Engels

Astrojildo Pereira

5 de agosto de 1945


Primeira Edição: Tribuna Popular, Ano 1, nº 66, 5 de agosto de 1945.

Fonte: TraduAgindo -

Transcrição: Ian Cartaxo

HTML:Fernando Araújo.


Há justamente 50 anos, a 5 de agosto de 1895, falecia em Londres Friedrich Engels, o amigo incomparável, companheiro e colaborador de Karl Marx. Nasceu em Barmen, na Renânia no Reino da Prússia, a 25 de novembro de 1820, dois anos e meio depois de Marx; mas sobreviveu a este último doze anos e alguns meses. Seu pai era fabricante de tecidos, e a difícil condição dos operários da fábrica paterna bem cedo feriu a sua sensibilidade. Nas Cartas de Wuppertal, que ele escreveu em 1845, descrevia e criticava as condições de miséria em que viviam os trabalhadores da indústria têxtil alemã.

Democrata, revolucionário, desde muito jovem ingressou Engels no movimento comunista. Em 1842, transferindo-se para Londres, acompanhou de perto a luta operária, e aí escreveu o seu famoso livro sobre a Situação da Classe Operária na Inglaterra, publicado em 1845. Já antes, em 1844, publicara um trabalho crítico sobre a Economia Política, nos Anais Franco-Alemães, revisa editada em Paris por Marx e Ruge. Em ambos seus trabalhos formulara Engels alguns dos elementos teóricos do socialismo científico.

Sheheglov observa que Engels chegou, como Marx, ao comunismo e ao materialismo antes de sua colaboração comum, isto é, independentemente um do outro. Conheciam-se desde 1841, por troca de cartas, sendo Engels colaborador do jornal de Marx, a Gazeta Renana. O primeiro encontro pessoal de ambos se realizou em Colônia, quando aquele seguia para a Inglaterra. Mas desde então se ligaram para o resto da vida. Imanados pelo mesmo destino e por uma amizade sem exemplo de homens de tal porte.

Data de 1844-1845 a primeira obra de colaboração entre os dois: A Sagrada Família, polêmica dirigida contra os hegelianos de esquerda e particularmente contra os irmãos Bauer. “Criticando o idealismo dos hegelianos, Marx e Engels reelaboraram materialisticamente a dialética de Hegel. Descobriram as leis da dialética na realidade objetiva, na história humana: demonstraram que a verdadeira força da história humana reside, não no auto movimento da ideia, mas no movimento das massas.” (A. Sheheglov). Nessa obra se encontram os fundamentos do materialismo dialético e da interpretação materialista da história, sem embargo de ainda conservar certos vestígios de influência feuerbachiana. Na obra que se seguiu, também realizada em colaboração, A Ideologia Alemã, é que eles se libertam da influência hegeliana e feuerbachiana, aparecendo como pensadores emancipados e seguros de sua própria concepção. Lembremos que A Ideologia Alemã, escrita em 1845-1846, não encontrou na época nenhum editor disposto a publicá-la, o que só aconteceu recentemente – em 1932, na URSS.

Por encargo da Liga dos Comunistas, escreveram em fins de 1847 o Manifesto Comunista, cuja primeira edição, em língua alemã, saiu em fevereiro de 1848. Isto se deu literalmente nas vésperas da revolução de fevereiro na França. Ainda nesse mesmo ano de 1848, Engels colaborou na Nova Gazeta Renana, fundada e dirigida por Marx. Suspenso o jornal em 1849, no ano seguinte fundava Marx a Revista da Nova Gazeta Renana, em cujas páginas publicou Engels o livro Guerra dos Camponeses Alemães. Por esse tempo, ou seja, em meados de 1849, participou ele da insurreição de Hale e do Palatinato contra a Prússia.

Mais tarde, tomou a si a incumbência de redigir os principais artigos que apareceriam na Volkstaat e no Vorwarts, órgãos do movimento socialista alemão. E foi no Vorwarts, na longa série sob o título “Subversão Duhrigiana da Ciência’, que saiu pela primeira vez o Anti-Duhring, obra capital do socialismo científico.

Juntamente com Marx, Engels participou da fundação da Internacional, sendo membro do respectivo Conselho Geral, onde exerceu durante largo período as tarefas de correspondência com os socialistas da Itália, da Espanha e de Portugal. Depois da morte do amigo e companheiro de tantos anos, ocorrido em 1883, tornou-se o conselheiro sem paz dos militantes socialistas do mundo inteiro. Referindo-se às frequentes visitas que ele recebia em sua casa, em Londres, escreveu Bonnier as seguintes palavras:

“Todos aqueles, e eram muitos, que o visitavam na Regent’s Park Road, lembram-se da cordialidade com que eram recebidos, fosse qual fosse a graduação de cada qual no exército socialista. Desde os lutadores que se acham na primeira linha de combate, publicitam os oradores, até aos simples soldados da causa, eram todos acolhidos com igual atenção e todos saíam dali daquelas conversações com o amigo e companheiro de Marx, sentindo-se mais firmes em suas ideias e cheios de maior coragem.”

Duas outras obras consideráveis publicou Engels, além das citadas acima: Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado, 1884, já divulgada entre nós em mais de uma edição, Ludwig Feuerbach e a ruína da Filosofia Alemã, 1888. Mas, falecido Marx, consagrou-se sobretudo à preparação dos manuscritos relativos à segunda e à terceira partes do Capital, dadas a rumo em 1885 e 1894, respectivamente. Deixou inacabada uma Dialética da Natureza, na qual se propunha estudar a evolução histórica das ciências naturais e da filosofia. E há pouco tempo se descobriu que seus e não de Marx eram os artigos – estou citando o caso de memória, não me sendo possível verifica-lo no momento em que escrevo estas notas – estampados em certo jornal americano e posteriormente reunidos no volume Revolução e Contra-Revolução na Alemanha, sempre em nome de Marx. Era um período difícil na vida do amigo, e Engels o ajudava redigindo os artigos que o outro assinava. Tamanha a identidade de pensamento que os unia, alimentando uma amizade sem pausa de quase meio século.


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Inclusão: 30/11/2021