

De todos os jornais cariocas e, com certeza, de todos os jornais do mundo, aquele que mais danada e azeda bílis tem expectorado contra os maximalistas é, sem dúvida, A Razão. Dirigido por um energúmeno cômico e notório, profeta e papa espírita, semilouco e pouco menos que analfabeto, esse jornal tem, no entanto, apesar disso, uma tal ou qual popularidade, ganha com algumas campanhas simpáticas. A sua fobia antimaximalista é duplamente odiosa: em si mesma e pelo fato de se espalhar principalmente na massa proletariada, ludibriando-a e envenenando-a. Eu compreendo e até alegro-me com as injúrias, por exemplo, do Jornal do Comércio: está no seu papel de folha conservadora. A Razão, porém, se apregoa como um órgão criado especialmente para o povo, para as classes operárias: mente e remente dobrado, por dentro e por fora, para a direita e para a esquerda... Eu quero reproduzir, para escarmento dos escribas que a redigem, um dos seus muitos tópicos contra o maximalismo:

Porque os tais maximalistas não são apenas uns loucos, incapazes de compreender a profunda inconveniência de, em uma hora como esta, provocar agitações políticas internas.(11) São também uns notáveis canalhas, apontados universalmente como agentes alemães e que, além disso, querem suprimir o direito de propriedade(12) na Rússia, entregando todas as terras à plebe inconsciente(13) que, levada por essa miragem de ficar rica em poucas horas,(14) esquece os altos deveres de defender a Pátria, já invadida e em parte dominada pelo estrangeiro. Esses infelizes são dirigidos e guiados por um monstro da ordem de Lenin que se prestou ao papel ignóbil de ir abrir as portas da Rússia ao mais perigoso de todos os imperialismos o que tem por centro motor a casta dominante na Rússia(15) militar. Alimentados pelo dinheiro alemão, conduzidos pelos espiões e pangernistas de Berlim, os maximalistas, conseguindo, por um golpe feliz da fortuna, apoderar-se da Rússia,(16) não trepidaram ante o crime, ante à infâmia descomunal de propor imediatamente a paz(17) em separado à Alemanha, traindo de modo revoltante os aliados, aos quais jurara o colosso moscovita(18) só agir de concerto com as nações da Entente.

Este chorrilho ignomioso de mentiras, de intrigas, de calúnias, foi estampado na seção editorial Fatos e Informações do dia 16 de novembro de 1917. Nove dias após a caída de Kerenski. É um documento que merece registro e de que nos devemos recordar para as necessárias satisfações, no dia em que a revolução, atravessando o oceano, irrompa justiceira por estas riquíssimas terras brasílicas de miseráveis e famintos...

3 - O Juizo Final
(Crônica Subversiva, Ano I, nº 5, Rio, 29 de junho de 1918).

Guardadas as devidas proporções de desconto aos exageros telegráficos, pode acreditar-se como certa a derrota que os exércitos italianos estão infligindo, neste momento, aos exércitos austríacos. Mas terá essa derrota a virtude de intensificar o espírito de revolta que parece lavrar no império Austro-Húngaro? Eis o que me interessa... Continuo firme na minha convicção de que militarmente a guerra não tem solução.

A cada grande e formidável ofensiva, em qualquer das frentes, mais se me arraiga tal convicção. As últimas investidas germânicas na França constituem uma prova a mais, exuberantíssima. Efetivos colossais se lançaram ao mando supremo de Ludendorf e Hindenburg, contra as linhas de Foch e Pétain. A artilharia, quer da ofensiva, quer da defensiva, vomitou milhares de toneladas de ferro, abrindo ou barrando o caminho às avançadas. Aeroplanos, tanques, gases asfixiantes e outros inventos burgueses e patrióticos, tudo se empregou nos embates tremendos, duma parte e doutra. E duas, três, quatro semanas se escoaram, impassíveis ao morticínio imenso... Como a capacidade de assombro já se acha esgotada nos homens destes dias, ninguém mais se assombra com as centenas de milhares de mortos, de estropiados, de inutilizados, com as cidades e vilas a mais arrasadas e destruídas, com os quilômetros de terra a mais talados e sacudidos pelo heroísmo das bocas de fogo. Resultado final de tudo — a continuação da guerra. Os alemães conquistaram alguns palmos de terreno, tomaram alguns escombros de aldeias, atingiram algum pico de colina, atravessaram um rio, vadearam um riacho; mas os franceses ou ingleses reconquistaram os palmos de terreno, retomaram os escombros de aldeias, fizeram o inimigo baixar do pico da colina, obrigaram-no a voltar à outra margem do rio ou do riacho. Em alguns pontos, os alemães conseguiram firmar as patas, obrigando os aliados a recuarem alguns quilômetros, mas sem os esmagar; noutros pontos, franceses ou ingleses, em contra-ataques furiosos, obrigaram os alemães a abandonarem posições mantidas desde meses ou anos. E continua tudo na mesma: duelos constantes de artilharia, ataques e contra-ataques, ofensivas e contraofensivas, conquistas e reconquistas, derrotas e vitórias, vitórias e derrotas e os montóis de mortos vão crescendo, crescendo, crescendo infindavelmente... Há quatro anos quase que se verifica esse interminável fluxo e refluxo das ondas guerreiras. Tudo nos mostra que ele continuará enquanto durar a guerra. É o empate. Outra solução, que não a militar, tem, pois, de ser dada ao conflito. Ora, a não ser pelas armas, com o esmagamento dum dos outros grupos beligerantes pelo outro, a única solução possível será a resultante da ação revolucionária dos povos, sobrepondo-se ao Estado e às burguesias e dinastias dirigentes. Foi o que fez e está fazendo o povo russo. É o que, parece, está o povo austro húngaro a ponto de iniciar. Neste sentido, e tendo-se em conta a desesperada situação interna em que se debate a monarquia dual, os reveses de agora, na frente italiana, serão indubitavelmente muito favoráveis. Essa ofensiva austríaca, que vai tendo um fim tão desastrado, mirava de certo aplacar, de algum modo, a gritaria rebelde do povo. Se ela se fizesse com êxito e boa fortuna, consegui-lo-ia em grande parte, não o duvido.

Terminando em desastre, dará os resultados opostos, isto é, contribuirá para irritar ainda mais o ânimo das populações do império, elevando-lhes e intensificando-lhes o espírito de revolta. Que este espírito de revolta se alastre e dinamize em potência acionadora irresistível, e a revolução popular subjugará e esmagará a camarilha dinástica, militar, política e industrial da Áustria-Hungria, inaugurando, a exemplo da Rússia, um novo período de organização social, baseado nos reais interesses coletivos do povo e não no interesse monopolizador das pretensas elites. E não é preciso possuir visão de profeta para prever a decisiva influência que isso exercerá na Alemanha e na Itália. Na Alemanha, grandemente enfraquecido o poder da casta militar e governante, receberá o povo, a estrebuchar nas vascas da mais feroz pressão reacionária, um formidável impulso revolucionário, e então o execrado Império Alemão, com seus Hohenzollern, os seus junkers, os seus Hindenburg, Krupp e Hertling, terá passado ao monturo da História. Na Itália, a revolução será ainda mais rápida. O reizinho imbecil e a camorra política que o cerca e domina a situação irão de pantanas em 24 horas, irremediavelmente. Ora, atrás da Áustria, da Itália, da Alemanha... virá o resto. Será o juízo final da burguesia. Pensando nisso é que eu me regozijo com a sova que os exércitos austríacos estão apanhando neste momento. Porque eu espero que o juízo final chegue também por cá, por estes Brasis amados. Ah! não me sai da mente esta luminosa idéia: subir as escadas do Catete e pegar pela gola o patife que lá estiver a presidir e arremessá-lo das janelas do segundo andar, a esborrachar-se integralmente no asfalto...


4 - "Não Nos Assustemos Com o Debate"
(Movimento Comunista, nº 3, p. 69-70, março de 1922)

A fundação de nossos grupos comunistas, primeiro passo para a próxima e definitiva constituição do Partido Comunista Brasileiro, tem suscitado, como não podia deixar de ser, uma viva e renhida celeuma em nossos meios obreiros. Isso está na ordem natural das coisas, e é um bem que assim seja. Esse embate de idéias, esse confronto de ideologias, essa diversidade de pontos de vistas, antes de mais nada denotam vitalidade e bravura. Alguns camaradas, timoratos ou pouco perspicazes, assustam-se e desgostam-se com a refrega aberta entre companheiros de ontem. Não há de quê. Ao contrário, amigos, regozijemo-nos com isso!

E entendamo-nos. A grande guerra pôs em desequilíbrio não somente o mundo capitalista, mas também o mundo proletário. Com uma diferença: que o desequilíbrio do mundo capitalista é um desequilíbrio mortal, de decadência de valores, ao passo que o desequilíbrio do mundo proletárioé um desequilíbrio vital, de renovação de valores. A crise do mundo capitalista é uma crise de agonia; a crise do mundo proletário é uma crise de parto. Deixemos, porém, de parte a crise do capitalismo, que não vem agora ao caso, e vejamos, rapidamente em linhas gerais, que formas e manifestações tomou a crise do proletariado.

Podemos dividi-la em duas fases.

Primeira, ocasionada logo de começo pela guerra propriamente. Esta primeira fase se caracterizou pelo deslocamento do movimento operário do plano internacional para o plano nacional. A "união sagrada" tomou o lugar do postulado: "proletários de todo mundo, uni-vos!"

Os partidos socialistas e as organizações sindicalistas e anarquistas renegam, pela boca de seus chefes e pela ação de suas massas, aquele postulado, arrolando-se mutuamente nos campos de batalha. Só uma pequena minoria das três frações proletárias resistiu ao embebedamento guerrista e nacionalista, mantendo alto, embora debilmente, o pendão da Internacional.

Segunda fase, marcada com o rebentar da Revolução Russa, seu fulminante desenvolvimento e sua transmudação de política em social com o advento do bolchevismo.

Esta segunda fase, ainda acentuada com as revoluções nos Impérios Centrais, precipitou a crise. Aquela pequena minoria internacionalista foi pouco a pouco tomando maior vulto, engrossando suas fileiras, até constituir-se, de algum modo, o elemento novamente preponderante, senão pelo número, pelo prestígio de sua ação e suas atividades mundiais. A III Internacional, constituída em 1919, concretizou este movimento.

E a crise tomou, assim, uma feição decisiva. Os partidos socialistas se fracionaram nitidamente, em cisões completas e absolutas: as esquerdas ingressando na Internacional de Moscou e as direitas permanecendo onde estavam, a montar guarda ao cadáver da II Internacional. As organizações sindicais igualmente se cindiram, senão organicamente, ideologicamente: as esquerdas pela ditadura do proletariado e as direitas contra, aquelas constituindo-se em Internacional Sindical Vermelha e estas continuando na Internacional de Amsterdã. (Deixo de parte aqui, por secundário, o dualismo existente, nas esquerdas sindicais, em torno do critério "político" e "a-político" do movimento). Igualmente as agrupações anarquistas se fracionaram: umas por Moscou, outras contra Moscou.

Tal, em síntese ligeira, o desenvolvimento da crise mundial do proletariado.

Ora, pois que o fenômeno, por sua mesma natureza, é fundamentalmente um fenômeno internacional, não podia o Brasil escapar à crise e seus efeitos. O meio brasileiro é, porém, um meio singular. Nunca houve aqui partidos ou correntes sistemáticas propriamente socialistas. Todo o movimento proletário revolucionário na Brasil tem sofrido só a influência quase exclusiva dos anarquistas. Assim, entre nós, a crise tem sido e é uma crise de anarquismo.

Esta crise, latente desde o advento do bolchevismo, chega a um desfecho lógico, com a constituição do Partido Comunista composto, em sua quase totalidade, de elementos de formação anarquista.

A celeuma atual nada mais é que a expressão inevitável dessa crise.

É por isso mesmo, saudável, revigoradora, fecundíssima. É necessário que os campos se definam e se delimitem nitidamente. Só assim poderemos viver, uns e outros. A confusão é que é entorpecedora, desorientando a uns e outros. Não nos assustemos, pois, com o debate. Mantenhamo-lo e sustentemo-lo, antes, com energia e desassombro. E sobretudo com elevação de vistas, com superioridade de ânimo, com lealdade — coisas que não excluem, ao contrário: dignificam, a veemência, o ardor, a paixão.

Deixemos, isso sim, os vis processos de intriguelhas e difamações aos eternos incapazes e impotentes, ontem como hoje dignos apenas de desprezo e comiseração...

5 - "Viva a Rússia dos Sovietes"
(Movimento Comunista , nº 5, maio de 1922).

As circunstâncias extraordinárias em que transcorre o Primeiro de Maio deste ano imprimem à data de hoje uma importância excepcional para o movimento proletário mundial. As demonstrações deste Primeiro de Maio não se devem limitar aos costumeiros brados de protesto e revolta contra a exploração capitalista. Nem tampouco devem circunscrever-se, em suas ordens do dia, ao reclamo de reivindicações imediatas de natureza local.

O ítem culminante nas moções dos comícios de hoje, em todos os países, deve ser este: a afirmação da mais alta e mais ativa solidariedade internacional dos trabalhadores com a Rússia dos sovietes. É necessário que o capitalismo sinta, nesta data por excelência proletária, que os trabalhadores do mundo se acham de corpo e alma ao lado dos operários e camponeses da Rússia, heróicos batedores da revolução mundial.

Uma tal demonstração de solidariedade em prol da Rússia sovietista constitui, a bem dizer, um mínimo do que lhe deve o proletariado internacional. Só, isolada, bloqueada, guerreada por todos os lados, a Rússia proletária tem sabido defender e sustentar a bandeira vermelha do trabalhoà custa dos maiores e mais pesados sacrifícios. A revolução na Rússia não é uma revolução nacional, mas o início da revolução mundial. Os trabalhadores russos sofrem e morrem, por conseqüência, não apenas por si sós, mas também pela família obreira do mundo inteiro. Manifestar-lhes os mais fraternais sentimentos de solidariedade, neste grande dia, é pois o mínimo do que a eles se deve. Eles têm feito pelos trabalhadores da terra — tudo; que os trabalhadores da terra façam por eles hoje, pelo menos esse pouco — uma palavra de apoio e fraternidade.

Obrigados pela trágica e imperiosa necessidade, os Soviets se defrontam, neste momento, com os Estados capitalistas, procurando estabelecer, com os mesmos, um acordo momentâneo — até que esses Estados tenham sido batidos pelos respectivos proletariados — acordo de onde possam retirar as maiores possibilidades de vida, e, conseqüentemente, mais seguras possibilidades de triunfo final. Ora, é evidente que as vantagens do acordo a ultimar-se em Gênova serão tanto maiores, para os russos, quanto mais for a pressão proletária, exercida dentro de cada país, a favor dos sovietes. Assim, neste Primeiro de Maio deve tal pressão assumir o caráter de uma grandiosa manifestação internacional de solidariedade pró-Rússia, fazendo reboar pelos quatro cantos do mundo o clamor das classes operárias, uníssono e poderoso: viva a Rússia dos sovietes! Porque este grito: viva a Rússia dos sovietes!, eqüivale por sua repercussão e por sua significação a este outro: viva a revolução mundial!

6 - "1917 — 7 de novembro — 1922"
(Movimento Comunista, I nº 12, p. 315-16, novembro de 1922).

Não só com um entusiasmo jubiloso e cordial nós comemoramos o quinto aniversário da Revolução Russa. O 7 de Novembro tem para nós uma significação mais alta e mais solene que a de um simples aniversário grato ao nosso coração. O 7 de Novembro de 1917 abriu ao mundo um novo ciclo histórico, marcando o início da era comunista. O heróico proletariado russo triunfante não realizou apenas a "sua" revolução. A revolução vitoriosa na Rússia não quer dizer: vitória de uma revolução "nacional", mas sim, vitória, no setor russo, da revolução proletária internacional. E só em seu sentido internacional pode ser a Revolução Russa devidamente e amplamente compreendida. Seus aspectos e características nacionais são por natureza secundários. Seu internacionalismo, porém, é básico, fundamental, decisivo. Daí, que seu triunfo completo e definitivo esteja condicionado ao triunfo mundial da revolução proletária.

A frente da guerra social estende-se por todos os países, por todos os continentes, de pólo a pólo, de meridiano a meridiano. Em guerra aberta ou latente, de forma aguda ou ainda atenuada, sangrenta ou não, a luta entre a classe explorada e a classe exploradora, entre o proletariado e a burguesia, entre o comunismo e o capitalismo se generaliza, por todo o mundo, numa imensa batalha de vida e de morte.

O que tem sido essa batalha, no setor russo, nestes cinco anos de revolução, está na consciência, esclarecida ou instintiva, dos proletários de todo o mundo. É uma epopéia de martírio e de glória, escrita a sangue, com o aço da espada e da pena, da foice e do martelo, através de sofrimentos sem conta, sacrifícios sem limite, heroísmos sem termo de comparação. Contra mil inimigos externos e internos, contra os traidores e os pusilânimes, tem o proletariado russo sustentado galhardamente a bandeira vermelha, pendão de guerra do proletariado mundial. Sustentando-a triunfante, em seus punhos de ferro, torturado embora de fome e de miséria, ele sustenta e assegura o triunfo, que há de soar, por fim, inevitável, da revolução proletária internacional. Ele forma a vanguarda indômita e
indomável dos exércitos revolucionários do Trabalho em guerra contra os exércitos mercenários do Capital.

Saibamos nós, nesta hora de comemoração jubilosa, concentrar nossa vontade e toda nossa energia, sem desfalecimentos, no sentido de formarmos, no setor brasileiro, legiões batalhadoras capazes de secundar dignamente os heróicos companheiros de todo o mundo, sob o comando supremo da Internacional Comunista.

7 - A Revolução Socialista na Rússia e a Origem do Marxismo no Brasil

Marcos Del Roio
[professor de Ciência Política da Unesp (Marília)
e diretor do Instituto Astrojildo Pereira]

Esta nota, de nome até certo ponto pretensioso, tem, no entanto, a limitada intenção de lembrar a importância da Revolução Russa nos rumos do movimento operário e na origem do marxismo no Brasil, rastreando sumariamente a trajetória de Astrojildo Pereira no período que decorre do início da revolução na Rússia até a fundação do partido comunista no Brasil. Sabe-se que esse período coincide com o apogeu e crise do movimento operário de inspiração anarco-sindicalista em terras brasileiras e que o jornalista Astrojildo Pereira foi destacada expressão da cultura libertária nos anos dez deste século...

A revolução popular socialista que eclodiu no Império russo e se espraiou para a Europa centro-oriental constituiu elemento decisivo e fundamental na crise do Ocidente. Tendo tomado a forma de guerra civil de maior ou menor intensidade entre 1914 e 1945, a crise acoplou-se às tensões gestadas no Oriente pela própria expansão predatória do Ocidente, movido pela dinâmica da acumulação do capital, possibilitando a emergência de forças sociais antagônicas à ordem que tiveram a oportunidade de chegar ao poder na Rússia em novembro de 1917; a partir de março de 1919, organizaram-se numa Internacional Comunista com o objetivo de defender a revolução socialista na Rússia e de expandir o movimento, principalmente em direção ao coração da Europa.

Dentro do quadro da crise do Ocidente, a Revolução Russa e a fundação da IC tiveram um significado teórico-prático da maior relevância. Em primeiro lugar por representar a insurgência das classes subalternas do Ocidente (ou de parte delas) e das massas populares de vastas áreas do globo contra a dominação imperialista e, depois, por ter significado uma refundação do marxismo, demarcando uma cisão teórica e organizativa com o reformismo predominante e que preservava a subalternidade do movimento socialista diante da liberal-democracia.

Assim, o impacto e o significado universal da revolução socialista na Rússia são indiscutíveis, pois se não conseguiu nem de longe atingir seus objetivos libertários e humanistas, o fato é que condicionou toda a história política e a cultura do século XX, acendendo a esperança ou a ira de milhões de seres. O impacto universal da Revolução Russa provocou então a reação das forças políticas e culturais associadas ao capital que se viram obrigadas a utilizar a violência aberta contra as classes subalternas insurgentes e a repensar o liberalismo e toda a alta cultura burguesa (submetida ela mesma a uma crítica reacionária). O produto disso tudo foi a emergência do fascismo e do americanismo como alternativas de recomposição da ordem do capital.

Por outro lado, e isso é o que mais interessa nessa nota, as lideranças do movimento operário, por toda a parte, receberam o impacto teórico da Revolução Russa e tentaram com êxitos muito variados assimilar um novo instrumental para a luta social na qual estavam diretamente envolvidos.

Evidente que esse influxo se chocou com a tradição cultural e organizativa do movimento operário, postado nas mais diversas formações sociais conduzidas por diferentes padrões de acumulação e de exploração da força de trabalho, criando novas sínteses. Os ecos da Revolução Russa nesse desdobramento subalterno do Ocidente, constituído na América meridional, tiveram sua inegável importância, apesar de relativamente débeis. A distância geográfica e cultural, somada à distorção e à insuficiência de informações, condicionaram e limitaram-lhe o impacto.

Ademais, tratava-se, nesses países, de formas sociais nas quais predominavam a acumulação mercantil do capital, onde a classe operária mantinha um perfil artesanal (quando não envolvida em atividades extrativas).

No caso brasileiro, o ideário socialista surgiu mais sob a forma de uma esquerda positivista no momento de mudança do regime monárquico para o republicano do que pelo influxo da teoria marxiana, ainda que sob a ótica reformista, sendo Marx, na realidade colocado no mesmo pedestal de um Comte, Spencer ou Haeckel. Já na primeira década deste século o reformismo havia sido superado pelas tendências anarquistas em meio às mais destacadas lideranças do movimento operário, embora também essa vertente estivesse permeada pela visão cientificista. Essa liderança anarquista e anarco-sindicalista conduziu o primeiro grande embate de classe que perpassou o embrionário proletariado industrial do Brasil, entre os anos 1917-1920.

Não é mera coincidência que esse período seja praticamente o mesmo que o da revolução socialista na Rússia e Europa centro-oriental, pois que a crise do Ocidente expressa na guerra imperialista se fez sentir no Brasil (assim como em outras partes do continente) pelos dificultados fluxos comerciais e pelas relações internacionais. Esse período refletiu ainda um poder de barganha maior da força de trabalho na medida em que recursos maiores, antes inseridos no circuito internacional da acumulação, passaram a ser revertidos para a indústria. Por sua vez as notícias do andamento do processo revolucionário na Rússia alimentaram o já impregnado voluntarismo das lideranças anarco-sindicalistas na sua luta contra o patronato e o Estado liberal-oligárquico.

A primeira fase da Revolução Russa, com a reafirmação da aliança político-militar com as potências liberais do Ocidente não suscitou oposição na imprensa liberal, pelo contrário. Enquanto isso nos meios operários, a participação popular alimentava expectativas as mais variadas, ainda que o cenário parecesse bastante obscuro. Além de Antônio Bernardo Canelas, desde o Recife, com um interesse militante pela Revolução Russa e pela atividade internacionalista, incluindo viagens à Europa, foi Astrojildo Pereira que, no Rio de Janeiro, em todos os momentos se destacou na recepção, defesa e difusão da Revolução Russa no Brasil, além de ser aquele que melhor entendeu seu significado histórico.

Em meados de 1917, por meio das páginas de O Debate, Astrojildo Pereira, com toda a carência de informação, procura deslindar os acontecimentos da Rússia, tendo percebido, com grande lucidez, a existência de uma dualidade de poderes entre a Duma, que "representa a burguesia moderada e democrática, ao passo que o Comitê de Operários e Soldados representa o proletariado avançado, democrata, socialista e anarquista".(19) Antecipa ainda a tendência que levaria o proletariado ao poder e a repercussão internacional que esses acontecimentos teriam. Logo depois, Astrojildo Pereira, analisando a situação da guerra, sugeria a virtual impossibilidade de um desfecho puramente bélico para o conflito. Para o intelectual anarquista, a guerra só seria concluída com um acordo entre as potências beligerantes ou então pela insurgência revolucionária dos povos contra os governantes, tal como havia já ocorrido na Rússia.

A declaração, em fins de outubro de 1917, do estado de beligerância contra a Alemanha serviu de argumento para o governo brasileiro promover a divisão e a repressão ao movimento operário, atacando as sedes dos sindicatos e fechando a imprensa operária que se opunha à guerra e pregava a revolução social. E uma das vítimas da sanha policial foi precisamente O Debate. Com a tomada do poder na Rússia pelos sovietes hegemonizados pelos bolcheviques, menos de duas semanas depois, o pânico das classes dirigentes de todo o mundo e também do Brasil frente à insurgência operária só fez aumentar, manifestando-se em redobrada repressão. Por outro lado, o movimento operário recebia um novo alento de um exemplo concreto de poder operário-popular instaurado nas longínquas terras russas.

A partir de então, Astrojildo Pereira iniciou uma frenética atividade epistolar, enviando cartas e mais cartas para a imprensa liberal e conservadora, rebatendo as calúnias desferidas contra a Revolução Russa, postando-se incondicionalmente em defesa do que qualificava como socialismo libertário. Como poucas dessas suas cartas foram publicadas, optou pela edição, vindo a lume em março de 1918, de um pequeno folheto intitulado A Revolução Russa e a imprensa, assinado com o pseudônimo de Alex Pavel. Defendia o "caráter profundo, de verdadeira revolução, isto é, de transformação violenta e radical"(20) tomado pela Revolução Russa, precisamente o que fomentava a oposição da imprensa do Rio de Janeiro, com a qual se confrontava o persistente militante da causa operária. Nessas páginas, atacou a incongruência de Lenin ter sido tachado de agente alemão, referindo-se a ele como velho militante socialista. Astrojildo já sabia que os maximalistas (como então eram mais conhecidos os bolcheviques) eram uma fração dos socialistas russos e que, portanto, Lenin não era precisamente um anarquista. Chegou mesmo a exagerar, dizendo que "o programa essencial de todos os partidos socialistas consiste precisamente no combate aos instrumentos e aos partidos da tirania e espoliação".(21) Tomou posição igualmente favorável aos maximalistas em relação à paz de Brest e à questão das nacionalidades. É realmente muito difícil afiançar, dessa forma, já em princípios de 1918, que Astrojildo Pereira fosse um anarquista em senso estrito!

Como maneira de fazer frente à ofensiva policial contra as publicações do movimento operário, Astrojildo Pereira tomou a iniciativa de publicar sob sua exclusiva responsabilidade um pequeno semanário chamado Crônica Subversiva, que circulou de junho a outubro de 1918. Por meio de suas páginas deu continuidade à batalha em defesa do movimento operário do Brasil, da Revolução Russa e contra a guerra imperialista.

Sempre em defesa da ação dos bolcheviques, denuncia a campanha orquestrada pela imprensa internacional contra o governo soviético e reafirma ainda uma vez sua convicção de que a guerra não tinha solução militar viável e que somente poderia ser encerrada pela irrupção revolucionária dos povos. Percebeu também com notável clareza que o novo elo fraco da corrente encontrava-se no império austro-húngaro.(22)

Com a tensão estimulada ao máximo pelas notícias que chegavam de início da movimentação revolucionária na Áustria-Hungria e na Alemanha, implicando a paralisação da guerra, na segunda quinzena de novembro de 1918 foi intentada no Rio de Janeiro uma insurreição proletária, convocada e conduzida pelos principais líderes anarquistas, incluindo Astrojildo Pereira que, como muitos outros acabou sendo preso. Apesar desse fracasso, a retomada do movimento grevista, a partir de abril, e as notícias da revolução na Baviera e Hungria, ensejaram a rápida rearticulação da liderança operária antagônica à ordem liberal. Com a fundação da IC, em março, a palavra comunista foi se difundindo junto com maximalismo e bolchevismo. Essa série de acontecimentos desaguou na fundação, em junho, de um "partido comunista" no qual predominava o ideário anarco-sindicalista, mas que já indicava a crise ideológica de graves proporções que se seguiria.

Durante o segundo semestre foi publicado semanalmente o Spartacus, no qual Astrojildo Pereira aparece como chefe de redação. Alguns documentos da IC foram publicados nessas páginas, com destaque para A democracia burguesa e a democracia proletária, redigida por Lenin. Nesse e noutros jornais, assim como em manifestações públicas, multiplicava-se a solidariedade do movimento operário brasileiro à Revolução Russa contra a intervenção imperialista. O próprio título do periódico lembra a Liga spartaquista alemã, embrião do KPD (Partido Comunista da Alemanha). É mais que provável que Astrojildo Pereira estivesse iniciando sua trajetória teórica em direção ao marxismo refundado por Lenin (e Rosa Luxemburgo), passando pela fórmula intermediária do "anarco-comunismo".

As notícias que chegavam dos conflitos entre bolcheviques e anarquistas na Rússia não vinham obtendo credibilidade, por conta das costumeiras inverdades veiculadas pela imprensa. O agravamento desses conflitos e a marginalização definitiva dos anarquistas, a partir do segundo semestre de 1919, no entanto, vieram se refletir num solo mais fértil, no qual estavam visíveis os limites da estratégia anarco-sindicalista de luta e a crise ideológica parecia inelutável. As primeiras dissensões sobre a natureza da Revolução Russa e do novo regime começaram a aparecer nas páginas do Spartacus e da publicística anarquista em geral. Em janeiro de 1920, o Spartacus foi substituido pelo Voz do Povo, tendo servido de instrumento de preservação formal da unidade do movimento e de organização do 3º Congresso Operário Brasileiro, realizado em maio, que aprovou moção de simpatia pela Revolução Russa e pela IC.

O esgotamento do impulso do movimento anarquista que vinha desde 1917 e a indefinição do congresso operário fizeram emergir a discussão sobre a necessidade de um partido operário. Num primeiro momento as tendências reformistas sentiram-se reforçadas diante da crise e da presumível cisão na liderança anarco-sindicalista, provocando uma reação crítica contra a política parlamentar. No entanto, o influxo da Revolução Russa, ainda que precariamente, veio a dotar uma parte da antiga vanguarda anarco-sindicalista de um instrumental teórico que apontava para alguns princípios elementares do marxismo, quais sejam a necessidade de um partido operário, tendo em vista a tomada do poder e a construção de um novo Estado, sob a forma de ditadura democrática do proletariado.

O divisor de águas passou a ser então a questão do partido e a questão russa, isto é, a direção e o significado dos acontecimentos revolucionários naquela parte do mundo. O debate, inicialmente cordial, foi tomando tons sempre mais enfáticos e ríspidos, até que em novembro de 1920, nas horas
finais de vida do Voz do Povo, a situação se precipitou com a divisão aberta entre os que continuaram apoiando a Revolução Russa e os que passaram a criticá-la. Astrojildo Pereira, porém, continuou contribuindo com o novo jornal anarco-sindicalista A Vanguarda, defendendo em suas páginas uma reorganização do movimento sindical sob formas mais centralizadas, baseado nos exemplos da americana I.W.W. e da Confederação Sindical Soviética.

De maneira muito cautelosa e discreta, em torno de Astrojildo Pereira, por conta do movimento de solidariedade aos flagelados do Volga, estavase aglutinando, desde setembro de 1920, um pequeno grupo que discutia a questão russa e o projeto de partido. Estimulado pela visita de um delegado da IC que lhe deu conhecimento dos documentos do 3º Congresso da IC (realizado em junho de 1921) e pela possibilidade de participação no Congresso seguinte, Astrojildo Pereira acelerou o processo tendo em vista a fundação da nova organização revolucionária. Em 7 de novembro de 1921, quarto aniversário da tomada do poder pelos bolcheviques, se constituiria o Grupo Comunista do Rio de Janeiro, polo de aglutinação de outros grupos similares que viriam a formar o partido comunista (seção brasileira da IC). A questão russa serviria ainda de ingrediente no debate ideológico no processo de formação e nos primeiros tempos de existência do PCB, necessitado de demarcar sua original identidade diante de reformistas e anarquistas, momento em que a revista Movimento Comunista cumpriu papel de destaque.

Em tais circunstâncias, Astrojildo Pereira deve ser considerado o primeiro marxista brasileiro, não por qualquer produção teórica de grande destaque, mas por ter sido o primeiro a vislumbrar no marxismo de extração lenineana um instrumental teórico-prático capaz de superar os limites e a crise da cultura operária antagonista no Brasil, preparando-a para a inserção contraditória da modernidade capitalista que os anos vinte estariam anunciando. E por ter, melhor que qualquer outro no Brasil, percebido a universalidade da Revolução Russa e a necessidade de se fundar um partido da classe operária acoplado, através da IC, a essa universalidade.

Esse caminho, o único possível a fim de se encetar as condições de um novo antagonismo social respaldado teórica e culturalmente no refundado socialismo-marxista, mais adequado ao tempo de crise do Ocidente que então se vivia, Astrojildo Pereira enveredou ao definir-se pela cisão, não só contra o insuportável e declinante mundo da dominação oligárquica, mas também, e coerentemente, contra o dogmatismo anarquista.

8 - A Influência da Revolução Russa no Movimento Libertário Brasileiro

José Antonio Segatto
[Historiador, professor do Departamento de Sociologia da Unesp,
campus de Araraquara;]

Já a partir de 1917, o movimento operário brasileiro recebe o impacto da Revolução de Outubro na Rússia. As repercussões da revolução bolchevique empolgam as lideranças anarquistas e socialistas que estavam na vanguarda das lutas e organizações de vários setores de trabalhadores.

Num primeiro momento os militantes, principalmente os anarquistas, tiveram da revolução uma imagem muito vaga, imprecisa e confusa: acreditavam ser a Revolução Russa de caráter libertário, saudando-a em sua imprensa como sendo "uma revolução do tipo libertário, abrindo caminho ao anarquismo".(23) Essa crença, aliás, manteve-se viva até, pelo menos, meados de 1920.

Ao longo desses anos, os jornais e periódicos anarquistas publicaram artigos e reportagens sobre a Revolução de Outubro, a revolta espartaquista, a Comuna húngara, os conselhos de fábrica italianos, além de artigos de diversos líderes comunistas. O semanário Spartacus do Rio de Janeiro publicou em 1919 a "Mensagem aos trabalhadores americanos" e "A democracia burguesa e a democracia proletária" de Lenin e o artigo "Grande época" de L. Trotski. São publicados ainda nos vários orgãos da imprensa anarquista (A Hora Social, Alba Rossa, Vanguarda etc.) textos
de Rosa Luxemburgo, Máximo Gorki, Clara Zetkin, Losovski e outros.

Além dos artigos, reportagens e documentos, as simpatias e as declarações de apoio à Revolução de Outubro e outros acontecimentos revolucionários na Europa, aparecem em inúmeras manifestações da época. Um exemplo: o Terceiro Congresso Operário Brasileiro (Rio de Janeiro, 23 a 30 de maio de 1920) declara "sua expectativa simpática em face da Terceira Internacional de Moscou, cujos princípios gerais correspondem verdadeiramente às aspirações de liberdade e igualdade dos trabalhadores de todo mundo.(24)

As repercussões da Revolução de Outubro inspirarão ainda a criação, em 1919, de um Partido Comunista do Brasil, com características anarquistas. Fundado em conferência realizada no Rio de Janeiro e Niterói (21 a 23 de junho) com a participação de 22 delegados (Alagoas, Minas Gerais, Pernambuco, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e São Paulo), seu programa foi elaborado por José Oiticica e denominado Princípios e fins do comunismo. Ao final da conferência é aprovada uma Moção aos Comunistas e com o fito de divulgar seus ideais, Hélio Negro e Edgard Leuenroth publicam a brochura O que é maximalismo ou bolchevismo, programa comunista. O partido teria uma vida bastante curta, deixando de existir em 1920.

A publicação de textos de líderes bolcheviques na imprensa, as demonstrações de simpatia à Revolução de Outubro e a fundação de um Partido Comunista são, de fato, sinais evidentes da infiltração das concepções bolcheviques no seio do movimento anarquista brasileiro. O entusiasmo com a forma-Partido, a concordância com as teses da Internacional Comunista e a aprovação da ditadura do proletariado, caracterizam uma mudança de orientação importante e profunda no seio da vanguarda libertária.

Como explicar que tais concepções penetraram e foram absorvidas nas fileiras anarquistas? Na verdade, o movimento anarquista no Brasil teve algumas características bastante particulares. Além de débil, reinava no movimento libertário uma grande confusão ideológica. Ou seja, o anarquismo (como também o socialismo) estava impregnado por um"ecletismo ideológico", onde se misturavam traços liberais, positivistas e evolucionistas. A confusão ideológica começa a se aclarar a partir de 1920.

Neste momento, depois de uma curta conjuntura de ascenso do movimento operário, expresso num rápido crescimento das lutas, das manifestações, das organizações sindicais, da imprensa proletária, etc. tem início um período de refluxo, que ocasiona no seio do movimento uma crise de razoáveis proporções, provocando debates e indagações.

Várias questões iriam estar no centro dos debates dentro da vanguarda anarquista: "é necessário algo na doutrina libertária para reanimar as lutas sindicais no país? Seria a frouxidão dos métodos de organização anarcosindicalista e a sua abstenção do 'fazer política' os responsáveis pelas derrotas infligidas à classe operária brasileira? E a questão da forma-Partido, com a sua disciplina e centralização? E a ditadura do proletariado, com seu autoritarismo? Estava a vitória da Revolução Russa a indicar os métodos de luta político-sindical mais compatíveis com as novas formas de dominação da burguesia imperialista?"(25)

Assim, a discussão sobre a reorientação do movimento operário e sindical envolveu posicionamento sobre o caráter da revolução na Rússia e o programa da Internacional Comunista. Deste derivariam inúmeras outras questões, entre elas, a que polarizaria o debate seria a da organização, tanto sindical como do partido político revolucionário. Inicialmente, a problemática aparece de forma indireta ou não explícita, sendo colocada simplesmente como necessidade de organização: "A força da burguesia reside na sua organização.

Organização econômica, organização política, organização militar. Ora, desorganizado, não poderá jamais o proletariado lutar contra a burguesia. A luta tem que ser de organização contra organização. Há, primeiro que tudo, que organizar as hostes proletárias — desenvolver a organização já existente, agremiando as classes não organizadas, solidificando e unindo todas num só elo de inquebrantável solidariedade. E então vencerá a organização mais forte...".(26) A seguir, no entanto, com o desenvolvimento do debate, a questão irá ser colocada de forma clara:

"do ponto de vista pelo qual julgamos nós, realizada a revolução sem passar pela posse do poder político, fazendo-a diretamente de baixo para cima, faliu, porque está comprovado não só pela revolução do Oriente como também pelas atuais do Ocidente, que o comunismo não se organiza pela espontaneidade popular...".(27)

A essas concepções manifestas no interior do movimento, que propunham repensar as formas organizativas e de ação política, contrapõem-se os militantes libertários que mantinham fidelidade aos princípios anarquistas, opondo-se à reorientação de modo diferenciado e, às vezes, ainda confuso, como, por exemplo:

"anos e anos de lutas sem trégua têm revelado que os trabalhadores só poderão resolver suas questões pela Ação Direta, pelas batalhas sindicais, pelas greves revolucionárias (...) nada de panos mornos como o parlamentarismo e outros quaisquer socialismos, à exceção do marxismo que é genuinamente revolucionário, conduzindo as massas à subversão como aconteceu com os russos em outubro de 1917 (...) Todo o partido é uma estreiteza, a grandeza do ideal revolucionário não pode ser comportada dentro de facções mesquinhas como partidos e parlamentos".(28)

Os militantes que acreditavam na necessidade de mudanças de orientação, por seu turno, apresentam-se na discussão respondendo às acusações e críticas, expondo mais claramente suas idéias e objetivos: "Os marxistas, até os mais extremados discípulos de Marx e Engels, tais como Lenin, Trotsky, Radek... todos ainda hoje aceitam, para o preparo da revolução, a luta no terreno político, parlamentar, ao lado da luta econômica". E sobre o poder esclarecem:

"Se há ainda dominadores, não pode existir uma sociedade anarquista comunista; teremos na melhor das hipóteses, uma ditadura proletária, socializante, em substituição à atual ditadura burguesa".(29)

Com o desenvolvimento da luta político-ideológica, o debate em torno da questão do partido político torna-se cada vez mais acirrado, com os militantes libertários passando a atacar frontalmente aqueles militantes dissidentes do anarquismo que agora propugnavam por novas formas de ação e organização:

"A Revolução Russa bem como alguns de seus princípios e realizações, despertaram em nós incontidos entusiasmos (...)

Agora, porém... cumpre-nos esclarecer a situação, principalmente e porque, havendo no Rio alguns libertários militantes que tomam a nuvem por Juno, isto é, confundem a Revolução Russa com o Estado burocrático e militarista ali estabelecido, chegando a propagar a organização de um partido socialista-marxista, o qual teria por fim, entre outras coisas, a conquista do Estado burguês, empregando o processo eleitoral, transformando-o em Estado maximalista, afim de que este pusesse a máquina nos eixos, durante o período de transição (...). Esta atitude, além de produzir uma cisão nos elementos avançados, significa uma retração dos princípios que disseram sustentar e uma traição à causa da emancipação humana".(30)

A luta política e ideológica continuaria ainda por algum tempo. O debate, porém, é permeado de muita confusão. Mas as diferenças foram se estabelecendo e ganhando nitidez na metida em que as posições se demarcavam. O momento culminante ocorrerá no início de 1922, quando a divisão se consuma. Os dissidentes libertários lançam, no Rio de Janeiro, a revista Movimento Comunista, com o objetivo de divulgar as concepções da III Internacional e aglutinar os grupos comunistas dispersos. Em seu primeiro número, anunciava suas finalidades:

"Este mensário, órgão dos Grupos Comunistas do Brasil, tem por fim defender e propagar, entre nós, o programa da Internacional Comunista (...).

Defendemos, por conseqüência, o princípio da ditadura do proletariado (...) com referência à organização partidária, desejamos e preconizamos, solidamente baseada num mesmo programa ideológico, estratégico e tático, das camadas mais conscientes do proletariado.(31)

Em contraposição, os anarquistas de São Paulo publicam um manifesto reafirmando suas posições, alegando que os princípios anarquistas não precisam ser revistos. Repudiam a intervenção político-parlamentar e mantêm a defesa da ação direta, método que "tende a despertar a iniciativa, o espírito de espontaneidade, a decisão, a coragem e ensina a massa popular a agir por conta própria, a unir-se e viver sem qualquer tutela". Chamam a atenção para a necessidade de formação de grupos anarquistas e sua organização em federações regionais. Declaram-se solidários com o Secretariado Internacional Anarquista, na Suécia, e a Federação Anarquista Internacional, em processo de constituição".(32)


Notas:

(1) Toda essa documentação encontra-se no Arquivo Histórico do Movimento Operário (Asmob), do Instituto Astrojildo Pereira, anexo ao Centro de Documentação e Memória (Cedem) da Unesp, S.Paulo. (retornar ao texto)

(2) Este comentário foi escrito em 25 de novembro de 1917. Depois disso, como se tem visto, a opinião, pelo menos de alguns jornais, tem se modificado muito... (retornar ao texto)

(3) Oeuvres, V, p. 58-59. (retornar ao texto)

(4) 4. A Luta, jornal burguês de Lisboa, estampou os seguintes dados biográficos sobre Lenin: "A autocracia, talvez por instinto, descobriu um 'inimigo terrível' na pessoa de Lenin, quando ele não contava mais de 17 anos de idade. Expulsou-o em 1867 (?) da Universidade de Kazan, com privação do direito de admissão em qualquer outra universidade, pelo motivo de seu irmão ter sido executado como prisioneiro político. Lenin — cujo verdadeiro nome é Oulianow — consagrou-se muito cedo ao estudo do desenvolvimento econômico da Rússia, e muito jovem ainda, tornou-se um perigoso discípulo de Karl Marx. Escreveu muitos folhetos e livros; mas a sua principal obra é um grosso volume intitulado "A evolução do capitalismo na Russia", editado em 1881 com o pseudônimo V. Iline; trabalho sobretudo acadêmico, cheio de números, todo ele apoiado em estatísticas. Mas a atividade de Lenin não se limita à de economista sábio, e, atraído pelo movimento revolucionário, condenam-no a 4 anos de deportação na Sibéria. De regresso destas paragens, passou ao estrangeiro e fez-se chefe ativo da social-democracia russa..." (Transcrito pelo Cosmopolita, de 15 de janeiro). (retornar ao texto)

(5) De 11 de novembro. Este comentário, escrito a 18, foi enviado, em forma de carta, ao Imparcial. Naturalmente, a ilustre redação jogou-o na cesta dos papéis inúteis... (retornar ao texto)

(6) Jornais houve que tomavam os "maximalistas" como partidários de Máxim Gorki. Para o bestunto de tais jornalistas, "maximalistas" só podia derivar de "Maximo"... Gorki! (retornar ao texto)

(7) Esta nota foi escrita a 9 de dezembro e enviada a todos os jornais. Somente o Jornal do Brasil fez-me o favor de publica-la na íntegra, na sua edição de 22 de dezembro. (retornar ao texto)

(8) De 15 de janeiro último. (retornar ao texto)

(9) Por exemplo:... "tenha-se vista que a Rússia não é uma nação, mas um grupo de nações. Os seus cento e quarenta milhões de habitantes falam oitenta línguas diferentes". D. A. Bullard, Vers la Russie Libre, trad. francesa de Aristide Pratelle, Paris, 1908. (retornar ao texto)

(10) De 25 de janeiro. Já escrito este comentário, publicou O Imparcial (de 2 de fevereiro) um artigo de fundo, "O mundo marcha", em que há afirmações destas: "As notícias que nos chegam da Europa denunciam, no domínio das idéias (e principalmente dos fatos, digo eu), uma revolução como nunca se verificou igual na história da humanidade":... "atualmente é a vontade dos povos que começa a prevalecer contra os planos dos seus dirigentes"... "Na vasta Rússia o trabalhador é já senhor absoluto"..."Atravessamos um período de realizações grandiosas". Dum modo geral, a atitude da imprensa tem mudado muito, de novembro para cá, e essa mudança acentua-se dia a dia, num sentido vai-não-vai favorável à revolução, desdizendo-se das crispantes imbecilidades e maldades anteriores... Que remédio! (retornar ao texto)

(11) Os socialistas e anarquistas estão fartissímos de saber que a verdade histórica mostra precisamente o contrário. Já em 1870, há meio século, Bakunin escrevia isto: "A história nos prova que jamais as nações se sentiram tão poderosas no exterior como nos momentos de mais profundas agitações e perturbações no interior"... (retornar ao texto)

(12) Ecco!... O que os capitalistas proprietários de A Razão não podem admitir é a supressão do sagrado direito de propriedade... Naturalmente! (retornar ao texto)

(13) Que a plebe agradeça a amabilidade e tome nota, para quando tiver de dar o troco, no dia do ajuste de contas... (retornar ao texto)

(14) Que profunda concepção sociológica! (retornar ao texto)

(15) Isso não tem sentido. O escriba queria naturalmente escrever Alemanha e saiu Rússia... Estaria bêbado? (retornar ao texto)

(16) Os maximalistas não se apoderaram de Rússia nenhuma. Eles são a grande e absoluta maioria do povo russo, unico senhor verdadeiro e natural da Rússia. Kerenski e o seu bando é que se tinham apoderado indevidamente da Rússia: o que os maximalistas fizeram foi nem mais nem menos que os "desapoderar"... E o fizeram muito bem feito. (retornar ao texto)

(17) Eis o resultado da infâmia: a Alemanha e a Aústria desmanteladas pela revolução interna, provocada e incentivada pelos maximalistas. É necessário frisar bem isto: em três anos e meio, os aliados, com as suas prosápias e fanfarronadas paroleiras, nada mais conseguiram senão reforçar cada vez mais o poder do kaiserismo. Claro: à voz de "esmagar a Alemanha", todo o povo alemão cerrava fileiras em torno do governo, fazendo-o mais forte que nunca. Os maximalistas, em duas semanas, com as suas propostas de paz e com a sua propaganda revolucionária abriram brecha na muralha militarista germânica, semearam a discordia interna nos Impérios centrais, provocaram a revolução. Jamais esteve tão abalado e tão fraco o poder do kaiser, como depois que os maximalistas lhe propuseram a paz... Estes são os fatos positivos e concretos, que podem escapar às vistas curtas do folicurário de A Razão, mas que aí estão na consciência de todos, comprovadíssimos. (retornar ao texto)

(18) O "colosso moscovita" que jurou fidelidade aos aliados foi o "colosso" dominado e manietado por Nicolau II e depois por Kerenski, não o "colosso" liberto de agora. Este nada tem que ver com os contratos firmados pelos despótas que o oprimiam. (retornar ao texto)

(19) O Debate, ano I, nº 1, 12/7/17 (retornar ao texto)

(20) Astrojildo Pereira, A Revolução Russa e a imprensa, março de 1918, p. 2. (retornar ao texto)

(21) Ibidem, p. 7 (retornar ao texto)

(22) Crônica Subversiva I (5), 26/6/18, p. 1. (retornar ao texto)

(23) Astrojildo Pereira. Ensaios históricos e políticos. São Paulo, Alfa-Omega, 1979, p. 61 e 62. (retornar ao texto)

(24) Boletim da Comissão Executiva do Terceiro Congresso Operário. São Paulo, Cooperativa Graphica Popular, ano I, nº1, agosto de 1920, p. 15. (retornar ao texto)

(25) Michel Zaidan Filho. O PCB e a internacional comunista (1922-1929). Rio de Janeiro, Vértice, p. 40-41. (retornar ao texto)

(26) Astrojildo Pereira. "Organização contra organização". Voz do Povo, 8 de abril de 1920. (retornar ao texto)

(27) Isidoro Augusto. "Anarquistas e bolchevistas". Voz do Povo, 8 de julho de 1920. (retornar ao texto)

(28) Octavio Brandão. "Aos trabalhadores do Brasil". Voz do Povo, 22 de agosto de 1920. (retornar ao texto)

(29) Ávila. "Carta aberta a Octavio Brandão". Voz do Povo, 30 de agosto de 1920. (retornar ao texto)

(30) Florentino de Carvalho. "O bolchevismo: sua repercussão no Brasil". A Obra, 15 de setembro de 1920. (retornar ao texto)

(31) Movimento Comunista, ano I, nº 1 de 1922, p. 1 e 2. (retornar ao texto)

(32) "Os anarquistas no movimento presente". A Plebe, 18 de março de 1922. (retornar ao texto)

Fonte
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Inclusão 12/08/2008
Última alteração 14/04/2014